Brighter escrita por nerdsarehere


Capítulo 3
Now I think we're taking this too far


Notas iniciais do capítulo

Postando de uma vez, porque senão eu esqueço, tá bom? Os capítulos tão grandões, mas vale a pena continuar lendo. Ah, e um aviso: vai ter continuação.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/76452/chapter/3

 Capítulo 3 — ...now I think we're taking this too far

 

 

   Don’t you know that it’s not this hard, well it’s not this hard

   But if you take what’s yours then I’ll take mine

   Must we go there, please not this time, no not this time

 

O resto do ano se passou tão rápido e tão devagar para Lily e Teddy que os dois pensaram, quase que ao mesmo tempo, que deveriam estar enlouquecendo. Mas, bem, como nenhum dos dois estava sabendo notícias do outro, eles não tinham como saber dessa coincidência.

Fevereiro, março, abril, maio, junho, julho e agosto: cada um deles carregava um pouco da aflição de Lily, e da recuperação lenta, mas eficaz, de Teddy. De modo que, quando era chegado setembro, ela fez questão de tê-lo na estação de King’s Cross pela ocasião do seu aniversário. Após um café da manhã especial para comemorar seu aniversário, ela saiu com seus dois irmãos mais velhos — e superprotetores — e os pais, e a família Potter se dirigiu, alegre e falante, na direção da Plataforma 9 ½.

— Teddy. — Lily girou em torno de si mesma ao atravessar a parede de tijolos que separava o mundo bruxo dos trouxas. — Onde está o Teddy?

Teddy não tivera coragem de usar o cabelo azul, pois não queria que a pequena ruiva o reconhecesse de imediato. Mas ela, interrompendo seu giro pela metade, se dirigiu em linha reta até o homem com ares de nobreza que a observava, do outro lado da plataforma.

Por que você está se disfarçando? — sibilou ela, apertando os olhos.

Ele ficou sem fala, mas não pelo fato de a menina tê-lo reconhecido. Lily estava completamente diferente: os cabelos ruivos continuavam longos e soltos, como ele sempre se recordava, mas um tom travesso de azul figurava nas pontas. Ela estava no mínimo quinze centímetros mais alta, e o uniforme de Hogwarts — as meias compridas, o suéter e a saia pregueada — concedia a Lily um ar de maturidade.

Em suma, Teddy pensou que iria desmoronar de saudade.

— Também senti saudades, pequena. — Respondeu ele, rindo com sua voz rouca de velho. Ela girou os olhos, e não perdeu tempo em jogar seus braços ao redor dele e aspirar aquele cheiro tão esquisito, que mais parecia uma mistura de todos os cheiros preferidos dela. “Até seu cheiro é multicolor” pensou Lily, satisfeita.

— Qual o seu problema, Lupin?

Ela se afastou para encará-lo, com as mãos nos quadris. Teddy concluiu, carinhosamente, que aquilo deveria ser uma herança de todas as garotas Weasley. Esperou que ela continuasse o sermão, pois já havia visto Ginny fazer aquilo muitas vezes.

— Me deixou sozinha durante um ano, um ano, praticamente! Eu fiquei lá, plantada como uma idiota, esperando você me contar histórias antes de dormir. E você, é claro, sempre tinha uma desculpa para escapulir mais cedo!

— Eu realmente fui promovido — revelou ele, acanhado pela veracidade das acusações.

— Ora, de que me importa! — Lily continuou com o escarcéu, longe da vista dos pais e dos irmãos, jogando as mãos para o alto e olhando severamente para o velho que era Theodore. — E ainda tem a audácia de se disfarçar, para que eu não consiga reconhecê-lo!

Houve um estalo, e Teddy voltou a ser Teddy, com seu sorriso radiante e jovem e seus cabelos azuis de que ela tanto gostava.

— Eu realmente fui um patife — reconheceu, balançando a cabeça, cabisbaixo. — Como se eu conseguisse me esconder da grande Lily Luna Potter...!

