Você está tão metido em seus assuntos que não deixa outros mundos se encaixarem ao seu. Seus olhos estão distantes, depois do horizonte, perdendo a visão do que está por perto. Eu os sinto em mim algumas vezes, mas com qual frequência realmente me enxergam?

Mais do que a outros, sei, e menos do que quero. Fico ao lado, observo, espero, tomo seu pescoço num abraço, encurtando o espaço o quanto posso. Você deixa, relaxa, devolve um carinho. Os minutos se vão e nós ficamos. Perdemos o tempo sem qualquer remorso. Dura pouco, é infinito. Meu coração força o peito para tocar o seu, para nas suas costas como um prisioneiro se aperta nas grades, lamenta a cela, suplica ao carcereiro.

Você vira o rosto, respira no meu, quase arranco um beijo, mas não, seus olhos castanhos são tudo que quero agora. Doces e quentes, por que os vejo tão sensuais?

Eu quero beber você por inteiro, dividir sua angústia, dar minha alegria. Observo seus muros, parecem baixos, posso pular e lhe roubar um pouco? Prometo que não devolvo. Pode me roubar também, não preciso de anos de perdão.

Hoje a despedida se alongou em palavras e silêncios demorados. Talvez você quisesse conversar sobre o mesmo que eu, mas nós disputamos a falta de jeito. Juro que da próxima esqueço o medo e resolvo nós dois de uma vez.

Acabo de ver sua mensagem. Não tinha ido embora? Tropeço na pressa, abro o portão. Espero que o rosto não me denuncie. Escuto sua desculpa sem fingir que acredito. Um pingente velho não é motivo para voltar.

Você abre a boca e depois do meu nome a única coisa que escuto é o som de uma sede sendo saciada.