A Herdeira do Quarto Trono escrita por R31


Capítulo 17
Que a Lua Chore Esta Noite


Notas iniciais do capítulo

Depois de um século sem postar ou dar sinal de vida, olha eu aqui!
Eu sei que tenho alguns comentários para responder, mas peço desculpas desde já e quero deixar claro que eu li todos e os amei. Logo logo vou responder!!!

Agora, espero que gostem!!! ^^



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“Bom… Isso é problema seu! O sobrenatural não se importa com a sua opinião”

Turma da Mônica Jovem: A Torre Inversa - Parte 3

 

Diz que a lenda, que no reino de Arquelândia, muitos e muitos anos antes de Nárnia ser vítima do poder da Feiticeira Branca, havia um rei e uma rainha jovens e que muito se amavam. O casal real desejava, mais que tudo terem filhos, o rei sempre sonhara em ter três filhos, sempre três filhos, que seriam muito amados e igualmente tratados na corte, mesmo que somente o primogénito fosse se tornar rei. Mas a rainha, por grande ironia do destino, por mais que desejasse isso desesperadamente, não podia dar à luz a criança alguma, pois era estéril.

O rei não sabia disso, até que em uma briga muito acalorada a respeito do assunto dos herdeiros tão desejados, a rainha, num tom de fúria, confessou a verdade: quando criança, sendo princesa de Gloriam, um reino que seria considerado, no futuro, a “Atlântida de Nárnia”, uma feiticeira má havia amaldiçoando-a a nunca gerar vida em seu ventre, tornando-a, assim, infértil a vida inteira.

Horrorizado, o rei ficou furioso com sua rainha, pois ela nunca confiou a ele essa informação. Mas ele também ficou inconsolável, pois acreditava que a mulher com quem se casara e tornara sua rainha não o amava. Por essa razão, no mesmo dia de tal discussão, o rei de Arquelândia foi até o estábulo, onde tomou seu cavalo e à galope, deixou as mediações do Palácio de Anvar e, tomando o rumo do Norte, não permitiu que seu cavalo diminuísse sua velocidade até que ele mesmo sentisse sua fúria se atenuar.

Quando já avançara muito, quase sem se dar conta que atravessara um vale quase que completamente, a raiva se atenuou e o sentimento de traição que o tomara começava a se transformar em dor e, depois, em vergonha -por ter fugido do problema daquela forma, ao invés de ficar e tentar compreender por que sua mulher fizera aquilo-, já havia ultrapassado a fronteira de Arquelândia com Nárnia. Se continuasse sua cavalgada por mais três quilômetros e meio, alcançaria o Elmo do Lampião.

Mas não foi o que aconteceu.

O rei se deu conta então de que havia atravessado a fronteira, já escurecia, ele estava sozinho e logo estaria faminto. Decidiu dar meia volta e retornar a galope. Com seus calcanhares, ele estimulou o cavalo a ir mais rápido, mas fatigado demais, o equino ignorou seu dono deliberadamente e seguiu lentamente o caminho.

O rei grunhiu, furioso, mas nada pôde fazer. Não havia deixado que o cavalo fizesse pausa alguma, nem para descanso nem para beber algo, agora, teria de aceitar as consequências.

Quando sua montaria não suportava caminhar mais um metro sequer, o rei foi obrigado a parar. Logo a noite caíra e o rei começou a ficar inquieto. Sem comida, água ou abrigo. Os sons da floresta que o cercava não o assustava, mas tiravam-lhe a paz. A sensação de solidão lhe era tão estranha quanto a da fome.

Depois de horas, depois do rei muito divagar sobre tudo o que lhe estava acontecendo, quando um forte desejo de descobrir um jeito de quebrar a maldição de sua esposa lhe ocorreu, algo finalmente relevante aconteceu. Um som de galhos se partindo chamou-lhe a atenção, o rei, muito inquieto, se levantou num pulo e se colocou perto de sua montaria, que ainda descansava num sono pesado. Puxando sua espada, o rei se pôs em posição de alerta e esperou. Primeiro, um deslumbre de uma pelagem dourada foi vista, depois um som de ronronar alto soou. Em seguida, para total espanto do rei, uma grande fera saltou de onde estava para perto do rei. A fera era enorme, imensa, dourada e poderosa. Um leão majestoso, como nunca se viu antes. Aquele Leão era, ninguém menos que o Grande Aslam, o ser mais poderoso, amado, temido e, apesar ser muito real, era também o mais mistificado ser de todo aquele mundo. O Criador de Nárnia, Arquelândia, Calormânia e todos os demais países e ilhas daquele mundo ali estava.

