Killin' it escrita por Littlefox


Capítulo 3
Quando tudo começou a ficar suspeito (ou não).


Notas iniciais do capítulo

Aaaaaaaa ♥ eu só tenho a agradecer pelos acompanhamentos e pelo comentário maravilhoso que recebi ontem!! Muito obrigada galera, vocês são dez demais!!



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Uma semana.

Uma semana desde que havia se mudado e já havia caído nas graças de todos na vizinhança! Era como se todos estivessem cegos pela beleza e a suposta simpatia do novo morador.Sim, suposta simpatia, porque ele nem trocava meio palavra com ninguém. Eu ser a única pessoa ali que tinha consciência de quem ele realmente era. É claro, ele havia continuava a me tratar com aquela falsa educação e eu retribuía da mesma forma.

O cara mal falava com as pessoas e quando falava eram frases monossilábicas eventualmente acompanhadas por um sorrisinho. Todos achavam isso um charme, o novo mister simpatia! Se eu fizesse isso, todo mundo iria me crucificar!

Pensei irritada vendo o senhor perfeição sair de casa em direção ao seu cedan novinho em folha. Ele ainda teve a audácia de olhar em minha direção e acenar de forma discreta, o que eu retribui com um sorriso forçado. Eu ainda vou descobrir qual é a sua, otário!

— O que você está fazendo?

Estava tão distraida pensando em como desmascara-lo que não notei a aproximação de Ino, o que resultou em um quase ataque cardíaco de minha parte. Praguejei baixinho virando-me para fuzila-la.

— Puta que pariu, Ino! Se quer me matar, um tiro e mais eficaz!

Admito que foi um pouco exagerado de minha parte, mas eu estava muito puta para dar a mínima. A idiota só riu da minha reação, deixando-me ainda mais irritada. Que inferno!

— Eu não tenho culpa se você estava secando ele de novo.

— Eu não estava secando ele!

— Você deveria parar com isso, sabe? – disse fingindo desinteresse fitando as unhas recém pintadas de rosa. – Já está ficando estranho.

— Eu só estava distraída!

— Deu para notar! – deu um sorriso irônico mostrando os dentes perfeitamente brancos e alinhados.

Sabe aquela velha história da menina que era estranha no ensino fundamental mas cresceu e se transformou em uma linda mulher? Pois é, Ino nunca passou por isso. Ela sempre foi extremamente bonita desde pequena, por dentro e por fora. Não é a toa que quando cursamos o ensino médio ela era a personificação da popularidade.

Agora, com seus vinte e sete anos, sua vida profissional bem sucedida e um corpo de dar inveja, ela era um verdadeiro exemplo de mulherão da porra, literalmente.

E eu, bom, eu era uma tábua com uma linda personalidade incompreendida por todos, exceto Ino e Hinata. E agora, tendo a mesma idade que ambas, podia afirmar que nada tinha mudado, a não ser o tamanho da minha testa. Era como se ela tivesse crescido para se tornar uma mulher e eu continuasse uma adolescente espinhenta e mal humorada. Pelo menos, as espinhas tinham acabado!

— Se você continuar me encarando dessa forma vou até pensar que quer algo mais comigo. – sorriu sugestivamente, levantando uma de suas sobrancelhas.

Revirei os olhos contendo a vontade de empurra-la no meio da rua e assisti-la ser atropelada pela SUV que passava naquele momento.

— Você só veio tentar me matar de susto ou realmente tem algo importante para me dizer? – perguntei enquanto pegava as correspondências na caixa de correio. Conta de água, conta de luz, panfleto, panfleto, panfleto, cupom. Opa, cupom!

Sorri encarando o pequeno papel que prometia uma massagem grátis em um dos spas que abriram recentemente na cidade.

— Eu falo assim que você deixar esses papéis de lado e me der a devida atenção que eu mereço.

— Pronto – guardei-os dentro da bolsa e passei a fita-la – Pode falar.

— Não marque nada para essa noite e às oito esteja em minha casa. Hinata disse que está livre e precisamos nos reunir.

Desde que Ino havia desmarcado aquele dia, não tínhamos nos reunido. Hinata precisou resolver alguns problemas na empresa, o que resultou em uma semana de horas extras até tarde da noite. Eu desconfiava que essas horas extras envolviam outro tipo de trabalho, mas só teria certeza hoje a noite, quando ela contasse os detalhes sórdidos sobre sua viagem. Tenho quase certeza que Ino também desconfiava sobre as horas extras que a morena supostamente andava fazendo.

