O Segredo de Tixe escrita por Heringer II


Capítulo 7
Seis


Notas iniciais do capítulo

Foi mal, hoje eu estou sem ideias para a nota inicial. Kkkkkkkk.

Então, vamos direto para o capítulo...

Espero que gostem! ^^ ♡



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Emanuel, Evandro e Lívia saem do carro da historiadora e entram correndo na delegacia.

— Aonde está o delegado Cândido? — perguntou Emanuel, entrando desesperadamente no estabelecimento.

Todos olharam assustados, mas ninguém respondeu.

— Não fiquem olhando para mim com essas caras de merdas! Cadê o delegado Cândido?

Nenhuma resposta.

— Ah, que se danem! Cadê Marcos?

Mais silêncio.

— O escrivão Marcos Valério? — perguntou uma das pessoas, quebrando o silêncio.

— Ele mesmo!

— Está naquela sala. — apontou para uma porta ao lado.

— Obrigado.

Emanuel foi até lá, seguido de Evandro e Lívia. O perito criminal abriu a porta com força e raiva tão grandes que assustou Marcos lá dentro.

— Marcos! Graças a Deus te encontrei! — disse Emanuel, com um alívio tão grande na voz que a fez sair alta.

— Emanuel? O que está fazendo aqui?

— Cadê o delegado.

— Saiu, mas...

— Saiu pra onde? — começou a ficar irritado.

— Foi para a casa dele.

— O que ele foi fazer em casa? Não devia estar trabalhando?

— Se esqueceu que ele vai entrar em recesso amanhã? Ele vai viajar.

— E por que saiu agora?

— O cara é delegado! Tem o direito de sair quando quiser, é ele que manda nisso tudo!

— Ah, que droga! Ele está em casa agora, então?

— Provavelmente sim.

— Maldição! Obrigado, Marcos. Vamos, pessoal.

— Ei, espere! Você vai atrás do delegado?

— É claro que sim!

— Mas por que está tão apressado para encontrá-lo?

— Eu prometo te explicar tudo depois. Tem alguma novidade sobre o caso?

— Eu não. Mas acredito que você deva saber de algo.

— Eu sei e ao mesmo tempo não sei.

Emanuel saiu às pressas, acompanhado de Lívia e Evandro. Os três voltaram para o carro. Antes de entrar no veículo, Emanuel olhou, muito preocupado, ao redor. Queria ter certeza de que não seriam seguidos desta vez. Sentiu-se aliviado por não ver nenhum mascarado por perto.

— Emanuel, entre logo! — disse Lívia.

O perito criminal entrou.

— Para onde agora? — perguntou a historiadora.

— Precisamos ir até a casa do delegado Cândido.

— E onde fica essa casa?

— Sabe onde fica o Museu dos Beatles?

— Sei, é perto daqui.

— A casa dele é próxima de lá.

— Ok. Vamos indo.

Lívia ligou o automóvel e se dirigiu à rua do famoso museu dedicado ao quarteto de Liverpool.

— Lívia — chamou Evandro —, posso ver o enigma novamente?

— Pode sim. — respondeu, entregando a máquina para o amigo.

Evandro abriu novamente a foto que Emanuel tirou das minúsculas letras escritas no altar da Catedral de Pedra.

— Pelo tempo e pelos homens fora esquecida. — começou a ler. — No documento número 512 jaz relatada. A tríade de arcos marca a entrada da cidade perdida. Na montanha dos diamantes ainda pode ser encontrada.

— Lívia, me tire uma dúvida. — disse Emanuel.

— Qual?

— Quando li esse segundo verso, ouvi você sussurrar algo.

— Pode ler o segundo verso de novo, Evandro?

— No documento número 512 jaz relatada. — o gemólogo leu.

— Ah, sim. O Manuscrito 512.

— E o que é isso? — Emanuel perguntou.

— Ah, é uma história muito interessante. Eu a conheci quando ainda estava iniciando meus estudos sobre o Brasil Pré-colonial.

— E o que ele tem de tão especial?

— Simplesmente, pode ser uma pista da primeira civilização brasileira.

— Como assim? — disse Evandro, começando a se interessar pela história.