O susto do rei ao ver o grande Leão não poderia ser menor. Tropeçando nos próprios pés e, em seguida, no corpanzil de seu cavalo, o rei acaba caindo de costas no chão e sua cabeça acaba recebendo o pior impacto, tanto que nisso, a coroa dourada que em sua cabeça estava caí e rola no chão até parar aos pés -ou melhor, às patas- do majestoso Grande Leão.

Aslam sorriu, com calma e serenidade, encorajou o rei a se levantar e se aproximar. Não havia necessidade de temor por parte do rei.

Aslam queria, mais que qualquer coisa, ajudar. Mas o rei teria de fazer sua parte também. Quando o cavalo do rei recuperou suas forças, o rei retornou à Anvar acompanhado de Aslam, onde tiveram a chance de ter uma longa conversa, onde Aslam explicou ao rei coisas passadas, presentes e futuras. Avançaram num passo calmo, porém, constante, chegando ao palácio ao meio dia do dia seguinte. Assim que o povo de Arquelândia viram seu rei amado entrando na cidade periférica ao palácio de Anvar, acompanhado de Aslam, entraram em festa.

A rainha foi informada com rapidez, feliz e aliviada, ela ordenou que um banquete fosse preparado para seu rei e para Aslam. Aslam não tinha pressa e foi muito paciente para com o rei e rainha de Arquelândia.

Durante o banquete, a rainha se colocou diante do grande Leão e com lagrimas nos olhos, suplicou para que o feitiço que recaia sobre ela fosse quebrado, ela acreditava com firmeza que, se se havia alguém com esse poder no mundo, esse alguém era Aslam. Alegrando-se muito com a fé da rainha, Aslam soprou sobre a jovem mulher que suplicava pelo direito e dever que somente a mulher foi dado: o poder de dar á vida a outra pessoa. A maldição foi anulada imediatamente.

Muito alegres, o rei e rainha comemoraram muito, depois de muito tempo, Aslam fez suas observações, contou coisas passadas, presentes e futuras, avisou ao rei e a rainha que eles teriam de serem fortes, mais do que nunca, dali em diante. Com o coração transbordando de alegria, eles apenas concordaram, sem parar para pensar em minhas das profecias que o grande Leão fez sobre seus filhos, muitas delas, mais desafiadoras do que muitos pais são capazes de suportar, pois esse era o preço da quebra da maldição.

Toda ação gera uma reação.

Assim, nasceram Cosmos, o primogênito e futuro rei, e os príncipes, Zack e Andrew. Quando ainda bebês, os três herdeiros de Arquelândia pareciam crianças comuns, cabelos ruivos, olhos azuis, pele clarinha, mas na medida que cresciam, os três começam a apresentar poderes surpreendentes, poderes esses que pareciam vir de poderosos elementos da natureza.

Cosmos controlava facilmente a terra e o mar;

Zack controlava o fogo, como se seus poderes viessem do poderoso sol;

Andrew, por sua vez, o caçula, mas o mais poderoso dos três, tinha controle de idas e vindas de outros mundos, conseguia controlar o poder de feiticeiros mais fracos, e o tom prateado que o envolvia deixava claro que seus poderes vinham da gloriosa Lua do Bosque entre todos os Mundos.

Mas quanto mais cresciam, mais poderosos e ambiciosos os três irmãos ficavam. Todavia, seus poderes eram mais fortes do que eles e, durante uma calorosa briga, quando ambos tinham 15 anos, Cosmos se enfureceu, cego de raiva, atacou a seus dois irmãos e ambos revidam. Os poderes deles se misturaram e se fundiram, para então, se autoconsumiram, causando uma forte explosão.

Os meninos foram lançados longe, mas não sofreram maiores danos, mas, quando a poeira abaixou, ambos se deram conta de que fizeram uma vítima: sua própria mãe, que havia se aproximado sem ser notado. Tudo o que ela queria que eles parassem de brigar, mas acabou sendo lançada para longe, devido à explosão, e acabou caindo sobre uma estaca de madeira, afiadíssima, que acabou por furtar-lhe o ombro, perigosamente perto do coração e pulmões.

