Pandora escrita por Virgo


Capítulo 10
Espada e Raio


Notas iniciais do capítulo

E aqui está a segunda parte do capítulo original, essa não foi tão seca, ela tá bem mais fiel ao que sempre foi ;D
Minha única preocupação era que a luta não ficasse muito cansativa, mas acho que posso afirmar com algum orgulho que ela está ótima =D
Alias, acho importante avisar que este é o penúltimo capítulo =X
Queria que a história terminasse com 10 capítulos certinho, mas o tamanho do capítulo 9 original precisou ser... mediado. Mas talvez eu poste um capítulo extra só pra aliviar minha mania de número par... Talvez, não é certeza. Mas juro que aviso se pensar em alguma coisa =3
Espero que gostem ♥



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Um silêncio medonho tinha se instalado naquela arena, o tempo parecia não passar nunca.

— LUTEM!! - o brado da deusa era potente e capaz de roubar os sentidos.

A moça quase não acompanhava os movimentos dos soldados em treinamento, então acompanhar o que acontecia num campo de batalha era impossível, a moça só conseguiria ver o movimento final ou decisivo. Era desesperador, ela precisaria segurar um grito sempre que ouvisse as armas rasparem uma contra a outra, ainda mais que não eram quaisquer armas.

Radamanthys lutava com sua espada de metal estelar, dada pelo próprio Hades e feita com os materiais de uma rocha vinda do espaço. A espada era capaz de atravessar qualquer armadura, mas uma armadura divina certamente daria mais trabalho, talvez precisasse de um golpe extra para decepar um braço. Atingir seu alvo não era uma dificuldade para ele, o difícil era transpassar sua defesa.

Zeus, por outro lado, tinha uma arma muito mais poderosa. Aparentemente era uma simples lança, mas na verdade aquele era seu Raio Mestre, aquele era o raio que dava origem a todos os raios, era energia cósmica pura. Nada no mundo era capaz de segurar um ataque feito por aquela arma, com exceção do escudo de Athena, nada no mundo era capaz de deter aquela coisa. O raio apenas acertava seu alvo.

Ela mal enxergava, mas os olhos mais atentos dos guerreiros viam tudo com maestria. O juiz foi o primeiro a atacar, suas asas bateram com força e ele foi atirado em alta velocidade na direção do deus e ainda fez pequenas crateras onde antes estavam seus pés, estava tão rente ao solo que poderia ter a pele descamada por milímetros de proximidade a mais. O ataque foi desviado com facilidade, mas quando o senhor dos deuses alçou voo para desviar o filho também tinha ascendido em maior velocidade e continuou se inclinando para trás enquanto subia até começar a cair, causando o choque violento dos dois corpos, com a diferença de que o juiz estourou o elmo do pai com um único soco.

Os guerreiros do submundo gritaram e urraram exaltados, brados furiosos de pura satisfação frente a violência contra um deus detestado.

O deus caiu com tudo no chão e só conseguiu pulsar o raio, fazendo uma tempestade elétrica obrigar o filho a se afastar o mais rápido possível. Ele sabia que seu coração aguentaria ser atingido por quatro raios, ser filho do senhor do raio lhe ajudava em muito, mas um quinto raio o mataria. O deus só estava ganhando tempo e vantagem dentro daquela tempestade, estava um pouco atônito pela violência, ele realmente não esperava que o filho fosse tão forte. Ele tirava os cacos de seu elmo do rosto, revelando os talhos que foram criados e limpando a trilha de sangue que podia atrapalhar sua visão, por sorte não perdeu o olho durante a explosão do elmo.  Tudo que o juiz podia fazer era ficar andando de um lado para o outro esperando, tal qual um animal enjaulado.

Via sua rainha e a mulher amada juntas, elas se apoiavam naquele momento de desespero. Até pensou em reagir, em falar algo, em fazer algum gesto, qualquer coisa, mas essa sua pequena distração lhe custou um raio no meio do peito.

— RADAMANTHYS!!! - foi segurada pela rainha, o ar lhe faltou quando o viu atravessar a arena com o impacto.

