n a p u r a m a n h ã b r a n c a — II

A pedido dos estudantes, a Academia Topo da Esperança alugou uma pista de patinação próxima da escola para todos. Eles mereciam se divertir um pouco depois de uma semana exaustiva de exames e, por isso, a ideia foi felizmente aceita pela instituição.

Rantarou, por sua vez, aprova a ação. Ver que seus colegas de turma estão se divertindo ali, mesmo aqueles que foram puxados para o lugar à força, é algo que ele aprecia.

Até porque, além disso, é bom ver que Kaede está rindo no lado oposto da pista depois de escutar uma piada de um dos amigos dela.

Àquele ponto, Rantarou já pode admitir a si mesmo que ele tem um crush nela. Já se passaram três anos desde que começaram a interagir na mesma sala de aula para que pudesse negar que a felicidade que ele sente na presença de Kaede é algo falso, afinal.

Contudo, provavelmente ele nunca contaria isso a ela.

Sendo um dos últimos a ir para a pista de patinação, Rantarou começa a patinar nela com todo mundo. A situação só se faz possível porque os alunos foram preparados antecipadamente com aulas práticas de como usar patins — ocasião de grande bagunça e tumulto, ele se lembra.

É no meio da sua segunda trajetória para o centro da pista que Rantarou vê Kaede fazendo o mesmo caminho que ele. À distância, ela parece um pouco nervosa, mas ele só entende o porquê quando ela vem com tudo em sua direção.

Como consequência, isso traz os dois à tona ao chão.

“V-vocês dois estão bem?” Mikan, que está mais próxima deles, se aproxima.

“Sim, eu tô bem. Não se preocupe muito.” Kaede se levanta do lugar em que caiu e olha para Rantarou com um olhar culpado. “Me desculpe por isso, Rantarou.”

“Tá tudo bem, mas... o que aconteceu?” Ele ri com preocupação.

Antes que ela possa responder, seus outros colegas de classe vêm na direção deles para ver se tudo está bem. Usami até mesmo os dá alguns avisos para evitar que se lesionem de novo. E, quando toda a comoção acaba, ambos deixam a pista de patinação para trás e se sentam em um banco.

“Bem, não é nada sério. É que eu sou ruim patinando e perdi o controle,” Kaede confessa, um pouco envergonhada. “Eu acho melhor desistir por enquanto.”

“Mas está tudo bem pra você fazer isso?” ele aponta a pergunta para ela. “Me parece que você não quer desistir.”

Kaede fica pensativa sobre o que dizer em resposta. “É verdade, mas eu não posso permitir que alguém fique machucado por minha causa.”

Eles trocam olhares, como se procurassem descobrir a solução para o problema.

Então, Rantarou tem uma ideia. “Eu acho que você poderia pedir a alguém para te acompanhar, Kaede. Há muita gente aqui que sabe patinar bem.”

Os olhos dela piscam. “Ah, sim, essa parece ser a única maneira.”

É nesse momento que Rantarou se lembra que ela é mais uma pessoa que ajuda do que uma pessoa que é ajudada. Então, ele pensa no mesmo instante que ela provavelmente não gostou de sua sugestão e se arrepende de ter falado.

O que vem da boca dela, contudo, não é nada mais que uma pergunta. “Você poderia fazer isso por mim, então? Já que você é bom em tantas coisas.”

Uma vez mais eles trocam olhares; ele, um pouco sem jeito pelo elogio dela, e ela, rindo.

É impossível negar quando Kaede está daquela forma.