Sequestrada - Número 1970 escrita por Carolina Muniz


Capítulo 18
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Estou aqui nesse 30 de dezembro - penúltimo dia de 2018 - para um cap todo baquístico, I love vcs, feliz ano novo à todos



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Já teve um sonho que parecia tão real, e quando você acorda quer ficar de olho fechado, para prendê-lo?

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¤ Capítulo 17 ¤ 

Ana queria ter sentido aquilo, ter sentido e aproveitado todas as sensações que um beijo pode fazer uma pessoa ter, mas não foi possível. Quando Christian tocou sua cintura de leve, trazendo-a para mais perto de si, a porta da sala se abriu. Eles se afastaram um do outro no mesmo instante, e enquanto Ana apenas desviou o olhar para o chão, Christian parecia irritado pela interrupção. A garota não sabia se estava feliz, por alguém ter interrompido o que provavelmente seria um erro, ou com raiva por estar ofegante, e com certeza mais vermelha do que deveria.

— O que foi? - Christian perguntou, para quem quer que ousou entrar sem bater.

— Aconteceu uma coisa... - era a voz da Kate, o que fez Ana encará-la. - Um homem foi morto, no Park Wilker. Testemunhas disseram que foi um carro preto e que um cara atirou do nada.

O coração da garota disparou, não do jeito bom como há poucos segundos, e sim de um jeito ruim, do jeito em que chega a apertar quando acelera demais. E ela soube que até Christian sentiu quando ele se virou para ela.

Havia muitas coisas que ele podia dizer, e Ana meio que ficou em expectativa para escutar, a respiração entrecortada.

— Não vá para casa - foi o que ele disse, antes de sair com Kate da sala de vídeo.

Ana mordeu o lábio inferior e se recostou na parede atrás de si, encarando o nada.

O que acabou de acontecer? Ela estava triste, depois feliz e então aquilo? Sua vida parecia uma montanha russa descontrolada. Alguém tinha que achar a válvula de segurança, por que ela não estava dando conta de tudo sozinha.

Ouviu o barulho da garagem, e então dos carros, ainda de olhos fechados, se sentou no chão... esperando.

Longos minutos se passaram, talvez até horas, e Ana ainda tinha o coração apertado e a sensação dos lábios de Christian sobre os seus.

Aquilo foi um tremendo de um erro enorme! Não foi? Ou estava tudo bem eles se beijarem?

Deus, ela tinha que arrumar mais coisa para pensar, não é?

A garota olhou para o relógio, os ponteiros marcavam 23h42min. Ela já estava ficando com sono, não havia mais conversas lá embaixo e as ruas lá fora não fazia barulho. Já havia visto dois filmes dramáticos em que o casal fica junto no final, e são felizes com uma música do Jason Mars. Aquilo não acontecia na vida real. Que palhaçada! Odiava filmes falsos. Mas sempre via por que eram perfeitos além de tudo.

Passava os canais, mas não havia nada de interessante, mas não iria desligar a TV, não gostava do som silencioso que ficava toda vez que não havia som dentro da casa. Os pensamentos tomavam posse, e aquilo era uma tragédia.

O relógio marcava 00h32min quando a porta da sala se abriu.

Christian entrou na sala, seguido por Kate e Ellio.

Ana ficou de joelhos em cima do sofá e se virou para trás.

— Finalmente - ela bufou. - Está tudo bem? - perguntou quando reparou a expressão séria e cansada dos três.

— Claro, por que não estaria? Estamos todos bem, tudo está bem - Elliot falou de forma exagerada, jogando-se numa das poltronas.

Ana revirou os olhos e encarou Christian.

— Não se preocupe - ele murmurou, caminhando em sua direção.

Kate e Elliot praticamente discutiam enquanto apenas conversavam aos sussurros, não prestavam mais atenção em Ana e Christian.

— Você não acha que está tarde? Por que não está dormindo? - o agente questionou.

— Não consegui - respondeu Ana.