— Tudo começou em 1753. Na época, haviam várias expedições que tinham como objetivo explorar o Brasil, denominadas "bandeiras". Quem realizavam essas expedições eram, justamente, os bandeirantes. No referido ano, um homem chamado Manoel de Ferreira Lagos descobriu o tal documento e o entregou ao Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. O tal manuscrito ficou quase um século esquecido, até ser redescoberto em 1839 por pessoas ligadas ao Instituto. A data e o autor do manuscrito são desconhecidos, mas pesquisas indicam que ele de fato foi escrito ainda por volta do século XVIII e que seu autor foi o bandeirante João da Silva Guimarães. Atualmente o documento se encontra na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, que fez o favor de digitá-lo e disponibilizá-lo em PDF.

— E o que dizia nesse manuscrito?

— Como vocês já podem imaginar, trata-se de um relato de uma das expedições realizadas por um grupo de bandeirantes. Certo dia, eles estavam caminhando pelo interior da Bahia, quando avistaram uma montanha bem alta e cheia de cristais. Haviam tantos cristais nela que a montanha, literalmente, brilhava.

— "Na montanha dos diamantes ainda pode ser encontrada". — lembrou Evandro do quarto verso do enigma.

— Atraídos por essa montanha, eles foram até lá. Um negro escravo que estava com eles acabou se distanciando do grupo, até encontrar um caminho pavimentado que levava até o interior dessa montanha. Os bandeirantes decidiram seguir esse caminho, e quando chegaram lá dentro, descobriram o que pareciam ser as ruínas de uma antiga cidade. Essa cidade era feita de pedras, e possuía até mesmo casas com mais de um andar. Na entrada, haviam três arcos, um maior no centro, com dois menores na sua lateral.

— "A tríade de arcos marca a entrada da cidade perdida". — Emanuel repetiu o terceiro verso do enigma.

Lívia começou a se assustar ao perceber que o enigma se conectava perfeitamente com a história do Manuscrito 512.

— Por favor, Lívia, prossiga! — disse Evandro.

— Na parte superior desses arcos, haviam alguns símbolos, que aparentavam ser caracteres de um idioma desconhecido. No próprio documento, eles colocaram alguns desses símbolos.

Lívia pegou seu celular e abriu um arquivo. Nele, havia a foto dos misteriosos símbolos escritos no manuscrito.

— As casas da cidade eram muito parecidas. — Lívia prosseguiu. — No meio da cidade, havia uma praça central, com uma enorme estátua apontando para o norte. Além disso, havia um rio que levava a uma cachoeira. Próximo a essa cachoeira, havia um cemitério. Perto desse local, eles encontraram uma moeda de ouro, que foi descrita no manuscrito. De um lado dessa moeda, havia a figura de um homem pensando, do outro lado, haviam uma coroa, um arco e uma flecha. Ninguém sabe exatamente aonde está essa moeda agora.

— Isso é intrigante. — comentou Emanuel.

— Os bandeirantes seguiram até um local onde dois rios, o Paraguaçu e o rio Una, se encontram. Sentaram-se ali para descansar e escrever o Manuscrito 512.

— E nunca houve nenhuma explicação para encontrar essa cidade?

— Óbvio que sim! Mesmo sabendo que teria dificuldades, o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro decidiu investir em uma busca por essa cidade. Em 1840, eles escolheram o padre Benigno José de Carvalho e Cunha para liderar essa expedição, que após vários contratempos, deu-se início em dezembro de 1841. Mas, infelizmente, essa não é uma história com um final feliz.

— Por quê?  — perguntou Evandro.

— No ano seguinte, o padre enviou uma carta dizendo que o dinheiro que o Instituto havia mandado para ele e sua equipe era muito pouco. Devido a isso, muitos integrantes da equipe, inclusive ele mesmo, passavam fome e adoeciam.

— Dá para imaginar as dificuldades que eles passavam. — disse Emanuel.

— Mas, em abril de 1845, a situação mudou. — Lívia continuou. — Nesse mês, chegou uma nova carta do padre no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. E ela dizia o seguinte: "eu me animo em afirmar a V.Ex. que a cidade está descoberta".

— Como é? — perguntou Evandro. — Ele encontrou a cidade?

— Segundo ele, sim. — Lívia respondeu. — Mas para continuar, ele precisava de mais dinheiro, o que novamente foi negado pelo Instituto. Para piorar a situação, em 1846, o general André da Bahia ordenou que todos os recursos que eram enviados ao padre fossem cortados.

— E como o padre reagiu a isso?