A rainha sobreviveu, mas o sentimento de culpa permaneceu nos rapazes. Ambos perceberam que seus poderes estavam começando a tomar traços poderosos com os quais eles não conseguiam lidar e decidiram que seria melhor colocarem travas mentais em suas próprias cabeças, para controlarem seus poderes, limitá-los ou até mesmo bloqueá-los completamente.

Depois de muitos buscarem meios de tornar a trava possível, eles finalmente descobriram como o fazer e combinaram tentar em uma espécie de cerimonia informal, mas num local longe do Palácio de Anvar, para o caso de algo dar errado.

Tudo estava pronto, eles iniciaram o processo, mas minutos depois, Cosmos se arrependeu e decidiu que não queria dar continuidade naquilo, apavorado com a ideia de não conseguir reaver seus poderes e subitamente decidido em aprender a controlar seus poderes sozinho e sem a trava mental, ele não cumpre sua parte no encantamento e tudo começou a dar errado.

Andrew e Zack colocaram a trava mental em suas mentes, mas ao tentarem coloca-la “em funcionamento”, onde o poder de Cosmos seria crucial, o encantamento deu errado. Zack colocou fogo no local e Andrew acabou os transportando a si mesmo e a Zack para outro mundo, ao invés de bloquearem tais poderes.

A lenda diz que Cosmos foi o único que ficou e, por isso, teve de fugir do local para de volta a Anvar, onde teve de encarar seus pais e contar todo o ocorrido. O rei e a rainha, de imediato, ficaram apenas preocupados, mas pensaram que Zack e Andrew voltariam logo, o que não aconteceu.

Dias e mais dias se passaram e nem sinal do retorno dos príncipes, e rei e a rainha começam a ficar desesperados e, depois, desesperançosos.

Dizem que os príncipes morreram; outros dizem que quando eles chegaram ao outro mundo, eles perderam seus poderes ou ainda que a trava mental foi acionada de forma irreversível. Alguns outros acreditam que eles perderam a memória e seus poderes. Mas todos colocam a culpa no fracasso do encantamento para o fato de que Andrew e Zack jamais voltaram.

Tomado pelo remorso, Cosmos lutou muito para controlar seus poderes e sua personalidade. Quando subiu ao trono, poucos cidadãos de Anvar gostavam dele realmente. Cosmos foi um bom rei e teve uma longa vida, mas por não ter tido mais nenhuma notícia de seus irmãos, a culpa passou a segui-lo para onde quer ele fosse, até seu último suspiro.

 

§

 

Se algum dia Laura achou que já sentiu do ódio mais profundo, quando estava brigada com Nathan, certamente, ela não poderia estar mais equivocada.

Laura ainda não tinha provado do ódio mais profundo, ainda não sabia o que era realmente temer por sua honra e por sua vida.

Mas agora, ela sabia. E desejava nunca ter descoberto o que era isso de verdade...

—Tire suas mãos de mim! -Gritou Laura, furiosa, se debatendo contra o homem que a prendia contra as telhas congeladas de um telhado íngreme de uma casa que ficava à apenas uma quadra da casa da família de Laura. Mas Kion, o feiticeiro, não apenas sorriu diante do olhar de desespero de Laura, como também fez questão de fazer algo que a fizesse sentir ainda mais desespero.

—Tudo isso poderia ter sido evitado, Laura. Mas você fez de Nathan Crawford seu rei, não eu. Agora, arque com as consequências de seus atos e assim, como ele, assista o seu mundo ruir! -Sussurrou Kion, sorrindo de forma sombria, poucos segundos antes de colar seus lábios ao dela. E isso, sob vários aspectos era mil vezes pior para Laura. Um nojo e um terror sem precedentes tomou conta dela, entrando em pânico e perdendo o controle, Laura se debateu furiosamente, tentou chutá-lo, seu tronco parecia estar em convulsão, louco para se livrar de Kion. Cega pela raiva, enfiou as unhas nas mãos dele ao mesmo tempo que conseguiu morder o lábio inferior do feiticeiro com a maior força que pode reunir. Logo o gosto do sangue dele invadiu-lhe a boca, mas ela não desistiu, e só liberou os lábios sombrios de Kion quando ele soltava sons de dor e tentava se livrar dela. E esperou, desesperadamente que Nathan não tivesse visto isso. Não queria que ele pensasse que ela tinha feito isso por escolha, porque não foi. Ela preferia morrer.

