O vermelho de Copenhague escrita por Letícia Matias


Capítulo 6
Seis


Notas iniciais do capítulo

Olha eu aqui!!! O capítulo demorou um pouco pra sair, mas saiu!!
Que dia! Tô bem cansada. Espero conseguir descansar esse final de semana.
Bem... aqui está mais um capítulo ❤ Espero que gostem!!!!



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Agradeci à Betty com a voz falhando quando esta me entregou uma xícara de café preto que fez meu estômago roncar ao sentir o cheiro. Ela sorriu e colocou a bandeja em cima da mesinha redonda, qual o sr. Zarch quase derrubara. Na bandeja havia algumas torradas e uns pequenos pães que eu não sabia do que era.

– Se precisarem de algo, é só me chamar. - Betty disse sorrindo para nós três.

Forcei um sorriso simpático. Notei que a boca retorcida do sr. Zarch também transpareceu um sorriso. De soslaio, vi Jullian bufar impaciente e olhar para a janela.

– Então, srta. Cooke... - o sr. Zarch começou a dizer.

– Por favor, pode me chamar apenas pelo primeiro nome. Wendy está ótimo.

– Wendy. Como no Peter Pan, sim?

Sorri aquiescendo. Os olhos do sr. Zarch ficaram um pouco mais miúdos quando ele sorriu.

– Bem, quero dizer que é... bem-vinda à minha casa. Espero sempre ter sua companhia por perto, sim?

Ele parecia cansado de falar, como se estivesse fazendo um enorme esforço para pronunciar aquelas palavras.

– Espero que eu possa ser útil para o senhor, sr. Zarch!

– Frederick. - corrigiu-me.

Seu olhar era meigo. Talvez fosse o jeito que me olhava, com sua cabeça tombada para o lado por sua condição. Não sabia explicar, mas o sr. Zarch emanava uma energia diferente; acolhedora, positiva.

– Tenho certeza de que o pessoal que trabalha aqui lhe ajudará muito com informações. Se tiver alguma pergunta, - respirou fundo - pode perguntar.

– Tudo bem. - levei a xícara de café até a boca. O gosto era forte e muito bom. Parecia ser um daqueles cafés caros feitos com cápsula em uma cafeteira cara. Minha mãe adoraria!

– Quer perguntar algo? - a voz de Jullian me tirou dos meus devaneios ao pensar em minha mãe.

Pisquei algumas vezes.

– Ah... bem, eu não sei. -- respondi sincera. Jullian fez cara de quem chupou limão. Talvez ele estivesse certo. É claro que eu tinha perguntas! Só não sabia por onde começar.

Notei pela primeira vez que havia uma espécie de estatua dourada de um Buda Hindu na parede atrás da poltrona de Jullian.

– O senhor é budista? - perguntei olhando para o rosto do sr. Zarch.

Ele abriu um sorriso torto e retorcido e apertou o botão vermelho na cadeira de rodas. Esta girou um pouco, de modo que ele olhasse para a estátua. Jullian me olhava parecendo querer me estrangular. Desviei o olhar de seus olhos azuis penetrantes.

– Ah, sou sim Wendy. O budismo é uma religião maravilhosa. Você não acha?

Sua cadeira se voltou para mim e seus olhos encontraram os meus. Eu lhe dei um pequeno sorriso e dei de ombros:

– Na verdade, não conheço muito de religião sr. Zarch. Meus pais são católicos e, geralmente vamos à missa aos domingos de manhã, mas não é como se fôssemos muito religiosos. Na verdade, acho que minha mãe nos arrasta para a igreja para não nos sentirmos pecadores. - dou uma risada forçada.

Ele ri também, num som abafado e depois acaba tossindo um pouco.

– Será um prazer conversar sobre o Budismo com você qualquer dia desses, se quiser. É uma doutrina maravilhosa.

Tossiu novamente por algumas vezes.

