Ainda há esperança escrita por padu
Se pudesse ordenar os melhores dias de sua vida, até então, Darcy Williamson certamente posicionaria o anterior em um dos primeiros lugares. O passeio surpresa organizado por Elisabeta fora, de longe, o remédio mais eficaz ao devolver-lhe a paz interior de que tanto precisava. E que seria determinante para que ele soubesse lidar com o que estivesse por vir.
No início do dia seguinte, os familiares e amigos íntimos reuniram-se na fazenda Ouro Verde para se despedir de Darcy e Elisabeta. Dona Ofélia mostrava-se emocionada, enquanto seu Felisberto a acalentava. Ao ver o estado da mãe, Elisa repetia que estava indo a passeio e não para ficar definitivamente naquele país. As demais irmãs Benedito: Jane, Mariana, Cecília e Lídia também estiveram presentes. E, juntas, deram um abraço coletivo em Darcy e Elisabeta. Transmitindo, dessa forma, as melhores e mais positivas energias.
Camilo e Ernesto estavam na capital paulista, negociando o café Três Mosqueteiros com possíveis novos investidores. O negócio dos rapazes estava, finalmente, dando indícios de sucesso, o que deixara Ema e Jane tranquilas. Ema, tomada de empolgação abraçou a amiga, entregando-lhe um pequeno livrinho de viagem no qual ela poderia registrar em detalhes os melhores momentos. Olegário prometeu a Darcy manter-se respeitoso com Charlotte. O que não diminuiu a desconfiança do cunhado. Charlotte ficou responsável por prosseguir com a pesquisa do livro, recebendo de Elisabeta a missão de realizar as demais entrevistas. Feitas as despedidas, Darcy e Elisabeta partiram rumo a São Paulo, onde embarcariam para Londres.
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— Preparada para enfrentar uns 10 dias de viagem? – Perguntou Darcy, admirando a beleza da esposa. Elisabeta observava distraidamente através da janela o movimento da cidade, que aos poucos ia ficando para trás, quando fora despertada de seus devaneios.
— Quer saber mesmo a verdade? – Replicou Elisa, voltando sua atenção para ele – Dá-me preguiça só de lembrar. – Ambos riram, timidamente. – Mas só de pensar que não se trata de uma mera viagem a passeio, como todos pensam, mas de algo extremamente importante para você, a distância torna-se uma bobagem. – Elisa segurou a mão de Darcy, passando-lhe confiança.
— Sabe Elisa, quando eu era criança, com uns sete ou oito anos de idade, eu olhava para meu pai e o via como o homem mais forte do mundo. Alguém quase inabalável. Embora eu soubesse perfeitamente que ele, naquela época, estava passando por um dos momentos mais difíceis da sua vida. – Darcy estava com a voz embargada, sentindo dificuldade de terminar as frases que iniciara. – quer dizer, da nossa vida, pois me incluo neste pacote também... A morte da minha mãe foi muito dolorosa para todos nós. Charlotte era muito pequena, praticamente um bebê. Eu temia tanto, mas tanto por ela. Sentia que deveria protegê-la dali em diante. – Elisa o observava. Darcy mantinha -se cabisbaixo, evitando demonstrar a emoção. – Lorde Williamson não quis casar-se novamente. Não sabia e até hoje não sei direito por quais motivos. E é ai onde entra a minha maior decepção, meu maior engano.
— Darcy meu amor, se não quiser falar sobre isso, não precisa. Sei o quão difícil é para você. – Elisabeta tocava delicadamente os cabelos de Darcy. Sentido toda a sua angústia como se fosse nela mesma.
- Eu preciso Elisa. Foram poucas as vezes que me abri dessa forma com alguém. Hoje, você é uma das pessoas mais importantes da minha vida e não encontro, no mundo todo, ouvidos mais dignos do que os seus. – Ele segurou com firmeza a mão da esposa. – Foi nesse momento que minha tia passou a fazer parte de nossas vidas com mais frequência. Ela foi para mim e Charlotte uma segunda mãe. Seu carinho e atenção eram impressionante, Elisabeta, de admirar os olhos. Eu nutria um profundo respeito por ela. Mesmo com a responsabilidade de criar Briana, Lady Margareth não nos desamparou um dia sequer. Lembro-me até hoje de sua ira quando meu pai decidira embarcar para o Brasil, para que pudéssemos passar as férias e estar em contato com essa belíssima cultura também. Você já viu com seus próprios olhos o quanto ela ama e estima este país, não é mesmo?! – Finalmente ele deu um sorriso. – Mas agora, depois de homem feito, eu consigo perceber com mais clareza que ela está cobrando a dívida, desta vez com juros e correção altíssimos. Como se nossas vidas fossem moeda de troca.
— Eu queria dizer o contrário. Mas, depois de ouvir tudo isso só posso afirmar que você tem toda razão, Darcy. Lady Margareth age por puro egoísmo. Através de jogos perigosíssimos. Até mesmo pondo em risco a vida da própria filha. Coitada de Briana... – Elisa estava com o olhar distante. – Mas, mesmo tendo convivido com aquela jararaca durante tanto tempo, você e Charlotte não se deixaram influenciar pelo seu caráter maligno e doentio. Isso é o mais importante. – Ele não dissera nada. Apenas consentiu com a cabeça.
Darcy e Elisabeta prontamente mudaram de assunto. O clima já estava pesado o suficiente para que prosseguissem falando sobre Lady Margareth. Na tentativa de animar o esposo, Elisabeta sugeriu que Darcy falasse um pouco mais sobre aquele país que estava prestes a conhecer. O que havia lido nos livros não satisfazia sua curiosidade. Para iniciar o assunto, Darcy perguntou à amada se ela sabia que um dos pontos turísticos mais conhecidos da cidade de Londres levava oficialmente o nome de Elizabeth Tower.
Ela não quis ser grosseira. Mas respondeu gentilmente que a história sobre o Big Ben fora, talvez, uma das primeiras coisas que lera na vida a respeito daquela cidade. Darcy então resolveu relatar à esposa alguns casos divertidos e leves que presenciara com amigos na boemia londrina, quando era, ainda, um inexperiente estudante de engenharia extremamente introspectivo, perdido e deslocado. As histórias e os “causos” contados por Darcy renderam à Elisabeta muitas risadas. Através de seus relatos minimamente descritivos, Elisa conseguia vislumbra-los perfeitamente. Os dois mal perceberam o tempo passar. Quando menos esperavam, se deram conta que já estavam em São Paulo. O casal hospedou-se em um hotel, pois, no dia seguinte, embarcariam cedo para a Inglaterra.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Gente, eu preciso de uma "licença poética" para um dado desse cap. rs. A torre do Big Ben foi rebatizada de "Elizabeth" há seis anos. Mas aqui na fic vamo fingir que não haha.