Enquanto ele tentava se redimir com piadas e frases divertidas, ela se regozijava com os sinais da recuperação de seu melhor amigo. Sorrindo, chegou a pensar que neste mesmo lugar, há dois anos, James descobrira o caso dele com Victoire.

Victoire. Tremeu ao citar a prima nos próprios pensamentos. “Ao menos já terminou Hogwarts,” pensou, aliviada.

—... E eu estava pensando em te visitar nos fins de semana livres, McGonagall adoraria me ver novamente naquele castelo...

Um silvo longo fez-se ouvir, e Lily e Teddy se entreolharam; era o primeiro aviso, de que faltavam dez minutos para a partida da maria-fumaça. Ela percebeu, exaltada, que estava de mãos dadas com ele.

— Me escreve todo mês? — pediu ele, fixando o olhar violeta na amiga.

— Todo dia — respondeu ela, devolvendo o olhar. — E chega de sumir, ok? Já levamos isso longe demais.

Ele piscou repetidas vezes, admirado com aquela fala de Lily.

— Não mais, eu prometo.

O sinal tocou pela segunda vez, e ele entrelaçou seus dedos com os dela quando chegaram junto dos irmãos Potter.

— Oh, olá, Teddy! — cumprimentou Albus, ajeitando a gravata vermelho-e-ouro. James recitou um “ah, oi”, e Teddy apertou a mão dos dois.

— Como vai, Teddy?

Harry e Ginny chegaram junto dos filhos e de Theodore, acompanhados por Ron e Hermione, seguidos de perto por Rose e Hugo.

— E aí, beleza? — cumprimentaram os dois, juntos.

— E aí, gente. — Respondeu Teddy, com um sorriso que ia de orelha a orelha.

O apito tocou pela terceira vez e, como sempre, os Potter e os Weasley estavam atrasados. Hugo e Rose jogaram seus malões na cabine que Lorcan Scamander estava guardando enquanto o irmão se despedia do pai, e Albus fez o mesmo; já James se dirigiu a outra cabine, onde estavam seus amigos de classe. Lily apertou a mão de Teddy, com um pé dentro do trem e o outro fora.

— Todos os dias — repetiu, beijando-lhe a ponta do nariz e fechando a porta da cabine, ao passo que o Expresso de Hogwarts começava a se mover. Ela acenou até perdê-lo de vista, e Teddy ficou de pé na estação, pensando em como e quando sua garotinha havia ficado tão madura.

 

 —————————————————————————

 

   If you run away now

   Will you come back around?

 

Ela escreveu todos os dias, como havia prometido; ele não voltou a desaparecer, cumprindo sua promessa. Lily e Teddy eram os melhores amigos outra vez, e nada poderia tê-los feito mais felizes. As cartas da menina eram sempre recheadas de bom-humor e cheias de detalhes sobre a sua vida em Hogwarts.

“Teddy”, estava escrito em uma delas, “estou em Grifinória! Eu sei que não é nada de tão especial, já que toda a minha família sempre foi da mesma Casa, mas não posso negar que fiquei nervosa com a idéia de ir parar em Sonserina.Sonserina, imagine só! Hugo também foi selecionado para a Grifinória (pelo menos já tenho uma dupla!), o que deixou a Rose bastante aliviada.” Em outra, ela escrevera: “Olá, menino dos cabelos azuis! Estou morrendo de saudades. As coisas por aqui estão bastante tranqüilas — eu e Hugo passamos boa parte do nosso tempo livre na casa de Hagrid, ou assistindo aos treinos de quadribol. Ou melhor, eu passo, já que Hugo e Rose continuam tão inseparáveis dentro quanto fora da escola... Mas tudo bem, Molly também é uma ótima companhia.” A carta favorita de Teddy era talvez a menor de todas, onde Lily rabiscara rapidamente em um pedaço de papel: “Eu te amo, mas é melhor vir me visitar logo ou vou acabar enlouquecendo!” Ela mandava também folhas de suas árvores preferidas, coloridas por meio de feitiços, e certa vez lhe mandou um pássaro de papel que cortou sua mão e saiu voando pela janela. Ele devorava as cartas logo após recebê-las, e adorou a idéia que Lily tivera, de colocar adivinhas rimadas para ele responder na próxima carta.

