O caminho de volta para casa foi em total silêncio. Alex pegou a direção do jeep e deixou que Stiles fosse relaxando, pois sabia que a missão havia sido um fracasso, e o mais devastado daquilo tudo foi o garoto.

Assim que chegaram em casa, Stiles entrou e foi direto para o seu quarto, sem falar nada. Ele ainda estava apavorado e decepcionado com o que havia acabado de acontecer.

Alex foi até o quarto do sobrinho e se escorou no vão da porta, apenas observando Stiles deitado em sua cama, com o rosto escondido no travesseiro.

— Ele estava na minha frente, eu poderia ter acabado com ele. – balbuciou o garoto ainda com o rosto escondido.

— Está tudo bem. – Alex se sentiu à vontade para se aproximar do sobrinho, e então sentou-se na cama. – Você quer falar sobre isso? – ela espalmou a mão nas costas de Stiles no intuito de acalmá-lo.

— Eu vi a morte nos olhos vermelhos daquele monstro, ele destruiu minha família, eu tenho certeza disso. – ele virou o rosto de canto.

— Eu imagino como tenha sido difícil para você encarar... – Alex pausou por um instante. – Espera, você disse vermelho? – questionou.

— Sim, ele tinha olhos vermelhos cor de sangue, foi assustador. – respondeu.

— Estranho. – completou.

Stiles levantou e sentou ao lado da tia. – O que é estranho? – o garoto estava curioso.

— O que eu cacei tinha olhos azuis, um azul intenso, quase como um lápis-lazúli. – disse pensativa.

— E qual a diferença? Ambos era lobisomens, não eram? – perguntou Stiles.

— Sim, eram lobisomens, disso não tenho dúvidas. – respondeu convicta. – Mas quanto a outra criatura que lhe atacou, o que era? – Alex sabia que Stiles estava assustado, e já que ele tinha lhe dado a liberdade de falar sobre o assunto, era melhor que esclarecesse tudo que havia ocorrido.

— Eu nunca vi algo como aquela criatura. Ela tinha um grito agudo, tinha o meu tamanho, garras pontudas. Seus pés pareciam de uma ave, consegui ver quando ela atacou o lobisomem. Ela também voava, tinha penas nas asas. Seus olhos eram amarelos. Creio que consegui quebrar um braço daquela coisa, mas ela não tentou me atacar em momento algum, parecia estar me ajudando. – Stiles estava intrigado com a criatura que atacou o lobisomem.

— Podemos pesquisar mais sobre isso amanhã, agora vamos descansar, pois a noite foi longa, e embora não tenhamos obtido sucesso, teremos outras oportunidades. Estou feliz que estamos bem, isso é o que importa. – Alex abraçou o sobrinho e beijou sua cabeça antes de se retirar do quarto. Ela sabia que Stiles provavelmente não dormiria aquela noite, mas era algo rotineiro quando ele não sucedia em alguma missão.

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Depois de muito tempo acordado pensando no fracasso da missão, Stiles conseguiu pegar no sono por poucas horas antes de acordar para ir à escola. Finalmente era sexta-feira e ele poderia descansar todo o final de semana, caso não aparecesse algo para combater nas proximidades, como de costume.

Por mais cansado que estivesse, Stiles tentava nunca faltar a aula, pois o que ainda o mantinha normal era estar perto de seus amigos que não faziam ideia do seu trabalho como caçador.

— Nem acredito que já é sexta-feira. Poderíamos fazer alguma coisa esse final de semana, o que vocês acham? – perguntou Scott fechando a porta do seu armário.

— Por mim tudo bem, não tenho nenhum compromisso, então posso gastar um tempinho com vocês. – Lydia sorriu e olhou para Stiles.

— Eu passo, obrigado. – o garoto foi direto.

— Nós nunca mais saímos, você está sempre viajando, ou sabe-se lá fazendo o que. Acho que precisamos disso, ontem você estava tão animado, recupere o ânimo e vamos curtir esse final de semana. – disse Scott.

— É, ontem foi uma decepção para mim. Pensei que algo muito bom fosse acontecer, mas aconteceu o pior, e isso me desanimou bastante. – Stiles respirou fundo e começou a caminhar na direção da sala de aula, sendo acompanhado pelos amigos.

— Por isso que deveríamos sair, te animar mais uma vez. – completou Lydia.

— Talvez outro dia, esse final de semana eu quero colocar minha cabeça no lugar, talvez estudar um pouco. – ele não estava feliz por rejeitar o convite, mas não poderia ir naquele estado de espírito.

— Tudo bem. – finalizou Scott.

