A Herdeira do Quarto Trono escrita por R31


Capítulo 16
Lealdade, Coragem, Desprezo


Notas iniciais do capítulo

Olá! Olha eu aqui de novo ^^



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“Tanta coragem…

Tanta lealdade…

Tanto... Desprezo.”

Jogos Vorazes - Em Chamas

(Lionsgate, 2013)



—NÃO! ISSO JÁ É GOLPE BAIXO! -O grito de Laura se elevou sobre todos os sons de guerra ao redor, criando distrações de milésimos segundos, tanto para os seres humanos quanto para os seres feitos de fumaça. Tal distração abriu diversas brechas para quedas e triunfos de ambos os lados.

—Não! Laura! -Gritou Bernard, sentindo o coração batendo tão forte parecia que ia sair-lhe pela garganta. O homem correu, quase que às cegas, pelo local, tentando acompanhar o pássaro enorme, mesmo em solo.

—Bernard, não! -Gritou Andrew, correndo atrás de Ben, quando o alcançou, Andrew tentou o imobilizar no chão, mas Bernard conseguiu se livrar de seu amigo com facilidade, voltando à se levantar novamente. Ofegante, Andrew exclamou, antes de se levantar também, com dificuldade. -O que pensa que está fazendo?! Você quer morrer?! Não pode ir atrás daquela menina sozinho!

—Eu prometi à família Pevensie que cuidaria de Laura! Se algo acontecer à ela à ela, eu nunca vou me perdoar! -Bernard diz, zangado, empurrando Andrew. Em seu interior, promessa sempre se seguia da frase “Eu já perdi Lúcia, já perdi Edmundo e Pedro, que eram meus amigos, não vou perder Laura também!”

—Está bem, então deixe-me ir contigo! -Exclamou Andrew, antes que Luana chegasse até eles e, puxando-os pelos braços, ela disse:

—Tio Andrew, senhor Bernard, vamos, para achar Laura e a salvar, temos de achar Victor e Nathan! Temos de achá-los primeiro!

A garota os puxou para correrem na direção da casa de Laura e, enquanto eles procuravam pelos meninos, Luana, Bernard e Andrew tiveram de abater inúmeros animais e aves de fumaça pelo caminho.

Foi uma tarefa um tanto quanto difícil. A falta de luz e a confusão que estava por todos os lados os deixaram perdidos por alguns momentos, era mais fácil deixar se guiar pela audição que com os olhos, pois logo adiante da casa de Laura, era possível ouvir Nathan e Victor conversando, ainda que aos berros, já que cada um enfrenta hordas furiosas de animais.

—Dá para perceber que essa bicharada nos ama mesmo, já que eles não largam do nosso pé- dizia Nathan para Victor, um cobria a retaguarda do outro. Apesar de Nathan preferir manejar um sabre ou uma espada, ele não tinha muito do que reclamar, sendo que a estátua em sua mão cumpria bem seu papel.

Tanto ele quanto Victor estavam brandindo suas estátuas com se fossem as espadas mais letais que já existiram. E realmente eram, para as sombras que os atacavam.

Victor, já muito cansado dessa situação fez uma careta, ao partir um tigre-de-bengalas ao meio.

—Eu não faço ideia de onde você tira tanto humor numa situação dessas, cara... -Diz Victor, rangendo os dentes. -Eu já estou ficando farto dessas coisas!

—Argh, sei lá. Acho que já estou ficando meio acostumado com essas coisas… -Disse Nathan, inclinando seu tronco para trás, escapando por pouco do ataque de um lobo selvagem.

—Acostumado?! -Victor exclama, surpreso. Então juntos, eles trabalham para acabar com o lobo, com golpes fatais, para o lobo, é claro. -Como é que você pôde estar acostumado com isso?! Eu to me segurando para não jogar a toalha e pedir rendição!

—Qual é cara! Você é muito melhor do que isso! Para com essa história! -Nathan diz, olhando para seu amigo, quase sem acreditar em seus ouvidos. Nathan segura o ombro de Victor e o sacode com força e raiva. -Pensa nos seus pais! Na sua irmã caçula! Pense em Luana! Se não acabarmos com isso, quem o fará? Quem irá salvar a Inglaterra?! Essa guerra é nossa! E somos nós quem iremos acabar com ela! Eu já enfrentei coisa muito pior nessa vida, cara, isso chega à ser fácil, comparado ao que eu já passei!

