Ode às Margaridas escrita por Ahelin


Capítulo 10
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Notas iniciais do capítulo

Este capítulo pertence à Rodada 10, cujo tema é o episódio 42 do desenho animado Pingu: Pingu at the Fairground.
Boa leitura!



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A parte mais difícil do processo desenrolava-se agora; precisava deixá-lo ir.

Antes que o fantasma tomasse conta dela, respirou fundo e prometeu a si mesma que seria a última memória que reviveria assim, de propósito.

Deixou que a música alegre a envolvesse, que as crianças esbarrassem nela e que o cheiro de comida lhe abrisse o apetite, exatamente como da outra vez.

Sorriu com a recordação dos braços dele envolvendo sua cintura, da penugem que ele insistia em chamar de barba roçando seu ombro conforme ele a abraçava.

Comprou um balão vermelho e deleitou-se com a nostalgia que ele trazia; desde aquela noite não via um balão tão bonito.

Chegou a tentar a sorte no jogo de derrubar latas com uma bola, mas tudo que conseguiu foi quase acertar a cabeça do dono da barraca. Riu de seu próprio desastre, como sabia que ele riria, e lembrou-se com carinho de como ele debochara dela ao derrubar tudo num único lance.

Pediu sorvete, algodão doce, cachorro-quente e mais algodão doce, seguindo cega os mesmos passos que trilhara com ele.

— É um parque, Agatha. Você não aproveitou direito se não torrou seu pagamento em todas as porcarias que tem pra comer aqui.

Quase ouvia a voz dele, sentia seu cheiro, via seu caminhar desajeitado e o sorriso de moleque ao olhar para a roda-gigante.

Permitiu-se comer, permitiu-se rir de novo. Permitiu-se divertir

Por um instante, achou que estivesse sonhando quando viu o rosto do homem sentado atrás do que Rodrigo chamaria de máquina de música. O mesmo artista de rua por trás do violoncelo e de tudo aquilo que Agatha sentia no momento, ali, bem à frente. Ele girava uma manivela e produzia um som engraçado, mas ao mesmo tempo tão dançante...

Desta vez, ela não reprimiu o impulso. Largou a ele uma moeda ou duas e colocou-se a rodopiar; segurava a saia do vestido e, de olhos fechados, girava em torno de si mesma, reproduzindo genéricos pas de valse. Sentia os olhares atentos das pessoas em volta, sem se preocupar em desvendar seus pensamentos, e imaginava-o admirando sua dança junto a eles.

Sentia-se bem, não mais vazia ou abandonada. Apenas bem

Sua última visita foi ao balanço de metal, esquecido num canto. Era de se esperar que os brinquedos da praça fossem abandonados com a chegada do glorioso parque, o que os tornaria aos olhos de Rodrigo os mais interessantes.

Impulsionou-se tão alto quanto podia, fechou os olhos e deixou-se ser levada até estar tonta. Não teve medo de cair, ainda que lembrasse de ter caído antes; queria memorizar a sensação da brisa em seu rosto e guardá-la consigo como uma garantia de que ainda estava viva.

E, de fato, estava.

Soltou o balão e não o impediu de ir embora, apenas acompanhou-o com a vista até que não pudesse mais distingui-lo da noite.

Ela sabia onde precisava ir. Sabia, também, que não podia adiar mais.

Quase não viu o trajeto caminhado. Concentrou-se no chão, porque soube que se olhasse adiante obrigaria a si mesma a voltar. Lá, ajoelhada e debruçada sobre a fria lápide de cimento, Agatha chorou copiosamente.

Um choro limpo, porém. Sem soluços, sem arrependimentos, sem culpa, sem frustrações.

Só a velha saudade, o que, de certa forma, era reconfortante.


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Notas finais do capítulo

E esse foi o último capítulo ♡
Eu tô apaixonada pela trajetória da Agatha e espero que ela possa tocar alguém como me tocou.
Um beijo ♡



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