Ele balançou a cabeça.

— Tudo bem... - ele suspirou.

Ana mordeu o lábio inferior e ignorou o coração dando chilique adolescente quando ele se sentou ao seu lado.

Tudo ficou em silêncio, e Kate e Elliot agora os observavam.

Alguma coisa séria acontecera.

— Vocês vão falar ou eu vou ter que ficar perguntando? - ela murmurou.

— Você é abusada assim com todo mundo? Sabia que a gente pode te prender? - Elliot falou.

Ana bufou e se virou especificamente para Kate, que balançou a cabeça e levantou as mãos em rendição como se disse "eu já desisti".

— Ta', Elliot, cala a boca - Christian mandou.

— Mas ela...

— Cala a boca - Kate falou, sentando-se no braço da poltrona.

Ana sorriu maliciosamente, ganhando um olhar semicerrado de Elliot, que colocou a arma em cima da mesinha de centro lentamente.

— Vocês dois parecem crianças - Kate resmungou. - Agora é sério, Elliot, sabe disso.

Ana cruzou as pernas no sofá e tentou não pensar a fundo quando Elliot realmente parou com as brincadeiras e apenas encarou Ana como um profissional.

Era mais do que sério!

— É sobre o Hyde - Kate começou.

Ana engoliu em seco, não se movendo nem um centímetro, mas seu coração acelerou. Por que iriam falar sobre Jack? Ela não queria saber!

— Eu não... - ela começou, mas sua garganta se fechou com um nó.

Kate se levantou e se sentou ao seu lado.

— Houve outras - declarou. - Outras garotas.

— No quarto? - Ana questionou num fio de voz.

— Não. Outras vítimas de Jack - foi Elliot quem respondeu, recebendo total atenção da morena. - Você não foi a primeira. Hyde já fez isso antes, ele já pegou outras garotas de 17 anos e as trancou por anos. Ainda não encontramos nenhuma relação entre vocês, apenas que são todas da mesma idade e todas são morenas.

— O negócio é que uma outra menina foi encontrada em uma das casas que pertenciam à ele. O quarto no porão onde ela estava, era exatamente igual ao que você estava. O carcereiro disse que não via Hyde a quase um ano, e que o pagamento era feito em conta - Christian declarou.

— Essa garota não teve a mesma sorte que você - Kate murmurou, pegando sua mão, o olhar vazio. - Enquanto ela ficava lá, Hyde a esqueceu, não sei... ela teve uma filha com o carcereiro.

Ana franziu o cenho.

— Ela o quê? - perguntei totalmente surpresa.

— Não foi por livre e espontânea vontade - Elliot foi rápido em dizer.

Que horror!

Ana mirou o chão.

Existiam pessoas numa situação pior do que a dela.

Aquela era frase que ela usava sempre que as coisas pioravam, quando ela se sentia tão no limite que podia sentir os pulmões parando de funcionar e tudo a sufocava de repente.

Sempre existiria alguém nunca situação pior, sempre existiriam alguém precisando de mais, tendo menos, sofrendo mais...

— E ela está bem? - questionou.

Levou alguns segundos, o que fez a garota encarar Kate a espera de uma resposta.

— Não - a loira respondeu. - Ela... Ela se suicidou. Por isso descobrimos sobre ela. O cara não sabia o que fazer, Hyde não atendia suas ligações. Então, ele ligou para a polícia e fugiu, com uma denúncia anônima. Desde então, foi um caso que ficou em aberto. Ninguém solucionou, ninguém nunca descobriu onde estava o bebê. Mas o cara do aeroporto, há três dias, depois de um interrogatório com Christian, finalmente falou tudo.

O coração de Ana apertou e ela se virou para o agente ao seu lado.

— E o bebê?

— A garota se suicidou no mesmo dia em que provavelmente você deu a luz, e a criança foi tirada dela. Pelas descrições que o cara deu, era a mesma mulher que fez o seu parto, Mariana Person. A garota teve o bebê dois dias antes do suicídio, a criança nasceu morta.