—Como o que, por exemplo?

—Se sairmos daqui vivos, eu conto-lhe tudo! Agora, força cara! -Gritou Nathan, Victor o encara por um mínimo segundo antes de assentir com a cabeça, deixando claro que havia compreendido o recado. -Ótimo. Agora vamos acabar com esses idiotas... -Sorrindo de forma assustadora, Nathan se virou ergueu sua estátua em posição de ataque, erguendo sua mão acima da cabeça e articulando os joelhos, exatamente com havia aprendido em suas aulas e torneios de esgrima.

O moreno brandiu sua estátua, chamando os inimigos para o combate. Nisso, uma onça partiu para cima do rapaz.

—Hangar! -Exclamou Nathan, como se isso fosse um torneio de esgrima, mas ali não havia regras, não existia contagem de pontos ou códigos de conduta. Ali valia absolutamente tudo. Usando golpes que seu treinador ficaria desconcertado em ver, já que eram raros, letais e proibidos na modalidade esportiva, Nathan sabia muito bem o que fazer e a cada criatura derrubada alimentava a autoconfiança dele, vale sempre lembrar que se não fosse a universidade de direito, Nathan teria se tornado esgrimista profissional, apto para competir nas Olimpíadas.

No entanto, por mais que Nathan estivesse se saindo bem, com a ajuda de Victor e tudo mais, havia algo que o perturbava, que era o fato dele ter perdido o feiticeiro misterioso de vista. E isso aconteceu a pouco mais de meia hora. Irritava não saber onde seu maior inimigo no local estava ou não fazendo, criando uma sensação constante e paranóica de ser atacado pelas costas à qualquer momento.

Num dado momento, um grito feminino e agudo se elevou no local. Quando olhou para cima, por um momento, ele viu Laura sacudindo as pernas e braços no ar, o brilho da lanterna se agitava freneticamente, sem controle. Um frio desceu pela espinha do rapaz, pois ele bem sabia o medo que ela sentia de grandes alturas.

—Não! Lauraaaaa! -Gritou o rapaz, ele ia seguir o pássaro gigante que estava levando sua garota, quando várias feras se colocaram em seu caminho. Instantaneamente, ele se deu conta de que isso era parte do plano do feiticeiro. Dividir e conquistar.

Fosse qual fosse o lugar onde o pássaro com Laura presa em suas garras ia, certamente levaria até o misterioso inimigo deles.

—Saiam do meu caminho! Agora! -Rugiu Nathan, para as criaturas que barraram seu caminho, e tais seres pareciam ter entendido bem o que ele disse, mas fizeram exatamente o contrário. Eles se aproximaram ainda mais de Nathan, que mantinha a guarda alta. Nathan cerrou os dentes, furioso. -Não digam que eu não avisei.

Com um rosnado de guerra, Nathan se lançou contra as feras, apunhalado, chutando, deferindo até mesmo socos, ele levou vários arranhões, quase foi mordido diversas vezes e, quando a última fera que ele enfrentava lançou-se sobre o rapaz, derrubando-o de costas no chão, Nathan acabou batendo a cabeça no asfalto congelado, o que causou nele tontura, por um momento, a cabeça de Nathan girou, ficando, assim, indefeso.

A fera que o derrubou adquiriu um brilho sombrio de satisfação em seu olhar, uma língua escura passou pelos dentes da criatura, como se ele se deleitasse ao ver a queda de seu maior inimigo. A fera ergueu sua pata dianteira, pronta para rasgar a garganta de Nathan, tomando impulso, ela desceu a pata, com garras para fora quando uma estátua retorcida a impediu.

Victor agiu por puro reflexo, em milésimos de segundos que significaram a vida de Nathan.

Um som quase primitivo saia da garganta do loiro, fúria e medo se misturavam dentro dele, e ao brandir sua espada para acabar com a fera que quase matara seu melhor amigo, com golpes rápidos e pesados sobre a criatura que logo desaparecia no ar, Victor se deu conta de que Nathan estava certo. Essa guerra era deles.

