Oceans In Your Eyes escrita por Kats


Capítulo 4
Capítulo III


Notas iniciais do capítulo

Sorryyyyy por não ter escrito mais nada. Sou uma péssima escritora! Obrigada pelas pessoas que decidiram acompanhar a história.. provavelmente elas já desistiram ): mas para recompensar eu ontem estive a organizar as minhas ideias e escrevi um terceiro capitulo longo!
Neste capítulo, finalmente a nossa querida Juvia vai ser apresentada ao Gray!! (;
Espero que gostem BEIJÃO!



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Lembro me quando tinha seis anos e todas as crianças da classe decoravam os seus cadernos com desenhos da praia, do parque, dos amigos e da família. Eles todos pintavam o sol brilhante no cantinho da página, com as nuvens que se assemelhavam a algodão doce e as pessoas eram retratadas como se fossem um pau com uma cabeça sempre sorridente. As mãos era bolas com cinco tracinhos que seguravam as outras figuras que constituam sempre uma família.
Nos meus desenhos só eu estava lá com dois totós mal feitos, azuis, lado a lado com uma velha rabugenta, que era a minha avó. Apenas nós as duas, a viver na grande Casa Negra.
Não me lembro da minha mãe nem tão pouco do meu pai. Porlyusica nunca mencionava em conversa alguma a existência deste casal que me dera vida. Mesmo quando eu tanto insistia e batia o pé ou até mesmo fazia birras, ela calava-se que nem um rato, ou gritava comigo para me silenciar.
— Porque é que todos os meninos podem passar o dia da mãe e o dia do pai com o papá e a mamã e a Juvia não? - Eu choramigava, sentada na mesa da cozinha, rejeitando a sopa asquerosa que a minha avó tinha feito.
— Juvia! COME! - Ela falou ríspida, empurrando a tigela para a minha frente.
— Não! - Eu empurrei de volta e ela olhou me como se me pudesse esganar com o olhar. - Porquê? Porquê? Porquê? - Eu bracejava por todos os lados, fazendo a mesa estremecer e a sopa salpicar pela superfície. 

Nessa altura, talvez eu tivesse seis anos e eu era uma menina muito rebelde.
— Juvia... - Ela segurou a minha pequena mãozinha esbranquiçada. - Não interessa agora quem foi o teu pai e a tua mãe. Interessa nós. - Eu olhei para ela triste e o olhar dela transmitia pena, como se implorasse para que eu cessasse de continuar a questionar sobre a vida dos meus progenitores.
Desde esse momento eu pouco insistia na conversa, pois de alguma forma eu sabia no meu íntimo, que talvez um dia, num futuro não distante a minha avó me contasse a história dos meus pais.

My sweet sixteen.

Quando completava os meus dezasseis anos recebi uma visita especial. Eu assoprei as dezasseis velas do bolo que a Lissana tinha comprado. Era de chantili com morangos, o meu preferido. Todos, a minha volta sorriam e cantavam alegremente os meus anos, batendo palmas em volta da mesa da cozinha esmeralda da minha casa. A minha avó tinha uma Polaroid e estava mesmo do outro lado, oposto ao meu, fotografando me, com um sorriso de mãe babada.
O Haru estava comigo nesse dia ao meu lado, ele segurava me a mão. Os nossos dedos estavam entrelaçados assim como os nossos corações. Naquele instante eu sabia que as nossas almas pertenciam uma a outra. Ou assim eu achava.
Haru, na minha memória parecia muito o rapaz gélido com que a vida me fizera de uma forma aleatória encontrar me com ele. Haru era sem dúvida mais magro, tinha os olhos azuis-escuros, o cabelo preto e a pele morena. Não era tão branco como o rapaz gélido. Ele era mais sorridente e mais quente.
Foi então nos meus doces dezasseis que a ligação com o Haru rompeu-se. Lembro me daquele momento tenebroso como se fosse hoje.
A cara da minha avó foi se esmorecendo gradualmente, deixando o sorriso que preenchia o rosto dela. A velha Porlyusica posou lentamente a câmara na mesa e o tempo a volta parecia que decorria mais devagar. O Haru e a Lissana ainda estavam ao meu lado a sorrir e a bater palmas, mas pareciam que tinham congelado no tempo. Apenas eu e a minha avó estávamos lá, presas naquela fração de tempo.
—J-juvia... - Porlyusica derramava grandes lágrimas dos seus olhos que estavam escancarados em minha direção. Ela estava completamente atónica. Mas não olhava diretamente para mim e sim para trás de mim. Foi aí que eu senti, umas grandes garras pousar sobre os meus ombros. As unhas negras e pontiagudas do animal cravavam na minha pele e eu podia sentir o bafo da besta arfar na minha nuca. Ele fez uma pequena festa no meu rosto, alisando a pele da minha bochecha.

