A Rainha do Fogo escrita por gwenhwyfar


Capítulo 7
Setimo




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/75870/chapter/7

No capitulo anterior...

 

Queria tanto amá-lo, pensou, amá-lo como é meu dever, porque é meu rei e meu marido, e é tão bom, merece alguém que o ame mais do que eu.

 

A volta dela, a noite parecia respirar tristeza e desalento. Porque? Perguntava-se Sakura Naruto está feliz, não pode reclamar nada de mim. De onde vem essa tristeza que paira no ar?

 

 

Capitulo VII

 

Certo dia, no final do verão, a rainha Sakura fazia seu bordado junto de suas damas, no salão de Konoha. A tarde morria e fazia muito calor; as mulheres fingiam bordar ou tecer o restante da lã daquela primavera, mas os fusos moviam-se preguiçosamente, e até mesmo a rainha, que era a melhor bordadeira, suspendera seu trabalho.

 

Hinata pôs de lado o seu fuso um instante, e suspirou. Como ansiava pelas brumas úmidas de sua terra, nas Montanhas. Não as via desde criança. Naruto e seu exército partiram para sudeste examinar o forte que as tropas do tratado construíram. Naquele ano houve uma paz relativa, parecia que os rebeldes tinham desistido do Fogo, porém, Naruto aproveitou a tranqüilidade da época para reforçar as defesas do litoral.

 

- Estou com sede de novo – disse Ino, deixando de lado seu trabalho e se espreguiçando com um bocejo. – Posso buscar mais um pouco de água, minha senhora?

 

- Chame Sai e ele se encarregará disso – sugeriu Sakura.

 

Ela mudou muito, pensou Hinata de uma criança tímida e assustada, transformou-se numa rainha.

 

- Você devia ter se casado com Sai, Hinata – começou Ino, ao voltar de seu encargo – É o único homem com menos de sessenta anos no castelo e sua esposa nunca ficaria sozinha.

 

- Você pode ficar com ele se quiser – disse Hinata cordialmente.

 

- Ainda não entendi porque você recusou, Hinata – observou Sakura, como se lembrasse de um velho ressentimento – Naruto teve uma boa idéia: Sai, seu irmão de criação e você, irmã dele, Rainha do clã Hyuuga.

 

Megan, esposa de um dos jounnins de Naruto, disse com um riso zombeteiro:

 

- Então me digam, se a irmã e o irmão do rei se casam, isso não seria incesto?

 

- Meia irmã e irmão de criação, sua bruxa – brincou Ino – Mas diga-nos o porque então Hinata. Sai não é nenhuma beleza, mas certamente seria um bom marido.

 

- Não me deixo enganar pelo seu rostinho angelical – atalhou Hinata, fingindo um bom humor que não sentia; será que essas mulheres só pensavam nisso? – Você só quer mais um casamento pra quebrar a monotonia do verão, mas não deve ser tão exigente. Kiba se casou com Grainné na ultima primavera e acho que isso já é o suficiente.

 

Olhou para Grainné, cujo quimono começava a ficar apertado no corpo grávido – No ano que vem, nesta época, você vai ter até mesmo uma criança pra brincar e mimar.

 

- Mas a senhora ainda não se casou, senhora Hinata – atacou Kalinor, rainha do mar sudeste – E não encontraria melhor partido nesse reino do que o irmão de criação do Hokage.

 

- Não tenho pressa em me casar e Sai pensa tanto em mim quanto eu nele.

 

Sakura riu e concordou: - É verdade. Ele tem um gênio terrível, sua esposa precisaria de mais paciência que santa Brígida e Hinata tem sempre uma resposta ríspida na ponta da língua.

 

- E se casasse, Hinata teria que tecer para a família, e sabemos como ela detesta fiar – disse Grainné.

 

É verdade que ela detestava fiar e evitada esse trabalho sempre que possível... ficar rodando o fio, imóvel, apenas os dedos se movendo, para cima e para baixo, rodando, rodando entre as mãos... Era muito fácil cair em transe. As mulheres voltaram a falar sobre os acontecimentos matinais, os enjôos de Grainné e o novo escândalo do país, que envolvia duas amantes de Orochimaru.  

 

E eu poderia lhes contar coisas mais escandalosas sobre ele, se eu quisesse... Para Orochimaru tanto faz ser virgem ou matrona, rainha ou serva, desde que use saias...

 

Torcer o fio, retorcer, vigiar o movimento do fuso, girando, girando...

 

Gwydion deve estar bem grande agora, com uns três anos, pronto para espada de madeira e cavaleiros de pau, como Gaara.