Bateu na parede com tudo e, apesar da dor absurda consumindo seu corpo e o fazendo urrar, tomou impulso para cima, escavando a parede com suas asas, e caiu com tudo atrás do pai. Mas esse movimento tinha razão, ele tinha atirando a espada nas costas do pai tal como uma faca de arremesso; uma arma tão pesada seria impossível de arremessar para seres mortais, nem o mais forte deles teria força o bastante para isso. A espada fincou na base da asa direita com tudo, empurrando o deus para frente com um susto e ele arrancou a arma com algum desespero, fazendo a espada voar e cair entre os Pastores de Deméter. A espada não tinha atravessado para seu alívio, mas tinha arrancado sua asa. Agora ela estava largada no chão, tinha perdido sua capacidade de vôo, no máximo tinha um salto mais alto.

Enquanto isso, os Pastores tiveram o espiríto de desviar da poderosa espada e a  devolver para arena assim que conseguiram arrancá-la da arquibancada.

Os urros eram uma mistura de comemoração de alguns e reclamação de outros, aos poucos a arena mergulhava na torcida exaltada de um espetáculo.

Não podia perder tempo no chão, precisava recuperar a espada ou tentar golpear o pai de mãos nuas. Qualquer uma das duas era muito arriscada, mas o pai não lhe deu escolha, começou a atirar raios sem parar, precisou fugir e desviar o mais rápido possível. Aos poucos o deus se convencia de que precisava matar o filho ou este iria matá-lo sem pensar duas vezes.

A espada era seu maior poder ofensivo, com ela suas chances de derrotar o deus eram muito maiores, precisava da espada para o golpe final. Tentou recuperar a espada várias vezes, mas os ataques do pai não davam tempo para nada e nem tinham padrão, chegou a quebrar um pedaço das asas no desespero de desviar e este pedaço ainda ficou preso numa parede, se precisasse desviar para esquerda não iria conseguir. Ele precisava tornar aquilo minimamente justo, precisava desarmar o pai ou então destruir sua armadura, ambos um perigo que estava disposto a correr.

Virou com tudo para direita, seu movimento foi tão brusco que ouviu a asa danificada ranger, agora estava indo de encontro ao pai. O ataque quase inconsequente lhe garantiu uma vantagem, o pai pode ter acertado um raio em sua cabeça, o que lhe custou as ombreiras e o elmo, além de várias feridas no rosto e cabeça, mas isso não importava já que conseguiu enganchar o pescoço e braço armado do deus num golpe de imobilização, o derrubando com toda força no chão.

Naquele momento a arena, que já era preenchida com os urros e brados de torcida, se avivou com uma comemoração quase ensurdecedora.

O senhor dos deuses tinha batido a cabeça com força na queda, afinal foi um ataque veloz, além de ter sido muito violento. Mesmo assim tentou reagir de alguma forma, arrancando uma das asas da armadura negra no desespero de se soltar, logo tentou virar quando percebeu que não estava devidamente imobilizado; porém, foi nesse momento da “virada” que o juiz enganchou as pernas em seu pescoço e continuou segurando seu braço com toda força, inclinando-se o máximo possível e travando o corpo, ele iria arrancar aquela arma do pai de qualquer jeito. O braço solto do deus agora tentava forçar suas pernas a abrirem e liberarem seu pescoço, o juiz estava aplicando tanta força que a armadura que cobria ombro e parte do pescoço começou a rachar e então estourou, nesse momento forçou se levantar e desestabilizar o golpe que lhe foi aplicado. Pena que o filho foi mais rápido, travou as pernas numa nova posição em seu peito e fez ainda mais força ao se inclinar.

O urro de dor encheu a arena enquanto o antebraço esquerdo do deus caia do outro lado junto de sua arma.

Com o sangue espirrando ficou muito mais fácil escapar do filho, mas isso não queria dizer que iria fugir, muito pelo contrário, daria o devido troco. Ele não esperou recuperação de nenhum tipo, o deus lhe golpeou para continuar no chão e o chutou com força, o fazendo rolar por alguns metros e parar de costas, nesse momento o deus pisou em suas costas, arrancou a asa faltante e a usou para perfurar a armadura das costas e por fim o prender onde estava.

— LEVANTA!!! LEVANTA AGORA!!! LEVANTA, RADAMANTHYS!!! - seu coração estava na garganta, era muito sangue, os dois iam acabar se matando e não podia fazer nada além de gritar.