— Parabéns Juvia. - A voz era asquerosa e estremeceu o meu corpo inteiro. Eu estava imóvel, completamente paralisada. – Parabéns minha querida Juvia.
A minha boca entreabriu se um pouco e comecei a gaguejar. Senti a minha pele húmida e a minha visão começou a turvar-se. Eu devia estar a chorar, mas nem isso eu tinha notado, pois o medo tinha-se apoderado do meu corpo.
Medo. Tinha tanto medo que nem percebo como não cai no chão. Tinha tanto medo que não entendo como o meu coração ainda batia e como o meu espírito ainda estava preso ao meu corpo.
Ele arrastou a grande garra peluda e negra para o meu pescoço, apertando-o.
— Não! - A minha avó gritou, suplicando. - Não a leves! Deixa a minha neta.
— Porlyusica..? - a voz atrás de mim arfou por entre os meus cabelos. - Sabes bem que ela nunca foi tua. - Ele largou o meu pescoço e quando o fez o meu corpo tombou para o lado. E no chão de mármore, estendida, eu consegui ver a figura monstruosa. Parecia um bode negro em pé, tão alto que os dois chifres arranhavam o teto.
— Juvia.. Juvia não entende. - Eu balbucie antes de perder os sentidos.
Nos meus doce dezasseis a festa terminou repentinamente, a minha avó levou me para o hospital e quando acordei mal conseguia falar. A minha cara não tinha expressão e a minha mente estava vazia.
Quando disse as minhas primeiras palavras na segunda semana expliquei o que tinha presenciado antes de desmaiar e inúmeros médicos quiseram diagnosticar me com esquizofrenia que tinha, lamentavelmente despertado no meu décimo sexto aniversário. Mas graças a Deus a minha avó que estava sempre ao meu lado, ouvia me atentamente e levou me do hospital para casa, negando tais doenças mentais que poder-me-iam assombrar. Por algum motivo ela acreditava em mim, mesmo quando os médicos pediam uma confirmação das minhas alucinações, ela negava. Negava, mas não desconfiava de mim.
E foi a única, crente em mim. Lissana fazia um grande esforço, mas a dúvida sempre pairava na sua cabeça e Haru… Haru influenciado pelas pessoas que me chamavam de doida varrida, abandonou me nesse verão. Claro, depois de me convencer a ter sexo com ele. 
Mas isso agora não interessa, porque o passado já foi, agora é manter me erguida e viver o presente. Mesmo que este possa custar muito.