Kion se afastou bruscamente, soltando o rosto dela para colocar sua mão na boca, que agora sangrava de maneira horrendo. Quando foi gritar com ela, sua boca foi tomada pelo líquido rubro do próprio sangue e ele engasgou. Laura viu ali a possibilidade mais promissora de se livrar de seu agressor.

Ela lutou com afinco. Mas somente quando algo inusitado aconteceu que ela finalmente conseguiu o que tanto queria. Uma flecha prateada se finca ao braço esquerdo de Kion, tão de repente de que ele quase não se deu conta, pelo menos até que uma agonizante dor se espalha por toda a extensão de seu braço, desestabilizando-o. Laura não ousou parar para pensar de onde o projétil veio, sequer se deu conta de como aquilo era estranho, de como isso sequer se encaixava no contexto de toda aquela situação. A única coisa que sentiu foi gratidão. Pois assim, ela pode livrar suas mãos e acotovelou violentamente o rosto de seu agressor.

—Você está morto, Kion, você só não sabe disso ainda -rosnou ela, segurando o colarinho do feiticeiro e obrigando-o a se apoiar no braço recém-ferido pela flecha prateada. Um vento forte soprou no local, a flecha se desfez como se virasse cinzas ao vento, mas o grave ferimento ali permaneceu, assim como a dor que Kion sentia, do ombro à ponta dos dedos. Mas ninguém viu isso.

—Laura… -Murmurou Kion, um segundo antes dela cerrar os dentes, acotovelar o braço ferido dele e o empurrar com violência. Então, o que aconteceu em seguida, foi rápido demais!

Kion sentiu que iria perder, mas se recusava a cair sozinho. Assim, ele segurou o braço e a cintura de Laura. Os dois rolaram, telhado abaixo e na beirada do telhado, que ainda estava íngreme e muito congelado, não havia nada que os detessem a cair em queda.

E foi o que aconteceu.

Laura e Kion atingiram a beirada do telhado muito rápido, deixando um grande rastro de sangue e neve espalhados pelo local e como um queria a queda do outro, ambos caíram, ainda lutando. Atingir o chão era a única coisa líquida e certa na mente de ambos e o chão? O chão estava logo ali, a poucos segundos do impacto e de braços abertos para eles.

Laura estava pronta para se estatelar no chão. Depois do que Kion lhe fez, uma morte por queda de repente lhe pareceu muito mais agradável e digna. Mas no meio da queda, surgindo do nada, literalmente, uma espécie de rede prateada, brilhante, como se estivesse sendo iluminada por uma luz lunar… ou como se a própria rede foi feita da luz da lua, surge entre Laura e Kion. Essa rede, muito semelhante à uma rede de pesca, se duplicou, separando-os. Como se tivesse sido pescada em pleno ar, a rede envolveu Laura e impediu sua queda. Confusa, Laura tentou entender o que estava acontecendo, tentou se equilibrar dentro da rede prateada, e ainda tentou olhar por entre os espaços nos fios. O que viu era muito louco, até para ela.

Um homem estava flutuando no ar, um pouco mais de três metros acima da cabeça dela. Ele tinha cabelos rubros como o fogo, mas seus olhos eram prata pura, sua pele tinha um aspecto cinzento e suas roupas, que ainda era um uniforme policial da Scotland Yard, ao invés de ser na tradicional cor azul escura, agora eram prateadas, como se fossem feitas da luz da própria lua cheia.

Ela viu Andrew Lupin brilhar como a lua em sua fase mais bela e dizer, apontando para Kion, que estava preso em sua própria rede, com a voz mais potente que ela já ouvira:

—Já brincou de mais com estas crianças, Kion Damien, feiticeiro, desonrado e sem clã! Mas agora, eu quero ver como você lida com alguém do seu tamanho!

Com isso, o único pensamento coerente na mente de Laura e de muitos que viam aquilo foi:

“Mas que droga está acontecendo aqui?!”

§

 

Nathan Crawford

 

Existem algumas situações na vida que simplesmente não conseguimos lidar, quando vemos algum dos nossos maiores pesadelos se tornar realidade, cerramos a mandíbula, franzimos o cenho, fechamos nossos punhos e nos seguramos para não surtar. O problema de quem vive situações nada convencionais é que somos obrigados a encarar de frente esses pesadelos e ainda fingir que somos fortes o suficiente para encarar a coisa toda de cabeça erguida.

