O Fantasma escrita por Helen


Capítulo 3
Ato 3 – Sentimentos


Notas iniciais do capítulo

O Fantasma sente-se solitário em seus pensamentos e sentimentos, e resolve isolar-se. No seu isolamento fajuto, percebe que não é o único que sofre. Mas não consegue ajudar ninguém ao seu redor.



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Fantasma. (honesto e solitário, no fundo do palco) Ah, sofrimento! Esse fundo de poço, de onde só vejo a luz de cima, que me ilumina e ao mesmo tempo me isola. Vejo todos me olhando de cima (faz gestos como se estivesse mesmo dentro do poço) acenando e sorrindo... Somente suas sombras ficam para mim... Ah, sofrimento! Que enfraquece os homens e corrói as mulheres... ah, sentimento fúnebre, elevado, que cega os olhos e transforma a alma... ah, sofrimento...

(Quieto entra na sala, acompanhado de alguns amigos, enquanto ri. Mas quando eles se vão, senta-se, no lado oposto do Fantasma.)

Quieto. (honesto e solitário) Queria eu poder dizer tudo o que quero dizer.

Fantasma. (em resposta) Diga!

Quieto. (sozinho) Será que devo?

Fantasma. Há aqui contigo somente um fantasma. Direi o que acho, mas a escolha de ouvir é tua.

Quieto. (tímido) Queria eu... poder dizer... Que de todos, só gosto de um.

Fantasma. E quem é?

Quieto. De mim mesmo...

Fantasma. Todos mudam, mas somente nós mesmos acompanhamos nossas mudanças lado a lado...

Quieto. Briguei hoje com um velho amigo.

Fantasma. Velho amigo de quanto tempo?

Quieto. Três semanas.

Fantasma. Velho, velho amigo...

Quieto. Vou perdê-lo por causa de mim mesmo...

Fantasma. Seria melhor nem tê-lo conhecido...

Quieto e Fantasma (em coro, completando a fala anterior do Fantasma)...do que perdê-lo por algo tão besta.

Fantasma. Nós somos cruéis com os outros e com nós mesmos.

Quieto. Queria não precisar fingir tanto...

Fantasma. Sei como é...

Quieto. Será que sabe mesmo?

(Entra Ego. É o maior defensor de Quieto. Tão defensor, que fala e faz tudo o que Quieto quer.)

Ego. (declara em alta voz) Sabe nada! Só eu sei sobre minha própria vida!

Fantasma. (para Ego) Ei, quem te chamou na conversa?

Ego. (para Fantasma) Meu nome é Ego, e eu entro na conversa que eu quiser!

(para Quieto) Não o ouça, camarada Quieto. Ele não sabe de nada! É só um fantasma! Você é quem sabe de tudo!

Quieto. (para Ego) De que adianta saber de tudo, se nada que sei serve para alguém além de mim?

Ego. Você é somente um gênio incompreendido! Todos esses outros são inferiores a você.

Quieto. Então quer dizer que eu sou um gênio? E por isso vivo tão sozinho?

Ego. (dá de ombros) São os ossos do ofício.

Fantasma. (para Quieto) Não escute esse aí! Ele só vai piorar a sua situação!

Quieto. (para Fantasma) E o que eu vou fazer? Aceitar que sou uma pessoa qualquer que é sozinha simplesmente porque é?

Fantasma. Às vezes a solidão é causada por nós mesmos, e não por nossa genialidade.

Ego. Mas você, Quieto, com certeza é um gênio. Mesmo que não se sinta um.

Fantasma. Sendo gênio ou não, você precisa olhar a solidão com olhos que não são os seus, Quieto!

Quieto. (presta atenção ao discurso de Fantasma, curioso) Olhos que não são meus?

Fantasma. Nunca teve a audácia de se olhar com olhos diferentes dos seus?

Quieto. Como assim?

Fantasma. Nunca experimentou a opinião dos outros sobre si mesmo?

Quieto. Eu já sei o que todos pensam: ninguém gosta de mim.

Fantasma. E quando foi que descobriu isso?

Quieto. Quando eu, lá na infância, na longínqua infância, recebi um carrinho de plástico enquanto todos ganhavam hotwheels.

Fantasma. Nem eu que sou fantasma lembro tão bem da minha infância!

Ego. Isso só prova como você é um gênio da lembrança, camarada Quieto.

Quieto. É, devo ser, devo ser... (sua timidez converte-se em uma postura de orgulho) Conte-me mais, Ego. Conte-me mais como sou um gênio.

Ego. Terei prazer em dizer-lhe, camarada Quieto.

(os dois saem)

Fantasma. E lá se perde mais um gênio em potencial...


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