Kansas, 1996

—Acho melhor você parar de sacanear ela, camarada.— Dean falou de uma maneira rude, colocando-se à sua frente no meio do refeitório lotado de alunos esfomeados.

—Não acredito que a esquisitona arranjou um namorado valentão! – Alguém gritou de algum lugar.

—Um valentão que certamente vai quebrar a cara de todos vocês! Agora vão! Andem!

Aquela cena poderia ser esquisita para qualquer um a visse de longe ou desconhecesse a história. Podiam até mesmo achar que certamente seria o plot perfeito para uma história ou filme, mas não era nada disso. Dean Winchester não havia te defendido do nada apenas por ter pena de uma desconhecida. Não, você era praticamente da família.

Haviam se conhecido no último verão quando o loiro havia se mudado para a cidade junto do seu pai e irmão mais novo, logo sendo apresentada a ele pela longa amizade de seus pais. Os dois eram caçadores, o que os tornava família quase imediatamente. Você e ele tinham dezessete anos e estavam no último ano do ensino médio, logo, cursando na mesma escola. Um fazia companhia ao outro enquanto os pais de vocês iam a uma caçada muito longa, tomando conta do jovem Sammy.

A personalidade de cada um era completamente oposta: você adorava quadrinhos e filmes nerds, além de ser muito inteligente, enquanto Dean fazia mais a pose de galã bad boy. Apesar das divergências, não demorou muito para criarem um laço de amizade extremamente forte, o que assustou o restante dos alunos que até então desconheciam o novato. Aquela situação certamente era um afronte as normas sociais do colégio. Onde que uma CDF poderia ser amiga de um bad boy sem ele querer algo em troca ou humilhá-la?

—Dean, não precisa fazer isso... – você fala baixinho completamente envergonhada pela cena que o garoto fazia.

—Não, S/n. Você não simplesmente deixar eles te colocarem para baixo desse jeito. – Ele continuava, com uma expressão emburrada e irritada.

—É sério, depois de um tempo eles calam a boca.

—Não sei como você aquentou todo esse tempo quieta, S/n! Eu estou aqui agora e não vou mais deixar eles falarem qualquer coisa maldosa sobre você.

Dean havia de fato cumprido sua promessa. Durante todo o tempo em que permaneceu ao seu lado na escola qualquer pessoa que ousasse olhar torto para você imediatamente recebia um olhar dez vezes pior do garoto. Ele achava completamente injusto toda aquela situação, ninguém conseguia enxergar a garota maravilhosa que você era por dentro. E por fora também, bastasse estar disposto a observar os detalhes, assim como ele.

Porque sim, em algum momento durante aquele ano ele tinha finalmente enxergado o quão bonita você era. Se perguntassem para exatamente quando, ele provavelmente responderia que fora naquela noite fria de novembro, quando seus pais estavam fora para caçar um lobisomem. Suas recomendações eram de que ficassem hospedados em sua casa, onde certamente teriam mais conforto, já que provavelmente demorariam alguns dias para voltar. Na noite em questão, você e os irmãos estavam na sala de estar tentando acalmar um Sam de treze anos completamente apavorado com um estouro na rede elétrica da rua, causando um grande apagão. Nem Sam nem você tinham vergonha de admitir o medo do escuro, oferecendo diversão gratuita a Dean.

Quer dizer, até ele perceber como você estava adorável abraçada ao pequeno corpo de Sam, tentando passar toda a confiança para o mais novo. Estava estampado na sua cara como você estava com medo, mas mesmo assim dizia que não. Esse simples ato de coragem e afeição despertou algo dentro de Dean. Ele não sabia dizer exatamente o que era, mas aquecia seu peito toda vez que te via sorrir ou brincar com Sammy durante seus acampamentos. Sempre que se lembrava daquele brilho no seu olhar no escuro seu coração se acelerava, arrancando um sorrisinho do garoto.

Porém, ele havia percebido tarde demais seus sentimentos. Somente no dia em que John Winchester avisou sobre sua partida que Dean se deu conta de estar apaixonado pela sua melhor amiga. Você, no caso. Estavam se encaminhando para o fim do ano letivo e por mais que ele tivesse insistido em ficar até a formatura, John estava irredutível. Tinham de partir o mais rápido o possível.

Devastado, Dean teria que cedo ou tarde te contar sobre sua partida, preferindo revelar somente em seu último dia na escola. Porém, as coisas tinham saído bem inesperadas no final. Era final de abril quando ele te chamou para conversar em seu horário vago de aula. Apesar de estranhar, você aceitou, sendo guiada até a escada de incêndio do colégio, justamente a que levava diretamente para a saída onde John esperava o filho com o Impala ligado.

—Dean? Está tudo bem? – Seu tom era preocupado.

—Eu.... Eu estou indo embora, S/n. – Dean encarava o seu rosto com uma expressão triste.

—Como? Mas nós estamos no final do ano, Dean!

—Tente explicar isso para o meu pai.... Eu praticamente implorei para ele esperar, mas ele está irredutível! – Ele começava a se irritar com a situação.

—Quando você tem que ir? – Sua voz ameaçava falhar, temendo a resposta.

—Meu pai está me esperando lá fora. Me desculpe, S/n, eu simplesmente não podia ir embora sem me despedir. – Ele havia se aproximado, estando agora cara a cara com você. – Não queria te deixar terminar o último ano sozinha. Eu ia te convidar para o baile de formatura, mas devido as circunstancias, acho que isso não pode esperar mais.

Em meio segundo Dean havia colado sua boca a sua, atacando seus lábios sem a menor piedade, mas mesmo assim com carinho. Você não teve outra reação senão abraçar seu pescoço e retribuir o melhor que podia o beijo surpresa. Dean não só a beijava com uma paixão contida como também havia enlaçado sua cintura com força, prendendo-a no corrimão da escada da maneira como podia. Com o desespero aumentando e o folego acabando, vocês não aguentaram por muito mais tempo a toca de carinho.

—O que foi isso, Dean? – Você perguntou ofegante, sem consegui controlar um sorriso.

—Isso foi só um lembrete que você não vai se livrar tão fácil de mim, S/n. São só três horas de distância. - Com um sorriso cafajeste nos lábios, Dean se afasta, dando um beijo em sua testa antes de descer a escada e ir em direção ao Impala, deixando você completamente confusa e beijada para trás.

—Ele ia me convidar para o baile? – De tudo o que havia se passado, aquele certamente tinha sido o detalhe que mais havia te marcado.