Urrou arrancando a asa com alguma dificuldade, ouvia o grito que o ordenava  levantar e o obedecia sem questionamentos. Para sua sorte não tinha atingido nada vital, mas isso não mudava o fato de que tinha um buraco do tamanho de um punho cuspindo sangue em sua lateral direita, sua regeneração rápida iria ajudar na contenção de sangue, mas não faria milagres. O mesmo valia para o pai, que nessa altura já tinha pego sua arma de volta e cauterizado o melhor possível o que restou do braço, certamente Hephaestus precisaria fazer uma manopla especial depois. Aquilo doía mais do que parecia, o senhor dos deuses controlava seu rosnado dolorido e não tirava os olhos do filho, qualquer desatenção poderia custar mais caro que um braço.

O deus então tirou a armadura de seu ombro sem braço, aquilo estava quebrado pela imobilização e não seria útil para mais nada, a armadura do peitoral também tinha sido parcialmente quebrada, mas ainda era útil. Se antes achava que derrotaria o filho com facilidade, agora estava com raiva o bastante para matar aquela ameaça sem pensar duas vezes. Era sua vez de tomar uma postura ofensiva.

Os olhos celestes começaram a brilhar com a cor do raio e emitir faíscas, todo seu corpo emitia pequenas descargas elétricas e todo o lugar foi eletrizado pela pressão atmosférica causada pelos poderes do deus; a moça até se afastou do parapeito com o choque que levou, olhando mais atentamente via que aquela pequena eletricidade também atingia o corpo do juiz, pequenos raios o tocavam da mesma forma que escapavam do senhor dos deuses, mas não pareciam incomodar. Somente quando o senhor dos deuses ergueu seu braço direito com a lança de raios que o filho saiu correndo o mais rápido que conseguia, sendo seguido de perto pelos raios poderosíssimos do pai, quase uma sombra em seus calcanhares. Ele não estava fugindo, mas também não era louco de ficar parado esperando ser acertado mais uma vez. Não tinha asas para desviar e nem podia usar os poderes com coisas pequenas, estava guardando tudo para um último ataque, se não desse certo daquela vez não daria certo de forma nenhuma e tudo o que poderia fazer era tentar morrer com alguma réstia de honra.

Foi atingido por um raio e saiu rolando com o poder do impacto, ouvia os brados dos guerreiros comemorando e vaiando, ouvia os arfares desesperados da amada e lembrava com ainda mais ódio que não podia falhar. Nesse momento aproveitou que ainda rolava e travou a postura a fim de parar, os pés causaram grandes marcas de arrasto enquanto freava e os dedos tensos fizeram marcas de garras no chão. Quando ergueu o rosto olhando diretamente para o pai, mostrou a íris vermelha e fina como a de um réptil, os dentes caninos afiados e grandes como os de uma besta carnívora e o bafo quente escurecendo a terra a frente de seu rosto; seu corpo também emitia eletricidade, mas seus raios eram negros, naquele momento o deus percebeu que tinha despertado o sangue divino que o filho havia herdado de si. Era algo momentâneo, todos os filhos tinham esses momentos de despertar, mas eram altamente perigosos naquele estado.

O juiz então abriu a boca com um rugido animalesco, bestialmente poderoso e intimidador. E, como um verdadeiro Wyvern, ele cuspiu uma poderosa tempestade de raios negros que só crescia mais e mais conforme atravessava a arena na direção do deus, tudo em seu caminho se incendiava com chamas negras e se  degradava com um bolor arroxeado pouco antes de virar pó e sumir, aqueles eram raios herdados do senhor dos raios e tocados pelo senhor da morte. O deus imediatamente colocou sua asa restante a frente do corpo, tal qual um escudo, e se posicionou para aguentar o impacto, certamente teria problemas se aquilo lhe atingisse de frente; mas não imaginava que teria problemas de qualquer forma, aparentemente ver que aquilo degradava e incendiava tudo o que tocava não tinha sido convincente o bastante para ele compreender o tamanho do perigo que era despertar o sangue divino do filho.

O raio o atingiu com tanto poder que o empurrou até bater na parede e começou a consumir a asa, criando buracos e fendas de apodrecimento, logo o raio tinha alcançado sua armadura peitoral e estava começando a “comer” o metal que o protegia. Nesse momento percebeu que teria sido muito mais prudente fugir, segurou seu raio com mais força e o fez pulsar, criando uma onda retardatária de estática para que pudesse desviar e escapar com um impulso fraco da asa. No momento que se viu “seguro” começou a arrancar as partes da armadura que tinham sido atingidas, se aquilo alcançasse sua pele podia ter um problema maior do que perder toda a parte peitoral de sua armadura.