 

Lembrava-se do peso de Naruto em seu colo, quando era menina, ali, na corte de Minato...  

 

É uma felicidade que Gwydion não se pareça com o pai. Um menino parecido com Naruto, criado na corte de Orochimaru estimularia a maledicência. Mais cedo ou mais tarde alguém somaria dois mais dois e chegaria no resultado certo...

 

Odiava aquele trabalho, mas precisava terminar sua cota como as outras mulheres... Ah, se fosse homem e pudesse sair com o exército do Fogo, pelo menos não ficaria ali sentada, fiando o tempo todo. Mas até mesmo o exército de Naruto rodava atrás dos rebeldes, e estes atrás dele, como um circulo vicioso, como o sangue correndo nas veias, o sangue vermelho, girando, girando... derramando-se pela lareira...

 

Hinata ouviu seu grito agudo romper o silencio da sala. Deixou o fuso cair e ele rolou pelo sangue vermelho que se espalhava perto da lareira.

 

- Hinata! Irmã se machucou com o fuso? O que está acontecendo? - Sangue na lareira... – gaguejou Hinata – Vejam, ali, bem em frente ao Hokage, abatido como um porco no matadouro, diante do Hokage...

 

Sakura a sacudiu. Tonta, Hinata passou a mão pelos olhos. Não havia sangue nenhum, apenas o lento deslizar do sol poente.

 

- Irmã, o que foi que você viu? – perguntou Sakura suavemente.  

 

Deusa, Mãe! Aconteceu de novo! Hinata tentou controlar a respiração. - Nada, não foi nada... Devo ter adormecido e sonhado...

 

- Sonhado é? – perguntou desconfiada Kalinor – Isto está mais parecendo uma profecia, como aquela vez que você viu um animal em agonia e pouco depois o cavalo favorito de Sai quebrou a perna. Hinata sentiu todos os olhares em si.

 

- Foi um sonho, está tão calor que devo ter adormecido... Será que todo sonho é um presságio?

 

- Se você vai fazer profecias, Hinata – zombou Ino – deve nos dizer alguma coisa útil, como qual a época em que os homens voltarão para Konoha, ou se Grainné vai ter um menino ou uma menina, ou quando a rainha ficará grávida!

 

- Cale-se idiota! – murmurou Megan, pois os olhos de Sakura se encheram de lágrimas. Hinata, que tinha a cabeça dolorida com o transe involuntário, disse:

 

- Ou talvez o pai de Ino tenha finalmente encontrado e matado aquele dragão que anda perseguindo. Como era de se esperar, aquelas palavras distraíram a atenção das mulheres.

 

Porém, pouco depois, ao reunirem suas coisas para o lanche, Sakura perguntou a Hinata em voz baixa: - Você realmente viu sangue, Hinata?

 

- Eu sonhei – repetiu teimosa. Sakura encarou-a fixamente, mas por vezes existia uma afeição verdadeira entre as duas e a rainha não insistiu.

 

- Se viu, Deus permita que seja longe daqui. Vamos irmã, temos que perguntar a Sai como anda as reservas de carne – disse a rainha, olhando para o céu – Veja, será que foi um relâmpago?

 

Hinata olhou e viu o risco brilhante no céu. - Sim, os homens chegarão molhados e com frio, precisamos de bebidas quentes preparadas para eles – disse distraída. Depois teve um estremecimento, enquanto Sakura pestanejava.

 

- Agora tenho certeza que você teve a Visão, Hinata. Por via das duvidas, mandarei preparar um bom jantar para eles.

 

E afastou-se, deixando Hinata massagear a tempora com o rosto franzido Isso não é bom. Aprendera em Atlântida a controlar o fluxo da Visão e a bloquea-lo. Daqui a pouco vou acabar entregando aquele talismã da fertilidade que Sakura tanto quer para que consiga dar um filho a Naruto... Apenas duas vezes naquele ano Sakura apresentara algum sintoma de gravidez, mas sempre abortava antes mesmo de perceber que estava grávida. A esterilidade é um peso terrível para um rainha.

 

 

-------------------------

 

A tempestade desabou pouco antes de anoitecer; caiu uma chuva pesada. Quando o vigia gritou que cavaleiros se aproximavam, Hinata não teve duvidas de que era o rei e seu exército.

 

Naruto tinha a cabeça enfaixada, mas afastou suas perguntas ansiosas:

 

- Uma briga a toa... invasores rebeldes no litoral sul. Ah! Estou sentindo cheiro de carne assada... que mágica é essa se não sabiam que nos estávamos vindo?

 

- Hinata me disse que viriam – informou Sakura.

