Pandora escrita por Virgo


Capítulo 3
Ordens e Agrados


Notas iniciais do capítulo

Um capítulo três vezes maior que os dois anteriores =)
Espero que gostem =D



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O homem arrancou a espada de metal negro do peito de seu inimigo, um Cavaleiro de Athena sobrepujado sem dificuldade, sua espada era de metal estelar, nenhuma armadura no mundo era capaz de segurar o fio mortal. Viu a armadura de prata sair do corpo como uma mortalha de tecido rico deixa o corpo das almas que julga, escorregando lentamente para os pés e então sendo levada pelo vento, indo para muito longe, até onde a vista não alcançava.

Limpou o sangue de seu rosto com o dorso da mão e chutou o corpo para longe antes de olhar para o deus que se apiedou do corpo e fechou seus olhos com um sorriso perturbador. Esperou um pouco mais e logo viu a essência azul começar a escapar pela boca entreaberta, sendo guardada pelo deus em uma pequena bolsa de couro.

— Satisfeito? - perguntou limpando a lâmina o melhor que podia.

— Mais uma alma de Athena para minha coleção. - respondeu com um sorriso leve. - Como não estar satisfeito?

— Pensei que preferisse os dourados. - comentou o mirando com algum desgosto.

— Os Cavaleiros de Ouro tem a morte decretada com uma frequência que assusta até à mim, igual situação nunca vi. - respondeu dando de ombros. - São muito frequentes para serem meus favoritos. Os Cavaleiros de Prata, por outro lado, são mais resguardados, eles conhecem bem sua missão de última linha, quando não existem mais Cavaleiros de Ouro cabem à eles a defesa da líder divina. Por essa razão são tão difíceis de serem encontrados em combate, e por raramente morrerem na luta é que são os meus favoritos de forma justa.

Apenas negou a resposta alheia, estava tratando com o Morte, apenas ele para ter esses prazeres mórbidos. Não bastava destruir uma cidade inteira e colher centenas de almas sem nenhuma explicação, ainda tinha que aturar os caprichos de um deus menor, mandando e desmandando seu desejo por cada alma de Cavaleiro que guardava aquele estado tão pequeno.

— Ainda não entendi o porquê de tomarmos esta cidade. - observou ao embainhar a espada. - Sei de nossa rivalidade com Athena, mas por que aqui e não o Santuário? Essa é uma cidade-estado que a adora, isso eu sei, mas por que aqui e não qualquer outra? E tem mais, por que nós espectros e não nossos fiéis mortais?

O deus voltou a se levantar apoiado em sua foice, a prendendo nas costas logo em seguida e cruzando os braços com uma das mãos apoiada no queixo. Ele estava sempre com um leve sorriso, um prazer estranho de quem sabe que tem uma noção muito maior de mundo que qualquer outro.

— Nosso Senhor não explicou? - precisou segurar o riso ao ver sua negativa. - Viemos salvar uma pobre deusa esquecida, suas orações e lamúrias o alcançaram e ele decidiu atender, como sua justa sabedoria o mandava. Por isso mantivemos todas as mulheres vivas e matamos todos os homens, nunca vimos a deusa, sabemos apenas seu nome. Achando a deusa, a missão termina, assim como cada vida.

Antes que pudesse dizer qualquer coisa, o palacete em que estavam foi invadido por um grupo grande de soldados, no meio deles havia uma mulher que gritava ofensas e esperneava por mais ferida e maltratada que estivesse. E tinha certeza que ela estaria dando muito mais trabalho se não estivesse com um braço torcido nas costas e sendo controlada pela raiz do cabelo, tropeçando nas correntes e sendo empurrada violentamente, ela não tinha muito com o que revidar ou lutar.

— A encontramos escondida dentro da câmara do Wánax. - informou um dos soldados, a segurando firmemente pelos cabelos. - Uma peça muito exótica, não é? E é toda sua, meu senhor.