Concordei prontamente, já que estava morrendo de curiosidade e também queria matar a saudade das duas. Fazia tempo que não nos reuniamos daquela forma e aquela era a oportunidade perfeita, já que Sai estava viajando.

— Quer que eu leve alguma coisa?

— Se você conseguir uma daquelas tortas de chocolate da lanchonete, eu não reclamaria. – um grande sorriso surgiu em seu rosto, assim como em toda vez que ela falava naquela bendita torta.

Eu tinha uma teoria em que se ela, por acaso, tivesse que escolher entre seu marido e a torta de chocolate, ela escolheria a torta sem nem ao menos piscar.

— Só isso?

— Sim, do resto eu cuido. – dito isso, começou a se afastar em direção a sua casa, não sem antes gritar: — Não se atrase!

— Vou fazer o possível! 

Pontualidade não era o meu forte, na verdade, nunca tinha sido. Lembro que sempre acabava na detenção por causa de meus diversos atrasos. Não era algo que eu fazia propositalmente, apenas acontecia. Muitas vezes.

Senti o celular vibrando em meu bolso e assim que encarei a tela do aparelho, praguejei.

Não pelo motivo de sua vibração, que havia sido uma mensagem automática da operadora, mas sim por ver que horas eram. Sete e trinta e quatro da manhã. Eu estava trinta e quatro minutos atrasada para abrir a lanchonete. Joguei o celular na bolsa enquanto procurava desengonçadamente a chave do carro dentro da mesma. Depois de alguns minutos de desespero, finalmente as encontrei, entrando no carro o mais rápido de consegui.

Minha consciência me impedia de passar dos setenta quilômetros, era algo que eu havia jurado a mim mesma nunca fazer. Por incrível que pareça, eu me considerava uma boa motorista, contrariando as opiniões de alguns dos meus conhecidos. Eu não era a motorista, mas com certeza dava para o gasto.

Tentei ao máximo manter a calma, mas a sorte não parecia estar em meu favor. Todos os sinais de trânsito do caminho ficavam vermelhos quando eu estava por perto, fazendo-me perder uns bons minutos que eu não tinha. Deus estava testando minha paciência, e naquele teste eu já tinha falhado a muito tempo. Xinguei todos os palavrões possíveis até chegar na lanchonete, onde os funcionários já me esperavam.

Desci do carro com o sorriso mais amarelo que conseguia evitando os olhares indignados que todos ali me direcionavam.

Eu evitava ao máximo me atrasar quando eu tinha que abrir a lanchonete, mas algumas vezes era impossível. Murmurei alguns pedidos de desculpas enquanto destrancava a porta metálica e a empurrava para que todos pudessem passar.

Minha sorte era que segunda-feira não era um dia tão movimentado quanto os outros.

Assim que entrei corri em direção ao fundo da loja, vestindo o avental verde musgo e me colocando a frente do balcão. Cumprimentei a todos com um bom dia, assim que percebi que já estavam menos irritados com meu atraso.

E, perpetuando a maldição da segunda feira, o movimento foi escasso. Ao todo, dois ou três clientes sentados no balcão e um casal em uma das diversas mesas, já era de tarde quando a sineta da porta tocara novamente, avisando-nos que mais um cliente havia chegado.

E de repente, meu dia ficara um pouco menos entediante. Naruto entrava na lanchonete com um sorriso estonteante no rosto, fazendo-me resistir ao impulso de correr para ir abraça-lo. Ele se aproximou rapidamente, sentando em uma das banquetas do outro lado do balcão.

— Café? – perguntei sorrindo e ele logo me acompanhou.

— Café. – concordou animadamente, tamborilando os dedos no metal. Sorri mais uma vez, virando-me para alcançar a jarra na cafeteira atrás de mim. Peguei uma das diversas xícaras brancas posicionadas estrategicamente debaixo do balcão e servi o líquido que ainda fumegava, entregando-a para ele em seguida.

— O que fez você sumir desse jeito? – perguntei observa-o tomar um gole demorado no café recém servido, sem nem ao menos adoça-lo.

— Trabalho, como sempre. Mas sabe que não consigo deixar de vir te ver por muito tempo. Tenho que ter certeza que não vai agredir ninguém, ainda mais com seu pavio curto. Seria péssimo ter que prender minha própria prima. – fez uma careta engraçada quando me viu segurar o riso.