Lissana estava estendida, deitada ao meu lado, na minha cama, no seu corpo madura dos vinte. Ela tinha levado durante a noite os lençóis com ela e sendo assim eu estava apenas coberta com o meu pijama. Uma sweat-shirt e umas calças, velhas e rotas. Não preguei o olho a noite inteira, pois sempre que tentava adormecer ora era acordada pelo roncar da minha querida amiga albina ou as imagens daquele cão monstruoso passavam me pela cabeça. Desse modo, estava sempre desperta. 
Eram já seis da manhã e a luz do nascer do sol invadia o meu quarto. Exausta, levantei me e desci até à cozinha preparando o meu pequeno-almoço. 
Enquanto despejava o leite nos cereais, conseguia ouvir a voz berrante da minha avó, ontem que ditava a minha punição: "A partir de agora quero-te ver em casa depois da faculdade. E não quero mas, nem meio mas. Tens vinte anos mas ages como uma menina de quinze anos. Onde já se viu sair de casa num dia de semana, para enfiar se sei lá onde, e ainda por cima perturbar a polícia com fantasias."
Bufei com raiva e atirei o leite para a gaveta do frigorífico fechando a porta com força. Nesse instante vejo um vulto junto à porta da cozinha e mando um salto para trás. 
— Juvia? - Era Lissana ensonada com a minha camisa toda amarrotada no corpo. Ela bocejou e adentrou na divisão, roubando a minha tigela de cereais. - Bom dia. 
— Hey! - Protestei mas foi em vão porque ela já tinha agarrado uma colher e já estava a mastigar os meus cereais. 
Ela sentou se na mesa e eu relutante fui preparar outra tigela. 
— Obrigada Juvia. - Ela falou cabisbaixa. - Vejo me sempre nestas alhadas e tu és a única pronta a socorrer-me. 
— Não tens de agradecer a Juvia. - Eu sorri. Sentei me a sua frente com os cereais e comecei a comer. – Juvia tem a certeza que farias o mesmo por ela. 
Ela ainda olhava a tigela e sorriu. Parecia que iria começar a chorar, mas fungou o nariz e levou as mãos a cara, esfregando os olhos. 
— Afinal somos melhores amigas para quê? - Falei e ela riu se, destapando a cara e finalmente olhando para mim. 
— Queres conversar sobre o que vieste ontem? 
— Juvia está farta desse assunto. Juvia sabe que ninguém acredita nela. 
— Ju.. É de facto estranho… Um cão com proporções estupidamente grandes - Ela falou e eu arquei as minhas sobrancelhas. Outra que não acredita. - Mas... Isso explicaria de algum modo as vítimas que apareceram mortas, todas desventradas.
— Talvez.. Ou então mais outras três. – Murmurei, pensando nos três sujeitos de ontem. - Sabes Lissana, passou se mais outras coisas estranha que Juvia não contou ao Macao.
Ela continuava a mastigar os cereais e olhou me a espera que eu continuasse. - Mas deixa estar.. Deve ser mesmo imaginação da Juvia. - Ela encolheu os ombros e contínuo atenta a sua refeição.
— De qualquer das formas é melhor ir andando, antes que a doida da tua avó acorde e tenhamos de levar com um segundo sermão.
—Sim, Juvia concorda. - Revirei os olhos só de imaginar a voz estridente da minha queria velhinha, Porlyusica.

Deixamos as tigelas no lavatório e vestimos apressadas porque nenhuma de nós queria ver a cara feia da minha avó. Corremos desesperadas até a paragem de bus, mais próxima, que nem era assim tão próxima, sendo que eu vivo num penhasco. Arrependi-me nessa hora de ter deixado o meu Twingo na esquadra e ter aceite a boleia do xerife.

Já dentro do autocarro, sentadas nos lugares do fundo eu via ao meu lado, Lissana que teclava freneticamente no telemóvel. O aparelho tanto tremia nas suas mãos que mais parecia uma broca ligada.
— Oh meu deus, Juvia! - Ela guinchou. - Nem vais adivinhar.
— Diz lá. - Eu murmurei atenta ao trânsito. Parece que as vias estavam cortadas e o mais engraçado é que a maioria delas eram em direção a discoteca Lux.
— Temos novos estudantes. Caloiros fresquinhos! - Ela falava animada sem tirar os olhos da tela. - Parecem ser dois garotos e três garotas! Olha só os rapazes. - Ela colocou o telemóvel no meio da visão, deixando-me ver apenas pixéis.
— Tira me isso daqui! - Dei uma patada, afastando o objeto de mim.
— Não estás interessada? - Ela fez beicinho. - Já está na altura de fazeres o move on do Haru! Isso já foi a quanto tempo mesmo? Quatro anos? Puxa! Quatros anos sem nada Juvia? - Ela arregalou os olhos e riu-se. - Isso aí em baixo já deve até ter teia de aranha. – Ela apontou com o dedo para o meu ventre.
Eu corei com a audácia dela e virei o rosto para a desgraçada. - Mas como é que sequer tens fotos dos novos estudantes?
— ah.. Duh?! Toda a menininha da faculdade tirou um curso de espia aka agente do FBI. Tiraram fotos quando eles chegaram a faculdade e enviaram-me. - Ela fez zoom numa das fotos e mostrou me de novo. - Olha este. Que tal? Era bom para ti?
Quando olhei para a tela do telemóvel dela engasguei me e comecei a tossir várias vezes, com os olhos arregalados.
Não podia ser! Não! Mas era! Era o rapaz gelado.
— Estas há tanto tempo com a passareca seca que até tens uma convulsão ao ver só uma foto! - Lissana riu-se.
— LISSANA! É ELE! - Eu gritei. - É o rapaz de ontem! É ele que salvou Juvia do bicho de ontem. – As pessoas do bus viraram se para nós e bufaram, com a nossa histeria.
Lissana tirou o telemóvel da minha visão para ver bem o rapaz.
— Olha, então você fui salva por um Deus grego. Vou investigar o nome dele. - Ela sorriu pervertida e começou a teclar de novo no telemóvel.

