O Segredo de Tixe escrita por Heringer II


Capítulo 8
Sete


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem. ^^ ♡



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Na tarde daquele dia, os dois assassinos estavam na casa em que se escondiam. Um deles, o que havia assassinado Flávio, estava sentado próximo à geladeira, bebendo um copo de uma bebida alcoólica barata. O outro, aquele que perseguiu Emanuel e seus dois companheiros horas antes, estava sentado no sofá e assistindo um dos noticiários locais.

— É impressionante como os jornais só falam do assassinato que você cometeu. — olhou para o outro. — Ei! Não beba muito disso! Se o chefe nos chamar, vou precisar de você sóbrio.

— Vá para o inferno! — respondeu o outro homem, nitidamente bêbado.

— O que foi que você disse? — levantou-se furioso e foi até perto do parceiro. — Repita se for homem o suficiente!

— Vá para o inferno!

— Escuta aqui, seu bebum desgraçado! — disse, segurando forte a camiseta do companheiro bêbado. — Eu tive um dia muito estressante. Não queira que eu tire o revólver que está no meu bolso.

— Ah! Quer me matar? Ótimo! Pode ir em frente! Nós dois sabemos que você não é capaz!

Furioso, o homem largou a camiseta do outro, que caiu no chão, dando risadas desajeitadas.

— A sua sorte é que eu sei lidar com bêbados.

— É mesmo? — falou, levantando-se lentamente do chão. — Pelo visto você só não sabe lidar com peritos criminais, não é?

— Já disse, não queira que eu tire o revólver do bolso!

— Ah, é o mesmo revólver que o policialzinho tirou da sua mão?

Irritado, o homem sóbrio saca sua arma.

— Vai, atire. Quem vai ter que se explicar para o chefe é você.

Os dois ouviram o barulho de um carro parando na frente da casa.

— E por falar no chefe... — disse o homem bêbado.

O outro rapidamente abaixou o revólver e guardou-o.

O tal "chefe" entrou no local. Era um homem alto e de feições sérias. Usava um sobretudo e óculos escuros.

— Imagino que esteja desapontado com a gente, chefe. — disse o homem sóbrio.

— Desapontado? — respondeu a voz grossa. — Desapontamento é pouco para expressar a incompetência de vocês.

Os dois homens nada disseram, apenas baixaram as cabeças.

— Eu entendo, chefe. Mas o que acontece...

— Calado! Você consegue provocar um acidente na estrada, mas não consegue matar um único homem. Se eu soubesse, teria mandado aquele outro fedendo a cerveja barata para fazer o serviço. Pelo menos, ele matou o homem que pedi para matar.

— Emanuel Barros tem experiência em desarmar um indivíduo, e eu não esperava que ele fosse...

— Chega! Desculpas não darão resultados. Ele com certeza já sabe muito mais do que nós a essa altura.

— E o que faremos, então?

— Emanuel Barros não vai escapar. Não importa o que ele faça, nem onde esteja.

*

Às cinco da manhã do dia seguinte, Evandro foi o primeiro deles a chegar no Aeroporto de Canela e Gramado. Era um local interessante. A pista pavimentada, com 1260 metros de comprimento, foi construída em uma área próxima a algumas árvores.

Cansado, Evandro sentou-se ali mesmo, perto da entrada do aeroporto, enquanto esperava seus amigos.

De repente, parou um táxi logo à frente dele. De lá, saiu um homem alto, de barba rala. Trajava uma calça jeans, tênis brancos, uma camiseta preta da banda Engenheiros do Hawaii, uma jaqueta xadrez preta por cima da camisa e um chapéu derby, também preto. Demorou um pouco para Evandro reconhecer que aquele era Emanuel.

— Emanuel? Não acredito que é você mesmo.

— Por quê? Algo de errado?

— Não. É que eu estou acostumado a te ver apenas com a farda de perito criminal.

Emanuel deu um sorriso sarcástico para o amigo e os dois apertaram as mãos.

— Lívia já chegou? — perguntou o perito criminal.

— Não.

— Que pena. Eu descobri algo que pode nos indicar que estamos no caminho certo.

— Sério? O quê?

— Prefiro falar quando ela chegar, para não ter que explicar mais de uma vez.

Os dois esperaram juntos a chegada da historiadora, que apareceu cerca de cinco minutos depois. 

