Hold on escrita por Brru


Capítulo 16
O tempo




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No dia seguinte.

Era estanho esta de volta, e pior, sem querer esta de volta. A casa parecia nova depois dos breves consertos que recebeu, mas não parecia ser mais o aconchego de Julieta. Faltava tanta coisa, principalmente alguém em especial. Respirar o ar daquela casa parecia lhe dá um vazio maior ainda; não tinha cheiro de café, nem o cheiro do quarto de Aurélio, que para ela, era único.

As malas ficaram pela sala, e as três mulheres se olharam. Estavam de volta ao seu velho lugar, mas não era pouco, havia muitas lembranças daquele mesmo e despreza-lo seria algo inaceitável.

— Então, o que vamos fazer? - Mariana perguntou, arrependendo-se de ter sentando em uma poltrona ainda empoeirada.

Julieta, olhou ao seu redor, no momento necessitava esta em um lugar sozinha, chorando até que o cansaço se desse por vencido, mas, aprendera que depois de um respirar fundo tudo poderia ser resolvido. Então, respirou o mais fundo que pôde.

— Vamos trabalhar! - falou sorrindo.

— Trabalhar? - a irmã mais nova indagou. - Mas nunca trabalhamos!

— Bom, você não, dondoca, mas eu e mamãe já fizemos alguns bicos de costureiras quando as coisas estavam ficando difíceis demais, pois bem, há sempre uma madame afim de fazer consertos em seus vestidos.

— Você fala das mais miseráveis? - a mãe perguntou.

— Sim, mamãe.. Logo, pensarei em algo que dos dê mais lucro, no entanto, no momento fora o máximo que me veio a cabeça..

— Eu não sei costurar, o que farei? - Mariana, pareceu decepcionada.

— Você é inteligente, Mariana, há de encontrar um emprego na cidade. Além do mais, é linda. - sorriu.

— Tudo bem. - ela assentiu. - Se fora para ajuda-las, farei de tudo.

— Opa! Nem tudo, senhorita. - a mãe disse a advertindo.

— Eu sei, mamãe.. - virou os olhos fazendo a mãe rir.

Pequenos ruídos chamaram a atenção de ambas, e bastara poucos instantes para alguém bater na porta.

— Julieta, será que..? - Mariana perguntou levantando-se.

— Não, Mariana. Aurélio não vem.. - respondeu a irmã tristonha. Aquela certeza lhe era tão certa que ao abrir a porta ficara feliz em ver Afonso. Ele, não viria porque estava decidido, mesmo que não a culpasse de nada era melhor que não a desse outra chance, e isso estava matando-os.

— Olá! - o empregado disse, com meio sorriso.

— Afonso. Entre!

— Não é necessário, Julieta.. - respondeu, lhe entregando um envelope. - Vim apenas lhe entregar estes documentos. - ela aceitou o envelope, mas duvidosa.

— O que há?

— São as escrituras da casa, e de toda fazenda. - falou, e engoliu em seco vendo os olhos de Julieta se derreterem em lágrimas. - Há também uma promissória alegando que vocês já não devem mais nada aos Cavalcantes.

— Bom, pelo menos isso! - Mariana disse de longe.

— Obrigada, Afonso. - Julieta murmurou, o mais rápido possível ou não conseguiria conter o que tanto seus olhos queriam derramar.

— Só fiz meu trabalho, Senhorita. - ele lhe segurou a mão em um gesto repentino. - Está bem?

— Ficarei.. - ele assentiu, dando meia volta e partindo.

Julieta, virou-se para a mãe e a irmã, e soube naquele exato momento que essa história de respira fundo não era certa, porque a cada suspiro que dava lhe doida a cabeça, o peito.. Estava ali em suas mãos a única coisa que ainda lhe ligava a Aurélio, bom, no entanto, agora já não servia de nada. Conter o choro não era nada agradável, então, deixou os papéis em cima do velho sofá e rumou para seu antigo quarto. Respirar agora lhe foi mais fácil, mas desesperado a ponto de não sentir mais nada além do vazio em sua vida. Estava sendo como no dia que perdeu seu pai, no entanto, lhe parecia que alguém estava com a ponta de um punhal lhe ferindo a cada segundo.

Aurélio, fingia ler um livro enquanto estava deitado em sua cama. A casa estava silenciosa aquela noite, ouvia-se apenas o cantar dos grilos que vinha pela janela, o ar também lhe era estranho; estava frio mais que o normal.

Sua mente nada bondosa, lembrou-o rapidamente que há algumas noites atrás o mesmo já não dormira sozinho, e se sentia frio, não era culpa da noite e sim, do vazio que estava ao seu lado; nem mesmo os travesseiros poderiam cessar o seu frio. Suspirou, jogando o livro em um canto qualquer. O cheiro de Julieta estava impregnado em suas narinas, em sua mente, até mesmo em suas próprias roupas. O formato do corpo que era único, os cabelos sedosos e brilhantes..