— Tudo bem?! – perguntou Lydia assustada.

— Tudo bem?! – Stiles também se assustou.

— Sim, tudo bem. – Scott repetiu. – Não é a primeira vez que você rejeita sair conosco, tampouco será a última. Parece que cada vez mais você está se distanciando e não deixa que a gente se aproxime de você. Estamos tentando fazer você feliz, mudar um pouco a rotina, e você vive preso nesse seu mundo estranho que ninguém entende e nem você deixa que ninguém entenda. – o garoto parou na porta da sala. – Se é assim que você quer, assim será. – completou.

Lydia parou na porta da sala sem reação, e não foi a única, Stiles parecia ter acabado de levar um tiro no coração.

— Quando você lembrar que somos seus amigos e que só queremos seu bem, nos procure. – Scott entrou na sala. – Vamos, Lydia. – ele sentou em uma cadeira diferente.

— Eu... – Lydia estava sem palavras, só conseguia abrir a boca e gaguejar algumas vogais.

— Tudo bem. – Stiles sorriu sem graça e apalpou o ombro da amiga. – Ele está certo. – concluiu.

— Você está bem? – perguntou Lydia ao ver o semblante do garoto mudar.

— Eu estou vivo, mas não sei se isso é estar bem. – Stiles seguiu pelo corredor na direção do banheiro enquanto Lydia ficou observando.

O banheiro vazio era um ótimo lugar para Stiles esquecer do mundo a sua volta e do que havia acabado de acontecer com ele. Aquele poderia ser o fim da sua amizade, o fim da sua vida normal. A vida de caçador estava transformando ele em um monstro pior do que as criaturas que caçava.

— Você é um idiota! – o garoto falou enquanto olhava seu reflexo no espelho. – Suas amizades são importantes, e você está acabando com elas. – ele esmurrou com força a bancada da pia ao final da frase.

— Stiles? – uma voz surgiu no banheiro.

O garoto olhou ao redor e viu Liam se aproximando. – Você estava aí. Eu não... – sua fala foi interrompida quando o mais novo o abraçou desajeitado, não tinha costume de fazer aquilo.

— Eu não sei o que está acontecendo, mas sei que é alguma coisa. Não é o mais aconselhado, mas tudo bem esconder um segredo dos seus amigos, afinal, todos temos um segredo que ninguém iria entender. – Liam soltou o amigo.

— Você ouviu o que Scott me falou? – perguntou.

— Não, mas eu vi a cena e imaginei que algo ruim tinha acontecido entre vocês, e como você anda afastado de nós, poderia ser relacionado a isso. – Liam encostou na bancada enquanto conversava com Stiles.

— Eu só precisava de um tempo para pensar, conversar comigo mesmo, mas obrigado por ter vindo, é sempre bom receber um abraço de alguém que te ama. – ele sorriu e viu o garoto sorrir também.

— Já que acompanhei a Samantha até o banheiro para tomar seu remédio, não custava entrar aqui e te consolar pelo que tinha acontecido. – Liam viu Stiles caminhar na direção da porta e o seguiu.

— O que houve com sua amiga? Ele está doente? – perguntou o garoto já saindo do banheiro.

— Não, ela quebrou o braço e está tomando analgésicos para aliviar a dor. – respondeu Liam.

Stiles paralisou assim que ouviu Liam. Algo estava se encaixando no quebra-cabeças que era a mente do garoto. A memória fotográfica dele permitiu com que lembrasse do dia que conheceu Samantha, Lydia elogiou suas unhas, unhas essas que eram bastante semelhantes as garras vistas na noite passada, as garras da criatura que espantou o lobisomem que ele tanto procurou.

— Stiles? Tudo bem? – perguntou Liam ao ver o amigo estático.

Ele demorou alguns segundos para retomar a consciência. – Sim... Está tudo ótimo. – respondeu. – Porque não volta para a aula? Eu acompanho Samantha até a sala, não se preocupe. – ele sorriu.

— Faria isso por mim? Muito obrigado! – Liam sorriu e seguiu correndo pelo corredor vazio na direção das escadas.

A porta do banheiro feminino foi aberta com cuidado, Stiles tratou de trancar para que ninguém entrasse ali e então foi com rapidez para cima de Samantha, que estava se olhando no espelho.

— Stiles?! Esse é o banheiro... – ela interrompeu sua fala quando teve o pescoço agarrado pelo garoto e eu corpo jogado na parede.

— O que é você? – ele sentiu a adrenalina correr pelas suas veias, mas nada que o tirasse do controle, ele sabia muito bem como se manter calmo, principalmente quando queria tirar respostas de um monstro.