Eu vivi inúmeras situações assim em toda a minha vida, uma pior que a outra. Meus pais eram um pesadelo; meu irmão Elliote é um cara muito legal e reconquistou sua felicidade muito antes de mim, mas, por Deus, tinha dias que a felicidade dele era insuportável. Lutei por meses a fio para conquistar meu lugar, tanto em Londres quanto em Nárnia. Até conquistar o título de “Lorde de Calormânia” passei, quase que literalmente, pelo inferno. Sei que Blaser, o atual rei da Calormânia não sofreu menos.

Mas só Aslam sabe o quanto eu lutei.

Anne Kirke, uma amiga que salvei em Nárnia suportou as mesmas coisas que eu, e talvez até mais, apenas por ser mulher; eu respeitava Anne, ela tinha muita garra e determinação, tornou-se uma aliada inestimável na tomada da Calormânia. Eu me tornei amigo de Anne, nunca tive nenhum interesse amoroso nela, se deseja mesmo saber, mas tive de a salvar de ser agredida por malditos mercenários, arriscando a minha vida, mas consegui fazer com que escapássemos. É uma longa história, mas me lembrei de Anne agora. Me lembrei dela porque também me lembrei do ódio que senti quando a vi sendo ameaçada por homens com o dobro do tamanho dela, que diziam coisas sujas e nojentas de mais, nada honrável, lembro que eu pensei em Pedro Pevensie, que era apaixonado por Anne, e naquele momento eu soube que eu teria de proteger Anne dali em diante, por Pedro.

Eu me coloquei no lugar de Pedro, imaginei como seria se Laura estivesse sendo abusada e eu estivesse longe demais para impedir. Por isso, salvei Anne.

E agora, você deve estar se perguntando porque eu estou contando isso agora...

Bem, Laura deixou minha vida por muitos anos e, agora que eu estou conseguindo reconquistá-la, me aparece um sujeito querendo a tirar de mim! Quando eu vejo aquele filho da p*** lutando com Laura, agarrando-a contra sua vontade e forçando sua boca contra a dela, o ódio me tomou, a fúria me cegou e tudo o que eu queria era a morte daquele desgraçado! Se eu já tinha ficado tomado de ódio por Anne, que era apenas minha amiga, eu não quero nem descrever como estou ao ver Laura sofrendo.

Mesmo um pouco zonzo, devido à queda que tive pouco tempo antes, onde bati com a cabeça no asfalto congelado, eu conseguia compreender muito bem o que ali estava se passando e, por isso, a impotência de não ter como subir naquele telhado e salvar minha princesa, me sufocou. Meus dedos envolveram a estátua de ferro em minha mão até que os nós dos dedos ficassem doloridos. Esta era, sem dúvida alguma, uma das situações em minha vida com a qual eu não consigo lidar, não aqui, não agora.

Tomado pelo ódio, berrei, avançando em direção à casa onde Laura estava sobre o telhado:

—SEU DESGRAÇADO! SOLTA ELA!!!

—LAURA! –Ouço a voz de Luana gritar, logo atrás de mim, sua voz estava tomada pelo pânico.

—Pelo amor de Deus, como vamos tirar ela de lá? –Rugiu Victor. Cerro os dentes, tentando pensar uma maneira de subir até lá e matar o feiticeiro com minhas próprias mãos.

—E se tentarmos falar com os donos da casa, talvez consigamos subir ao telhado pelo alçapão... –Disse Bernard Evans, que, pelo que eu sabia, era um velho amigo da família Pevensie e ainda era o mentor de estágio de Laura. Olho para ele, pronto para concordar com essa ideia, mas então vejo que Bernard estava olhando para o tio de Luana. Andrew Lupim encarava serio o telhado daquela casa com muita atenção, como se estivesse tentando decidir algo importante.

—Eu sabia que um dia esse momento iria chegar –diz Andrew, irritantemente enigmático. Me virei para ele, para gritar “que droga isso quer dizer, cara?!”, quando o homem ruivo caminhou até mim e Victor, e disse, para que somente nós ouvíssemos: -Quando estiverem em Nárnia, digam a Luana que, “HOJE, O SOL SE CONSOME”.