– Pai, acho que o senhor já falou demais. Está cansado. Por que não deixa que eu converso sobre o emprego com a srta. Cooke? - Jullian se pôs de pé e olhou com certa autoridade para o pai.

O sr. Zarch se limita a fechar os olhos com a sombra de um sorriso e então sua voz sai fraca e eu tenho que me esforçar um pouco para entendê-lo:

– Sim. Wendy, querida, obrigada por vir. Jullian conversará com você sobre o resto.

– Tudo bem. - aquiesci me levantando.

Estendi a mão para cumprimentá-lo e com um reflexo abaixei. Não sabia bem se ele conseguia mexer as mãos. Senti meu rosto ferver. Jullian fingiu não ver, mas sua expressão era de total desagrado. O sr. Zarch, sorrindo, virou a cadeira de rodas ao apertar o botão. Eu estava me sentindo uma imbecil.

Tornei a me sentar na poltrona, desejando que ela se rasgasse e projetasse uma espécie de portal para um mundo paralelo para que eu pudesse sumir. Acho que era o olhar penetrante e antipático de Jullian. Observei-o desaparecer atrás da cadeira de rodas do pai. A porta de duas folhas permaneceu aberta por um bom tempo, revelando uma parte da cozinha. Eu estava encarando a geladeira de inox quando Jullian apareceu novamente andando enérgico e fechando a porta atrás de si. Ele era alto e tinha uma presença forte no ambiente. Gostaria de olhar para todos os lugares, menos para ele.

Jullian sentou-se na poltrona onde estava antes e deixou um longo suspiro sair de sua boca. Seus braços estavam apoiados nos braços da poltrona e suas pernas encontravam-se um pouco abertas e relaxadas. Ele me olhou e disse:

– Nós já tivemos uma extensa equipe de enfermeiros que o acompanhou por um curto período de tempo. Foi difícil achar pessoas que atendessem suas necessidades. Hoje nos limitamos a ter um fisioterapeuta, um enfermeiro para atender suas necessidades fisiológicas e agora temos você.

Perguntei-me o que diabos eu faria ali. Creio que minha expressão transpareceu tal indagação, pois Jullian, ainda me olhando, disse:

– Seu trabalho aqui será ajudá-lo a comer, acompanhá-lo nas consultas médicas, medicá-lo nos horários corretos e... dar uma espécie de apoio moral.

Eu franzi o cenho.

– Apoio moral?

Jullian respirou fundo e levou uma das mãos até o queixo para coçá-lo.

– O meu pai é um homem muito solitário. Está rodeado de pessoas profissionais que são muito boas e gentis. Contudo, acredito que nem todas elas têm o perfil que você tem.

Eu estava confusa. O perfil que eu tinha? Que perfil eu tinha?

– Desculpe... Não estou entendendo.

– Srta. Cooke, nós procuramos saber muito sobre o perfil de cada um dos intercambistas de enfermagem e você foi designada como alegre, gentil, falante... uma energia positiva. Acho que é disso que meu pai precisa. Você vai ver que ele é uma pessoa positiva, mas tem muito sofrimento dentro de si. Eu acredito ser apenas uma farsa. Então, além de cuidados profissionais, gostaria que desse um pouco de chance à uma amizade.

Eu assenti com a cabeça explodindo em pensamentos. Não poderia vagar naquele trem agora. Precisava me concentrar em toda e qualquer informação que Jullian me passasse.

– A senhorita tem alguma pergunta?

Seus olhos eram de um azul incrível e desconcertantes. Ele tinha uma beleza...australiana. Era estranho, considerando o fato de que era dinamarquês. O inglês parecia perfeito.

– Ah... acredito que não.

– Ótimo. - se pôs de pé. - A levarei para conhecer a casa e então lhe entregarei o contrato para que possa ler e assinar. Talvez assim possa lhe surgir alguma dúvida.

