Wishing you were somehow here again escrita por Isamu H Ikeda


Capítulo 1
Desejando que você estivesse aqui de novo


Notas iniciais do capítulo

* Bom, em primeiro lugar gostaria de dizer que esta fanfiction simplória e descompromissada tem um motivo para ter sido escrita: Eu precisar lidar com a perda da minha avó. Esta fanfic estava na minha cabeça há dois anos, desde que vi que o amor incondicional para o Yuri era o avô. Era o mesmo comigo em relação a minha avó. Eu não conseguia escrever antes justamente por passar mal de tanto chorar. Mas enfim consegui...

* É song fic, usei uma música de O fantasma da Opera. Era um dos musicais preferidos de minha avó e a música em questão lembrava-a do próprio pai. Hoje sou eu lembrando dela.

* Era para ter sido postada ontem, mas eu tive uns contra-tempos e só saiu agora.

* Link da música (versão da Sarah Brightman, que vovó adorava tanto): https://www.youtube.com/watch?v=7Z8bBQmbXRk

* Boa leitura... q



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9 de Setembro. Em alguma estação de St. Petersburgo.

Um adulto Yuri Plisetsky estava de pé na plataforma esperando o trem. Era uma manhã excepcionalmente fria, por mais que o verão estivesse presente. Seus olhos transbordavam cansaço, como se não tivesse dormido durante a noite, e de fato não havia conseguido mesmo pregar o olho. Estava inquieto, ansioso, triste. Era uma data complicada para ele.

Suspirou pesado e mordeu o lábio inferior, tentando manter seu autocontrole. Não queria pensar até que chegasse em sua cidade natal, Moscou. Por isso resolveu que era hora de imersar em seu mundinho particular com música e colocou os fones de ouvido. Bem a tempo do trem chegar e os vagões esvaziarem apenas para se tornarem cheios de novo. Quando embarcou no vagão e se acomodou, mandou uma mensagem rápida para a pessoa com quem estava vivendo há alguns anos. Escreveu que já estava indo e que voltava antes do jantar, que estava bem e que não era para ela se preocupar. Quatro minutos depois recebeu a resposta:

“Volte com segurança. Amamos você.”

Ele riu com o verbo usado no plural. Afinal não havia nem uma semana... Mas sabia que era a maneira dela de fazê-lo baixar a guarda e relaxar mesmo que fosse apenas por alguns segundos. Costumava funcionar bastante, e não foi diferente naquela hora. Voltou a se concentrar nas músicas que tocavam aleatoriamente e permaneceria em silêncio por todo o trajeto. Mergulhado em lembranças de sua infância e adolescência.

Fazia exatamente três anos desde que seu avô, Nikolai, falecera. Aquele domingo do nono mês do ano era aniversário de morte do homem que o criou, e Yuri não suportava mais essa época. Doía demais. Seu rendimento caía, se tornava muito mais calado do que o normal, mantinha-se distante... E esforçava-se para não transparecer que estava realmente mal. Mesmo sabendo que ninguém o culparia por isso.

Fechou os olhos, que estavam extremamente pesados, e acabou por cochilar ouvindo o início de uma música, bastante específica, que estava misturada à playlist daquelas que poderiam ser usadas para seus programas de patinação artística. A letra o fazia sonhar com lembranças distantes, mas calorosas.

 

“Você já foi o  meu único companheiro

Você era a coisa mais importante

Você já foi

Um amigo e um pai

Até o meu mundo se despedaçar”

 

Sem pai e com uma mãe ausente, o pequeno Yuri só tinha uma companhia: Seu avô.

Um homem simplório, bom cozinheiro, carinhoso, gentil à sua maneira. Um senhor que assumiu as responsabilidades paternas e maternas para com o único neto, do qual tinha um imenso orgulho.

“Queria que você estivesse aqui de novo
Queria que você estivesse por perto”

 

Devido a problemas familiares, Nikolai se dedicava totalmente a ele e em dobro. Yuri era mais que um neto, era um filho que carecia de cuidados, especialmente depois que passou a ser rejeitado pela própria mãe, que também era complicada de se lidar. Ela tinha vários problemas…

“Ás vezes parecia que

Se eu sonhasse

Você viria”

 

A sua estreia na competição sênior de patinação havia sido com a coreografia denominada Agape, que significava amor incondicional. Ele não teria conseguido se a figura de seu avô não estivesse fortemente enraizada em sua mente naquela época. Seu maior exemplo era ele. Quem o educou, ensinou, apoiou e amou incondicionalmente. A pessoa que ele jamais imaginou que fosse perder.