Quando chegamos no campus eu já sabia de cor e salteado quem era os novos estudantes. Era impossível não saber, porque Lissana não parava de tagarelar sobre eles. Ela parecia que guardava no telemóvel fichas informativas sobre eles. Tive apenas sorte não saber que tipo de sangue cada um tinha. 
— Esta ruiva tem cara de poucos amigos, olha só. Ela tem a nossa idade mas parece que tem mais uns cinco anos. - Ela fazia zoom na foto de uma garota bastante alta e forte. O cabelo dela era de uma cor escarlate, liso e comprido. As feições dela gritavam mesmo "sai de perto de mim, cabrao", até metia medo. O nome dela era Erza e na fotografia ela estava acompanhada por mais duas meninas. Uma com cabelos azuis bem rebeldes, baixinha e muito doce. Outra não tão alta como a ruiva, mas bem avantajada e loira. Eram Levy e Lucy. Eu já as tinha visto, no café, na confusão com Gajeel e claro, na noite em que encontrei aquele monstro. 
— Mas vamos ao que interessa. - Ela deslizou o polegar e passou para uma fotografia de dois rapazes que já os tinha visto, a andarem lado a lado, em direção à entrada da faculdade. - Podes ficar com o moreno, que o rosado é meu. - Ela piscou o olho e riu-se. 
O rosado pelos visto chamava se Natsu e o rapaz gelado era Gray. Ambos davam a impressão que nada nem ninguém os podia fazer frente. Eram completamente o oposto de um do outro, mas pela fotografia pareciam ser inseparáveis. 
— Tanto faz para a Juvia, com quem é que tu ficas, só quero que este dia passe o mais rápido possível e eu possa ir para casa descansar.  – Saímos do bus e ela colou se a mim, entrelaçando o braço dela no meu. 
— Não sejas assim Juvia. - Ela beijou a minha bochecha e riu-se. - Pode ser que este seja o teu príncipe encantado. - Ela falou risonha. - Que te irá salvar da grande seca que tens passado. - Ela olhou para o meu ventre e depois para mim, só para me ver a revirar os olhos.

Dentro da faculdade, nos caminhávamos as duas lado a lado pelos corredores. Toda a instituição cheirava a mofo, era bastante antiga a estrutura. O chão de mogno rangia e as escadas pareciam que já desciam para os lados. Chegamos ao bar e abrimos a grande porta de vidro. Não havia praticamente ninguém, pois ainda faltavam um quarto para as oito. Surpreendentemente encontramos Gajeel de costa para nós, sentado numa das mesas, acompanhado pela baixinha azulada. Ele ria-se com qualquer coisa que ela falava. Gajeel a rir-se? Será possível? Com uma rapariga? 
Lissana entre olhou me e fez aquela expressão de dona casamenteira. Nós fomos aproximando devagar, pois Lissana queria ouvir a conversa. 
— Não acredito! - Gajeel bateu com a mão na mesa, rindo se desalmadamente. - Vocês perderam a puta do cão. Só porque o menino fosforo e o congelado começaram a brigar um com o outro. – A azulada revirou os olhos, irritada. – Uma puta de um cão infernal! Eu sabia que vocês sem mim, eram zero. Nada, nadinha!
— Gajeel! Xiu! - Levy levou o dedo indicador nos lábios e olhou as duas cuscas que nos éramos. - Estão aqui as tuas amigas. 
Gajeel demorou um pouco tempo a virar se, mas quando o fez abriu um sorriso amarelo para nós as duas. 
— Bom dia amigas. - Tão educado? Ou estava rezando interiormente para que não tivéssemos escutado o que ele disse.
Lissana, sentou se sem modos alguns ao lado do grandalhão e olhou para eles dois, muito sorridente. - Então Gajeel, quem é esta? Não nos apresentas? – Ela parecia empolgada.