O próprio Victor não havia prometido proteger Nathan e vice-versa? A raiva de si mesmo queimou dentro si. Jamais poderia voltar a pensar em deixar seu cansaço derrubar-lhe.

Assim que Nathan recuperou o foco de sua visão, um grunhido de dor saiu de sua garganta, mas pelo menos, a fera havia sumido e no lugar dela estava seu melhor amigo, oferecendo-lhe a mão e ajudando-o a levantar. Gesto que o moreno aceitou de bom grado.

—Valeu, cara. -Disse Nathan, tendo dificuldades de manter o equilíbrio. A cabeça de Nathan latejou no local onde ela colidiu contra o chão. -Argh, fera desgraçada… -Arquejou ele, levando a mão livre até o local dolorido e ele sentiu seu corpo tenso ao sentir um líquido quente na palma de sua mão. Com um grande xingamento, ele percebeu que sua cabeça estava sangrando.

—De nada velho, mas você está bem? -Perguntou Victor, um segundo antes de derrubar mais algumas criaturas.

—Estou, só… Só me dá um minuto… eu bati a cabeça e agora… ela está sangrando… -Diz Nathan, tentando se recuperar.

—Criaturas idiotas… -Grunhiu Victor, brandindo sua estátua contra um gato selvagem, antes de se voltar para Nathan novamente. -Você não vai morrer, vai? Eu ainda quero saber porque você nunca me contou que é casado com a Laura…

—Eu não me casei com Laura! -Diz o moreno, cerrando os dentes. Ele estava com a cabeça latejando e Victor escolheu justo esse momento para fazer uma pergunta como essa?!

—Mas o lunático disse…

—O “lunático” diz ter vindo do futuro, eu acredito nisso, mas ele podia muito bem estar inventando qualquer coisa sobre o futuro, inclusive um casamento, para fazer com que nós ficássemos confusos ainda mais. Eu já estive em Nárnia, é um lugar real, mas Laura disse a verdade, ela nunca foi, e se só agora começamos a nos entender novamente...

—Então, e se for verdade?

—Eu não sei, cara! Eu não sei, eu nunca estive nesse tal futuro para saber.

Nathan não sabia bem o que pensar sobre isso, afinal, havia sido pego de surpresa tanto quanto Laura. O moreno não gostava dos contos clichês de princesas, essa coisa de destino traçado sem que você tenha alguma escolha e tudo mais, sabia que a realidade era dura e fria, viu muitos exemplos disso em sua adolescência, seus pais eram o maior exemplo disso. Um estranho misterioso aparecer justo neste dia, falando de coisas futuras, coisas que talvez ele desejasse em seu interior, o incomodava, muito. Porque se não for verdade, ele não sabe que tipo de pessoa ele será no futuro.

E quem seria Nathan Crawford no futuro?

Sem Laura, ele seria alguém melhor ou pior? Ele tinha medo de descobrir tal resposta.

—Argh, que confusão! -Grunhiu Victor.

—Droga de lógica de espaço-tempo embaraçada, não faz o menor sentido… -Resmungou Nathan.

—Lógica de espaço-temp…? O que é isso?

—Algum dia eu ainda descubro e depois eu lhe conto…

Pela primeira vez em várias horas, Victor finamente achou algo que lhe arrancasse alguma risada.

—O que raios vocês fazem aí, parados e rindo como tontos? Laura foi raptada! -A voz de Luana chegou até eles e Nathan grunhiu.

—Luana, minha cara colega de universidade, aí vai um conselho: saiba de toda a história antes de nos julgar, sim? -Nathan diz, irritado, mas forçando uma voz mais parecida com a de um lorde fajuto de um filme ruim dos anos 60. -E quem são os cavalheiros que a acompanham?

—Por que você está falando assim? -Disse Victor para Nathan, segurando um riso, e Luana ficou furiosa. Andrew e Bernard olharam descrentes para Victor e Nathan, dois sujeitos de 20 anos imundos de sangue e suor e com estátuas nas mãos, e um deles parecia desnorteado como um bebum de universidade… Realmente, uma companhia masculina muito encorajadora para as damas que os mais velhos tanto queriam proteger...

—Não faço ideia. -Respondeu Nathan. -Acho que o corte em minha cabeça está sangrando ainda...