— Ele ainda permaneceu na região até mais ou menos o ano de 1848. Boatos diziam que ele estava ficando louco, escutando vozes na sua cabeça e visualizando a cidade.

— Talvez, de tanto querer encontrar a cidade, ele ficou louco. — Emanuel comentou.

— Provavelmente. — disse Lívia. — O que sabe-se depois disso é que ele morreu em 1849, na cidade de Salvador.

— E quanto à cidade? — Evandro perguntou.

— Bom, hoje em dia, o Brasil inteiro está desbravado. Nunca encontraram nada a respeito dessa cidade. A única conclusão que podemos chegar é que o Manuscrito 512 não passa de uma fábula arqueológica. Pelos dados do documento, acreditava-se que ela se encontra na Serra do Sincorá, que fica na Chapada Diamantina, no interior da Bahia. Mas, como vocês sabem, nada foi encontrado.

— Isso é tudo muito estranho. — comentou Evandro.

— O que mais me impressiona é que o enigma deixado no altar da igreja faz várias referências diretas a essa história. — disse Emanuel. — Será que Júlio Tixe sabia disso?

— Talvez alguém tenha escrevido aquilo, não necessariamente o escultor que trabalhou a madeira. — disse Lívia.

— Não. — Emanuel negou. — Olhe bem para os detalhes da foto. Claramente são inscrições antigas. Veja como as bordas das letras já estão gastas.

— Emanuel tem razão. — falou Evandro. — Eu, como gemólogo, também presto atenção nesses detalhes. Nota-se perfeitamente que essas letras não são recentes, provavelmente são tão velhas quanto a própria escultura.

— Ou seja — Emanuel comentou —, possivelmente foi o próprio Júlio Tixe que escreveu isso.

— Mas que ligação Júlio Tixe poderia ter com o Manuscrito 512? — questionou Lívia.

— Talvez a resposta para isso também explique a origem dessa joia. — Emanuel tirou a gema do bolso.

Segundos depois, Lívia reconheceu a fachada do Museu dos Beatles.

Era um lugar razoavelmente grande, a parede da frente era feita de tijolos perfeitamente justapostos. Em cima, havia uma placa azul com letras de forma amarelas que diziam "O 1º MUSEU DOS BEATLES DO BRASIL". Abaixo da placa havia, do lado esquerdo, um enorme quadro com o famoso submarino do disco "Yellow Submarine". Do lado direito, havia uma vitrine exibindo os quatro uniformes que os integrantes usam na capa do disco "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band". Na mesma vitrine tinha uma frase, escrita em arco-íris, que dizia "MÁGICO E MISTERIOSO", clara referência ao disco "Magical Mistery Tour".

— E agora? — perguntou Lívia.

— Pode seguir em frente. — respondeu Emanuel.

Alguns metros a frente do museu, havia um Posto Shell. Quase vizinho posto de gasolina, havia uma casa branca de dois andares, com uma varanda no andar de cima.

— É aqui. — disse o perito criminal.

Lívia parou o carro e os três desceram. Emanuel foi até a porta da casa.

— Esperem aqui, eu vou falar com o delegado. Vai ser rápido.

O perito criminal bateu na porta, que logo foi aberta por Cândido.

— Emanuel? — disse o delegado, um pouco assustado. — O que está fazendo aqui?

— Cândido, eu preciso falar com o senhor.

Emanuel entrou, deixando Lívia e Evandro o esperando do lado de fora.

Lá dentro, Emanuel explicou rapidamente toda a situação. A jóia, a visita à casa de Evandro, as inscrições na gema, a ajuda da historiadora Lívia, o enigma na escultura do altar da Catedral de Pedra, e claro, o aparecimento do homem mascarado que tentou tirar-lhe a vida.

— Então, tudo isso se liga ao assassinato da noite anterior? — perguntou o delegado.

— Sim. Marcos me ajudou a obter informações sobre a vítima. Flávio Deodoro Mirantes, escritor de livros sobre ufologia.

— Você fez uma ótima investigação, Emanuel. Mas, cometeu um erro grave.

— Um erro? Qual?

— Deveria ter me informado sobre essa jóia e sobre essas inscrições antes.

— Me desculpe, delegado, mas você sabe que quando eu me envolvo em um caso, eu me dedico totalmente a ele.

— Eu sei, Emanuel. É exatamente por isso que eu te considero um dos melhores na sua área. Agora, me entregue a jóia.