— Ah… - Ele estava um pouco confuso e olhou para Levy e depois de volta para Lissana. – Esta é baixinha.. – Ele apontou para a azulada, que fazia uma careta. Deu uma bofetada na mão do grandalhão e estendeu-a para a Albina com um sorriso aberto.

— Levy Mcgarden, prazer. – Lissana apertou a mão da azulada, sorrindo. – Finalmente conheço as amigas, ou direi vítimas desta ave rara! – Gajeel, sorriu de lado e abanou com a cabeça. – Deves ser a Juvia.

Eu que estava de pé, ao lado deles sorri gentilmente para a rapariga.

— Vem senta-te aqui ao meu lado. – Ela apontou para a cadeira vazia ao lado dela. Assim o fiz. Gajeel estava com uma cara reprovadora para Levy. Consegui ler nos seus lábios: “o quê que estas a fazer?”.

— Então..? – Lissana sorria e entre olhava as duas figuras. – Vocês são o quê?

— O quê o quê? – Gajeel olhou para a Albina, que olhava demasiadamente curiosa. Coisa boa não ia sair dali.

— Vocês são… - Ela gesticulava com os braços. – Namorados?


A pequena azulada encolheu se no banco e corou dos pés a cabeça, até podia sentir os seus cabelos na nuca eriçarem-se. 
Gajeel mandou uma forte gargalhada que ecoou pelo bar inteiro. - E se formos? O quê que uma cusca como tu, tem a ver com isso? 
A albina abriu um sorriso gigante no rosto e bateu palminhas. 
—Por quanto tempo irias esconder? - Lissana atirou as suas mãos a Levy e agarrou-a. - Que bom saber! Finalmente aqui o grandalhão tem uma namorada! 
Levy mostrou um sorriso amarelo, super constrangida e pude sentir que em baixo da mesa ela pontapeava o roqueiro, que por incrível que pareça só se ria. Parecia não sentir o pequeno pé raivosa da baixinha. 
Eu soltei um risinho, mas por alguma razão eu estava ainda desconfiada deste novo casal. Memórias do meu amigo que parecia um demônio ou ela pertencer a um grupo suspeito, assombravam a minha mente. 
Após Levy ser abanada uma série de vezes e bombardeada por perguntas vergonhosas vindas de Lissana, a azulada lá se libertou da albina. 
—Então mas contem lá como é que foi? Primeiro encontro? Primeiro beijo? - Ela cutucava Gajeel. - Já aprofundaram a relação? - Lissana sorriu maliciosamente e Gajeel olhou a só desconfiado. 
— Calou, Albina! - O grandalhão levou a mão a nuca e despenteou o cabelo que estava delicadamente escovado. 
Lissana ficou furiosa com o ato dele e tentou chegar também com os seus braços curtos ao cabelo negro do rapaz, mas ele não deixou. E assim começou a luta matinal das crianças, deixando me com a Levy a mirar a confusão. 
— Juvia. - Levy chamou me, cutucando o meu braço. - Parece que vamos ficar juntas na mesma turma. Letras não é? - Eu acenei. - Será pedir muito uma orientação nas aulas? 
— oh, Juvia dará com todo gosto a ajuda que precisar. - Eu sorri e olhei para Gajeel que ainda lutava com a Albina. - Será difícil conseguir alguma coisa que seja com ele. - Ela sorriu, afirmando com a cabeça. 

—Ainda vou ter que ser eu a ajudá-lo!
—Não duvide disso. -Eu afirmei, revirando os olhos.