 

§

 

Os pés e os braços de Laura não conseguiam parar quietos, por mais que ela sentisse o sangue congelado em suas veias. O ar ali de cima era muito mais congelante que em solo, congelado também sua voz. Ela fechou os olhos com a mesma força com a qual ela fechou seus dedos entorno da lanterna, como se esta fosse a única coisa capaz de salvá-la. O medo fez com que cada músculo de Laura travasse e se retesou-se de pavor.

Ela bem que desejou lançar o brilho da lanterna nas garras da águia gigante e na própria criatura, no entanto, quando este pensamento lhe ocorreu, ela já estava numa altura que sobressai o helicóptero, que estava ocupado demais em metralhar as criaturas de fumaça em solo sem atingir a polícia local para notar uma jovem sendo levada daquela confusão toda por uma águia gigante.

Se Laura mirasse o brilho na águia naquele momento, estaria se auto condenando à uma morte horrível por queda… Bom, isso se águia não estivesse planejando soltá-la daquela mesma altura.

Laura engoliu em seco, apavorada com isso possibilidade.

“Nem para Nárnia eu fui e já tem gente querendo me matar?!”, pensou ela, com um pontada de indignação.

—Você vai me matar com a droga de uma queda ridícula?! -Grita ela, contrariando seu medo e bom senso, furiosa. -É isso?! Então está esperando o quê? Um convite formal por escrito?! ANDA LOGO COM ISSO!

Um pio alto e agudo foi dado à ela como resposta, a águia girou no ar, dando um loop de 380°, arrancando de Laura mais um grito de pavor -e depois vários palavrões, pois a águia havia feito aquilo claramente de propósito. Laura entendeu que a águia a entendia muito bem e que ela era controlada por algo ou alguém.

—Sua ave covarde! Me põe de volta no chão e lutemos de igual para igual! -Gritou a garota para a águia, quando Laura já não sentia mais seu coração tentando saltar-lhe pela garganta. Não deu outra.

A águia, sabendo que já não era mais seguida por terra, nem por Nathan ou pelo tal Bernard, desceu várias centenas de metros e ainda deu um voo rasante no telhado de uma casa que ficava à uma quadra da casa de Laura. Com um pio alto, a ave soltou Laura, ela caiu de uma altura de três metros até cair sobre as telhas íngremes e escorregadias da casa que tinha dois andares e duas chaminés em cada extremidade do telhado. Ao atingir as telhas, Laura logo precisou se segurar no divisor de telhas, para não cair e ainda manter o equilíbrio.

Percebendo que estava inteiramente intacta, Laura finalmente tenta se pôr de pé sobre aquelas telhas congeladas, íngremes e quando ergue seu olhar, ela vê a águia a observando por alguns momentos, da altura da chaminé da casa. A ave, que batia suas asas para se manter estabilizada no ar e em silêncio, de repente pareceu muito misteriosa para Laura. Franzindo o cenho, Laura apertou os dedos ao redor da lanterna, pronta para usar a luz do aparelho na ave caso ela a atacasse. Mas esse momento não veio.

A águia bateu suas asas com cautela, para mais próximo do telhado, ainda analisando a garota com seus olhos enormes.

“O que esse bicho está fazendo?”, questionou-se Laura, incomodada pelo olhar fixado da ave sobre si. De repente a ave se afastou de novo da casa, dando um outro loop no ar, agora mais rápida que uma flecha, no entanto, antes que o giro no ar completasse os 380°, a águia gigante brilhou, em tons de verdes e amarelo. Quando tal brilho desapareceu, a águia havia se tornado um homem e este caiu sobre as telhas da casa onde Laura já estava. Numa queda perfeita, este homem não teve dificuldades em manter-se de pé e com equilíbrio perfeito.

—Pois bem, minha rainha. Façamos do seu jeito então. -Para o terror de Laura, era o próprio feiticeiro que a encarava e sorria-lhe de forma maliciosa e quase insana. Hesitando, Laura dá um passo para trás.

O homem de cabelos loiros e olhos de cor amarelo doentio sorriu, abrindo os braços, como um artista orgulhoso faz ao ter sua obra revelada ao público.

