O Bosque escrita por Julia MKL


Capítulo 3
3


Notas iniciais do capítulo

Novo personagem na área. Hummm



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É curiosa a forma como o caos se espalha rapidamente.

Após os cadáveres serem retirados da vista do povo e enterrados por vários homens, todos foram convocados para se reunir no pavilhão. O pavilhão era um local do tamanho de quatro pequenas casas, a maior construção do vilarejo, onde havia cerveja e comidas as vezes. Haviam festas também. O lugar pertencia a todo o vilarejo, era onde tudo poderia acontecer, de eventos religiosos a orgias. Mas o evento de hoje era um pouco mais obscuro.

Anna me arrastou pra lá próximo ao anoitecer. Havia sido um dia nublado e frio, mas como haviam muitas pessoas do lado de dentro da construção, a temperatura estava mais alta lá dentro. As tábuas rangiam sob os pés das pessoas agitadas, e as várias lamparinas acesas lançavam luzes e sombras nos rostos de todos os presentes.

Willard estava próximo a uns rapazes do vilarejo, e não muito longe dele estavam minha família e a de Anna. Haviam ali pessoas que eu conheci durante toda a minha vida: a senhora Ilse, Nilza e sua família, Adolph, Gregory, Dedrick. As filhas do senhor Gunter, mulheres solteironas que gostavam de beber um pouco demais. Ulrich e Hilda, o casal problemático. Todos os oito filhos da senhora Suzanne com Brenn e também seu neto, Adalbert. Haviam outros, muitos dos quais me olhavam estranho, de canto de olho. Eram pessoas cuja história estava interligada à minha, por termos nascido da mesma terra. Eram pessoas que me odiavam.

Me encolhi e Anna apertou minha mão com mais força.

Continuei observando e notei que em um lugar mais isolado, no canto oposto à atenção da maioria dos presentes, estava um homem. Ele devia ter por volta dos trinta anos, talvez um pouco mais, os cabelos eram longos, ocultos por um capuz escuro, e a barba negra era densa. Franzi a testa ao vê-lo, mas antes que eu dissesse qualquer coisa, Anna me cutucou.

"Olha!" Ela disse, com um sorriso dissimulado em minha direção. "Até mesmo Baldric está aqui hoje."

Eu não sabia ao certo quando Baldric se mudara para o nosso vilarejo, mas fazia muito tempo, e desde o primeiro dia ele era visto com desconfiança por todos. O homem falava pouco, não tinha família e vivia em uma cabana no bosque, afastado de todos. Ele aparecia de tempos em tempos, especialmente em feiras, para trocar frutos e raízes das quais a maioria de nós nunca tinha visto antes, então sumia por dias outra vez. Anna havia inventado as mais diversas teorias sobre o que ele fazia sozinho por tanto tempo. Certa vez ela considerou que ele tinha alguém em cativeiro em sua cabana, outra vez imaginou que ele era um bruxo e fazia magias escondido. Ela disse também que talvez toda a família dele houvesse morrido e ele passava os dias chorando, o que me parecia bem triste, mas a teoria que prevalecia sob as outras era a de que ele era meio louco e passava o tempo imaginando coisas pervertidas sobre as pessoas da vila. Essa era a teoria que menos fazia sentido para mim, mas era a que mais divertia Anna.

Warner, um homem apenas um pouco mais novo do que meu pai, de cabelos ralos e olhos constantemente avermelhados, exigiu a atenção de todos. Os murmúrios foram diminuindo até cessarem.

"Eu sei que todos estão cheios de dúvidas" ele disse, "mas no momento precisamos nos acalmar."

"Acalmar? É a segunda morte em apenas alguns dias!" Gritou um dos filhos de Suzanne. "Primeiro são os cavalos, depois o que? Nossos filhos?"

Houveram sons em concordância. Todos haviam chegado a esta mesma conclusão: Assim que todos os animais do vilarejo estivesse mortos, a criatura que os matou, seja lá o que fosse, provavelmente viria atrás de nós. Não estávamos mais seguros.

"No momento tudo o que podemos fazer é tentar manter nossas famílias e animais protegidos" disse Warner, tentando se fazer ouvir por cima das vozes. "Precisamos ser mais cautelosos, tomar medidas de proteção mais severas. Instaurar um toque de recolher."

"Toque de recolher?" muitos sussurram. Nosso vilarejo não é formado por pessoas das mais festeiras ou que passam madrugadas fora do lar, mas especialmente no inverno, em que a noite chega cedo, um toque de recolher significa menos tempo de trabalho e mais tempo trancado em casa, possivelmente sem comida.

"Eu sei" o homem continua, "eu sei que essas medidas são problemáticas especialmente agora, que o frio torna a comida tão escassa. Mas nós não sabemos o que é essa criatura, ou se é com um bando que estamos lidando."

"Poderíamos procurar no bosque" diz Willard. Olho em direção a Baldric, que puxa o capuz, ocultando um pouco mais seu rosto. Por um segundo os olhos do homem encontram os meus. Minha reação imediata seria desviar o olhar, mas pega pela surpresa, eu continuo encarando-o. Ele começa a se movimentar sutilmente, indo para a saída sem que ninguém note. Talvez eu devesse ir atrás dele, talvez eu devesse dizer algo, mas permaneço onde estou, imóvel. Algum tempo depois, quando alguém pensou em questionar se o homem viu algo incomum na floresta, Baldric já havia partido.


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Notas finais do capítulo

Me diga o que achou, sua opinião é muito importante!



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