Aquela bela morena, usando um vestido vermelho e óculos espelhados, fez com que Evandro e Emanuel ficassem boquiabertos enquanto ela se aproximava.

— O que foi? — perguntou Lívia. — Nunca me viram?

— Desse jeito, não. — respondeu Evandro.

Embora um pouco tímida, Lívia sorriu, e abraçou os dois homens que ali estavam esperando por ela.

— Então, quando é o vôo? — ela perguntou.

— Em menos de uma hora. — respondeu Emanuel.

— Sério? Então é melhor entrarmos.

Os três pegaram suas respectivas bagagens e se dirigiram para dentro do aeroporto.

— Então, Emanuel. Você disse que sabe de algo que pode provar que estamos no caminho certo da investigação.

— De fato, eu sei, Evandro.

— O que é?

— Antes de tudo... Lívia, pode me dizer aonde vamos?

— Como assim? Obviamente você já sabe!

— Mas eu quero que você me diga novamente.

— Chapada Diamantina, na Bahia. — disse Lívia, sem entender o propósito de Emanuel.

— Que fica em qual cidade baiana?

— Lençóis. É lá que vamos desembarcar.

— Agora, Evandro, lembra que eu te disse que a vítima do assassinato na Catedral de Pedra tinha viajado para uma cidade há alguns anos?

— Lembro sim.

— Hoje, eu reli a mensagem, prestando mais atenção. Advinha qual foi a cidade que ele visitou...

— Não me diga que...

Emanuel balançou afirmativamente a cabeça.

— Lençóis.

Evandro não sabia o que falar.

— E tem mais. — disse Emanuel. — Quando ele retornou dessa viagem a Lençóis, a família dele relatou mudanças estranhas em seu comportamento.

— Que bizarro. — comentou Lívia. — Coincidência ou não, muitas pessoas já afirmaram terem visto objetos voadores não identificados na Chapada Diamantina.

— E o mais estranho disso tudo — continuou Emanuel. —, é que Flávio, em seu último livro publicado, afirma já ter tido contato com extraterrestres. Também diz que estão tentando matá-lo.

— Bom, se ele teve contato com seres de outro planeta, eu não sei. — disse Evandro. — Mas que ele foi assassinado, ele foi.

Em pouco tempo, eles já haviam embarcado no avião, e esperavam o momento da decolagem. Enquanto esperavam, cada um se entretia à sua maneira. Lívia lia um capítulo do livro "Duas Viagens ao Brasil", escrito pelo desbravador alemão Hans Staden, onde ele relata foi suas vindas ao Brasil e o quão selvagens e hostis eram algumas das tribos que aqui habitavam. Esse foi o primeiro livro impresso que falou sobre o Brasil e trata-se de um dos mais importantes documentos do período colonial brasileiro. Evandro, por sua vez, jogava uma partida de Temple Run 2, o famoso jogo para Android onde você deve passar por diversas armadilhas para evitar ser pego por um bando de macacos sinistros. Já Emanuel, olhava paralisado para uma das janelas do avião, enquanto ouvia em seu fone de ouvido "O Astronauta de Mármore", música da banda Nenhum de Nós, uma versão brasileira de "Starman", de David Bowie.

A atenção dos três foi imediatamente tomada pela voz da aeromoça, que ressoou por todo o avião.

— Senhoras e senhores, em pouco mais de dez minutos estaremos decolando em direção à cidade de Lençóis, na Bahia. Um dos pontos turísticos mais importantes da cidade é a Chapada Diamantina, famosa por suas belas cachoeiras, lagoas e grutas naturais. Recebe esse nome devido à grande quantidade do minério encontrada pelos garimpeiros em épocas anteriores.

O que a aeromoça disse fez o último verso do enigma que eles encontraram no altar da igreja passar de novo pela mente de Emanuel: "Na montanha dos diamantes ainda pode ser encontrada".
 
Em menos de vinte minutos, o avião já estava decolando.

*

Mal eles imaginavam que, na noite anterior, nove horas antes, para ser mais exato, os mesmos homens que estavam envolvidos com o assassinato na igreja haviam pegado um avião naquele mesmo aeroporto, e haviam seguido o mesmo caminho.

Quando Emanuel e os seus companheiros ainda estavam experimentando o primeiro frio na barriga após a subida do avião, os criminosos já estavam em Lençóis. Estavam hospedados no Hotel Canto das Águas. Um lugar luxuosíssimo, com um belíssimo restaurante, spa e uma piscina. Recebe esse nome por se localizar à beira do Rio Lençóis.