Me coloquei de pé deixando a xícara de café inacabada na bandeja prateada em cima da mesa. Jullian começou a andar e eu o segui com passos silenciosos contra aquele tapete maravilhoso. Passamos pela porta de duas folhas e adentramos em uma cozinha ligada à uma sala de jantar. A cozinha em si era pequena. Tinha armários feitos de madeira embutidos nas paredes, uma mesa quadrada e larga, uma geladeira, uma pia com um largo balcão e um fogão de seis bocas de inox. A sala de jantar era bem escura. Tinha um lustre grande de vidro que pendia do teto logo acima da mesa larga e quadrada de mogno escuro. O chão era de carpete de madeira e as paredes eram de pedra de uma cor acinzentada. Além disso, havia duas portas de vidro de correr em catetos opostos e adjacentes. Ambas estavam fechadas e tinham cortinas brancas de um pano fino e quase translúcido cobrindo-as.

Segui Jullian até uma delas. Ele abriu uma grande brecha e passou pelo espaço. Me ocorreu que havia parado de chover. Eu fiz o mesmo e me deparei com uma piscina oval de um azul bem claro. O chão de ardósia clara estava molhado por causa da chuva.

– Aqui é um pequeno espaço para relaxar. - Jullian disse sem muita emoção, como se não o impressionasse ou tivesse valor.

Assenti sem dizer nada. Andamos um metro mais ou menos e viramos à direita onde um extenso campo verde nos encarava de volta. Minha boca se escancarou. Percebi que a outra porta na sala de jantar deveria dar para aquela vista. Uma espécie de campo de futebol extenso e verde e logo atrás do muro, uma casa amarela com janelas quadradas e simétricas. Era um espaço grande e bonito. No verão devia ser ótimo.

– Nossa! - minha voz saiu como um sussurro. - É lindo!

Jullian deu de ombros.

– Quando se usufrui de tal coisa, pode ser.

Olhei para seu rosto. Ele olhava para frente e parecia imerso em pensamentos. Analisei seu rosto de perfil. Seu nariz era reto e simétrico.

Minha atenção em Jullian foi retirada quando senti algo pular em mim por trás. Um grito escapou da minha boca e eu me encolhi contra a parede ao sentir patas me arranhando. Consegui olhar de relance assustada para um cachorro enorme que pulava alto e tentava morder ou lamber meu rosto. Eu estava apavorada.

Ouvi Jullian pronunciar algo em outro idioma - dinamarquês provavelmente - para o cachorro e o segurou, acalmando a fera. Olhei para o animal. Agora ele estava sentado me encarando com uma língua grande e rosada para fora. Tinha uma coloração de pelo escura, mas não era preto. Os olhos eram escuros, redondos e lacrimejosos. O focinho comprido e preto. Era bonito, mas eu tinha medo de cachorros. Estava realmente com o coração batendo nos ouvidos.

– Este é o Knut. Nosso cachorro. - Jullian disse agachado ao lado do animal com um dos braços ao redor da fera. - Vai vê-lo muito por aqui. É melhor se acostumar.

Tentei não transparecer o desapontamento.

– Você não gosta de cachorros.

Não era uma pergunta. Jullian se colocou de pé.

Knut tornou a pular em mim. Ele era pesado e eu bati as costas contra a parede molhada.

–Não é isso. - gaguejei. - Tenho medo de cachorros.

Jullian disse algo em dinamarquês que fez o cachorro voltar às quatro patas e sair de perto de nós. Respirei fundo aliviada. O rapaz loiro à minha frente parecia estar se divertindo com a situação até.

– Bem, vamos entrar e assinar os papéis, sim?

O segui de volta para dentro da casa pedindo aos céus para que o cachorro gigante não nos seguisse.


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Notas finais do capítulo

Jullian... o que dizer sobre este ser? Ele é um mistério... mas em breve muitas coisas serão esclarecidas!
Quero saber o que estão achando ♡
Beijo grande e um ótimo final de semana. Estou pensando em postar um capítulo amanhã. Não sei Vamos ver! Hahaha.
Beijo da Lê ♡



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