—E então? Antes de começarmos a matança e tudo mais, me diga, gosta do presente que eu montei especialmente para você, Laura? -Disse o feiticeiro, indicando a guerra que acontecia logo abaixo, por toda a extensão da rua.

—Você é louco... -Murmurou Laura, a única coisa coerente que ela conseguiu pensar. No entanto, o feiticeiro não pareceu dar muita importância para o que Laura pensa dele.

—Você já me chamou de coisas piores, majestade…

—Ora, certamente eu deveria ter um motivo muito bom para isso! Olhe só para o que você fez à Londres! Pessoas inocentes morreram por sua causa! Pessoas estão morrendo ali -Laura apontou para a rua abaixo deles- agora mesmo por sua causa também! E por quê? Porque você é um covarde!

Eu sou um covarde?!

—Sim! Ao invés de conversar conosco, tentar mudar o seu futuro, vocês já chegou já matando pessoas até nos encontrar aqui!

—Ora essa! Eu não sou o único covarde aqui! Eu a procurei o dia inteiro, segui a todos os rastros possíveis da magia narniana nesta cidade, mas parece que você e seu precioso Nathan se esconderam, para não terem de encarar minha ira!

—Como poderíamos estar nos escondendo se não sabíamos que estávamos sendo perseguidos?

—Como não sabiam? E essa marca de proteção mágica em sua mão? Acha que eu não notei que Nathan também tem uma na mão dele? Como me explica isso?

Laura olhou para a cicatriz vermelha que atravessava sua mão, surpresa.

—Então é isso que essa coisa em minha mão é? Um marca de proteção?

—O Quê?! Não vai me dizer que você não sabia! Ora! Você está debochando de mim? Pensa que eu sou algum tolo? -O feiticeiro rosnou, furioso.- Pare de fingir que não sabe de nada!

Como Laura poderia explicar à esse homem que a cicatriz simplesmente apareceu em sua mão, do nada? Ou melhor, valia mesmo a pena dar explicações à ele?

O homem deu alguns passos furiosos em direção à Laura e a reação dela foi erguer a lanterna, ligando-a e mirando, de forma defensiva, a luz no feiticeiro, que recuou com um grunhido de dor.

—Fica longe de mim! E eu já disse, eu não sei de nada! Eu nunca mentiria sobre algo assim! E nem mesmo sei o seu nome!

O feiticeiro a encarou, com atenção leu o rosto dela, tentando decidir se acreditava nela ou não. O feiticeiro viu o medo e a determinação no olhar de Laura, percebendo que ela dizia a verdade, ele finalmente se deu conta do grande erro que ele estava a fazer, mas que agora, já era tarde demais para voltar atrás.

—Kion. Meu nome é Kion Damien, ex-lorde de Arquelândia, versado em magia em Galma, ao seu dispor, majestade. -Diz o feiticeiro, Kion, inclinado seu tronco para frente, fazendo uma reverência, e Laura se sentiu estranha diante disso. Pelo que ela podia notar, Arquelândia era mais que um aliado fiel à Nárnia pelas pessoas da luz, era também um ninho de traidores pelas pessoas das trevas. -Você pediu para lutarmos de igual para igual. Será que poderia abaixar essa luz, por gentileza?

—Como vou saber que não irá agir de forma injusta? -Laura diz, sua mão tremeu de cansaço, e seu ombro latejou no local onde as garras do tal Kion, na forma de águia, deixara em seu ombro, mas a raiva, o medo e a vontade de dar um fim nisso mantinham-a firme e forte.

Kion deu ombros.

—E a soltei perto de um telhado, não da altura daquele estranho pássaro de metal… -Diz o homem apontando para o tal pássaro de metal. Laura olhou naquela direção.

—Aquilo é um helicóptero, um meio de transporte aéreo, não é um pássaro. -Explicou Laura, ainda lançando o brilho da lanterna sobre o feiticeiro, que parecia mais humano agora e muito menos poderoso.

—Seu mundo é muito estranho. Cheio de artimanhas e truques. -Grunhiu Kion, sentindo a magia da lanterna sobre si, já ficando irritado.