— Vovô… - Ele balbuciou acordando bem a tempo de desembarcar.

Esfregou os olhos para espantar o resto de sono, demorando um pouco para assimilar onde estava e checou a carteira no bolso da calça. Aproveitando que os outros passageiros estavam se aglomerando na saída para avisar a sua namorada que já estava em Moscou.

“Cheguei. Estou indo para lá. Vê se toma o café da manhã direito.”

Deu-lhe um leve sermão. Às vezes ela podia ser meio descuidada, especialmente quando se encontrava preocupada e com outras coisas na cabeça. Então Yuri tinha que fazer esse papel chato de responsável. Era para o bem dela. Aliás, nessa altura do campeonato já poderia considerá-la como sua noiva, ou quem sabe já fosse esposa? Na cabeça dele, se já moravam juntos não precisariam dessas frescuras.

Preparou-se para deixar o trem. Ele podia ter ido de avião, que era mais rápido. Porém propositalmente preferiu ir por terra. Queria ter tempo para se preparar para a visita, cujo gosto era amargo.

Deixou o trem e logo em seguida a plataforma. Agradecia em sua cabeça que as pessoas dificilmente o reconheciam agora. Devia ter cortado o cabelo antes. Nem precisava mais dos óculos escuros ou de jaquetas com capuz para esconder o rosto. Com as mãos enfiadas nos bolsos do casaco preto, caminhou até a saída. Cada passo acelerava seus batimentos cardíacos e cada vez mais a vontade de dar meia volta e retornar para St. Petersburgo era maior.

Encarar aquela situação era um verdadeiro tormento que aconteceria anualmente.

As pessoas erroneamente dizem que se supera as perdas de entes queridos, mas estão enganadas. Uma coisa dessas não dá para superar, o máximo que acontece é você se acostumar à ausência e lidar com isso a maior parte do tempo. E se acostumar não quer dizer exatamente que você esqueceu da pessoa ou que não pensa mais nela. Muito pelo contrário. Você sempre estará com essas memórias em sua cabeça constantemente. Não tocar no assunto seria mais um mecanismo de autopreservação, de defesa… Quando se perde alguém, perdemos um pouco de nós mesmos. Fica um buraco que não se pode preencher, apenas tentar manter do mesmo tamanho. E que não pode aumentar…

E era contra isso que Yuri lutava. Ignorar a saudade, evitar pensar, guardar para si e se controlar. Ele não queria desabar de novo. Não queria que “desistir de tudo” voltasse a ser um pensamento recorrente em sua cabeça.

Sabia que seu avô não iria querer isso.

Pegou um táxi, dando o endereço de um dos cemitérios da cidade. E mais uma vez a viagem fora silenciosa. Quanto menos falasse, melhor seria. Apesar de ter nascido naquela região, não tinha mais conforto nenhum em estar lá. Mesmo nas últimas vezes que fora por conta do Grand Prix ou outras competições, já tinha parado de perambular pelos arredores, evitando outros, indo embora tão rápido quanto chegava. Estava apático e com olheiras visíveis. Vai ver por isso que as pessoas sequer o paravam na rua para autógrafos ou entrevistas surpresas. Podia até imaginar Lilia reclamando de sua aparência e que um patinador de seu status jamais poderia ser visto assim, com cara de acabado. Mas se ninguém estava parando para tirar foto dele, então tudo bem. E mesmo que esse não fosse o caso, não faria diferença nenhuma naquela hora. Foda-se o que as pessoas diriam ou pensariam, era a privacidade dele afinal de contas.

Enfim a entrada do Cemitério Mitinskoye era visível e o carro parou um pouco antes, porém em frente a uma barraca de flores estrategicamente inaugurada ali próximo. Pagou o táxi, agradeceu e despediu-se do motorista. Notou as flores e comprou dois pequenos maços de lírios e se dirigiu para o portão. Enquanto caminhava entrando no local, a música que ouvia antes ressoava no fundo de sua mente.

“Queria ouvir sua voz de novo

Mesmo sabendo que nunca a ouviria

Sonhar com você

Não me ajudará a realizar

Tudo o que você sonhou que eu podia.”

 

— Vamos lá, mais uma vez... - Ele nunca iria se acostumar com essa sensação. Só era mais “fácil” por estar sozinho. E conforme andava, algumas lágrimas furtivas desciam sem aviso.

