Aquelas três palavras ecoaram pela cabeça da ruiva por toda aquela tarde enquanto aprontava o velho quarto de hospedes que quase nunca era usado. Desde cedo, fora treinada para desconfiar de tudo e de todos, por mais que fossem amigos e parentes. Ela sabia que deveria não ter aberto a porta assim que vira Rogers do outro lado de sua porta sem se quer ter avisado, porém seu lado sentimental aceitou atendê -lo.

O quarto não estava lá muito bagunçado, pois geralmente ficava fechado. Havia alguns tufos de pelo preto sobre a colcha o que deixava claro que o gatinho preto a qual ela estava alimentando, havia dormido por lá. Um pouco de poeira sobre a cômoda e dentro das gavetas, sobre os quadros pregados cuidadosamente na parede com imagens de temas náuticos. O cômodo parecia talvez o quarto de bebê, pintado com cores claras e pastéis ( o que, de acordo com o designer de interiores, deixava o ambiente com ares mais calmo) porém ela odiava aquilo, porém uma reforma não estava nos planos dela aquela altura.

Ela sabia muito bem que Rogers nunca chegava no horário então decidiu ir a um restaurante mais próximo e buscar um jantar ( prevendo que estariam com fome assim que chegassem). Ela então pegou as chaves do carro e seus óculos Dolce & Gabanna e desceu rapidamente as escadas , antes de parar na mesa do porteiro.

— Boa Tarde , Senhor Jackson – ela falou pegando as chaves de seu bolso e pondo sobre a mureta .- Aqui estão as chaves do meu apartamento. Vou precisar dar uma saída e gostaria de pedir um favor .

— Ok. Favores para minha mais misteriosa inquilina – ele disse pegando a chave e guardando -a num armário.

— Não deixe ninguém pedir pelas minhas chaves – O tom de voz da ruiva era serio e ao mesmo tempo austero. Toda aquela situação estava à deixando como uma pilha de nervos

— Pode deixar. - ele enrugou o cenho um tanto curioso. Pelo tempo que ele trabalhava ali, nunca tinha visto alguém visitá - la ( porém, mal sabia ele que as visitas da senhorita sempre a visitavam entrando pela saía de emergência) ,

— Nem mesmo você pode usá -las – ela disse seca evitando se prolongar a conversa. Ela sabia que estava pondo medo no porteiro gordinho. - Sei que entra e roubas minhas garrafas de vodka importadas . Então se não quiser ter uma surpresa nada agradável, fique longe do meu apartamento.

— … - Ele acenou com a cabeça parecendo estar com um pouco de medo de como a moça o fitava notando que ficara pálido - T- Tenha uma boa tarde – um sorriso nervoso abriu-se em seu lábios.

— Boa Tarde - ela suspirou e foi para a garagem pegar o carro e notou o porteiro se acalmar

Aquela era uma das poucas vezes que estava saindo apenas para “relaxar “. Ela estava sempre em sua casa, vigiando, fazendo ligações, recebendo e-mails com trabalhos que a remuneravam muito bem apesar de as vezes serem meio duvidosos, como extorsão, ameaçar e até mesmo dar uma surra ou outra e ganhar alguns trocados. E agora tendo mais uma boca pra alimentar, ter dinheiro era necessário.

Após dirigir por minutos checando os blocos olhando os restaurantes das redondezas: italiano, chines, tailandês … Até mesmo uma churrascaria brasileira. Ela não se lembrava muito bem qual era o gosto deles então optou por algo rápido e que todos gostassem : pizza. Então se lembrou de um pequeno estabelecimento alguns quilômetros dali em Hell’s Kitchen onde assim que chegou fez os pedidos .

Fazia algum tempo que ela havia ido ali. Na verdade, anos desde que se hospedara na casa de Matt Murdoch , o Demolidor, pouco tempo depois que a KGB tinha caído e James ter desaparecido sem qualquer pista. Tivera um relacionamento amoroso com o advogado o que na época a acalmou , porém, seus pensamentos sempre estariam em onde estaria o antigo Soldado Invernal. ‘ Droga’ foi o que xingou em sua mente assim que notou que mais uma vez tinha pensado nele.

Ela não sabia quanto tempo seu devaneio durara , porém quando caiu em si, as 6 pizzas que tinha pedido já estavam prontas e em uma pilha postas na mesa a qual estava esperando. Ela então pagou pela comida e carregou até seu carro que estava estacionado bem em frente as estabelecimento.

Assim que se acomodou no banco aliviada por sair daquele lugar, o sistema do carro detectou uma ligação : Era Rogers. Ela então clicou num botão para atender à chamada.