Quando lhe viu partir, pensara que aquela inquietação que estava sentindo era passageira. Sempre fora bom em se recuperar e se reerguer de seus caos, mas esse no momento, parecia não ter cura. Já estava consciente que não dormiria aquela noite e talvez muitas mais, ela estaria ali em seus pensamentos, o som da sua voz doce, os sons dos beijos.. a lembrança lhe faria recém. Mas passaria, tinha que passar.

A porta fez seu costumeiro barulho de quando se é aberta, e ele se deparou com um rosto triste e choroso o olhando.

— Venha cá. - disse.

A pequena menina quase correra e deitou-se ao seu lado.

— O que houve? - ele perguntou, sentindo Rosa se esconder entre suas costelas.

— Mariana me faz falta. - murmurou. Ele respirou fundo. - Sempre me contava uma história, e as vezes dormia comigo.

— Eu sei, as coisas não eram para ter terminado assim.

— Então, vá buscá-las, por favor..

— Também não se pode tomar decisões tão precipitadas.

— Então, não dormirei até Mariana voltar! - disse em um tom bravo, ele sorriu. Em um gesto carinhoso lhe cobriu as pernas com o coberto.

— Diga-me o que quer ouvir.

— Um conto.. Sobre dragões, e fogo. - ele franziu o cenho surpreso.

— Tem certeza?

— Sim!

— É essa sua tática para não dormir nunca mais? Talvez, os dragões sejam bonzinhos e.. - ele parou de falar quando suspiros eram apenas o que vinha de Rosa. A menina havia caído no sono; o pequeno braço descansava em cima do peito de Aurélio, e ela parecia se sentir segura e confortável.

Ele suspirou, e sorriu. A noite já não seria tão ruim, havia um bom motivo para ainda se querer continuar, e ele era bem pequeno e teimoso.

— Oi, podemos conversar? - Julieta perguntou a mãe que já estava a ponte de se deitar.

— Claro. - Guadalupe lhe sorriu. - Sente aqui.. - ambas sentaram-se na cama. - O que aconteceu?

— Quero pedir desculpas. - murmurou. A mãe via as marcas do choro em seu rosto, mas sabia que era necessário esvaziar todo recentimento e chorar era mesmo que triste, um bom começo. - Por tudo que a fiz passar até aqui. Provavelmente estão falando sobre nós por todos os lados.. E... - engoliu em seco. - Só me desculpe. - a voz embargou, e ela abraçou a mãe.

— Não precisa se desculpar, meu amor. Todos nós temos culpa no que houve. - limpou as lágrimas que escorriam pelo rosto de Julieta. - Bom, se não tivéssemos ido aquele baile, talvez nada disso teria acontecido.

— Talvez..

— Eu sempre quis vê-las felizes..

— Sempre fomos, mamãe, mesmo depois da morte de papai você sempre deu um jeito.

— E é isso que faremos agora. Se o destino não quis que ficassemos, bom, que você ficasse com um certo Barão, não há problemas. O importante é que eu sempre as tenha por perto.. Sim? - Julieta assentiu.

— Posso dormir aqui essa noite? - perguntou já entrando debaixo dos cobertores.

— Pelo que vejo não tenho outra opção.. - a mulher disse deitando-se também. - Vai ser uma longa noite.. - comentou.

— Daqui pra frente, sempre será longas, as noites, mamãe. - ela respirou fundo fechando os olhos.

...

Duas semanas depois.

Essa manhã Guadalupe havia deixando as duas filhas responsáveis por todos os afazeres. A mulher fora a cidade, havia recebido várias encomendas aquela semana, e estava feliz com a popularidade de suas costuras.

— Droga! - Julieta blasfemou, depois de deixar cair uma xícara.

— Você está bem? - Mariana perguntou se aproximando. - Deixe que eu limpo.

— Não, esta tudo bem! - afastou a irmã dos pedaços de porcelana. - Eu só preciso juntá-los.. - dobrou os joelhos pronta para recolher um por um dos pedaços, mas imediatamente ergueu-se pondo a mão na testa. Julieta cambaleou para trás, e fechou os olhos.

— Julieta.. - Mariana a segurou pelos braços e a ajudou a sentar-se. - O que houve?

— Eu só estou.. - abriu os olhos. - Com saudades.

A irmã pensou por alguns instantes até entender o que a Julieta quis dizer.

— A saudade lhe fez deixar cair uma louça de mamãe? Ela vai nos matar!

— Mariana, você percebeu quando tempo já passou? E ele nem mesmo deu notícias.

— E por que daria, minha irmã? - disse a segurando a mão. - Você já sabia que seria assim.

— Bom, pelo menos notícias de Rosa .

— Julieta.. Eu sei que se apaixonou, e que não é nada fácil livrar-se desse sentimento, mas temos que encarar a realidade, sim?