 

- Ora, é uma felicidade para um homem, ter uma irmã com a Visão – sorriu Naruto para Hinata, acentuando assim sua dor de cabeça e tensão. Beijou-a e voltou-se para Sakura, que colocou a mão nas tiras em sua cabeça:

 

- Está ferido meu marido, deixe-me...

 

- Não, não, já lhe disse que não é nada. Nunca perco muito sangue quando tenho essa bainha comigo. Mas como vai a senhora? Eu pensei que depois de todos esses meses...

 

Os olhos dela encheram-se lentamente de lágrimas:

 

- Eu estava enganada outra vez. Ah, meu marido, desta vez eu tinha tanta certeza, tanta...

 

Naruto afagou-lhe os cabelos, incapaz de expressar sua decepção ante o sofrimento da esposa.

 

- Ora, Hinata deve lhe dar um daqueles talismãs – disse ele, olhando com tristeza Grainné cumprimentar Kiba, empinando orgulhosamente a barriga crescida.

 

- Como está a minha cara senhora?

 

Sasuke, galante, fez-lhe uma reverencia sorrindo e ela estendeu sua mão para que ele a beijasse.

 

- Mais uma vez voltamos e a encontramos mais bela do que nunca. É a única cujo a beleza não se apaga nunca, enquanto as outras mulheres envelhecem, engordam e se desgastam.

 

Sakura sorriu, sentindo-se reconfortada. Sim, era bom não estar grávida e feia. Viu Sasuke olhar com desprezo para o corpo deformado de Grainné e sentiu que não suportaria saber-se feia aos olhos dele.

 

Enquanto os criados serviam a refeição, Naruto puxou a esposa para junto de si.

 

- Sente-se aqui entre mim e Sasuke, Sah-chan e vamos conversar. Estou cansado da voz áspera de homem. Você também Hinata, sente-se aqui do meu lado, quero as duas mulheres da minha vida sempre perto de mim.

 

Sasuke do outro lado de Naruto, sorriu e cumprimentou Hinata: - Tudo bom prima? Esteve em Atlântida algum tempo atrás? Tem alguém aqui que esta ansioso por noticias da Senhora da Magia. Meu irmão Itachi veio com a gente.

 

- Não tenho noticias de Atlântida – disse Hinata – mas não vejo Itachi há muitos anos e gostaria de conversar com ele. Se importa meu irmão? Não vou demorar.

 

E contornando a mesa real com um copo de saque na mão, andou entre as mesas procurando o filho mais velho de Tsunade. Sentia o olhar faminto dos homens em si, o que foi agradável ao seu ego, embora soubesse que olhariam assim para qualquer mulher bem nascida, bem criada e bem arrumada.

 

Finalmente numa das mesas mais barulhentas e animadas, Hinata reconheceu os cabelos escuros do Uchiha. Riu ao ver a cena: Itachi não mudara nada. Animando e apimentando as discussões, fazia os companheiros apostarem altas quantias nas cartas e incentivando a bebedeira, ganhava todas as mãos.

 

- Meus cumprimentos, parente. O Hokage lhe manda uma bebida da mesa real.

 

- Peço que a prove primeiro, bela dama. – disse ele, virando-se galante. Pestanejou então e exclamou, surpreso – Hinata, é você? Quase não te reconheci, está tão bonita! Penso em você sempre com aquelas roupas de freira de Atlântida! Como vai a Senhora do Lago?

 

Hinata bebeu um pouco do saque e o entregou a Itachi, que fez questão de beber no mesmo local que ela pousara os lábios, lançando-lhe um olhar divertido e sensual. Hinata não pode deixar de rir, apesar de tudo, e respondeu:

 

- Eu esperava que você me dissesse alguma coisa de Tsunade! Há anos nao vou para Atlantida. Na verdade, eu estava na corte de Orochimaru.

 

- Não! - exclamou ele, empurrando um cavaleiro bebado e meio dormindo da cadeira, e a oferecendo a Hinata - Melhor a corte de Naruto do que a de Orochimaru, eu lhe digo. Sakura protege bem suas meninas e lhes arranjam bons casamentos. Veja lá como Kiba está feliz...

 

E apontou para o ninja, que era alimentado por Grainné na boca, como uma criança.

 

- Mas e você prima, Naruto nao tentou encontrar um tirano dominador pra você?

 

- Ele bem que tentou - disse Hinata rindo - mas o que é isso Itachi, está me fazendo uma proposta de casamento?