—Aqui, neste mundo, a magia é um mito. Para boa parte das pessoas, você é só um lunático, elas sequer sabem que Nárnia existe, em outra dimensão paralela à nossa. -Laura deu de ombros, finalmente abaixando a lanterna.- Então é desse jeito que as coisas evoluem por aqui, sem magia. Tecnologia e ciência. Qualquer coisa fora disso é considerado loucura. Mas para minha sorte, eu cresci em meio àqueles que acreditam. Eu acredito, que a partir de hoje, você não vai machucar à mais ninguém.

—Acredita? E como pretende me convencer a não matar você com minhas próprias mãos?

—Eu já tentei. Não deu certo. -Diz Laura, guardando sua lanterna no bolso interno de seu sobretudo. Kion a olhou, surpreso, um segundo antes de abaixar o olhar para o corpo dela.

—Que bom que você percebeu isso, mas ainda assim, é uma pena Laura, porque eu ainda tinha tinha esperanças de tê-la viva para mim…

—Nunca. Nem em todos os mundos, feiticeiro de araque.

—Você selou seu destino, Laura.

—Você selou o seu também Kion, antes mesmo de nos conhecer.

Depois disso, não havia muito mais o que se dizer. Claramente, quando Kion chegou a Inglaterra, já estava decidido a ter sua vingança, e nada do que Laura ou qualquer pessoa diga poderia mudar isso. Os dois se encararam por um segundo, antes de correrem um para o outro, precipitando-se numa luta mortal.

Laura já foi considerada fraca e delicada como uma boneca de porcelana, mas quem disse isso, certamente nunca a viu lutando realmente, ela se sentiu grata pelas aulas de autodefesa que recebeu logo no início da adolescência e juventude. No ensino médio, Laura tinha aulas de krav magá numa academia que ela frequentou com seu pai. Briga de adolescentes não são nada. Aquilo ali era realmente coisa séria e, felizmente, Laura estava preparada para ela.

Se Kion era forte fisicamente, Laura era igualmente rápida, e ele pode ver, mais uma vez, porque Laura foi a escolhida de Aslam para ser a Grande Rainha de Nárnia. Há um ditado em Nárnia que dizia:

 

“Se tua amada lutaste ao teu lado como uma igual, saibas que digna ela és de lutar ao lado de grandes rainhas e reis”.

 

Não rima muito bem, mas todos sabem que isso se devia à grandiosidade dos Grandes Reis e Rainhas do Passado de Cair Paravel.

Como numa dança mortal, lutando um contra o outro, e Contra as telhas íngremes aos seus pés, Kion e Laura, estavam mesmo ao pé da igualdade, ambos estavam feridos e cansados, esgotados e evitando usar artilharia mágica, atacam e se defendiam, golpes rápidos e precisos foram dados, e Laura ainda tinha de saber usar seu tamanho em seu favor. Sendo mais magra, muito menos musculosa e mais baixa que Kion, diversas vezes ela precisou se esquivar e, ao fazer isso, atacar os pontos vulneráveis do corpo de Kion.

Por mais boa lutadora que Laura fosse, Kion não deveria sentir-se orgulhoso de estar lutando contra ela, nenhum homem de honra o faria. Mas a única honra com a qual o feiticeiro se importava era a de remendar o orgulho ferido em seu interior.

Afinal, ele já foi derrubado pela amiga ruiva de Laura, depois por Victor.

Ser derrotado por Laura seria-lhe a gota d'água.

E Laura iria o vencer.

Porque ela era inteligente.

Porque ela era corajosa.

Porque ela era justa.

Porque ela era gentil.

Porque o sangue nobre de Nárnia corria em suas veias.

Foi por isso que, mesmo sem usar magia, ele decidiu usar golpes baixos, mesmo para alguém sem honra.

 

§

 

Um arquejo de dor saiu dos lábios de Laura quando suas costas colidem violentamente contra a coluna da chaminé da casa e o joelho de Kion atinge-lhe o estômago. Arfando, Laura se encolhe de dor, tendo muitas dificuldades em recuperar a postura e mais dificuldades ainda em fingir que aquilo não doeu. A boca dela se abre, Laura pretendia fazer algum comentário sarcástico, como Nathan faz o tempo todo com tanta facilidade, mas desta vez, ela não conseguiu. Tudo o que escapa por seus lábios é uma lamúria baixa de dor, por ela estar reprimindo a vontade de chorar.