— Eu só queria vê-lo, Mariana. - se levantou ficando de costas para irmã. - Saber como ele está, se também está em agonia como estou.

— Não dizem por ai que se sabe quando alguém nos ama? Se você de alguma forma sentiu que ele a ama, é lógico que ele também sofre. - sorriu.

— Por que temos que complicar tanto as coisas? - grunhiu, sentindo uma leve tontura. - Infernos! Ele só precisava entender que, nós dois juntos seria o suficiente..

— Você não vê mesmo possibilidade de esquecê-lo?

— Como vou esquecer o que conheci dele? Ninguém mais sabe de tanto que sei.. As outras faces dele.. O quanto é nobre e bom!

— Fala só disso? E as físicas? - arqueou a sobrancelha curiosa. Julieta se ruborizou imediatamente.

— Por que você tem que ser tão invasiva?

— Está claro que aconteceu algo a mais... - piscou para Julieta que agora estava enfurecida. - Um dia você a de me contar.

— Você é...

Bufou.

— Me ajudem, por favor! - ouviram o suplico e rapidamente correram em direção a sala de visitas.

Uma mulher loira e rechonchuda estava a ponto de cai no chão de tão pálida. Julieta e Mariana, ajudaram a mesma a se sentar no sofá, mas sem nenhuma ideia do que fazer.

— Me desculpem.. - a mulher disse entre um sorriso forçado. - Vim da cidade até aqui a pé.

— O que? Você só pode está brincando! A cidade fica a léguas daqui!

— Minha irmã está certa. - Mariana afirmou. - Como podemos ajuda-la?

— Necessito de algo para beber. - falou.

— Onde moras?

— Na fazenda ao lado, sou empegada dos Donos, mas eles não permitem que os empregados usem os veículos no dia que nos dão livre.

— Isso é um absurdo!

— Desculpe por incomoda-las..

— Não se preocupe.. - Julieta a conformou. - Mariana irá preparar algo para você comer, claro, se desejar.

— Me faria um grande favor. - a mulher assentiu sorrindo.

— Volto em um instante. - a irmã mais nova disse rumando a cozinha.

— Você está pálida.. Como se chama?

— Ah, Julieta!

— Julieta, é belo nome. - afirmou. - Não anda se alimentando direito?

— Ao contrário, como tudo que vejo pela frente. Não me é estranho que todas os meus vestidos estão me apertando pelos lados..

— Devo esta equivocada, deve ser apenas a cor de sua pele. É tão branca e bonita, parece feita de porcelana.

— Obrigada, mas venho me reparando muito estranha ultimamente.. - sussurrou para que Mariana não pudesse ouvir. - Sinto muita tontura, e fome.. Devo esta com algum vírus.

— O que mais sente? - a pergunta a fez pensa por alguns segundos.

— Sono, Deus, como estou dormindo e meus seios doem como se minhas regras estivessem prontas para vir. - se deu por vencida e sentou ao lado da mulher.

— Bom, eu não quero assusta-la mas quando eu estive grávida, sentia as mesma coisas.

— Gra- grávida??? - se levantou atordoada sorrindo nervosamente. - Eu não posso está gra..-parou sua certeza quando encontrou os olhos da mulher. De imediato olhou para sua barriga e a segurou com as duas mãos como um sinal de conforto.

— Você está bem? Talvez seja outra coisa..

— Não, se esses são os sintomas eu.. - as palavras a fugiram, as mãos já começaram a transpirar e os pensamentos se embolarem. Ela e Aurélio, sim! E não fora apenas uma vez, aconteceu em seu quarto, e na banheira por duas vezes e... Aquilo era louca, se de fato fosse verdade, Julieta, estava em maus lençóis. No entanto, por outro lado ter um pequeno pedacinho por menor que fosse de Aurélio dentro de si, lhe deu uma certa felicidade a qual ela não sentia há algum tempo. - Me prometa que não comentará com ninguém. - pediu.

— Dou minha palavra. - a mulher disse com o queixo erguido. - Mas, você não me parece feliz.

— Não, não! Eu estou feliz.. - disse já emocionada.

— Então, corra conte para o pai!

— Pois, é provável que ele nunca saiba.. - confessou. - Não somos mais noivos. - a mulher incrédula engrandeceu os olhos.

— Mas isso é impróprio! Uma mulher não pode cuidar de um filho sozinha... Você a de dizê-lo! - insistiu. - É a lei da vida..

Quando Julieta viu Mariana já em suas direções aproximou-se mais da mulher e lhe segurou as mãos.

— Eu contarei.. - mentiu. - Mas agora precisamos mudar de assunto.

...

A mulher fora embora, e desde então, Julieta se trancafiou em seu quarto. As mãos não saiam de cima de seu ventre. Tudo nela estava inquieto, aquilo era tão bom, ao mesmo tempo que intenso e inexplicável. Como contaria para Aurélio? Contaria?

 


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