Ana queria perguntar o que ela tinha a ver com aquilo, porque eles estavam contando aquelas coisas para ela, mas não conseguia, de qualquer forma ela queria saber sobre a outra garota.

— E o que fizeram? - perguntou, com medo da resposta.

— Tudo indica que ela estava na mesma casa que você.

— Que eu? Não havia nenhum bebê lá.

Bom, se houvesse também ela não saberia!

— Havia sim, no dia em que você teve sua filha. Mariana ia cuidar do bebê, e com "cuidar" quer dizer desaparecer com o corpo - Elliot respondeu.

Ana trincou os dentes um no outro.

Era muita maldade!

— Mas aí você entrou em trabalho de parto, e ela não teve tempo. Hyde disse que Sarah havia jogado sua filha no Lago Wilker - Elliot completou.

— Drenamos o lago, Ana, mas o bebê que encontramos no lago não é seu - Christian sentenciou.

Ana ainda tentava não pensar muito a fundo nas palavras dele, com medo de sua cabeça tracionar em função à elas, e ela cair de muito alto quando suas expectativas forem destruídas.

— Talvez fosse isso que ela tentava te dizer - Kate murmurou.

— O quê? Que minha filha não estava no fundo do lago, e sim debaixo de 7 palmos da terra? Eu não estava a fim de ouvir nenhum dos dois! - Ana vociferou.

As lágrimas escorreram por seu rosto sem ao menos perceber que estava se formando.

Droga, ela prometeu a si mesma que não ia mais chorar por nenhum mal que Jack tenha lhe feito! Mas aquilo? Aquilo era demais, era sufocante!

Ela não conseguia respirar.

— Ana, respira - Christian murmurou gentilmente, tocando seu cabelo de uma forma que realmente a lembrou de como encher os pulmões de ar.

Ela se concentrou em expirar e inspirar, mas ainda assim não perdeu a troca de olhares entre Kate e Elliot enquanto Christian continuava acariciando seu cabelo.

— O que houve? Tem mais alguma coisa, não tem? - ela questionou, tendo Christian segurando sua mão com firmeza para fazê-la continuar sentada no sofá.

— Se acalma e respira - ele pediu.

Ela passou as costas da mão pelo rosto e limpou as lágrimas, jogou o cabelo para trás e o enrolou em um coque, o tempo todo se concentrando em inspirar e expirar, acalmando a respiração e o coração.

— Eu estou bem - murmurou, voltando a dar completa atenção para os três agentes.

Foi Kate quem falou.

— Ela trocou o bebê.

— Como? - Ana questionou confusa.

— Ela trocou o bebê morto pelo seu - Elliot explicou. - Foi a sua filha que ela levou - ele trocou um olhar com Christian antes de continuar. - Nós fomos até a casa de Mariana Person, tudo o que ela fez nos últimos meses foi tentar te contar. Mas Hyde a impedia de vê-la.

— Ele sabe?

— Não. Ele acha que Sarah realmente a jogou no lago - Kate respondeu.

— Então a Mariana não fez nada com ela? Ela trocou o bebê para o Jack não pegá-la? - Ana falou devagar, tentando entender tudo e não acabar se confundindo.

— Sim.

— Por quê?

— Eu não sei. Ela só trocou. Na verdade, o bebê que ele viu saindo com Sarah já estava morto - Christian respondeu.

— E? O que a Mariana fez? - Ana se virou totalmente para ele.

— Acho que é o que ela queria te contar, e não deu tempo - disse ele.

— Como assim? Ela disse 1970...

— E você pode fazer alguma ideia do que seja? Ou do por quê ela disse isso? - Kate questionou.

— Não, ela só disse - Ana encarou Christian, procurando algum resquício de clareza, de que ele soubesse o que era.

— Eu não sei o que isso quer dizer, Ana, eu sinto muito - ele murmurou, colocando uma mecha de seu cabelo atrás de sua orelha quando percebeu os olhos da garota voltando se encherem d'água.

