Na sexta, Nico já havia lido o livro todo. Assim como todas as anotações à lápis que Will havia feito. Gostava do fato de Will ser do tipo que escreve e rabisca os livros. O exemplar de Toda poesia de Nico era todo riscado. Havia partes em que Leminski fazia referências históricas que Nico gostava de anotar. Will era exatamente assim também.

Porém, apenas no sábado a noite, Nico reuniu coragem o suficiente para enviar uma mensagem de texto a Will.

Era perto das nove. Estava sozinho em casa. O pai estava em algum jantar do trabalho. Algo sobre uma ceia de Natal duas semanas adiantada. Nico não tinha muita certeza, mas sabia que era horrível estar sozinho.

Na noite anterior ele não havia usado a lâmina. Estava novamente guardada em uma das gavetas de seu quarto.

Não queria ir até a gaveta, mas sentia vontade.

Era como se faltasse ar para ele.

Precisava respirar.

Mas também não queria.

Foi por isso que, assim que a mensagem foi enviada, Nico ficou com os olhos grudados na tela do celular.

Meia hora depois, se sentiu burro.

Era sábado a noite. Adolescentes normais estariam em alguma festa ou sei lá o quê. Ocupados demais para responder alguém tão ridículo quanto ele.

Will era normal.

Nico subiu as escadas, indo até o quarto.

Abriu a gaveta.

Com Ela na palma da mão, tirou a calça e a deixou em algum canto no chão. Estava frio, mas frio era bom.

Ele foi ao banheiro e ficou lá por muito tempo.

Quando voltou ao quarto, havia três mensagens novas em seu celular.

Sentado na cama, apenas de boxer e blusa de moletom, Nico digitava alguma coisa sobre poesia contemporânea enquanto sentia a carne de sua coxa esquerda arder.

Quando o nome de Will piscou em sua frente, Nico se cobriu com o cobertor, desejando que as feridas não sangrassem novamente.

Naquela noite, Nico pegou no sono com os dedos ardendo de tanto digitar.

Ele não conseguia acreditar que, de fato, estava conversando com Will Solace.

Mesmo que eles basicamente só falassem sobre literatura e Nico sentia que devia calar a boca porque estava incomodando, era uma sensação maravilhosa.