— Pode falar, Rogers – Ela pôs o cinto de segurança e girou a chave do carro antes da sair da vaga. O trânsito estava bem tranquilo então acreditou que não seria problema chegar onde os colegas estavam .

— Estamos esperando ao lado do Empire State – O homem respondeu falando em um tom quase sussurrado o que fez Natasha desconfiar que algo havia dado de errado nos planos. Ao fundo, uma respiração pesada conhecida a fez arrepiar .Barnes estava por perto como sempre.

— Está tudo bem? - Perguntou assim que pôs os óculos de sol parando no semáforo. Ela deu uma olhada em volta do carro para ter certeza de que ninguém estava a seguindo, porém nada parecia errado.

— Claro que sim querida… - ele falou e ela pode sentir que sua desconfiança estava certa. Depois de pensar continuou – Seu irmão e eu estamos na parte norte da 34ª avenida oeste indo comprar algumas roupas na Forever 21. Sei que está ocupada, mas se quiser passar aqui . Tem umas roupas bacanas em promoção…

— Já estou a caminho , meu amor. Cuida do James por favor . Beijo – ela respondeu antes de acelerar o carro, preocupada com o que estava acontecendo. Ela não se perdoaria em caso se algo acontecesse com os garotos.

Ela odiava bancar a babá de dois homens com cento e poucos anos mas ela sabia que era aquele o papel que dava o equilíbrio.

Depois de dirigir um pouco, ela estacionou o carro no estacionamento subterrâneo em uma vaga próxima da porta de saída de emergência dos funcionários e antes que pudesse sair veiculo , notou uma estranha movimentação : um homem em torno de seus 50, usando casaco verde encostado em uma as vigas conversando com uma mulher e um rapaz de no mínimo 25 anos.

Lentamente, checou os apetrechos de sua bolsa (que não eram muitos mas o necessário): um par de seus braceletes com suas picadas, uma glock g25 com kit com munição de 30 balas só pra em caso dos ferrões não funcionarem e é claro, um brinquedinho que Tony havia lhe dado poucos dias antes, um bloqueador de sinais que permitia a interrupção do sinal do detector de metais da loja. Se ela tivesse um desses a um bom tempo atrás, com certeza as coisas nas outras missões dela teriam sido mais fáceis. Ela então pegou a escada rolante e subiu para a loja principal passando invisível pelo trio que parecia estar muito mais ocupado com a conversa.

Não foi difícil encontrar os dois na loja : Por eles terem em torno de quase 1,9 metro eram poucas as araras de roupas que conseguiam escondê-los,e é claro, 90 % das atendentes estavam com os olhos neles como se fossem pedaços de carne em um açougue. Dos dois, Barnes que chamava mais sua atenção com seus cabelos longos amarrados num e sua barba raspada como nos dias que ele a treinara . Seus olhos azuis pareciam estar mais vivos sem tantos pelos escondendo seu rosto que apesar de já ter cento e poucos anos, ainda parecia ter 30.

— Acho que deveriam procurar roupas em outra sessão – Ela resmungou parando ao lado dos homens olhando a arara . Ela notou que Rogers assustou com sua aparição repentina enquanto James muito menos se expressara - Então o que tá pegando?

— Tem um grupo de pessoas nos seguindo – Rogers resmungou olhando uma calça jeans para disfarçar a conversa notando que seu colega já estava do outro lado da loja – Um homem, entorno dos 50, careca usando um óculos de marca, uma moça e um rapaz de uns 30.

—Vi eles na garagem – ela resmungou de volta para o loiro olhando os moletons. Barnes se afastou deles para ‘reconhecer’ o perímetro e ver se algo estranho na loja enquanto ela notou que uma das atendentes ficava o seguindo e conversando com ele que estava com um daqueles sorrisos que ela conhecia muito bem e que a muito tempo ela não via– Faz muito tempo que vocês estão aqui?

— Chegamos uns 15 minutos antes de você, mas eles estão nos seguindo desde New Jersey - O loiro respondeu notando que a moça estava seguindo Barnes com os olhos – Não se preocupe … ele é um imã de mulheres desde que nos conhecemos. Se tem uma coisa que ele não se esqueceu é como flertar com elas e lutar – Ele brincou com ela porém a moça estava concentrada demais no sistema de segurança depois de desviar o olhar do homem - O que foi?

— Acho que estão de olho na gente. - Ela andou em direção dele e fez um sinal para que ele olhasse para uma das câmeras que estava focada neles. Discretamente ela lhe entregou sua a bolsa - Pegue uma troca de roupas e vá ao trocador. Não fale ou olhe pra ninguém . Vou chamar o Barnes . - Steve acenou com a cabeça e fez o que a espiã mandou .