— Sabe? — disse um deles. — Até que ajudar o chefe nessa coisa que ele planeja não é tão ruim, apesar de eu achar que ele não bate bem da cabeça algumas vezes.

— Sim, você deve ter razão. — o outro respondeu, com uma voz que demonstrava tristeza, olhando parado para a janela do quarto.

— Ah, você só pode estar de zoeira! O chefe faz o favor de nos pagar um fim de semana inteiro em um hotel cinco estrelas, com todos os luxos possíveis, e tudo que precisamos fazer é matar Emanuel Barros. E mesmo assim, você não tira esse semblante triste da cara.

O homem aproximou-se para ver o que o amigo olhava tanto da janela. A vista dava para a imensa piscina no centro do pátio do hotel, onde um homem, aparentando ter já uns quarenta anos de idade, brincava com sua filha. A esposa, fora da piscina, estava sentada sob a sombra de um guarda-sol enquanto lia uma revista e, vez ou outra, espiava o marido e a pequena criança se divertindo na piscina.

— Ah, já saquei. Está se lembrando da sua filha, não é?

O outro homem apenas continuou olhando, fingindo não ter escutado a pergunta.

— Escuta, cara. Precisa deixar isso pra lá! É passado, já era, passou. Por que ficar remoendo isso? Lamentar a morte de sua filha não vai trazer ela de volta.

— Você não tem o direito de falar sobre isso. Você não conhece a dor de segurar o cadáver de uma criança nos braços, ainda por cima sabendo que é uma filha sua. Você não tem família, como pode entender?

O homem se levantou, aproximou-se muito do rosto do entristecido amigo e disse olhando em seus olhos:

— Eu entendo, acredite. Eu entendo.

*

O avião já havia decolando há uma hora. Emanuel estava cochilando, quando uma notificação de mensagem o acordou.

Olhou o celular. Era Marcos, seu informante.

"Emanuel?"

O perito criminal respondeu.

"O que foi, Marcos?"

"Pensei que não iria responder. Achei que o uso de dados móveis fosse proibido nos aviões."

"E é. Mas não é isso que vai me impedir. Agora, diga-me, o que houve?"

"Encontramos algumas imagens da câmera de segurança do local. Achei que você poderia querer."

"Quero sim. Pode me enviar agora?"

"Só um minuto."

Marcos enviou o vídeo.

"Obrigado, Marcos."

"De nada, amigo. Aproveite a viagem."

"Acho difícil, mas agradeço."

Quando a conversa entre os dois acabou, Emanuel abriu o vídeo.

As cenas eram típicas de imagens extraídas de câmeras de segurança. Em preto e branco, baixa qualidade e a data e hora da gravação nos cantos.

Entretanto, era fácil entender o que acontecia no vídeo. As imagens mostravam Flávio correndo, enquanto outro homem o seguia. Este não estava correndo, apenas andava com um pouco de pressa nos passos. Claramente portava uma arma. Mas o detalhe que primeiro chamou a atenção de Emanuel foi a máscara de rosto inteiro que o perseguidor usava. O perito criminal sentiu um calafrio ao reconhecê-la. A mesma máscara que o homem que tentou matá-lo usou.

Pausou o vídeo e analisou. Como um bom perito de crimes, Emanuel observou cada detalhe. Notou que, além da máscara, o assassino usou calças compridas, camiseta de mangas longas e luvas na mão. Obviamente para evitar deixar alguma impressão digital que o entregasse no local do crime.

Mas Emanuel notou algo estranho no homem mascarado do vídeo: o seu cabelo.

"O cara cobriu praticamente todo o corpo para evitar deixar pistas, mas não tomou cuidado para não deixar um fio de cabelo cair, o que facilitaria seu reconhecimento através dos testes de DNA", pensou.

Mas não foi isso que fez Emanuel dar uma atenção maior ao cabelo, e sim o corte. O homem do vídeo possuía um corte degradê, enquanto o cabelo do homem que tentou assassiná-lo na igreja, pelo que se lembrava, era grande e meio ondulado. Ora, é impossível que o cabelo do homem tenha crescido tanto em um período de tempo tão curto!

Emanuel só podia chegar a uma conclusão: mais de uma pessoa estava envolvida nisso.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! ^^ ♡
Até o próximo! O/



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