Desgraçadas.

Yuri não gostava de cemitérios. Até três anos atrás ele sequer havia pisado em um. Motivo? No fundo não queria pensar que aquele fatídico dia pudesse se tornar realidade. Não queria lidar com a possibilidade de que um dia seu avô não estivesse mais lá.

E mesmo assim, foi inevitável.

 

“Sinos e anjos esculpidos

Frios e monumentais

Parecem, para você

Os companheiros errados

Você era carinhoso e gentil”

 

As suas prioridades ao conseguir seus primeiros patrocínios como patinador era ajudar financeiramente sua família. Remédios eram caros. Consultas também. Melhorar a condição da casa deles, principalmente, dava muito trabalho. Para um rapaz que na época tinha apenas 15 anos, manter os patrocinadores, dar esse sustento para mãe e avô, continuar se desenvolvendo, se mantendo entre os melhores, estudar e até mesmo tentar socializar com outras pessoas era passível de entrar em pânico caso ele pensasse demais no assunto. Ele só sabia que tinha que fazer. Mesmo que isso significasse sacrificar uma adolescência convencional. 

 

“Foram muitos anos lutando contra as lágrimas

Por que o passado não pode simplesmente morrer?”

 

Parou em frente a duas lápides. Uma que pertencia a avó que nunca conheceu, e a outra obviamente ao seu avô. Seu pai. Seu herói. Abaixou-se para ficar no mesmo nível e iniciou uma conversa, ainda com as flores em suas mãos.

— Oi, vovô. - Disse com a voz trêmula. - Ainda é estranho ter que vir aqui para te visitar. Desta vez vim sozinho. Achei melhor... – Fungou com o nariz levando uma mão livre para esfregar, querendo limpar qualquer indício de  choro. – Mamãe está bem. Ontem perguntei se ela gostaria de vir, mas a resposta dela foi que... Não seria uma boa idéia, e muito provavelmente ela me estressaria mais ainda. Ela está melhorando. – Sorriu rapidamente. - Ela fala mais comigo agora. Talvez ela tenha… Se arrependido. Depois que o senhor se foi… Ela mudou. - Engoliu a saliva e novamente mordia o lábio inferior, mas com força.

O patinador odiava chorar. Mas ali era um cemitério. Ele podia se permitir ter esse luxo.

 

“Queria que você estivesse aqui de novo

Sabendo que temos que dizer adeus

Tente perdoar

Me ensine a viver

Me dê a força para tentar”

 

— Ah, e ela está morando com meu pai de novo. Ele tem dado uma grande ajuda. E eu até consigo chamá-lo de pai agora. Ele chorou na primeira vez que ouviu e eu fiquei nervoso e o mandei parar. Ainda não sei lidar com pessoas chorando na minha frente… Não sei lidar nem comigo.

A vida de Yuri havia mudado muito, especialmente depois daquele GP de 2015. Ele amadureceu, cresceu, era independente, tinha amigos e alguém que amava, conheceu seu pai, e apesar das turbulências no começo, se davam bem, descobriu que tinha uma irmã mais nova, sua mãe foi lentamente se aproximando. E, em certo ponto, tinha seu avô também. Quando as coisas pareciam se ajustar, tudo virou de cabeça para baixo. Seu mundo caiu, quis deixar de patinar, se retirou por uma temporada inteira, não queria ver ninguém. Foi horrível. O luto fora severo.

E claro, ele também se culpou. Pois estava longe quando o avô fora internado e também quando recebeu a notícia. Ele nunca esqueceria aquele 9 de setembro. Nunca.