Naruto era meu primo de primeiro grau e, por vivermos na mesma cidade, crescemos muito próximos um do outro. Ele era uma das poucas pessoas em que eu podia confiar cegamente em toda minha vida, e por termos crescido juntos com essa forte ligação, nos tornamos confidentes um do outro.

— Bom, você pode ficar tranquilo. Eu nem ao menos levantei a voz para alguém hoje. – disse com orgulho fingido, arrancando uma pequena risada do mesmo.

— Isso é muito bom. – concordou passando a fitar sua xícara com intensidade. – Soube que Hinata voltou para cidade. – disse com falso desinteresse, subindo o olhar para encarar-me.

Estava demorando!, sorri maliciosa internamente. Naruto sempre fora apaixonado por Hinata, ela o tinha de quatro em um estalar de dedos desde quando estávamos no fim do ensino médio.

O sentimento era recíproco, mas como nenhum dos dois tomou nenhuma iniciativa, Hinata começou a namorar um dos garotos de nossa classe e, bom, acabou com as esperanças de Naruto de uma só vez. Não, ele não havia conseguido supera-la, mesmo afirmando o contrário centenas de vezes. E, algumas vezes, eu duvidava que Hinata também o tivesse superado por completo. Mas os dois eram muito orgulhosos para admitirem o contrário.

— Voltou semana passada, mas mal tivemos tempo para nos vermos. Passou a semana inteira fazendo hora extra... Com Kiba. – disse e pude jurar que por um instante o desgosto ficará estampado em seu rosto. Sorri abertamente por ter conseguido pegá-lo no flagra, ganhando uma carranca de descontentamento em resposta.

Soltara um resmungo virando para encarar a televisão que havia sido ligada em.algum canal aleatório. Virei minhas costas para ele, para que também pudesse assistir o telejornal que estava passando.

“ A jovem de vinte e quatro anos foi encontrada morta na noite de ontem, perto da saída da cidade. Segundo a perícia, a jovem teria sido assassinada há pelo menos dois dias, seu corpo sendo apenas desovado no local onde foi encontrada.

(...) Sumiu na noite de segunda-feira, quando deveria ter voltado para casa após sair do trabalho como assistente de compras. E..."

— Acho que já sei com o que estava ocupado. – murmurei com pesar voltando a encara-lo.

Naruto trabalhava na polícia, era um investigador. Seu trabalho tomava muito de seu tempo. E mais do seu emocional do que deveria. Eram raros esses tipos de caso em nossa cidade, onde as coisas costumavam ser pacatas. Então, quando algo desse feitio surgia, ele não costumava descansar até que tudo estivesse resolvido. Não que se devesse esperar menos de alguém na polícia, mas ele era diferente. Seu estado ficava deplorável, não se alimentava e mal conseguia dormir. Era realmente preocupante e estava prestes a acontecer novamente.

Ele apenas meneou a cabeça, voltando a tomar mais um gole do café, não voltou os olhos a televisão, apenas concentrando em sua xícara, como se fosse algo que merecesse toda sua atenção.

— Já tem algum suspeito? – perguntei apoiando os braços no balcão. Ele nem ao menos se dera o trabalho de levantar o olhar, apenas soltou uma risada sem humor antes que respondesse.

— Sabe que não posso falar de trabalho com você. – disse forçando o divertimento em seu tom. Eu sabia que no fundo, ele estava um caco e em poucos dias isso começaria a transparecer em sua aparência. Soltou um suspiro cansado e começou em um tom baixo. – Eu estava no caso do desaparecimento dela e, agora, no do seu homicídio. É foda. – bagunçou os cabelos em frustração.

— Às vezes, eu acho que você não nasceu para isso. – disse recebendo um olhar confuso do mesmo.

— E o que eu nasci para fazer? – aproximei-me o suficiente para estar com o rosto bem próximo ao seu, como se fosse compartilhar um segredo de estado.

— Você daria um ótimo stripper. – falei o mais séria que consegui, arrancando-lhe uma risada. Sorri junto a ele.

Vê-lo daquela forma me apertava o peito. Ele era como um irmão mais novo para mim, mesmo que fosse três anos mais velho, ele sempre precisaria de cuidados aos meus olhos.

— Você precisa ter cuidado, tudo bem? – disse encarando-me com seriedade. – Seja lá quem for que fez isso com essa garota... Ainda não temos nenhum suspeito, Sakura. Pode ser qualquer um. Não saia sozinha, ainda mais a noite. – assenti com um meio sorriso.