 

- Se você nao fosse irmã de Naruto eu aceitaria a sua oferta - disse ele com uma gargalhada - mas Naruto mandaria me açoitar se eu encostasse um dedo em você. De qualquer maneira, já que você abandonou Atlantida, ele vai te encontrar um bom partido, nao se preocupe.

 

- Eu nunca disse que não voltaria a Atlantida, mas só quando Tsunade me mandar chamar.

 

- Quando eu era criança - contou Itachi e por um momento, os olhos negros voltaram-se para Hinata e ela pode perceber toda a semelhança com Sasuke - tive raiva de Tsunade porque nao me amava como devia, sendo minha mãe. Mas depois percebi que ela não tinha tempo de cuidar de um filho, como sacerdotisa, por isso me mandou para ser criado com a familia de Kisame - balançou a cabeça e riu - pode parecer estranho, mas considero Kisame mais meu irmão do que Sasuke.

 

Olhou para a mesa real por um momento e perguntou a ela:

 

- Me conte prima, você que o conhece melhor que eu, me conte o que anda pesando tanto no coração do meu irmão Sasuke?

 

Hinata inclinou a cabeça: - Mesmo que eu soubesse Itachi, não poderia lhe dizer, porque o segredo não é meu.

 

- Você tem razão em me dizer pra cuidar da minha vida, mas... Olhou para o copo vazio, pensativo. - Tive raiva da minha mãe, mas pelo menos ela me deu pais que me amavam e um irmão da minha idade, enfim, me deu pelo menos um lar. Mas ela não fez o mesmo com sasuke. Ele nunca teve um lar, nem em Atlantida, nem na corte de Hizashi, onde era só mais um dos bastardos, visto com indiferença... Tsunade o prejudicou muito e eu queria que Naruto lhe desse uma esposa, para que ele tenha finalmente um lar.

 

- Bem - sugeriu Hinata alegremente - Se Naruto quiser me casar com o Sasuke, pode marcar o dia.

 

- Você e todas as mulheres do país - disse Itachi sorrindo - mas eu brindarei o casamento de uma bela mulher com o meu bonito irmão caçula. Você também está passando da idade que Naruto devia ter te casado.

 

E porque eu deveria me casar de acordo com a vontade de Naruto, como se eu fosse uma mula ou um cachorro? pensou Hinata, mas deu de ombros. Afinal, viviam em uma sociedade em que mulheres eram propriedades de homens, sendo inutil se revoltar com o que nao podia ser mudado.

 

 

-------------------------

 


Pouco depois, Naruto mandou apagarem as luzes e ordenou aos criados que levassem os reis aos seus quartos. Ele e Sakura se demoraram no salão, dando boa noite a Sasuke:

 

- Mandei preparar o melhor quarto de hospedes pra você, Sasuke - informou a rainha, mas ele riu e balançou a cabeça.

 

- Sou o capitão da cavalaria. É meu dever verificar se os meus homens estão instalados para passar a noite.

 

Naruto riu, envolvendo com o braço a cintura de Sakura.

 

- Precisamos arrumar uma esposa pra você, Sasuke-kun. Você é meu capitão, mas também não precisa passar as noites dormindo com os cavalos!

 

Sakura sentiu uma pontada no coração ao ver os olhos de Sasuke. Ela quase podia ler os pensamentos do rapaz, que ele diria em voz alta, se pudesse: Meu coração está tao cheio de raiva que nele não há lugar para nenhuma outra mulher... Conteve a respiração, mas Sasuke apenas suspirou e riu. Sentiu então a garganta tão apertada que não conseguia engolir. Castigo suficiente é ser obrigada a me separar do meu amor... Deu um suspiro fazendo com que Naruto, sobressaltado, se virasse para ela:

 

- O que foi meu amor, te machuquei?

 

- Um... alfinete me picou - desculpou-se, afastando osolhos do marido, fingindo que procurava o tao alfinete entre as pregas do quimono.

 

Sasuke desejou-lhes boa noite novamente e retirou-se. Sakura tinha a consciencia quase dolorosa de que o braço de Naruto a envolvia pela cintura e de que havia desejo em seus olhos. Bem, estavam separados por muito tempo, e era seu direito como marido. Acompanhou-o até os seus aposentos.

 

- Não estava brincando Sah-chan - disse Naruto sentado-se para descalçar as botas - Temos que casar o Sasuke. Você viu como todos os meninos correm para ele e ele os trata bem? Sasuke precisa ter filhos. Ora Sah-chan, já sei! Vamos casá-lo com Hinata!

 

- Não!

 

A exclamação escapou-lhe sem querer, e Naruto a encarou, espantado.