 

Teddy sentia tanto a falta dela que resolveu tomar por verdade o comentário que havia feito na estação, e ir visitá-la durante um fim de semana. Combinou com McGonagall (que não poderia ter adorado mais a idéia — “Ora, e como eu poderia impedir um de meus melhores alunos de visitar a escola?”), conseguiu folga no Ministério e pegou o trem em uma quinta-feira, para surpreendê-la durante o jantar, já que no dia seguinte era feriado e não haveria aulas.

Era o único passageiro do imenso Expresso de Hogwarts, e para um garotão como Teddy Lupin não havia nada melhor que ficar andando para lá e para cá no trem em movimento, fazendo estripulias no corredor; só se acomodou em uma cabine quando a mulher do carrinho de doces começou a berrar, e ele percebeu que quase havia derrubado o tal carrinho andando de costas pelo corredor do terceiro vagão.

— E não volte a se levantar! — ralhou ela, exasperada, enquanto derrubava os bolinhos de abóbora em cima dele.

Suspirando, ele se acomodou no banco e voltou sua atenção para a paisagem — o que não adiantou muito, já que logo estava impaciente de novo. Revistou os bolsos para ver se havia algo que valesse a pena ou que o livrasse do tédio que estava sendo aquela viagem, encontrou um papelzinho dobrado. Abriu-o desajeitadamente, e as palavras na caligrafia torta e apressada abriram-lhe um sorriso. Ficou apreciando as letras, até que ele percebeu...!

“Eu te amo”. Lily escrevera as primeiras palavras um pouco mais carinhosamente que as demais, o que dava a elas um ar de importância sobre as demais. “Eu te amo”.

Ela nunca havia escrito aquelas palavras antes. Nem ao menos as dissera, ele se lembrava muito bem.

De repente, uma onda de incerteza começou a apoderar-se dele. Lily, amando? E amando ele, ainda por cima? Ele se sentia dividido, ao mesmo tempo envaidecido e alarmado. Será que a menina que era sua melhor amiga estava apaixonada por ele? Teddy se deu conta de como era velho — não para o padrão normal, mas para o padrão de Lily. Aliás, nem para o padrão de Lily, mas para o seu próprio padrão. Um homem daquela idade, amigo de uma garotinha de onze anos?

Ele se deu conta de que tinha vinte e um anos, e Lily só onze; não era uma diferença de idade muito grande, mas ela era muito nova. Ele era muito novo. Aquilo era muito confuso, mesmo para Theodore John Lupin, metamorfomago, auror. Sabia tanto, e na verdade não sabia nada. Sentiu-se nauseado com aquela tempestade de informações, sem poder fazer nada.

Cogitou a possibilidade de voltar. Poderia alegar estar passando mal, ou ter recebido um chamado urgente, e avisar ao maquinista, que daria a Minerva o recado de um Teddy arrependido, que realmente queria visitar Hogwarts, mas que não seria daquela vez. Seria o melhor? Será que aquilo era realmente a coisa certa a se fazer?

No fundo, ele tinha medo. Medo de fugir, e não conseguir voltar.

 

Por que tudo em sua vida tinha de ser tão complicado?

 

 ——————————————————————

 

   And if you ran away

   I’d still wave goodbye

   Watching you shine bright

 

“Querida Lily,

 

Como vai você? Estou com saudades. Faz tanto tempo que nós não nos vemos! Estou pensando seriamente em reconsiderar meu apreço por essa escola. Haha, mentira. Sinto muito não ter ido te visitar ainda, mas as coisas estão uma loucura aqui no Ministério (nem com a queda de Voldemort seus ‘seguidores’ deixam de aprontar das suas). REALMENTE sinto muito, você deve estar querendo me matar agora, mas veja só, vamos passar as férias juntos! Seus pais já arrumaram o quarto de visitas, e eu vou para a sua casa no próximo sábado. Tente se concentrar nos estudos — embora eu não ache que você vá conseguir se concentrar em alguma coisa a apenas duas semanas das férias de verão.