— Sabe, você não precisaria se preocupar se conseguisse uma arma para mim. – disse fingindo desinteresse, “checando” a poeira do balcão com os dedos.

Ele deu uma bela gargalhada, atraindo o olhar de alguns dos poucos clientes presentes. Se tinha uma coisa que ele sabia ser, era ser escandaloso.

— Sabe que para isso você teria que ter posse de arma e nós dois sabemos que você não passaria no teste psicológico.

— Imbecil. – disse rindo. Soltei um falso suspiro pesaroso. – Acho que vou ter que me contentar com meu taco de baseball.

— Se serve de consolo, você se vira muito bem com ele. – piscou com um sorriso de canto, levantando-se da banqueta. Vasculhou seus bolsos impacientemente até que achasse a nota de um dólar, depositando-a em cima do balcão.

— É por conta da casa, chefe. – disse arrastando a nota recém encontrada de volta a sua frente. Ele abriu a boca algumas vezes, como se quisesse arranjar algum argumento válido para me contradizer, mas sabia que no fundo seria em vão.

— Se continuar deste jeito, você vai falir esse lugar. – murmurou emburrado, colocando a nota de volta em seu bolso a contragosto. Apenas sorri, retirado a xícara de sua frente e colocando-me na janela onde retiravamos os pedidos. – Tenha cuidado, está bem?

— Pode não parecer, mas eu consigo me defender muito bem! – murmurei direcionando-lhe uma piscadela. – Caso não se lembre, eu tive aulas de defesa pessoal. – Não era mentira, eu realmente tinha pago as aulas e até aparecido em algumas delas, mas não pelo motivo certo.

Eu tive uma grande queda pelo professor desde a primeira vez que ele apareceu na lanchonete. Conversa vai, conversa vem e ele mencionou que dava aulas de defesa pessoal. Em minha mente, aquela era a oportunidade perfeita para nós nos aproximarmos, então eu me inscrevi em sua classe o mais rápido possível. Eu passava metade do tempo admirando sua beleza e a outra o seu abdômen tanquinho.

Até que um belo dia, eu fui chamada para fazer a demonstração de um golpe com ele. Aquilo foi como o paraíso para mim, até eu me exceder em força e quebrar seu nariz com uma senhora cotovelada. Não preciso falar que eu nunca mais apareci nas aulas, e ele muito menos na lanchonete.

— Você não foi nem em metade das aulas! – É claro que eu havia contado à Naruto sobre aquela situação desastrosa, e ele não mediu esforços para esconder a gargalhada. Ele nunca me deixou esquecer daquilo. Nunca.

Eu ia retrucar em como eu havia sido bem sucedida em quebrar o nariz do professor, mas o toque de seu celular me interrompeu. Talvez tenha sido melhor assim, meu argumento não era lá dos mais fortes.

Vi a tensão tomar conta de seu rosto enquanto ele murmurava que estava a caminho. Encarei-o preocupada e ele apenas sorriu, tentando passar tranquilidade.

— O dever chama! – Dei a volta no balcão e assim que estava em sua frente, joguei meus braços em volta de seu pescoço abraçando-o demoradamente. – Sabe que pode me ligar quando precisar, não é mesmo?

— Sim. – sussurrei separando nossos corpos. – Vou dizer a Hinata que mandou lembranças! – disse com um sorriso malicioso e assisti o rubor tomar conta de suas bochechas. Idiota, ri internamente.

— Sim, faça isso. – murmurou com um pouco de embaraço. Saiu apressado, sem dizer mais nenhuma palavra. O que eu tentava descobrir era se essa pressa toda era pelo telefonema ou para tentar esconder suas bochechas já escarlates.

O dia demorou a passar depois que Naruto se fora, cogitei em fechar a lanchonete mais cedo e voltar para casa mas não seria muito prudente da minha parte.Poucas horas depois, o local ficara vazio.

Estava entediada, já não passava nada de interessante na televisão, Tenten estava ocupada com seu celular e Gaara estava na cozinha, sozinho, como de costume.

Trabalhávamos juntos desde sempre, como uma boa equipe. Gaara era o mais, como posso dizer? Reservado? Talvez seja essa a palavra para descrevê-lo. Reservado. Conversava apenas o essencial, era muito focado no trabalho. Já ouvira muitos comentários maldosos e diversas fofocas sobre sua vida pessoal, ignorando a todos sem nem hesitar. Sabia que ele não era má pessoa, como muitos achavam. Só era bastante reservado, não havia nada de mal com isso, oras!