 

- Porque não? Não te parece perfeito, o par ideal? Minha irmã e meu melhor amigo? E seus filhos seriam herdeiros de nosso trono, de qualquer modo, se os deuses não quiserem nos dar filhos... Não, não chore meu amor - pediu ele e Sakura sabia, humilhada e envergonhada, que seu rosto se contorcia com o pranto - Não falei isso pra te criticar, minha querida, só a Deusa sabe quando teremos filhos. E embora eu goste muito de neji, não quero nenhum herdeiro de Orochimaru no trono. Hinata é minha irmã e Sasuke o meu primo...

 

- Ora, para Sasuke pouco importa ter filhos ou não - suspirou Sakura - Ele é so mais um dos 6 ou 7 bastardos do rei Hizashi...

 

- Nunca esperei que você falasse assim do meu parente. E ele não é um bastardo comum, é filho do Ritual Sagrado do Grande...

 

- Heresias pagãs! Se eu fosse o rei Hizashi, mandava fazer uma limpeza em todo esse lixo de feitiçaria no reino, o que você deveria fazer também!

 

Naruto mexeu-se constrangido, enfiando-se debaixo das cobertas:

 

- Sasuke não teria muito motivo pra gostar de mim se eu começasse a perseguir a mãe dele e jurei respeitar Atlantida, por isso a Senhora me deu aquela espada.

 

Sakura olhou para a Demonrage, pendurada ao lado da bainha mistica, seu brilho encantado parecendo zombar dela.

 

- Nosso Senhor Jesus Cristo protege você melhor do que essas feitiçarias. Você não teve de celebrar esse ritual demoniaco antes de ser feito Hokage, não é?

 

Naruto disse, pouco a vontade:

 

- Há muita gente nesse país que segue seus deuses pacificamente, não podemos tentar impor nosso Deus para eles, seria tirania. E quanto ao que me aconteceu antes da minha coroação, Sakura, não te interessa.

 

- Os homens não podem servir a dois senhores - retrucou Sakura, com ousadia - Você devia era lutar contra todos os que não seguem o Cristo.

 

Naruto riu, pouco a vontade: - Você parece o Bispo, falando assim. Mas pense no que eu disse, Sakura. Parece o casamento mais perfeito possivel, meu melhor amigo e minha irmã. Sasuke então, seria meu irmão e seus filhos, meus herdeiros... - envolveu-a nos braços, no escuro e acrescentou - Mas agora temos que nos empenhar para que não precisemos de outros herdeiros, meu amor, a não ser aqueles que você me der.

 

- Que Deus o permita - murmurou Sakura e se aninhou nos braços de Naruto, procurando afastar qualquer outro pensamento.

 

 

-------------------------

 

 

Hinata, no quarto das damas da rainha, encarava a lua cheia da janela, inquieta. Ino, que dormia com ela, murmurou:

 

- Venha se deitar Hinata. Está tarde, e você deve estar cansada.

 

- Estou sem sono - respondeu ela, sacudindo a cabeça. Nessas horas, era um peso terrível ter a Visão, pois Hinata sabia que, por toda a parte, os homens que tinham voltado, juntavam-se as suas mulheres. É como em Beltane... - pensou, com um sorriso melancólico.

 

Sasuke tem se afastado da corte sempre que pode... Sem duvida para não ver Sakura nos braços de Naruto! E também ele estava sozinho aquela noite, naturalmente sonhando com a rainha, a unica mulher do país que não podia ser sua, pois até as mulheres casadas aceitariam Sasuke como amante, e com prazer. Se não tivesse sido a falta de sorte no dia do casamento de Naruto, ele a teria possuído, e sendo um homem de honra, se ficasse grávida, teria de se casar com ela. E eu não sou tão feia assim... Posso fazer com que Sasuke me deseje de novo e eu o faria esquecer de Sakura em meus braços...

 

Será que Sasuke também estava sozinho aquela noite? Ah, se ao menos tivesse uma certeza, uma prova... E então, clara como a Visão, uma imagem lhe veio a mente: Sasuke caminhando sozinho pelo pátio, com o rosto marcado pela solidão e frustração.

 

Verificou se Ino estava dormindo, e calçando sua bota, saiu do quarto sem fazer barulho. Se Sasuke não estiver lá, caminharei um pouco ao luar e voltarei para a cama pensou, mas a imagem persistia em sua imaginação, e ela sabia que Sasuke estava lá, sozinho, acordado também.

 

Hinata passou silenciosamente pela porta e saiu para o pátio iluminado. Não, não o via ali, talvez do outro lado... Por um instante pensou Ele não está aqui, foi um sonho, foi minha imaginação. Já estava quase decidida a voltar para a cama, tomada de subita vergonha: se a encontrassem ali, o que seria da sua reputação?...