Vejo você logo!

Com amor,

 

Teddy”

 

Ela terminou de ler a carta, os olhos fechando sozinhos de tanto sono. Quando ia começar a lê-la novamente, Molly se levantou da cama e tomou a carta de sua mão.

— Credo, Lily, vá dormir — ela guardou a carta no bolso do pijama, dobrando-a cuidadosamente. — Está parecendo mais um zumbi.

A ruiva assentiu. Molly voltou a se deitar e, depois de esperar por algum tempo, Lily se levantou e foi sentar-se junto à janela, como costumava fazer nos tempos de insônia. Fitou a prima por mais algum tempo, e suspirou quando ela girou o corpo na cama e ficou de bruços. Ela queria a carta.

Theodore não havia escrito nos últimos tempos, mesmo com ela mandando lotes e lotes de cartas, esvaziando quase a metade do corujal quando decidia enviá-las. Aquela carta era quase uma relíquia, considerando ser ela a única em cinco semanas.

“Teddy, seu bobalhão esquecido”, ela repetia mentalmente. Mas, no fundo, sabia que não havia um modo de Teddy se esquecer da sua promessa de escrever todos os dias. Feliz, ela escrevia; triste, ela escrevia. Até mesmo quando estava exausta, ao fim de um dia cansativo, forçava a si mesma para elaborar frases divertidas e adivinhas ritmadas para que ele se alegrasse ao receber suas cartas.

Lily temia que ele não se esquecesse só da promessa, mas dela. Acima de tudo, sabia que não conseguiria agüentar se ele evaporasse outra vez, sumindo como havia feito naquele dia da clareira.

Lily tinha medo, e se sentia estranha por causa disso. O medo não era um sentimento que costumava aparecer em sua vida, e por isso mesmo a assustava imensamente. Tinha medo de perdê-lo, de que ele não a amasse mais.

A palavra causou-lhe mais conforto que o esperado. Será que ele a amava como ela pensava amá-lo? Tinha suas dúvidas quanto a aquilo, mas procurava se tranqüilizar — de nada adiantava ficar desesperada. Não podia deixar de notar que ele deixara de escrever-lhe logo após “a” carta. Aquela onde ela colocara as três palavras que guardara desde a despedida a estação.

“Eu te amo”. Será que era por causa daquilo que Teddy sumira e deixara de responder às suas cartas durante todo aquele tempo? Não, não podia ser; ele assinara a última carta com um “com amor”. Ela tinha absoluta certeza. Se tirasse a carta do bolso de Molly naquele momento, as palavras estariam lá: macias, intactas. Só não havia como saber se ele as tinha escrito com a mesma intenção do “eu te amo” de Lily.

Oh, como ela desejava que fosse! Nunca havia amado alguém daquele jeito, mas na opinião dela era doloroso demais. A incerteza, a expectativa, aquela sensação estranha na boca do estômago... Era novo para ela. Lily não era mais a pequena ruiva insegura de antes: se tornara uma garota decidida e esperta — mas isso ela sempre fora. Já causava certo alvoroço entre a população masculina do primeiro, e até do segundo ano de Hogwarts, e mal sabia ela que James e Albus sofriam afastando os garotos de perto dela.

De que lhe importava? Ela amava Teddy. E a ele seria fiel a ele, quer ele a amasse, ou não. Ela seria fiel a ele, pois era isso o que desejava fazer durante toda a sua vida.

Como sempre fora, sempre haveria de ser.

 

Apesar de todas as outras estrelas, e da poluição tentando ofuscá-las no céu, ele sempre seria o único, o principal.

 

Tudo o que ela queria era fazer parte do brilho daquela estrela.

 

   Now I think we’re taking this too far

   Don’t you know that it’s not this hard, well it’s not this hard.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Reviews (digo, beijos).



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Brighter" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.