Era uma mulher linda, isso era perceptível mesmo de longe e com tanta sujeira e machucados a desfigurando. Os cabelos negros como as asas de um corvo, lábios rubros como sangue, olhos escuros como a noite, pele alva como a neve, corpo esbelto como de uma dríade e o rosto fino e altivo de uma deusa. Aquele olhar, então, era de um animal selvagem e orgulhoso que estava encurralado, e sabia bem que esse era o tipo mais perigoso de animal.

Estava encantado pela beleza estonteante e o olhar inquisitivo da moça, sentia que o conheceu antes, ela era uma guerreira e não qualquer meretriz de esquina; mas sabia bem o seu lugar e aquela mulher não era peça para tomar a liberdade de tocar.

— Eu não quero, deixem-na.

O homem a arrumou melhor para que seu rosto ficasse mais visível, sentiu um curioso arrepio quando a viu xingar e lutar contra a violência aplicada. O sangue dourado que escorria de seu nariz agora chegou na corrente presa em seu pescoço e por ele pingou no vão do busto, quase exposto por tanta luta.

— Por favor, senhor. - insistiu o homem. - É um presente em gratidão por orientar o exército para a glória mais uma vez.

Girou os olhos, odiava aquela insistência dos subordinados em lhe agradar de alguma forma, lhe dessem alguma bebida que seria melhor. A missão ainda não tinha acabado e eles ainda tinham muito o que fazer, ficar negando para que eles continuassem insistindo era um perda de tempo que não tinham.

— Bem. - se aproximou e segurou o rosto da moça pelo queixo, tão fino que apenas três dedos já a continham. - Qual o seu nome?

A viu respirar fundo, o encarando nos olhos sem medo, ela não o temia de forma alguma e o ódio do olhar expressava bem o que ela pensava.

— Pandora.

Sua reação foi o choque, o nome fez um arrepio correr seu corpo e suas mãos correram para os ombros da moça que se enrijeceu com seu toque. Havia tantos anos que não escutava esse nome, mas nem por isso o tinha esquecido, ficou gravado em sua alma. Os soldados apenas observavam a cena intrigados e o deus ao seu lado deu um sorriso mais aberto.

— Achamos o alvo da missão, foi mais fácil do que imaginei. - comentou evidentemente contente. - Podem matar o restante, ela é tudo o que precisamos.

Os soldados a princípio não reagiram, não tinham entendido a ordem. Primeiro precisavam poupar todas as mulheres, agora por conta de uma única podiam matar todas as outras, isso era muito confuso se levassem em conta que em nada ela tinha de diferente das demais. Porém, se seu general sabia pouco da missão, eles não sabiam nada, apenas cumpriam ordens.

— Pensamos que ele era algum tipo de serva. - comentou um dos soldados.

— Pensou errado. - respondeu o deus com um olhar meio torto. -  Está é Pandora, a Primeira Mulher e Portadora das Desgraças da Humanidade, seu idiota. Apenas faça o que mando e varra logo esta cidade da existência. Para Athena deve sobrar apenas a ruína.

Os soldados não discutiram mais, saíram para cumprir suas últimas ordens e deixaram os três sozinhos. A mulher era bruta, porém, sabiam que estaria melhor controlado com seus superiores do que entre eles.

— Thanatos. - chamou o homem moderando seu tom de voz, não podia transparecer nada. - Nosso senhor disse o que pretende fazer com ela?

— Não. E acho que não vai dizer enquanto estiver se justificando para Zeus e os demais deuses sobre este ataque tão repentino. - deu de ombros para o assunto. - Por que?

— Não importa... Ela é minha responsabilidade agora.

Segurou o rosto da moça com mais cuidado dessa vez e logo a mão migrou para a nuca da menor, a puxando para um beijo não pedido, apenas dado em sua fronte sob protestos enraivecidos.


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Notas finais do capítulo

É bom sentir as ideas voltando...



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