— Eu não aguento mais! – Tenten esbravejou largando o celular no balcão com mais força do que deveria. Não pude deixar de encará-la um pouco assustada por sua reação, já que ela não costumava fazer esse tipo de coisa. Ao notar que era observada, sorriu sem graça. – Desculpe! – disse em um tom quase inaldivel.

— Não tenho certeza do que o balcão aprontou, mas ele mereceu. – disse segurando o riso da careta que ela fazia. – O que aconteceu?

— Estava discutindo com Neji. – respondeu envergonhada. Neji era seu namorado há, pelo menos, quatro anos. Não eram um casal muito convencional, o típico: os opostos se atraem, mas tinham uma incrível sintonia. Estranho, eu sei. – Está preocupado comigo voltando sozinha para casa de noite, por causa do que aconteceu com essa menina. Quer vir me buscar de agora em diante.

— Ele não está de todo errado, se quer minha opinião. Está perigoso e é sempre bom se prevenir, sabe?

— Eu sei, mas ele me trata como uma criança! Eu sei me defender! – Era como se a conversa com Naruto se repetisse em minha frente, não consegui não sorrir.

— Sei que sabe. Mas é sempre bom ter uma ajuda. – dei de ombros vendo-a olhar para o celular pensativa.

— Foi realmente horrível o que fizeram com essa menina, não é? –perguntou baixinho, olhando para suas mãos. – É tão surreal algo assim acontecer por aqui...

— Eu sei como se sente. – confessei no mesmo tom. – Pode imaginar como os pais dela estão?

— Não sei o que faria se isso acontecesse com alguém da minha família. Acho que perderia o chão. – disse e depois arregalou os olhos olhando em minha direção. – Sakura, me desculpa! Eu não queria...

— Tá tudo bem. – sorri para tranquiliza-la. – Já faz muito tempo.

Ela ficou um pouco desconfortável e antes que pudesse mudar de assunto o celular dela apitou. Ela revirou os olhos, respirou fundo e começou a digitar como uma louca. E lá estava eu, sozinha novamente.

*

Finalmente eu estava pronta para ir embora. O avental já estava pendurado no pequeno e modesto vestiário, o chão estava enseirado, as louças limpas e o caixa fechado. Despedi-me de Gaara com um breve aceno, vendo-o se distanciar rapidamente. Tenten estava do outro lado da rua em uma discussão acalorada com Neji, como sempre. Girei a chave, forçando a maçaneta para baixo por algumas vezes logo depois, certificando que estava realmente fechada e, quando dei-me por satisfeita, caminhei em passadas largas até o carro. Eu estava atrasada, de novo.

Cogitei oferecer carona para os dois, mas eles pareciam tão ocupados vendo quem conseguia gritar mais alto que desisti. Eles não iriam parar de brigar tão cedo e eu não tinha muito tempo sobrando para esperar com que eles acabassem. Manobrei o carro, buzinando quando passei em frente aos dois. Aquilo parecera suficiente para parar com a discussão por alguns segundos.

Peguei o celular para verificar o quão atrasada eu estava, notando as diversas ligações de Ino. É, eu estava ferrada. Minha sorte é que eu não havia esquecido a maldita torta de chocolate. Digitei uma mensagem avisando que já estava a caminho, alternando minha atenção entre o celular e a estrada. Eu sabia que o que eu estava fazendo era muito errado, mas eu estava andando a quarenta quilômetros, tinha certeza que não é suficiente para causar algum dano. Mesmo com aquela voz em minha cabeça dizendo-me para largar o celular e focar minha total atenção na estrada, se não por mim, por respeito à memória deles.

À memória deles. Não parecia que já estava prestes a completar três anos desde que se foram. Dei um sorriso tristeza largando o celular de lado, eu já estava quase no começo da rua, de qualquer forma.

Estacionei na frente da casa de Ino, desliguei o carro e respirei fundo apoiando minha cabeça no volante. Aqueles pensamentos sempre voltavam a me assombrar, principalmente naquela época do ano. A data estava mais próxima do que eu gostaria que estivesse e aquilo mexia com minha mente. Suspirei limpando algumas lágrimas que teimavam em descer por minhas bochechas e olhei meu reflexo pelo retrovisor checando se o rímel não havia escorrido.