— Ah… - Pausou. - Eu tenho uma surpresa. - Tentou se manter relaxado, embora as lágrimas caíssem livres no momento. - Eu vou ser pai. - Ele ria com um certo nervosismo. - Descobrimos faz dois dias. No começo eu tive medo. Ainda estou com medo. Mas… Lembrei que eu tive um excelente pai: você. Se eu puder ser ao menos metade de como você foi… Talvez seja o suficiente. Vou me inspirar em você para poder continuar fazendo as coisas do jeito certo. De um jeito que sei que continuará tendo orgulho de mim. Mesmo daí ou… Seja lá onde o senhor estiver. - Suspirou e silenciou-se por alguns segundos. - Eu sinto a sua falta. Todo dia, toda noite antes de dormir eu sinto a sua falta... Sinto que estou sonhando e que quando acordar irei te encontrar na cozinha fazendo pirozhkis… Que eu vou poder te abraçar de novo e ouvir suas costas estalando por isso. Que você vai me dar broncas sobre como eu devo tratar as pessoas. Que vai me chamar de Yuratchka e me puxar para beber um pouco de vodka juntos. Que vai fazer um cafuné em minha cabeça e dizer “você cresceu”... Ah… Eu sinto tanta falta disso… - Plisetsky já estava com o nariz e as extremidades dos olhos avermelhadas pelo choro. Se recompôs e deu continuidade. - Tenho orgulho de ser seu neto. Os valores que me ensinou, levarei para toda a vida e passarei para o meu filho… Ou filha. Mila apelidou o bebê de pirozhki por que diz que o gênero não é importante. O humor dela me lembra o seu às vezes.  Acho que por isso vocês tenham se dado tão bem ao ponto de ficarem sacaneando com a minha cara pelas costas… - Yuri ria sozinho, tendo em mente a boa e velha risada do avô que receberia como resposta. - Obrigado por tudo, eu amo você.

Deixou as flores cuidadosamente em cada uma das lápides. Fechou os olhos e sentiu um calor no topo de sua cabeça. Sorriu imaginando o saudoso cafuné que tanto sentia falta.

“Basta de lembranças

Basta de lágrimas silenciosas

Basta de ficar olhando para os anos perdidos”

 

Na volta para St. Petersburgo, sentia-se com menos peso do que antes. Mesmo assim ainda queria deitar na cama e dormir... Não em uma cadeira de vagão de trem e nem especialmente ao lado de uma espanhola desesperada, que era babá de um garotinho alemão que não parava quieto, enquanto os pais estavam em outras poltronas mais atrás conversando entre si. Recorreu ao bom e velho fone de ouvido enquanto refletia que daqui há um ano choros de bebê seriam frequentes em sua vida.

Ao desembarcar, e finalmente se distanciar daquela família barulhenta, foi a passos apressados até as catracas e avistou a ruiva acenando para ele.

— O que está fazendo aqui? - Indagou confuso. - Eu estou bem, não precisava ficar preocupada ou coisa do tipo.

— Não foi isso. Quero dizer… Um pouco, mas… - Ela respondia enquanto abria uma sacola que tinha em mãos e tirava de lá uma boina. - Sua mãe deixou isso comigo um pouco depois de você sair e… Pensei em te esperar e entregar... E também por que estava inquieta e não consegui ficar parada em casa… - Ela completou rindo um pouco, bem baixinho.

Yuri pegou a boina e se deu conta de que era a mesma que seu avô costumava usar. Sua mãe deve ter guardado por todo esse tempo. Disfarçou um pouco a emoção escondendo o rosto no ombro da ruiva enquanto a abraçava e ela retribuía, afagando o topo da cabeça loira com carinho.

— Você sabe que já passou da fase de esconder o choro de mim, não é? - Ela disse.

— Me deixa… Velha.

— Já passou da fase dos xingamentos também. - E respondeu com um puxão de orelha muito bem dado no mais novo. - E então, quer ir para casa?

— Bom… - Ele olhava para a velha boina e resolveu que deveria colocar em sua cabeça. - Já que você veio até aqui, acho justo darmos uma volta. Comer pirozhkis… Quem sabe.

A moça dava um belo sorriso, recheado de sentimentos. Quem diria que aquele baixinho enfezado fosse crescer tanto assim. Literalmente, inclusive.

Enquanto deixavam a estação, caminhavam de mãos dadas conversando sobre o que os aguardava dali para frente, e sobre o quão barulhenta uma criança alemã podia ser.

“Me ajude a dizer adeus”


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Notas finais do capítulo

* É, meu otp nesse anime é Yuri e Mila. Não estava previsto ela aparecer, mas aconteceu.

* Desculpem-me se alguém chorou :") Estou chorando há 3 anos.

* Ah, o Yurio deve estar com uns 25,26 anos nesta fanfic (mesma idade que eu).

* Sobre o pai e irmã que mencionei: São OC's que criei. Estou planejando outra fanfic (uma long fic) em que eles irão aparecer.

* E eu tenho um puta trauma de crianças alemãs. Uma sentou ao meu lado no avião e não calava a boca. Foi uma viagem de uma noite inteira com aquela criatura no meu ouvido e os pais não faziam NADA. AAAAAAAAAAAAAAAAA.



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