—Vamos lá, Laura, a vitoriosa, onde está todo o seu triunfo? Mostre-me! -Questionou Kion, erguendo sua mão, suja com o sangue de Laura, a segurando o rosto dela pela mandíbula, obrigando-a a olhá-lo nos olhos. O rosto de Laura estava pálido, sujo de sangue, suor e fuligens, lágrimas de dor escorriam pelo rosto dela, sem permissão. O cabelo dela estava num estado lastimável, mas não estava pior que todo os restante de Laura.

A resposta de Laura foi cuspir com fúria, toda a saliva e o sangue que estavam em sua boca, como num jato bem na cara de Kion.

—Ora, sua…! Como ousa?! -A reação do feiticeiro foi se esquivar para trás, soltando Laura e limpando na manga de sua blusa a saliva com sangue. Laura se apoiou na pilastra, a dor dominando cada músculo de seu corpo, mas ela sequer conseguiu respirar para ao menos tentar se recompor, quando a mão de Kion voou contra o rosto dela. O tapa soou como num estalo alto e a mulher jovem caiu, sem conseguir se segurar na pilastra da chaminé, nas telhas íngremes e congeladas do telhado.

Ela sentiu um soluço escapar-lhe pelos lábios trêmulos, sua mão tateou as telhas sob seu corpo, o desespero subindo-lhe a garganta. Seus pensamentos estavam um verdadeiro caos, a dor sufoca sua garganta. Fechando os olhos, um único pensamento coerente surgiu em sua mente, ao mesmo tempo que lágrimas quentes escorriam-lhe pelo rosto…

“Aslam, por favor, me ajude!”

Kion, vendo a quase derrotada, riu, de puro deleite.

—Eu vi tanta gente querendo a proteger, desde que a conheci... Seus pais, seus tios, Nathan, Victor, Luana, aquele tal de Bernard... Para quê? Se no fim de tudo isso, você vai morrer sozinha? E nem mesmo para Nárnia você irá? -O homem gargalhou, limpando o próprio queixo, distraidamente. -Laura, Laura, Laura... Seu nome significa "loureiro", "vitoriosa" e "triunfadora", sabia disso? Laura é o feminino de “Lauro” e tem origem no substantivo latim laurus, que significa "loureiro, louro". Estive fazendo minhas pesquisas por estas bandas... -Mais uma risada prepotente sai de Kion. Ele se senta, sobre os calcanhares, perto de Laura, que agora chorava, apoiada nos joelhos e cotovelos. -É um nome muito bonito, combina com você. Mas não acho que ele devia ser usado em você. Não agora. Porque, de “triunfadora”, eu não vejo nada em você agora…

Laura soltou um rugido de guerra, do nada, pegando Kion totalmente de surpresa, ela se ergueu e girou num movimento muito rápido, em suas mãos estavam segurando telhas pesadas, atingindo a face de Kion com a primeira telha, violentamente. Isso fez com que o feiticeiro caísse para trás.

Laura se levantou, cambaleando, e tropeçando nas pernas de Kion, ela caiu de joelhos. Um de seus joelhos atingiu em cheio a virilha do feiticeiro e ele rugiu de dor, xingando Laura com nomes bastante ofensivos, mas que não merecem serem citados, e depois veio uma gargalhada.

Laura percebeu quão desprezível o som da risada debochada dele soava em seus ouvidos.

—Eu sempre soube que um dia você cairia sobre mim de pernas abertas, Laura, mas não achei que seria desse jeito… -Kion gargalhou. Enojada, Laura grunhiu de ódio e tomando impulso, ela atingiu a barriga do feiticeiro, usando seu próprio peso como reforço. Isso finalmente tirou o fôlego de Kion e silenciou a risada dele.

—Pelo amor de Deus, cala essa boca! -Rosnou Laura, furiosa, antes de se levantar e, com força, ela chutou o órgão íntimo que fica entre as pernas de Kion com um pontapé furioso. O feiticeiro soltou um som com a boca que parecia que ele estava morrendo de forma violenta.

Um pouco mais satisfeita com isso, Laura se apoiou na lareira e tentou descer as telhas, para longe de Kion e tentando achar um jeito de sair dali sem ter de se jogar dali de cima. Mas não parecia haver outro meio.