Peguei a bolsa e a embalagem de plástico de cima do banco do carona, saindo do carro rezando para não derrubar nada e caminhei até a porta da casa, entrando por ela sem cerimônias. Deixei a bolsa pendurada ao lado da porta, seguindo as risadas femininas até a cozinha, onde encontrei Ino empoleirada na bancada servindo vinho tinto para Hinata, que estava escorada na pia.

— É bom ver que vocês não começaram sem mim! Eu realmente tenho amigas maravilhosas. – ironizei jogando a embalagem de plástico ao lado de Ino. Elas já haviam acabado com mais da metade da garrafa, sem mim!

— Nós esperamos nos primeiros vinte minutos, depois disso é pedir demais! Dane-se você, eu preciso de álcool. – A loira respondeu sorvendo uma boa quantidade de vinho direto da garrafa.

— Credo, porquinha. Isso tudo é a falta de sexo? – alfinetei com um sorriso travesso, recebendo um dedo do meio em resposta.

— Eu te trouxe torta de chocolate e é isso que eu ganho. Ingratidão é uma droga. – Roubei a garrafa de suas mãos, dando um belo gole antes de ir cumprimentar Hinata com um abraço apertado.

— Então, por que demorou tanto? – Hinata perguntou, passando o braço direito por meus ombros, virando seu rosto para prestar atenção em minha resposta.

— Eu tava quase pensando que aquele maníaco tinha te pegado. Estava quase ligando para Naruto para avisar do seu desaparecimento. – disse, ou pelo menos, foi o que eu entendi, já que ela estava com a boca cheia de torta chocolate.

— Não brinque com essas coisas, Ino! – Hinata ralhou lançando-lhe um olhar de reprovação. – E limpa essa boca, parece uma criança comendo!

— Eu não estou brincando! Além do mais, foi ideia sua ligar para Naruto. – disse debochada, lançando um olhar malicioso para Hinata. – Só não sei se era preocupação com a testuda, ou para matar as saudades da sua paixonite de escola. –

Mal terminou de falar e Hinata já engasgava com o líquido que acabara de colocar em sua boca. As bochechas logo sendo tingidas de escarlate enquanto buscava desesperadamente por ar.

— Não seja ridícula! – a morena retrucou, com a voz falha e a respiração ainda irregular pela crise de tosse de alguns momentos atrás.

— Falando no diabo... – resolvi intervir e botar ainda mais lenha na fogueira. Fazer o que? Aquela era uma ótima oportunidade. – Ele perguntou de você hoje... Até sabia que já tinha voltado para cidade.

— Ah, perguntou? – fingiu desinteresse, encarando a taça em sua frente. – Tem tempo desde a última vez que nos falamos. – deu de ombros, caminhando até a geladeira e voltando de lá com mais duas garrafas de vinho ainda fechadas. Alguém estava preparada para deixar todo mundo de porre, não é?

— Sabe, eu acho que vocês deveriam parar de perder tempo. – Ino se intrometeu na conversa novamente, lambendo os dedos sujos de chocolate. – É óbvio que vocês dois querem ser mais que amiguinhos, a tensão sexual de vocês quando estão juntos é tão densa que podemos cortar com uma faca. – finalizou e eu acenei concordando. – Só não ganham da Sakura com o vizinho novo. – É verdade...Pera.
Quê?

— Não tem absolutamente nada entre mim e aquele cara esquisito! – garanti, arrancando a garrafa das mãos da loira. Ela já havia bebido mais do que deveria. – E, definitivamente, não vai ter!

— Ele não é esquisito, ele é gostoso! – disse, fazendo questão de enfatizar a última palavra.

— Dá para ele então, porra! – respondi mais grosseira do que deveria, atraindo olhares surpresos das duas.

— Eu não posso, energúmena! Eu sou casada! – disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, levantando a mão para mostrar a aliança. Nos encaramos por alguns segundos, apenas para cair na gargalhada logo depois. Isso com certeza vai soar errado, mas eu adorava a versão bêbada de Ino. – Falando em dar, isso me lembra o porquê estamos reunidas aqui hoje. E aí, Hinata, deu ou não deu?

Eu até havia me esquecido daquele detalhe, finalmente era chegado o momento de saber se Hinatinha finalmente havia conseguido afogar o ganso com o Kiba.

Tanto eu, quanto Ino, encaravamos Hinata com expectativa. O que fez a morena apenas abaixar a cabeça e soltar uma risadinha.

— Vocês deveriam sentar, porque isso vai ser de cair o cu da bunda. – pegou a garrafa de vinho da mesa.