Bateram as oito e meia da manhã e como de costume, a aula de História Ocidental, iria dar início. Os três, menos Lissana deixaram o bar. Gajeel com algumas dificuldades, pois a preguiça era grande, mas levantou se quando eu e Levy insistimos.
Quando chegamos a sala sentamo-nos nos costumes lugares, o mais distante possível do quadro e o mais fundo possível da sala.  Era assim que Gajeel preferia. 
Fiquei surpreendida pois Levy não seguiu connosco, e dirigiu se para o outro lado oposto ao nosso. Quando levantei me um pouco da cadeira para procurar a peruca azul, encontrei a sentada ao lado de um rapaz de capuz. Como a cabeça dele estava coberta não consegui ver o rosto dele. Ela falava muito seria com ele, mas ele não parecia ligar muito ao que ela dizia. 
—Não te preocupa que a tua namorada esteja sentada com outro? - Eu dirigi me a Gajeel, que parecia completamente alheio a tudo. 
Ele encolheu os ombros. - Ela é uma mulher livre e sinceramente acho que aí o gelado sabe com quem é que se está a meter. 
O gelado? Seria Gray?
—Então é mesmo verdade? -Ele olhou me confuso. - Vocês namoram? 
— hm.. - Ele pareceu pensar um pouco, desviando o olhar por segundos. - Pode se dizer que sim. Ninguém mexe com ela e ela sabe que ninguém vem mexer comigo. - Ele riu se um pouco. 
Nisto entrou o nosso Professor de história, Yajima, um homem velho e bastante pequenino. 
Ele posou um grande calhamaço de livros que ao bater na secretária fez um barulho estrondoso pela sala, chamando a atenção de todos. 
— A arte gótica. - Ele pronunciou após o silêncio. - Alguém me pode dizer algo sobre a Arte gótica? 
— É um tédio. - Alguém falou. 
Os olhos rasgados do velho Yajima percorriam aluno a aluno. 
— A matéria que me vai chumbar? - Outro falou e todos riram. 
O seu olhar posou em mim e o velho sorriu. - Juvia? 
— A arte gótica designa uma fase da história da arte ocidental, identificável por características muito próprias de contexto social, político e religioso em conjugação com valores estéticos e filosóficos e que surge como resposta à austeridade do estilo românico. - Eu falei, asperamente. 
Yajima avançou lentamente até mim, passando aluno a aluno até chegar até mim. 
— E que mais? 
— Este movimento cultural e artístico desenvolve-se durante a Idade Média, no contexto do Renascimento do Século XII e prolonga-se até ao advento do Renascimento italiano, quando a inspiração clássica quebra a linguagem artística até então difundida. - Que bom! Parecia uma gravação de um manual audível de história de arte. 
— Fala me do que achas da arte gótica. - Ele olhou me sério. - Fala de aquilo que tu pensas e não de algo que decoras te de um livro ou até mesmo da Wikipedia, por favor. 
— ahmm... - Fiquei algum tempo a refletir, sem saber exactamente o que dizer. E na verdade eu não sabia. Eu apenas ditava o que lia. Escrevia o que lia. E sim lia muito na Wikipedia. 
—Pois é meus caros alunos. - Yajima desistiu de esperar pela minha resposta e olhou para todos o que estavam presentes na sala. - Investigação e muita curiosidade. A história exige que nos transformemos em espiões. Todas as matérias exigem! Exigem que sejamos curiosos o suficiente para pensarmos por nós próprios. - Ele sorriu para os estudantes e virou de novo para mim.

