Celle, o retorno escrita por Nany Nogueira


Capítulo 15
Solidão e desespero




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/763693/chapter/15

Os dias que seguiram não foram fáceis para a angustiada Isabelle, sabia que tinha que pensar a respeito da nova situação, mas ia apenas levando os dias e cumprindo com as suas obrigações. Não sabia por quanto tempo poderia esconder a gravidez dos colegas de trabalho, da família e de Cris, mas só vivia um dia de cada vez. O aperto constante no peito era o sinal de alerta do seu espírito avisando que ela tinha uma questão pendente com a sua consciência.

Certo dia, na sala do café, ela ouviu colegas comentando que haveria uma promoção na empresa. Sua mente começou a maquinar: era a chance perfeita para ter melhor remuneração e dar conta do seu filho sozinha. Era tudo o que ela mais queria no momento. Então, passou a se dedicar ainda mais ao trabalho. Fazia muitas horas extras, acordava cedo e dormia tarde, alimentava-se mal.

O chefe anunciou a promoção e pediu que os interessados se inscrevessem, avisando que o desempenho profissional seria analisado, bem como seria aplicada uma prova. Exigia-se também um exame de sangue. Isabelle ficou receosa quanto ao último, mas, pensou que um exame simples talvez não apontasse a gravidez e ainda que apontasse, seu desempenho falaria por si.

Virou a madrugada acordada antes da prova, estudou bastante, tomou muito café e a realizou com êxito.

Viu na lista que havia sido classificada entre os três primeiros e que a escolha viria da chefia depois de uma entrevista a portas fechadas.

Senhor Clasen, chefe do setor de engenharia, beirando os 50 anos, com uma barriga saliente, calvo e um bigode que mais parecia uma taturana acima da boca, cumprimentou cordialmente Isabelle e pediu que se sentasse, sendo direto:

— Não sou de muitos rodeios, como a senhorita já deve saber. Gostei muito do desempenho na prova e vejo que tem mostrado serviço na empresa, mas, infelizmente, diante da eminente queda do seu rendimento nos próximos meses, quiçá anos, não posso arriscar promovê-la nesse momento.

— Como assim? Não há razão para a queda de meu desempenho, eu continuarei dando tudo de mim no novo cargo.

— Nem que queira conseguirá isso.

— Por que não?

— Senhorita, em breve, será mãe e solteira, considerando o fim de seu noivado.

— Como o senhor sabe?

— Seu exame de sangue deu uma alteração suspeita que indicava para tanto. O advogado Frank confirmou ter te levado ao médico. Além disso, seus colegas de trabalho já estão comentando as suas tonturas e enjôos. O seu casamento que não aconteceu é o assunto mais comentado nos corredores. Como pretende ter bom rendimento no trabalho cuidando sozinha de um bebê, Senhorita Benson?

— Eu posso dar um jeito.

— Não pode não. Essa é a grande desvantagem de boas profissionais mulheres. A maternidade sempre se sobrepõe ao trabalho.

— O senhor está sendo preconceito e fazendo um discurso sexista.

— Estou sendo realista. Sou experiente na área e já vi muitas mocinhas como você, com um futuro brilhante pela frente, inteligentes, ativas, mas que acabaram tendo filhos e colocando a maternidade em primeiro lugar.

— O senhor não pode tirar uma por todas.

— Uma não, muitas.

— Então, nunca poderei ser promovida nessa empresa por que serei mãe?

— Não agora, não tão cedo. Seu filho vai precisar muito de você nos primeiros meses e anos de vida.

— Eu agradeço ao senhor por ter sido tão claro comigo. Não pretendo continuar trabalhando aqui sem ter o meu trabalho reconhecido porque serei mãe. Eu me demito! – tirando o crachá do pescoço e colocando sobre a mesa do chefe.

Isabelle saiu fechando a porta com força. Sentia-se livre daquele trabalho que a estava consumindo, resolveu ir caminhando para casa, quase correndo, tamanha a energia que sentiu ao deixar o prédio no qual passava a maior parte do seu tempo nas últimas semanas.

A sensação boa foi substituída pela ruim tão logo chegou em casa e se deu conta da burrada: Se já seria difícil sustentar seu filho ganhando pouco, imagine desempregada.

No meio do desespero, só uma pessoa poderia lhe ajudar. Pegou o celular e ligou:

— Alô, mãe!

Sam logo percebeu que algo não ia bem com a filha, só pelo tom de voz. Isabelle relatou a ela a demissão, mas não expôs a gravidez. A mãe pediu à filha que retornasse imediatamente para Seattle, mas a moça afirmou que poderia se virar um tempo com o seguro enquanto procurava um novo emprego. Diante da teimosia da filha, restou à Sam informar a ela que estava indo para Nova York.

Isabelle sabia que com a vinda da mãe teria que contar sobre a gravidez, mas, por outro lado, estava feliz por ter esse apoio tão necessário num momento tão difícil. Se não fosse tão orgulhosa, teria ela mesma pedido à mãe que viesse, mas ficou satisfeita quando Sam afirmou que viria independentemente da vontade da filha.

A moça sentia-se cansada, irritada, triste, mas, agitada demais para dormir. Resolveu ir tomar um banho para se acalmar. Deixou a água quente cair sobre o seu corpo por bastante tempo, mesmo após se ensaboar e lavar os cabelos.

De repente, sentiu uma forte cólica no baixo ventre, levando as mãos ao local, olhou para as suas pernas e viu que sangue escorria. Entrou em desespero. Estava só e em pânico.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Será que Isabelle vai perder o bebê? O que acham?



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Celle, o retorno" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.