 

- Quem está aí? Vamos, diga quem é!

 

A voz era baixa e grave, a voz de Sasuke. De repente, apesar da sua alegria, Hinata teve medo: a sua Visão fora verdadeira e agora? A mão de Sasuke baixou à katana: ele parecia muito alto e magro, em meio as sombras.

 

- Hinata - disse ela suavemente e a mão dele largou o punho da arma.

 

- Prima, é você? - saiu das sombras e o rosto dele, vigilante perturbado, amenizou-se ao olhá-la: - Tão tarde! Veio me procurar? Aconteceu alguma coisa no castelo? Naruto... ou a rainha?...  

 

Até mesmo agora ele só pensa em Sakura - Hinata sentiu um formigamento nos pés e nas mãos, de raiva:

 

- Não, está tudo bem. E não tenho conhecimento do que anda acontecendo no quarto real!

 

Ele corou e desviou os olhos. Hinata continuou:

 

- Eu estou sem sono. E porque me pergunta o que estou fazendo aqui, se você também não está na cama? Ou será que Naruto te nomeou vigia noturno?

 

Pode sentir o sorriso de Sasuke:

 

- Nomeou-me tanto quanto você. Eu estava inquieto, pensando em tantas noites de batalha...

 

- E você gostaria de estar de volta as batalhas?

 

- Não - admitiu ele - apesar de que um guerreiro não deve sonhar com a paz.

 

- Prefiro pensar mais como os clãs pacificos, que queriam apenas cultivar a terra em paz e adorar a Deusa. Sou gente da minha mãe... e da sua.

 

Sasuke suspirou.

 

- São pensamentos sombrios, não é de se surpreender que tirem o sono, Hinata. Esta noite, eu daria todas as grandes armas já forjadas e todas as batalhas que eu vou enfrentar por uma noite em Atlantida... - voltou a cabeça para o outro lado e Hinata segurou-lhe a mão, dizendo comovida:

 

- Eu também, primo.

 

- Não sei porque estou com saudades de Atlantida. Não vivi lá por muito tempo - cismou Sasuke, intrigado - Mesmo assim, sinto que aquele é o melhor lugar do mundo, se é que esta mesmo nesse mundo. A velha magia druida afastou a ilha dessa terra porque era um lugar bom demais para nós, seres imperfeitos, e tem que ser como os sonhos do céu, impossível...

 

Recobrando-se, deu uma pequena risada:

 

- O padre não ia gostar de me ouvir falar essas coisas.

 

Hinata também riu baixo:

 

- E você se tornou cristão, Sasuke-kun?

 

- Não muito. Mas essa fé me parece tão simples e boa que gostaria de acreditar nela.

 

Sasuke baixou a cabeça. Agora que os olhos de Hinata se acostumaram a meia-luz do luar, podia vê-lo claramente, a linha delicada da testa curvando no lugar dos olhos, o queixo comprido e fino, as sobrancelhas escuras sobre as quais caía o cabelo negro. A beleza de Sasuke provocou-lhe uma dor no coração.

 

- A verdade é que vi tanto homens, mulheres e crianças morrerem nessa guerra que parece que estou lutando desde pequeno. E quando os vejo morrer, a fé me parece nada mais que uma ilusão, e a verdade é que todos nós morremos como animais, e não somos mais do que isso. Como a grama cortada, como a neve do ano passado.

 

- Mas também essas coisas voltam - murmurou Hinata.

 

- Será que voltam? - a voz dele parecia amarga - Acho que talvez nada disso tenha sentido, e essas conversas sobre deuses e deusas sejam nada mais do que fábulas para consolar crianças. Ah, Hinata, porque estamos falando assim? Você deve ir dormir prima, e eu também.

 

- Vou, se você quiser - concordou Hinata e no momento em que ia se afastar, a felicidade inundou todo o seu ser, pois Sasuke segurou sua mão.

 

- Não, não. Quando estou sozinho fico com esses pensamentos, essas malditas duvidas. Fique comigo, Hinata.

 

- Todo o tempo que você quiser - murmurou ela, sentindo lagrimas nos olhos. Num impulso, passou os braços pelo pescoço do Uchiha, que a segurou e acariciou seu cabelo. Hinata podia sentir as batidas compassadas do coração do rapaz e Sasuke a segurou mais junto de si, acariciando seus braços e comentando:

 

- Eu tinha esquecido como você era tão pequena, Hinata. Poderia esmagá-la com uma mão, prima.