Natasha antes de chegar a até o ex- soldado, ela pegou uma lingerie notando que estavam numa conversa um tanto animada com uma das atendentes que ria e lhe tocava a mão flertando. A moça não era o tipo dele ( ela sabia que ele preferia as ruivas), porém, parecia estar entretido com o largo sorriso nos lábios da mulher o qual não havia cessado nenhum segundo desde que eles iniciaram a conversa. Seu lado ciumento estava muito feliz por ela interrompê-los.

— Querido o que acha desta? - Natasha disse casualmente mostrando a lingerie vermelha para o homem como ele fosse realmente seu marido, apesar de um certo medo de reprovação por parte dele. Certamente, a atendente havia ficado um tanto desconfortável.

— Acho que é perfeita … - Ele disse olhando pra ela de cima de abaixo fazendo seu corpo estremecer fazendo entender que entendera o disfarce. Seus olhos azuis (por mais que a olhara para continuar a mentira) a fez lembrar de uma de suas aventuras - Marzia , essa é minha noiva, Natalie. Ela estava me dando dicas de viagens de Lua -de -Mel, querida… - Ele enganchou seu braço na cintura dela enquanto estendeu a mão e cumprimentou a moça. Parecia que ele havia notado que a ruiva tinha se perdido em algum pensamento e a trouxe de volta à terra.

— Que bom…- Ela sorriu ao sacudir a mão da atendente que pareceu quebrar o encanto na mesma hora e parecer e estar um tanto envergonhada por cantar o suposto noivo dela. A ruiva meneou a cabeça discretamente em direção a uma câmera – Viu o seu irmão, acho que ele quer te mostrar alguma coisa… Sabe que temos que ficar de olho nele não é?

— Mais é claro … foi encantador conversar com você , Marzia – ele se inclinou e beijou o dorso da mão da moça que corou imediatamente antes de andar de volta para os provadores com Natasha que voltara ao seu papel – E ai me saí bem não é?

— Talvez … Poderia ser um pouco mais carinhoso – Ela disse irônica olhando para o homem que enganchara seu braço direito sobre seus ombros a puxando pra mais perto dele aceitando a sugestão– Isso...um pouco mais grudento. Sabe como são os casais não é? De qualquer modo : O sistema de segurança está nos seguindo .

— Eu notei. A moça que tá com os caras veio até a porta deu uma olhada e saiu umas duas vezes desde que eu e Steve chegamos. Acho que estava procurando por algo - Ele murmurou de volta pra ela ao mesmo tempo que olhava a lingerie que ela ainda tinha em mãos – Ou alguém. Essa … lingerie é bonita. Talvez com um par de cinta liga…

— Cala a boca, Barnes – ela disse o puxando para o provador, onde Steve estava sentado num puff esperando com as camisas que tinha escolhido.

— Tem um par de …. hmmm….- O loiro corou imediatamente ao ver as peças intimas na mão da moça e Bucky com um sorriso bobo. Antes que ela pudesse atiçar o inocente Steve, a eletricidade caiu. - Acho que teremos que adiantar as coisas por aqui…

Foi então que uma gritaria se iniciou e Steve foi checar a porta. Natasha abriu a bolsa e pegou e colocou seus braceletes nos pulsos e os ativou. Fazia algum tempo desde a ultima vez que ela os usara em uma missão mas ela sabia muito bem como aquilo funcionava. E entregou a Glock para Bucky sem hesitar.

— Espero que saiba como usar uma dessas – Ela lhe deu a arma já carregada ao ex soldado invernal.

— É claro que sei usar , Senhorita Romanoff . Aprendi e fui programado para saber manipular qualquer arma, moça… - Ele disse engatilhando olhando para a moça com um tom de deboche- Talvez seja você que não saiba usar suas pulseiras direito

— Ora seu… – Ela retrucou ativando as picadas fazendo o velho brilho azul iluminar o local e apontar para a cabeça de Barnes que engatilhou a arma apontando a arma para ela. Foi então que Steve entrou entre os dois .

— Hey, vão com calma. Natasha , abaixa os braços . Bucky você também. Temos coisas mais importantes e temos que descobrir o porque deles estarem nos seguindo – O ex- capitão America era com certeza o ponto de equilíbrio ali. Se não fosse pelo loiro, os outros dois com certeza teriam se arrebentado em balas. - Podem pelo menos agir profissionalmente até essa bagunça terminar?

— Sim , papai – Os dois espiões responderam em uníssono como se fossem crianças o que em seguida fez entreolharem assustados como se tivessem lido a mente um do outro e Steve olhar assustado para os dois antes de ouvirem passos ao redor deles . Rapidamente eles armaram um plano.