O juiz então parou, precisava guardar um pouco daquele poder e o pai já estava fazendo o que queria, precisava fazer um último ataque, aquele tinha que ser seu último ataque. Percebeu que estava perto de sua espada, por isso se levantou e a apanhou com um caminhar arrastadamente preguiçoso, estava exausto e debilitado, sem contar que o deus estava ocupado arrancando a própria armadura então tinha alguns segundos de descanso. Porém, estes eram os segundos de pegar a espada e encontrar alguma força nas pernas para correr, tinha sido atingido três vezes, ainda podia deixar mais marcas.

Canalizou todo o poder que lhe restou na espada e correu na direção do pai com a espada em punho, rugindo para chamar sua atenção nos metros finais. O deus só teve tempo de criar uma nova tempestade de raios para lhe proteger pouco antes de cair de costas no chão e sentir a espada no filho entrando em seu peito carregada com os raios negros.

Os dois urravam pela dor dos golpes e o ódio que sentiam um pelo outro, usando ainda mais poder e força com o simples objetivo de matar.

O juiz era constantemente eletrocutado pelos raios do pai e sua espada diminuía conforme a forçava mais no peito do deus, tentando atingir o coração, sabia que ela atingia a carne, via ela entrar e o sangue se espalhar, mas sabia que ela não chegava ao coração, pois os mesmo raios que o atingiam também protegiam o corpo do deus, transformando a espada de metal estelar em vapor antes que chegasse ao coração. Porém, ainda conseguia se alegrar em ver a carne apodrecendo pelo poder de seus raios negros, sabia que a dor que o pai sentia era insuportável e sabia que por mais que fosse curável, ainda teriam sequelas e uma cicatriz bem grande seria motivo de glória.

O deus, por outro lado, sentia a dor horrível causada pelos raios negros do filho, sentia a carne de seu peito se degradar e jorrar sangue, sentia seus órgãos e ossos se deteriorando e reconstruindo rapidamente, sentia o coração ser ameaçado e pulsar loucamente em desespero; sabia que era o fim se sua defesa caísse mesmo que milimetros, se um único raio faltasse ou errasse, aqueles raios negros iriam consumir seu corpo enquanto a lâmina da espada atravessaria seu coração. Seu alívio era saber que chegava o cabo, logo não haveria espada, e o sangue escorria do nariz do filho, logo ele não aguentaria mais ficar e isso não iria demorar a acontecer já que sua postura indicava uma possível falência.

E, como o previsto, a espada acabou em seu cabo, mas o filho ainda criou um último pulso de seu poder e o pai criou um pulso para afastar a ameaça, os dois ao mesmo tempo. No fim, como o deus já estava no chão, uma cratera se formou entorno do corpo deitado e o juiz foi arremessado para o outro lado da arena.

— RADAMANTHYS!!! - tentou correr para a arena, socorrer o homem ferido, mas a rainha continuava não deixando, a luta ainda não tinha terminado e ela podia se ferir gravemente.

Naquele momento os guerreiros estavam enlouquecidos, quem levantasse era o vencedor e por isso não paravam de gritar e urrar.

O deus levantou com extrema dificuldade, mal se aguentava direito sobre as próprias pernas, seu respirar era asmático e de seu peito pingava um sangue negro e doente, um pouco de plasma amarelo espirrava evidenciando a batalha do corpo por sobrevivência. O juiz se colocou de joelhos com ainda mais dificuldade, a cabeça inclinada para trás e o corpo sofrendo com espasmos involuntários; o sangue escorria dos olhos, ouvidos e nariz, não demorou muito para ele se curvar, e vomitar sangue nas mãos que o apoiaram pouco depois. Estava curvado perante o deus que se aproximava e tanto odiava, se ainda tinha esperança de morrer com honra, agora via que não lhe sobrou honra alguma.

Ele olhava o pai nos olhos, podia não ter sobrado honra, mas não faltava coragem. Se fosse para morrer, morreria olhando nos olhos de quem lhe matou, jamais demonstraria fraqueza ou arrependimento.