 

Num dos extremos do pátio havia um tronco onde os homens costumavam sentar depois do treinamento. Ele a puxou para lá e disse:

 

- Sente-se aqui comigo... - e depois hesitou - Não, aqui não é lugar para uma dama - e começou a rir - Nem na cocheira, naquele dia... lembra Hinata?

 

- Pensei que você tinha esquecido, depois que aquele cavalo infernal te derrubou.

 

- Não deve falar assim. Aquele cavalo salvou a vida de Naruto mais de uma vez, em combate. Ah, foi um dia de erros, aquele. Faz muito tempo que eu queria te pedir perdão, prima, e ouvir da sua boca que não me guarda rancor...

 

- Rancor? - interrompeu Hinata, tonta de emoção - talvez contra aqueles que nos interrompeu...

 

- Verdade?

 

A voz dele era suave. Sasuke segurou-lhe o rosto entre as mãos e inclinou-se, pousando os lábios nos dela. Hinata deixou-se abraçar, abrindo a boca sob aqueles lábios. Sasuke apertou-a mais, quase levantando-a, num leve murmurio. O beijo durou até que ela, involuntariamente, teve de recuar um pouco para respirar e ele riu - um som miraculoso.

 

- E aqui vamos nós outra vez... parece que já estivemos aqui antes... Mas desta vez eu corto a cabeça de quem vier nos interromper. E agora Hinata, pra onde vamos?

 

Não sabia. E no fundo da sua mente, algo lhe dizia que aquilo não era certo, a irmã e o amigo do Hokage saírem as escondidas, a procura de um monte de feno. O certo seria esperar até amanhã e pedir autorização de Naruto para se casarem. Mas no coração, escondida num canto que ela não queria examinar, estava a certeza de que Sasuke não a queria. Num momento de loucura poderia desejá-la apenas. E por um momento de paixão, iria arrastá-lo para um compromisso para toda a vida?

 

Foi, porém, um pensamento passageiro. Estava tonta com a proximidade de Sasuke. Ele a queria; naquele momento, não pensava em Sakura ou em alguém que não fosse ela.

 

- Eu sei - murmurou, guiando-o pelo mão. Contornaram o pátio que dava par ao pomar. Alo a grama era alta e macia, e por vezes as crianças iam até ali brincar.

 

Sasuke estendeu sua capa na grama. Acariciou-lhe os cabelos, mas não parecia ter pressa em ir além, segurando-a com delicadeza, inclinando-se repetidamente para beijá-la. - A grama está seca, não tem sereno. Provavelmente vai chover antes do amanhecer - murmurou, acariciando os ombros e as mãos pequenas de Hinata; ele brincou com os dedos dela, com seus anéis, levando a mão a abertura do quimono, puxando-o.

 

Sasuke teve de ajudá-la a tiirar o quimono. As roupas da corte eram muito mais complicadas do que os trajes simples de sacerdotisa. Por um momento ficou sem jeito: seus seios pareciam flácidos e caídos desde o nascimento de Gwydion. Ele gostaria dela? Mas Sasuke não pareceu notar, acariciando-os, segurando os bicos entre os dedos e depois, suavemente, entre os lábios e os dentes.

 

Hinata perdeu a noção das coisas do mundo, só o que existia eram as mãos que acariciavam seu corpo, o prazer dolorido que elas lhe causavam. Num deslumbramento, lembrou-se de que sua primeira vez fora com um garoto de dezesseis anos, que mal sabia o que fazer... E havia sido a unica, de modo que chegava quase virgem a Sasuke. Deveria ter sido assim, daquela maneira e ela desejou, numa onde de sofrimento, que para ela fosse como uma primeira vez... Movimentou-se, agarrando Sasuke, gemendo: não poderia aguentar mais, esperar por mais tempo...

 

Sasuke parecia não estar preparado, embora Hinata estivesse pronta, com o corpo todo pulsando de vida e desejo. Agarrou-o, faminta, murmurando seu nome, implorando, quase medrosa. Ele continuou a beijá-la suavemente, acalmando-a com as mãos, mas ela não queria ser acalmada. Tentou falar, implorar, mas tudo se resumiu num soluço. Ele ainda a segurava junto de si, ainda a acariciava:

 

- Calma, calma, não Hinata, espere, não, eu não quero te fazer mal, nem desonrá-la, nem pense nisso. Assim, fique deitada comigo, deixe-me abraçá-la, deixe-me satisfaze-la...