— O quê? — Emanuel assustou-se com o pedido de Cândido.

— Você fez um excelente trabalho, mas agora essa investigação deve ser entregue às outras áreas da Polícia Civil.

— Mas... Eu ainda nem descobri a identidade do assassino.

— Então, quer continuar envolvido nisso? Mesmo tendo sofrido uma tentativa de assassinato?

— Com toda certeza, delegado.

— Mas eu posso pedir para outra pessoa investigar a identidade do assassino. Você já fez descobertas que ajudam muito a tentar identificá-lo.

— Sim, delegado, mas meu objetivo não é mais descobrir a identidade do assassino, e sim os motivos que fizeram-no cometer o crime. E para isso, eu vou precisar fazer uma viagem. Só vim aqui para lhe informá-lo sobre isso.

— E para onde você vai?

— Para a Bahia.

— Bahia? E o que diabos você vai fazer na Bahia?

— Eu te explicarei tudo assim que acabar, delegado.

Cândido olhou para Emanuel com uma expressão confusa, mas logo deu um sorriso para o perito.

— Como eu já disse, eu confio muito em você, Emanuel, apesar de achar que você vem agindo muito estranho ultimamente. Tudo bem, você tem permissão para ir à Bahia, se isso vai te ajudar em algo na sua investigação. Mas depois que ela acabar, eu vou querer saber de tudo. Cada detalhe. Entendido?

— Como o senhor quiser, delegado.

— Eu mesmo iria com você, mas vou viajar hoje mesmo com minha família.

— Só por curiosidade, delegado, para onde o senhor vai?

— Para a capital Porto Alegre.

— Ótimo lugar. Boa viagem.

— Igualmente, Emanuel.

O perito criminal saiu. O gemólogo e a historiadora o esperavam perto do carro.

— Vamos? — disse Emanuel.

— Para onde agora? — perguntou Lívia.

— Agora, se quiser, pode me deixar em casa, Lívia.

— Como assim?

— Agradeço muito a vocês pela ajuda, mas eu assumo sozinho a partir daqui.

— Tem certeza? — Evandro perguntou.

— Sim, Evandro, tenho certeza.

— Não acha perigoso demais se envolver nisso sozinho? — questionou Lívia.

— Talvez sim, talvez não. O fato é que preciso ir para casa. Minhas malas não vão se arrumar sozinhas.

— Você vai viajar?

— Sim.

— Para onde?

— Ah, me esqueci. Onde você disse que a tal cidade perdida provavelmente se localizaria?

— Serra do Sincorá, na Chapada Diamantina.

— E isso fica exatamente aonde?

— Próximo à cidade de Lençóis, no interior da Bahia.

— É para onde eu vou.

— Espera. — disse Evandro. — Emanuel, por acaso você não está pensando em procurar essa cidade, está?

— Quem sabe? Pode ser que sim, pode ser que não.

— Emanuel, isso é loucura! — disse Lívia. — Está na cara que essa cidade não existe, porque procurá-la.

— Escute, o enigma da catedral está diretamente relacionado a essa fábula. Talvez, a resposta para nossas dúvidas esteja nesse lugar que o Manuscrito 512 descreve. A resposta pode não ser necessariamente a cidade em si, mas provavelmente o local descrito no documento pode ter ligação com o assassinato. Se vocês não quiserem ir, tudo bem. Eu já os dispensei mesmo. Mas eu não vou descansar enquanto não chegar ao fundo desse caso. Ora, eu quase fui assassinado por causa disso.

Emanuel se afasta dos dois, mas Lívia o chama.

— Espere! Eu também vou.

— Como é, Lívia? — perguntou Evandro, surpreso.

— Eu vou. Eu disse que queria saber até onde isso iria.

— Bem, eu acho que só tenho dinheiro para uma passagem. — disse Emanuel.

— Eu tenho dinheiro para pagar minha própria passagem, Emanuel. Não se incomode. E se você quiser, eu pago a sua também, Evandro, mesmo sabendo que você tem dinheiro para comprar sua própria passagem também.

Evandro pensou um pouco.

— Apesar de ainda achar que isso é uma loucura total, eu vou. Afinal, quem sou eu para negar uma viagem grátis?

— Ótimo. — disse Emanuel. — Então, nos encontramos amanhã no aeroporto.


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Notas finais do capítulo

Pobre padre.

Espero que tenham gostado! ^^
Até o próximo! O/



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