— Aí meu deus! Vocês já vão casar? – Ino perguntara afobada e eu quase perguntei se ela sofria de algum tipo de demência, até lembrar que ela estava bem bêbada.

— Claro que não, lesada. Ela deve ter fodido até o talo, isso sim. – disse encarando a morena maliciosamente. Eu não podia julga-la, se eu estivesse em seu lugar eu faria o mesmo.

— Eu contaria se vocês me deixassem falar! – suspirou derrotada, abraçando a garrafa. Ficamos em silêncio quase que imediatamente após aquela reclamação. Ela suspirou novamente antes de continuar.

— Definitivamente a coisa ficou quente no quarto dele, mas não foi comigo.

— O quê?! – A loira ao meu lado praticamente gritou em descrença. – Para de fazer cu doce e libera o jogo, Hinata!

— Como assim não aconteceu nada? – perguntei no mesmo tom. – Não acredito que você deu bobeira, Hinata!

— Você não sabe o quão decepcio...

— Não consegui nada porque Kiba é gay! – Aquilo pareceu o suficiente para que ficássemos em total silêncio. Ah não! – Posso continuar?

Eu ri. Eu gargalhei até perder todo meu fôlego. Aquilo era tão típico de Hinata que não sei como não percebi antes. Ela tinha um puta dedo podre para relacionamentos amorosos e eu começava a desconfiar que era alguma simpatia feita por Naruto, porque desde o ensino médio nenhum dos relacionamentos de Hinata dava certo.

O problema definitivamente não era ela. Ela era basicamente a mulher perfeita: Bonita, inteligente, era um doce e para fechar o pacote com chave de ouro, era gostosa. Um mulherão de um e sessenta e cinco que só atraia decepção atrás de decepção, mas eu ainda tinha fé que ela ia dar uma chance para Naruto. Nem que eu tivesse que intervir!

Afinal, os dois eram loucos um pelo outro, apenas muito orgulhosos para admitir.

— Ao contrário do que vocês pensam, eu tentei sim dar em cima dele. – disse em um tom acusatório. – No começo foi algo bem sútil, mas que não surtiu nenhum efeito.

Pensei que era por estarmos tão focados em montar a defesa daquele caso. Depois que estava tudo resolvido, eu decidi pegar um pouco mais pesado. Também não funcionou.

— E foi assim que você descobriu que ele era gay? – Ino perguntou com uma expressão confusa em seu rosto. – Pelo amor de Deus, Hinata! Eu te conheço, você mal deve ter dado em cima dele.

— Cala a boca e deixa ela terminar de falar, porca! – esbravejei dando um tapa em seu ombro, ganhando um olhar ressentido da loira.

— Ogra. – murmurou massageando o local onde eu havia desferido o tapa. Eu posso ter usado um pouco mais de força do que deveria, mas ela mereceu.

— Até cheguei a pensar que o problema era eu, mas convenhamos, isso nunca aconteceria. – Eu estou cercada de pessoas humildes!— De qualquer forma, tomei a iniciativa e o chamei para sair na noite depois que ganhamos o caso. Foi um jantar muito agradável, conversamos por muito tempo. E finalmente entramos no assunto que não queria calar, sua vida amorosa. – frisou a última parte. – Eu quis cavar um buraco e me enfiar dentro quando ele me mostrou sua foto com seu noivo que estava como papel de parede do seu celular.

— E o que você fez? – perguntei tentando conter o riso.

— Eu banquei a sonsa né! Fingi que nunca nem ao menos tinha dado em cima dele enquanto pensava em me jogar da janela pela vergonha que estava sentindo. Voltei para o quarto e gastei uma grana com aquelas garrafinhas de bebidas e comédias românticas no paperview. Continuo conversando com ele como se nada tivesse acontecido. É lindo.

— Pobrezinha. – Ino falou com a voz embargada abraçando Hinata. Estava demorando para o estágio bêbada depressiva aparecer!

— O que vocês acham de migrarmos para sala e assistirmos algum filme água com açúcar? – perguntei atraindo a atenção das duas que concordaram prontamente.

— Eu levo o vinho! – A loira mais que depressa se ofereceu, mas eu não ia deixar que ela chegasse perto de qualquer coisa com teor álcoolico pelo resto da noite. Ino era bem fraca para bebidas, na verdade, todas éramos.

— Não, você leva a torta de chocolate e Hinata leva o vinho.