— Juvia?
— Sim, professor? 
—Desde do início do ano que te sentas ao lado do nosso amigo Gajeel. - Acenei com a cabeça, com um mau pressentimento acerca do rumo que a conversa estava a tomar. - Sempre fizeram os trabalhos escolares juntos, certo? - Voltei a acenar. - Aposto que conhecem muito bem um e o outro. 
O velho Yajima olhou para a turma e riu-se. Um riso singelo. - Na realidade aposto que cada um de vós conhece a pessoa sentada ao seu lado bastante bem. Houve uma razão por terem escolhido o lugar onde estão sentados não é verdade? A familiaridade. É uma pena que os melhores investigadores do mundo não gostam de familiaridade. Enfraquece o instinto de investigação. E por isso hoje vou redistribuir os lugares. 
Abri a boca para protestar, mas Gajeel foi mais rápido. 
—Mas que merda vem a ser essa? Estamos em Abril? Estamos quase no final do ano. 
Yajima olhou para o grandalhão sério. -A merda é fora da minha sala de aula senhor Gajeel. E sim posso fazer isto inclusive no último dia de aulas. E se chumbares na minha disciplina, para o ano estás cá outra vez e eu vou fazer de novo isto! 
Gajeel olhou para o professor franzino as sobrancelhas e preferiu calar-se. 
—Muito bem. Alunos da frente, número ímpar vão para trás. Linha da frente lá para trás, a seguinte vem para a frente. 
Gajeel enfiou o caderno dele na mochila e correu o fecho com fúria. Ele olhou para mim e disse um pequeno xau, eu apenas encolhi os ombros desgostosa. 
Nisto, quem se aproxima da mesa ao meu lado é o rapaz de capuz na cabeça. Senta se abrutadamente na cadeira ao lado e tira o capuz, expondo à luz o seu cabelo negro como a noite. Era Gray. 
Ele posou o livro de história na mesa e nem em um segundo olhou para mim. Estava concentrado talvez nos seus pensamentos. A expressão dele era gélida. 
—Olá.. - Eu balbuciei com a voz fraca. Odiava falar com pessoas novas. Levy foi apenas um caso diferente. Afinal ela é a namorada do meu amigo. - Chamo me Juvia. - Que bom não ter falado em terceira pessoa. Progressos Juvia! 
Olhou me de maneira penetrante com os seus olhos negros e os cantos da boca ergueram se ligeiramente. 
— Eu sei. - O sorriso dele não era amigável. 
Claro que ele sabia. Afinal naquela noite mais que bizarra, que eu tinha sido confrontada com o bicho, ele pronunciara o meu nome. 
—Muito bem meninos, agora que conhecem o vosso colega do lado, já ficam a saber quem é o vosso colega de trabalho. - Houve alguns murmúrios de descontentamento. - Amanhã de manhã quero já ver uma introdução à história da arte gótica. Quero tudo limpinho e bem escrito! 
Permaneci em silêncio. Que mundo cruel me tinha destinado a ficar com a pessoa mais suspeita da minha vida. 
Franzi o nariz, tentando perceber qual era o cheiro que emanava do casaco dele. Seria cigarro? Era algo mais intenso e desagradável. Seria enxofre? 
O meu olhar caiu sobre o relógio da parede e bati com o meu lápis no tampo da mesa, marcando o ritmo do ponteiro dos minutos. Eu só queria ir para casa, dormir. 
Continuava a olhar fixamente para o relógio quando me apercebi que ele escrevia algo no caderno dele. Estava a escrever e eu queria saber o quê. Desviei o olhar para o lado e percebi que tinha escrito várias linhas e o texto aumentava de momento para momento. 
—O que estás a escrever? - Inclinei me para ele, sentindo nas minhas narinas o cheiro intenso a enxofre. 
—ahm? A introdução, o que te parece? - Ele falou ríspido, sem tirar os olhos do papel. 
Tossi um pouco tentando chamar a atenção dele, mas foi inútil. - Sabes isto é um trabalho de grupo? 
—Desculpa, mas se precisar acedo a Wikipedia no meu telemóvel. - Respondeu me, arrogantemente, sem nunca desviar o olhar. 
Aquilo começou a moer me o juízo e fiz algo que tenho a certeza que uma Juiva calma não faria. Arranquei o papel das mãos dele e comecei a ler. A meio da introdução que relatava o início da arte gótica pude ler uma linha: "Juvia Lockser, colega de trabalho de grupo. 20 anos. Pessoa que estranhamente fala em terceira pessoa. Amiga da albina mamalhuda. Bizarra, pãozinho sem sal e introvertida. Onde é que o Gajeel tirou esta personagem seca?" 
A minha boca formou um perfeito O. 
—Quem pensas que és? - Eu esbracejei atirando com o papel a cara dele. 
—O meu nome é Gray. Gray Fullbuster. – Ele sorriu para mim com cara de gozo. 
Ele pegou na folha e abanou a perto de mim. - Estava apenas a efetuar uma pequena investigação sobre a minha partner in crime. 
—Pãozinho sem sal? - Arquei as sobrancelhas. 
Ele olhou me de alto a baixo, exibindo um sorriso matreiro. - Digamos que sim. Olhos pouco expressionistas. Ancas largas. Pouco sorridente. Estranha.. Poderei dizer que já vi melhor. – Ele abriu um sorriso amarelo e continuou a escrevinhar no papel.

Eu voltei a arrancar o papel das mãos dele e revirou os olhos, aborrecido.

—Muito bem, senhor Gray Fullbuster. Que idade temos? – Eu falei escrevendo o nome dele, carregando furiosamente com a caneta no papel.

— A mesma idade. – Ele colocou o cotovelo na mesa e deixou apoiado a cabeça na mão.

— Muito bem. – Escrevi um vinte a seguir ao nome dele. – Tempos livres?