O deus parou há pouco mais de cinco metros do filho, ele o olhava com uma expressão cansada e abalada de todas as formas possíveis, ele parecia triste, muito furioso, absurdamente cansado, bem angustiado e muito dolorido. Olhou para o ferimento do pai e soltou um riso, estava feliz por saber que sempre seria lembrado pela cicatriz que se formava e, de um jeito estranho, se sentia vitorioso.

— Você sempre me deu muito orgulho, Radamanthys. - disse o deus apertando a lança em sua mão, a voz rouca e fraca. - Eu sempre relevei suas malcriações e respostas atravessadas, até mesmo seus ataques físicos e verbais. Mas agora você realmente me deixou irritado, filho. - o deus ergueu a lança enquanto respirava fundo e a encheu com seu poder, aquele era seu último tiro. - Eu sinto muito, filho.

Uma forte lufada de ar atrás da moça a fez soluçar com alguma esperança, finalmente alguém decidiu parar aquela loucura. Cobriu a boca com lágrimas quando viu os dois juízes pararem na frente do irmão, eles abriram as asas como um escudo e se ajoelharam de cabeça baixa em respeito, eles estavam implorando.

Naquele momento toda a arena se silenciou, não havia um único sussurrar, um único respirar. Todos estavam tensos e agora tinham sérias dúvidas de como aquilo iria terminar.

— Pai. Por favor, chega. - implorou Aiacos, sua voz estava mansa e angustiada. - Por favor. Você vai matá-lo se lançar mais um raio. Eu imploro, chega.

— Pai. - agora era Minos, sua voz era límpida, calma e respeitosa. - Imploramos. Você vai acabar matando ele. O senhor já o humilhou o bastante, esse alarde já foi grande demais, ele está derrotado, o senhor venceu. Por favor, deixe-o viver, pai.

— Saiam. - porém, o deus não parecia disposto a ouvir. - Vou lançar o raio, vocês estando na frente dele ou não.

— Pai, por favor… - insistiu Aiacos com alguma agonia.

— SAIAM!!! - bradou furioso, a voz ainda rouca.

— Lance então! - desafiou Minos, talvez ele achasse que o pai não teria coragem. - Não vamos sair! Para matar um filho, terá que matar três! Lance! Vamos, lance!

O deus nem mesmo desviou o olhar, ele simplesmente não se importava, ele lançou o raio mais forte que tinha contra os três filhos.

— NÃO!!! RADAMANTHYS!!! NÃO!!! NÃO!!! - a rainha a segurou com ainda mais força enquanto o clarão do raio cegava a todos, chorava e berrava com toda a dor que não cabia em seu peito, simplesmente se sentia afogar numa água inexistente.

Caiu de joelhos aos prantos, sendo amparada pela deusa da primavera, ela chorava com as mãos cobrindo o rosto em agonia, não conseguia respirar direito e o horror que sentia era destruidor. Seus soluços eram agoniantes e seu coração pesava como uma âncora, um buraco se abria em seu peito com grande dor, ela só queria morrer naquele momento. Imaginar que seria obrigada a ir para o Olimpo, imaginar que seria obrigada a dividir a cama com o assassino do único homem que amou, imaginar que simplesmente teria que aceitar, imaginar tudo o que podia voltar a passar, aquilo a desesperava e horrorizava, com razão, e tudo o que queria era morrer.

Então o brilho do raio cessou e a arena começou a se encher de arfares, o menino que sempre a acompanhava começou a puxar seu braço desesperado.

— Minha senhora! Minha senhora! - ele apontava para a arena, tentava arrastá-la, mas era uma criança, não tinha força para isso. - Olha! Minha senhora! Olha! Olha!

Logo era a deusa quem a puxava e pedia para se acalmar, ela estava assustada e impressionada. Não tinha palavras para nada além de chamar a atenção da morena.

— Pandora... Em nome de todas as estrelas celestes, olhe para a arena... - pediu em tom de choque, não parava de puxar a moça para cima. - Por favor, olhe... Radamanthys está vivo, olhe...

Demorou algum tempo para que tomasse coragem de olhar, se levantou com grande dor e olhou para a arena. Logo, sentiu as lágrimas virem mais uma vez, mas dessa vez eram lágrimas de alívio e alegria, quase não acreditava no que via, não conseguia segurar os soluços.