E, ao me distanciar, pude ouvi-la reclamando. Sorri comigo mesma, procurando o controle da televisão entre as almofadas do sofá caramelo da sala de estar. Praguejei ao ouvir um ruído alto de algo de vidro se espatifando na cozinha, seguido de um palavrão de Hinata. Corri até lá o mais rápido que puder, rezando para que nenhuma das duas estivesse machucada, somente para chegar e ver a garrafa de vinho - antes pela metade - espatifada no chão, sujando-o com o líquido escuro. As duas encarando a poça em um estado quase catatônico, provavelmente uma esperando que a outra tomasse partido e começasse a limpar a bagunça recém feita.

Caminhei passando por elas e ajoelhando ao lado dos cacos de vidro, catando-os um por um.

Dado ao estado que nos encontravamos, a possibilidade de alguem se machucar ali era gigantesca. Elas foram para sala adiantar as coisas enquanto eu ficava encarregada da limpeza. Demorou alguns minutos, mas finalmente o chão estava tão limpo quanto antes.

Voltei para sala unicamente para encontra-las vidradas em algo que passava na televisão e, quando vi do que se tratava, meu coração apertou. Era mais uma reportagem sobre o homicídio da garota encontrada perto da saída da cidade. Ao que aparentava, a mídia local estava disposta a fazer a cobertura do caso vinte e quatro horas por dia.

E, pela primeira vez naquele dia, a foto dela surgiu na tela da televisão. Ela sorria descontraída, como se nada pudesse a preocupar naquele momento, aquilo fez meu coração se apertar. E por um instante, pensei em tê-la reconhecido de algum lugar. Ela me parecia tão familiar que mal podia descrever. Talvez fosse sua semelhança física com Ino? Ambas eram loiras, com olhos azuis, magras e tinham a pele clara. Talvez fosse isso.

— Está tarde, meninas – Hinata se manifestou, fazendo com que desviassemos o olhar da televisao para encara-la– Talvez devêssemos adiar a noite de filmes, não acham?

Aquilo fez com que eu voltasse minha atenção para o relógio do outro lado da sala. Puta merda, me fodi! Já passavam das duas da manhã e eu teria que abrir a lanchonete de novo mais tarde.

Ino soltou um muxoxo reclamando sobre como ficaria sozinha, com os olhos começando a marejar novamente. Hinata se ofereceu para dormir ali, já que não trabalharia no dia seguinte. Não sabia se ficava feliz por Ino não ficar sozinha ou preocupada pelas duas estarem bem bêbadas.

Me despedi das duas com um abraço caloroso, estava com saudades de fazer isso. E mesmo que acordasse com o diabo no corpo na manhã seguinte por não ter dormido o suficiente, não me arrependia.

Cheguei em casa, não antes de tropeçar no meio da calçada e quase torcer o tornozelo. Era difícil saber o que culpar daquela vez: minha coordenação motora ou a quantidade exacerbada de álcool que tinha consumido. Entrei em casa, largando a bolsa no sofá e finalmente me livrando dos sapatos que estavam apertando meus dedinhos. Joguei-os por cima do ombro, sem nem me preocupar onde aterrissariam.

Eu poderia, sem problema algum, cair no sofá e dormir por ali. Estava realmente muito tentada a fazer isso mas sabia que minha coluna reclamaria de manhã e como eu já não dormiria o suficiente, não me pareceu uma boa ideia.

Fui até a cozinha, revirando a gaveta em que eu costumava guardar meus remédios na busca por uma cartela de aspirina. Eu era uma pessoa precavida, sabia que acordaria com dor de cabeça e não teria força de vontade para fazer aquilo de manhã. Ah, o poder da ressaca. Suspirei pesarosamente pensando em como acordaria acabada. Se eu fingir que estou doente ninguém poderia me culpar, certo?

Balancei a cabeça tentando espantar aquele pensamento, eu não podia vacilar assim com eles. Apaguei a luz da cozinha, pronta para ir para o quarto e descansar o suficiente para aguentar a rotina que me aguardava mais tarde, ate o movimento na casa ao lado atrair minha atenção. Lá estava Sasuke, fechando as cortinas de sua casa uma a uma, com movimentos meticulosos. Depois Ino ainda tem coragem de me falar que ele não é esquisito.

Mas a pergunta que assombrou-me durante toda a madrugada foi: O que ele estava tentando esconder?


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado do capítulo!! Beijos e até a próxima ♥



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