Franzi o cenho, confuso, mas foi Victor que fala:

—O quê? Que raios isso significa?

—Vocês logo vão compreender –Andrew riu. Eu o olhei como se fosse louco, mas quem sou eu, afinal, para falar alguma coisa? O homem ruivo então fica sério e se volta para de volta a casa, avança alguns passos decididos à nossa frente.

—Pai... quero dizer, tio? –Luana hesitou. -O que vai fazer?

Andrew a olhou e sorriu:

—Veja e aprenda, minha menina. –Ele ergueu os braços, como se suplicasse algo para os ceús, fechando os olhos, clama em alto e bom som: -QUE A LUA CHORE ESTA NOITE!

Do nada, ele abre os olhos; um raio de luz prateada sai de ambos os olhos de Andrew e ele começa a reluzir num tom prateado, como se ele fosse a própria lua. A energia que o envolveu era pura, viva e era a força mais poderosa que vi, depois do poder de Aslam, é claro. Imediatamente, eu, Bernard, Victor e Luana recuamos, de olhos arregalados e quase sem acreditar.

—Meu Deus! TIO! O que é isso?! O que está acontecendo?! –Luana gagueja, sem nem menos saber direito o que falar.

Mas Andrew não pareceu ouvi-la. O poder que ele emanava parecia produzir um som de raios numa noite de tempestades, as roupas de policial dele tornaram-se prata, e pele dele, acinzentada e os cabelos dele eram de um rubro tão forte que parecia fogo de verdade. E para tornar a coisa mais inacreditável, ele simplesmente dá um passo para trás e um arco de prata surge, do nada em sua mão, uma flecha da mesma cor lunar surge em sua outra mão. Colocando a flecha no arco, Andrew aponta para o alto, em direção ao topo do telhado onde Laura ainda lutava para se desvencilhar do feiticeiro. Antes mesmo que eu compreendesse o que ele a fazer, o tio de Luana solta a flecha e, com a mira perfeita, atinge o braço do filho da p*** daquele feiticeiro, dando a Laura a chance de se livrar de quem a agredia. Com orgulho, vi Laura acotovelando o braço ferido daquele verme e o empurrar com violência. Então, o que aconteceu em seguida, foi rápido demais!

Aquele verme se recusava a cair sozinho. Assim, ele segurou o braço e a cintura de Laura. Os dois rolaram, telhado abaixo e na beirada do telhado, que ainda estava íngreme e muito congelado, não havia nada que os detessem a cair em queda. E foi o que aconteceu. Nesse momento, sinto meu estomago congelar e meu coração vir parar na garganta.

—NÃO! LAURAAA!!!!! –Berrei, correndo para perto da casa, antes que Luana ou Victor me impedissem, com a insana ideia de conseguir pegá-la no ar, antes que Laura se estatelasse no chão. Mas ela não caiu, nem o feiticeiro. Confuso, olho para cima e os vejo sendo capturados por uma espécie de rede prateada, sendo separados. Andrew já não estava no chão, mas sim flutuando no ar como se isso não fosse nada de mais.

Afastando Laura do feiticeiro, Andrew olhava com um ar sério para a rede do agressor de Laura e diz:

—Já brincou de mais com estas crianças, Kion Damien, feiticeiro, desonrado e sem clã! Mas agora, eu quero ver como você lida com alguém do seu tamanho!

Quase não acreditei no que eu via. Andrew se voltou para a rede onde Laura estava e, com um gesto de mão, fez com que ela descesse lentamente até mim. Quando estico os braços e alcanço-a, envolvendo as pernas e a cintura de Laura, a rede de prata sumiu, como poeira sendo levada ao vento. Quando vejo seus olhos cansados e confusos sobre mim, mesmo com todos os ferimentos espalhados por sua face, vê-la segura em meus braços foi um enorme alívio, o maior que eu senti em muito tempo.

—Nathan –sorri ela, aliviada em me vez, mas seus lábios estavam tingidos de sangue.

—Meu Deus, Laura, o que aquele monstro fez com você?! –Digo, colocando-a de pé, ainda que ela ainda apoiasse seu peso em mim, hesitante, ergo minha mão livre e tento tocar o lábio inferior dela. Ela riu baixinho.

—Não foi pior do que eu fiz com ele. E esse sangue em minha boca não é meu, só para constar...

 

 


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