A deusa da sabedoria estava na frente dos três juízes com o escudo em mãos, ele ainda emitia alguns raios por ter absorvido o ataque do senhor dos deuses, ela o abaixou vagarosamente, altamente desconfiada de um novo ataque. Porém, a lança foi abaixada com surpresa e indignação, o deus não acreditava no que a filha tinha acabado de fazer, ela defender os três não era um bom sinal. A deusa então respirou fundo e endireitou a postura para a altiva de sempre, seu olhar era severo e altamente inquisitivo, ela pode ter permitido uma luta brutal e selvagem em nome do amor por uma mulher, mas não permitiria um assassinato em nome do desejo por uma mulher.

— Athena…

— EU DECLARO RADAMANTHYS DE WYVERN VENCEDOR DO JUGO DA ESPADA!!

O brado da deusa não apenas calou o pai, como também exasperou à todos, sussurros e cochichos encheram o local, mas todos se calaram para continuar assistindo o desenrolar daquela insana reviravolta.

— O que?! - o deus não conseguia assimilar, tinha sido o vencedor, era um absurdo o que a filha fazia. - Radamanthys perdeu a luta!

— Radamanthys venceu. Ele feriu o senhor. Ele resistiu ao senhor. Ele lutou por alguém que amava e que o ama de volta. Ele lutou pelo que julgou o mais correto. Ele foi justo e verdadeiro. - respondeu ao pai em tom profundo, quase ameaçador, não gostava de ser contestada em seus julgamentos. - Radamanthys de Wyvern é o vencedor! Pois o vencedor não deve ser justo apenas em sua luta e exigências! Quando o Jugo da Espada é travado em nome de alguém, a justiça também deve ser aplicada à esse alguém, o Jugo da Espada deve atender seu querer também! - declarou para que todos ouvissem e entendessem. - E para mim, durante toda a luta, foi mais do que claro o que Pandora realmente queria! Radamanthys é o vencedor! E Pandora ficará no Reino dos Mortos!

Imediatamente a arena se encheu com urros e brados, mas a moça não se importava com nada daquilo, ela se levantou e correu até chegar na arena. Levantou a barra do vestido e arrancou as sandálias para não cair, simplesmente correu com tudo o que tinha e o mais rápido que podia até o homem, ele ainda cuspia e tossia sangue, os músculos ainda sofriam com espasmos e seu estado permanecia lamentável apesar de sua regeneração.

— RADAMANTHYS!!! - gritou desesperada quando o viu se inclinar mais, quase desabando.

O homem usou as forças que lhe restavam para olhar para trás, ele se ajoelhou e virou na direção na moça, tencionando levantar e não aguentando nem o primeiro passo, caiu nos braços da moça. Ela o sustentou com cuidado, o abaixando até que estivesse sentada com ele encostado em seu peito e usando do tecido no próprio vestido para limpar o sangue de seu rosto, as lágrimas caiam num misto de alegria e desespero.

— Pandora… - ele ergueu o braço, fazendo um carinho no rosto choroso com a ponta dos dedos.

— Eu estou aqui!... - segurou sua mão com carinho, beijando e acariciando o rosto machucado. - Estou aqui!... Eu estou aqui…

— Pandora… - seu sorriso era fraco, mas totalmente verdadeiro.

— Shhhhhh… - cobriu os lábios do homem com os dedos, emendando um carinho em seu rosto. - Não se esforce… Estou aqui… Estou aqui… - sorria feliz; o deus sol tinha sido chamado pela deusa da sabedoria para cuidar dos dois homens, em especial o juiz. - Sempre estarei aqui…. Sempre… Eu te amo… E nada e nem ninguém vai me afastar de você, nunca...

O homem sorriu e puxou o rosto fino de encontro ao seu, roubando um singelo beijo e se afastando de olhos fechados, tudo o que queria agora era descansar um pouco.


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Notas finais do capítulo

Dessa vez sem explicações, acho que ouvi um "yes" XD
No geral, tudo o que eu tinha pra falar foi pra notas iniciais, então tudo o que tenho pra falar agora é que esse "raio" ou "momento dragão" (como dito pela minha irmã) foi inspirado, ou pode ser dito como uma versão, do ataque Destruição Máxima que foi mostrado de uma forma no mangá e de quatro formas diferentes no anime (daí a liberdade de criar uma versão minha da coisa) =)
Enfim, espero que tenham gostado ♥



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