A garota mordeu o lábio. Sua cabeça parecia girar, era como se ela estivesse perdendo algo... Algo muito importante.

— Como não? Christian, você tem que saber. Você sabe de tudo!

— Nem tudo.

As lágrimas escorreram de novo, mas ela não se importava mais. Elas iriam vir mesmo. Quem ela achava que era para acreditar que poderia ser forte? Enfrentar tudo aquilo, sem uma única gota?

— Christian, por favor - ela pediu.

Kate desviou o olhar, sentindo sua própria garganta se fecha; Elliot sem dizer nada, levantou-se e saiu da sala, logo sendo seguido pela loira.

Christian tocou o rosto de Ana e limpou suas lágrimas com os polegares.

— Eu não faço ideia do que ela quis dizer com isso - ele disse gentilmente.

Ana inclinou para frente e deixou a testa descansar no ombro do agente, fechando os olhos em seguida, não se preocupando com as lágrimas manchando a camisa alheia.

— Eu vou enlouquecer - ela sussurrou.

Christian passou um dos braços por sua cintura e segurou seu rosto com a outra mão, trazendo-o para perto do dele para que ela o encarasse.

— Você vai ficar bem, eu prometo - ele garantiu.

Ana balançou a cabeça e se afastou minimamente dele.

— Eu fiquei mais de um ano naquele lugar. Eu tive uma filha lá e vi ela ser tirada de mim por um psicopata assassino. Realmente acreditei que ele havia afogado minha filha... Você acha que isso não faz alguém enlouquecer? Eu estou surtando. E a única coisa que está me impedindo de surtar de vez é saber que ela pode estar viva - ela os olhos com força, finalmente falando. - Eu preciso dela, entende? E você tem que encontrá-la. Não importa como, ou o que você vai ter que fazer para encontrá-la. Mas eu preciso que você encontre, nem que você tenha que fazer todos os bebês desse país fazer um exame de sangue!

Ele apenas a encarou, continuando a acariciar seu cabelo.

— Nós vamos encontrá-la. Mas você precisa se acalmar, okay? - ele murmurou. - Essas coisas demoram.

— Tudo bem... - ela respondeu, limpando as lágrimas com a manga da camisa. - Mas se eu estivesse com uma criança roubada, a primeira coisa que eu faria seria sair do país com ela.

— É decretado por lei que um bebê só pode viajar a partir dos seis meses - ele falou.

— Então, ela ainda está por aqui? - questionou ela, inclinando a cabeça para trás para poder encará-lo.

— Eu acredito que sim.

— Mas como você vai encontrá-la? - Elliot falou, mostrando presente para Christian e Elliot, se aproximando dos dois que se afastaram. - Ela pode estar em qualquer lugar. Existem centenas de bebês só na cidade... Não sei nem por onde começar.

Christian deu um olhar duro para ele.

— Vamos encontrá-la! - Kate garantiu entrando na sala também.

Mas Elliot tinha razão.

— Isso não muda o fato de que não fazemos ideia de onde bebê está, e muito menos de como ela é - disse o agente.

— Mas nós vamos encontrá-la. Nem que dure... - Kate insistiu.

— O quê? A vida toda? - Ana interrompeu. - Nem que dure a vida toda? Acontece que não temos a vida toda! É um bebê! Se demorarmos muito, quem estiver com ela vai embora. E se isso acontecer, aí sim nunca vão encontrá-la. Seria impossível encontrar um bebê que ninguém sabe que está vivo ou tenha visto como é nesse mundo inteiro!

— Mas não é impossível, Ana. Você só tem que ter um pouco de fé - Kate falou.

Ana inspirou o ar devagar, apoiando o queixo no ombro de Christian, passando os braços a seu redor e se deixando levar, mirando Kate e Elliot.

— Fé... - ela sussurrou contra o nada.

Sua filha... Estava viva. Estava por perto.

E ela só precisava de fé.

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