 

E em meio ao desespero e confusão, permitiu-se fazer o que ele queria, e embora seu corpo todo gritasse de prazer, uma irritação curiosa crescia nela. Compreendeu que ele estava transformando o amor que ela sentia num jogo, num fingimento e não parecia se importar com isso, dava a impressão que assim devia ser, que ambos teriam prazer... como se não houvesse uma união maior do que aquele simples toque de corpos. Para uma sacerdotisa criada em Atlantida, esse ato amoroso cheio de cautelas, sensual, deliberado parecia quase uma blasfemia. Ele dissera Não quero te fazer mal nem desonrá-la mas que maldade ou desonra havia naquela união?

 

Satisfeito, ele se afastou um pouco, mas ainda a tocava, brincava com ela, passando os dedos pela pele macia das coxas, beijando-a no pescoço e nos seios. Hinata fechou os olhos humilhada e desolada... mas talvez fosse isso o que merecia: agira como uma prostituta, indo procurá-lo e merecia ser tratada assim. E estava tão excitada que deixara-o possui-la daquela maneira, deixaria que ele fizesse qualquer coisa, sabendo que se pedisse mais, até mesmo isso perderia. E ele não a queria, realmente, seu coração ainda ansiava por Sakura.

 

Em meio a dor do seu amor, um leve sentimento de desprezo surgiu e com isso a maior das agonias - a de que não o desejava menos, a de saber que sempre o desejaria, tal como naquele momento de fome e desespero.

 

Sentou-se, puxando o quimono e se embrulhando com as mãos tremulas. Sasuke sentou-se também, em silêncio, ajudando-a a ajustar a roupa. Depois de um longo tempo, ele disse arrependido:

 

- Agimos mal Hinata, você e eu. Está com raiva de mim?

 

Ela não podia falar. Tinha a garganta contraída, mas forçou-se a responder:

 

- Não, com raiva não.

 

Sentiu que ia levantar a voz e gritar, exigindo dele aquilo que ele não poderia lhe dar, e talvez a nenhuma outra mulher.

 

- Você é minha parente, minha prima, mas não lhe fiz mal nenhum - sua voz tremia - Pelo menos não poderia me sentir culpado disso... de tê-la desonrado perante toda a corte...

 

Hinata já não podia conter os soluços:

 

- Sasuke, eu te imploro, em nome da Deusa, não fale assim. O que houve de mal? Estava de acordo com Ela...

 

Ele fez um gesto de sofrimento:

 

- Você fala da Deusa e de coisas pagãs... Quando eu quero me manter longe do pecado e mesmo assim voltei os olhos pra você com luxúria, sabendo que era um erro.

 

Sasuke apanhou as roupas com as mãos trêmulas e, por fim, quase sufocou:

 

- Eu queria que você não fosse tão parecida com a minha mãe, Hinata.

 

Foi como um tapa no rosto, um golpe traiçoeiro, cruel. Por um instante, ela perdeu a fala. Depois, parecia que toda a ira da Deusa a dominava, e viu-se levantar e crescer. Embora pequena e insignificante, naquele momento ela se tornava maior do que Sasuke e viu o poderoso cavaleiro, capitão da cavalaria do Hokage, encolher-se, pequeno e assustado, como todos os homens ante a presença da Deusa:

 

- Você é... um idiota desprezível Sasuke. Não merece sequer ser amaldiçoado!

 

Voltou-se e fugiu, deixando-o ali sentado, com a roupa ainda meio vestida, olhando-a com espanto e vergonha. Metade dela queria gritar com Sasuke e a outra metade desejava chorar de agonia, de desespero e mais uma vez parecia-lhe que seu coração iria se romper com o naufrágio e o desastre do seu amor.

 

Já no castelo, andou de um lado para o outro, consumida pela chama do ódio. ninguém ali a compreenderia, a não ser uma outra sacerdotisa da Deusa: Tsunade. Tsunade compreenderia- pensou com saudade. Ou Konan, ou qualquer uma da Casa das Moças.

 

O que estou fazendo esse tempo todo longe do meu lar?

 

 

Hinata fala...

 

Tres dias depois tive a permissão de Naruto para voltar a Atlantida. Disse a ele que estava com saudades de minha mãe adotiva, e naturalmente meu irmão acreditou. E durante aqueles dias não falei com Sasuke, apenas o cumprimentava quando não podiamos evitar um encontro. Então, montei num cavalo e dirigi-me para os pântanos do oeste, em direção a Atlantida; e não voltei a Konoha por muitos anos, nem tive noticias do que aconteceu na corte de Naruto... mas essa história fica pra depois...

 

 


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agradecimentos especiais á Lanye Sobral e Rosa-chan!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Rainha do Fogo" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.