Às costas de Laura, Kion se levantou, pressionando com uma mão o local onde Laura o atingiu entre as pernas, cambaleou um momento, antes de recuperar o equilíbrio e a postura. Frustrado e muito furioso, ele olhou ao seu redor, vendo Laura na beira do telhado, olhando para baixo. Por um momento, ele bem que pensou em usar-se de sua magia para empurrá-la. Mas não o fez, orgulhoso demais para isso. Ele queria que Laura morresse olhando-o diretamente nos olhos, sabendo exatamente quem estava para a matar. Um desejo doentio, movido pela frustração e humilhação.

Se Laura Willians não iria ser dele, então não seria de mais ninguém, muito menos de Nathan Crawford.

—Onde você… pensa… que vai? -Diz Kion, com dificuldades, a dor incomodando-o, ofegante, ele reuniu seu poder e, com ele, uma corda se formou em sua mão com laço articulado. Kion a usou, lançou-a sobre Laura.

Quando Laura deu por si, uma corda caiu sobre si, prendendo seus braços junto ao corpo, algo com o qual ela lutou, em vão. Com um puxão, Kion acaba fazendo Laura cair de costas, sendo arrastada contra sua vontade, para de volta ao feiticeiro. Cerrando os dentes, Kion começa a recolher a corda, Laura se debate, tentando tirar a lanterna do bolso interno de seu sobretudo, mas ela não conseguiu, já que seu cotovelo pretendia a blusa bem no local onde a lanterna poderia ser retirada.

—Não, Deus, de novo não! -Murmurou Laura, tentando achar um jeito de se livrar de Kion, mas não seria entrando em pânico que ela o conseguiria.

 

§

 

—Onde ela está?! DROGA! ONDE ELA ESTÁ?! -Nathan grunhiu, passando a mão em seus cabelos, frustrado. Já fazia quinze minutos que ele perdeu Laura de vista, por causa da fera que o derrubou, desde então, ele e seus demais aliados de batalha (Victor, Luana, Bernard e Andrew) concentravam suas atenções em abater os animais das sombras e achar Laura. Mas até então, nada de Laura.

—Calma Nathan, nós vamos a encontrar. Ela e aquela águia não podem ter ido muito longe! -Argumentou Luana, tirando o suor de seu rosto com a manga de sua jaqueta.

—Olhem os telhados, os postes, as chaminés, ela tem de estar em algum lugar! -Diz Nathan, cerrando os dentes, os nós de seus dedos já estavam brancos de tão forte que sua mão segurava a estátua.

Bernard franze o cenho, fazendo o que Nathan disse, ele olhou para telhados das casas que estavam mais afastadas da residência dos Willians. Com um frio descendo por sua espinha, ele finalmente viu algo sobre um deles, a uma quadra de onde estavam.

—Lá! Ela está lá, lutando com… Um cara! -Bernard apontou para o local onde ele viu Laura lutando contra um sujeito que estava sobre ela. -Ela está lutando contra um homem!

Nathan olhou para a direção para onde Bernard aprontou e, cerrando os dentes para o que viu, Nathan praticamente rosnou, com um olhar assassino:

—Eu mato esse filho da p…!

 

§

 

—Seu desgraçado! Tire essas mãos imundas de mim! -Gritou Laura, enojada, sentindo uma enorme vontade de desaparecer e de matar Kion com suas próprias mãos.

A corda ao redor dos braços de Laura desapareceram quando ela estava aos pés de Kion, mas prevendo que ela logo ia se mover para atacá-lo ou se livrar dele, Kion logo a segurou pelos braços, forçando-a ficar com as costas grudadas nas telhas. Prendendo os braços dela acima de suas cabeças, Kion colocou-se sobre Laura, suas pernas em volta da cintura dela. Assim, por mais que Laura agitasse suas pernas, tentando chutá-lo ou desequilibra-lo, Kion ignorava a resistência de Laura.

—Isso é uma ordem, majestade? -Murmurou ele, com seu rosto muito próximo ao dela. Laura engoliu em seco, tomada pelo terror e  nojo por aquele homem. -Deixe-me contar uma coisa: eu não sou seu súdito. Eu não sigo suas leis, nem mesmo suas ordens.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo!!! ^^



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