— Hmm. – Ele pareceu pensativo, mas depois devolveu me um olhar penetrante. – Talvez não tenho muitos tempos livres… ou fico a fingir que sou um estudante ou estou em missões com os meus companheiros. – Ele riu-se de novo, gozando com a minha cara.

—Sim claro. – Eu falei sem refletir muito. – Missões? Que missões?

—Tarefas. – Ele encolheu os ombros não querendo apurar muito no assunto.

—Essas missões englobam caçar cães raivosos na madrugada da noite? – Parei com a caneta, esperando hesitante pela resposta.

Ele enrijeceu a sua postura e agarrou o assento da minha cadeira, puxando-me para mais junto dele. – Talvez. – A cadeira fez um barulho ensurdecedor quando raspou no chão de madeira, mas a turma parecia absorvida nos seus afazeres. – Ou talvez seja silenciar menininhas que correm assustadas para a esquadra da polícia, em vez de estarem caladas. – A expressão dele era fria e eu senti uma sombra sobrevoar o meu espaço. O rosto dele aproximou-se bastante do meu e ele encarava me, esperando uma resposta.

Nesse momento Gajeel, da outra ponta da sala, tossiu com força, chamando a atenção de Gray que se afastou de imediato.

— Mas não vamos falar apenas de mim. – Ele tirou a folha das minhas mãos e aprontou-se a escrever. – Câncer, certo? Não que ligue muito ao horoscópio, mas tenho uma amiga loirinha que lhe dá muita importância. Seguindo o teu signo do zodíaco, presume que sejas uma menina bastante chorona?

—Errado! – Desta fez fui eu que me aproximei dele. – Juvia tem o ascendente em escorpião. – Sorri desafiando-o.

—Gosto! – Ele desenhou uma cara bolachuda com dois cornichos. Quando finalizou o desenho olhou-me, pensativo e eu fiquei absorvida por aquelas orbitas negras. Nesse momento foi preenchida por um sentimento que não sentia já algum tempo. Uma atração? Ai não poderia.

Por quatro anos achava me um ser assexuado, onde atração sexual por outra pessoa era inexistente. Depois dos meus dezasseis anos, nem Haru, que insistira tanto e tanto conseguia provocar me uma pitada de vontade sexual. Nem nunca na vida conseguiria imaginar o que seria ter um orgasmo. Mas por algum motivo, naquela sala, algo em mim aquecia.

Pena seria que a fonte de calor, provinha de um rapaz tão rude.

Gray aproximou-se um pouco mais de mim e estendeu a sua mão para os meus fios de cabelo azuis. – Nunca na minha vida vi um cabelo com cor de oceano. – Ele sorriu examinando os fios nos seus robustos dedos. Nesse instante a campainha tocou, anunciando o fim do primeiro tempo da manhã.

Yajima, fechou os manuais que tinha dispostos na sua secretaria e autorizou a nossa saída.

Gray tocou no meu pescoço com as mãos e desembaraçou a minha madeixa retirando de lá um pequeno cereal que provavelmente se tinha infiltrado na altura do pequeno-almoço. – Estavas a guardar para mais tarde?

Eu ri constrangida e ele mandou o cereal para o chão. – Até mais logo. – Num ápice ele levantou-se, pegando no seu material e caminhou para a porta de saída.

— Espera! – Eu levantei me também e corri em sua direção. – Então e o trabalho?

— Gray! – Um rapaz com cabelos rosa vivos, que seria Natsu, batia com o pé no chão, na ombreira da porta. – Vai demorar muito a donzela?

Gray voltou-se para mim e sorriu. – Que tal depois do almoço, na biblioteca?

Eu acenei. – 15h?

—Lá estarei. – Ele arrumou melhor a mochila no seu ombro e foi de encontro ao amigo que o esperava impacientemente. Quando chegou ao encontro dele, começaram numa grande algazarra. Discutiam por algo que eu não compreendia e empurravam um ao outro enquanto caminhavam. Parecia que hoje afinal não iria dormir como tanto desejava, mas sim sobreviver a uma tarde desafiadora.


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Notas finais do capítulo

Só para avisar aos meus amores.. eu sou portuguesa de Portugal. Eu sei que a maioria dos leitores é brasileiro, por isso se não entender ou achar esquisito alguma palavra digam me please! Assim eu no próximo capítulo tento melhorar alguma parte.



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