Passara-se um mês desde que Catarina havia entregado suas cartas ao correio. Não obtivera nenhuma resposta, no entanto sentia-se bastante satisfeita com ter se livrado daquelas epístolas. Era como encerrar um luto que transbordava de seu ser há anos e começar um novo momento em sua vida.

 A estreia de “Jovens Titãs em Ação” era naquela tarde e, como Manuel simplesmente amava o desenho animado, Cat resolveu fazer um passeio com o pequeno. Seria o primeiro filme no cinema que assistiriam juntos.

 O dia, como um todo, fora maravilhoso. Pitoco, como era chamado carinhosamente pela mãe, fez birra para tomar banho e, em outro momento, enquanto passavam pela praça de alimentação com o intuito de escolher em qual lugar se alimentar, chorou novamente por uma casquinha de sorvete. Apesar disso, Catarina conseguiu driblar a manha infantil, tanto em casa como na rua. No primeiro caso, confidenciou que só poderiam sair para passear caso estivessem limpos. Já no segundo, prometeu comprar o doce depois do almoço (e de fato o fez).

 A mulher ficou ligeiramente orgulhosa do filho que, embora estivesse muito entusiasmado, conseguiu manter-se silencioso durante a sessão e só cochilou nos instantes finais. Quando saíram, Manuel parecia borbulhante de felicidade e isso contagiou sua mãe. Ela gostaria de ter dinheiro para comer novamente no shopping, no entanto não podia gastar tanto em um dia só. Voltaram para casa e a moça resolveu improvisar um lanche de jantar.

 Quando o garotinho já estava dormindo, Maria chamou a filha para uma conversa em particular. Ela morava numa espécie de casa aos fundos e ajudava na criação do neto, sempre com muita amizade e companheirismo com Catarina. Dessa vez, porém, o dialógo tinha um tom sombrio.

 A senhora era de idade, havia fumado por anos quando mais nova e havia um extenso histórico de doenças como catarata, astigmatismo e ceratocone na família. Por conta disso, Catarina consultava um oftalmologista anualmente e já havia levado Pitoco duas vezes em sua curta vida, aparentemente Cat tinha puxado o lado genético de seu pai, porém temia que Manuel desenvolvesse alguma doença séria relacionada a visão.

 De qualquer forma, a conversa que Maria teve com Catarina não era a respeito do neto ou da moça. Entre prantos, a idosa declarou que contraíra degeneração macular, uma doença  grave e sem cura, que ocasiona perda do centro da visão gradativamente. A bibliotecária passou a noite consolando a mãe, que borbulhava como Manuel tinha feito antes, no entanto não de alegria. Durante a madrugada se pegou resistindo a escrever um desabafo em forma de epístola.