Reencontro escrita por Lucca


Capítulo 36
Capítulo 35 - Parte II: A certeza.


Notas iniciais do capítulo

Pré final. Vamos navegar por águas calmas, mas com emoções intensas. Nosso casal merece, não é mesmo?
Boa leitura.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/755106/chapter/36

Uma chuva de comentários borbulhou pela sala. Todos estavam surpresos e felizes, expressando sua alegria de forma fervorosa. Jane se viu rodeada por essa família que ajudou a formar, foi abraçada e beijada por todos com tanto carinho que foi difícil conter a emoção. Kurt a envolveu pela cintura quando todos terminaram e a guiou até o sofá, sentando-se ao lado dela.

— Quando você disse que ela disse que ela acordou pouco depois da última dose do antídoto, nós quase explodimos de felicidade. – Patterson falou.

— Pensamos que passariam a noite no hospital para completar 24 horas em observação. – Reade comentou

— Os exames mostraram que ela está muito bem e, como estava ansiosa pra vir pra casa, os médicos acharam que não havia motivos para retardar isso. – Kurt não conseguia desfazer o sorriso nem enquanto falava.

— E a visão e a audição? – Tasha questionou e Kurt usou a linguagem de toques que tinham desenvolvido para transmitir a pergunta a Jane.

— Está bem melhor que antes. Eu percebi alguns vultos ao longo do dia. A audição também está voltando. Na verdade, é tudo um emaranhado de sons que não consigo decifrar. Os exames mostraram que o ZIP não é mais um problema, então agora é só esperar meu organismo refazer as sinapses esquecidas que tudo vai voltar ao normal. Tenho que ter paciência por mais um tempo.

A chuva de perguntas começou e parecia que não ia parar mais. Foram 12 dias em coma induzido, primeiro pelo agravamento repentino do caso após o parto e, depois, para receber o antídoto processado a partir das células tronco do cordão umbilical e da placenta. Ninguém tinha certeza se ela seria capaz de acordar novamente, mas naquela manhã, o procedimento demonstrou ter sido um sucesso total.

A empolgação total da família por esse desfecho feliz os impediu de prestar atenção à forma como Jane reagia nesse monto. Ela continuava rígida, esfregando as mãos umas nas outras, enquanto respondia aos amigos. De repente, ela interrompeu uma resposta para dizer aflita:

— Ouviram isso? Foi um choro? Ele está chorando?

Só então todos se deram conta o protagonista daquela cura não estava ali. Jane tentava, desde que chegou, ser empática com os amigos, mas em seu coração só havia um desejo: o reencontro com seu filho. E a mamãe tinha razão. O bebê estava chorando lá em cima. Haviam laços que o coração estabelecia para além das deficiências físicas.

Kurt saltou do sofá e foi buscar o filho. Saltou os degraus da escada dois a dois para encurtar a distância e o tempo. Reunir sua família era urgente, necessário e tudo que ele precisava.

Tasha e Patterson se sentaram ao lado da amiga para dizer o que estava acontecendo e  aproveitaram para segurar a mão e voltar a beijar a amiga. Jane novamente se esforçou em ser gentil com elas, mas nenhum dos seus sentidos estava ali. Seu coração pulsava contando os segundos para conhecer seu filho.

Quando Kurt retornou, o bebê chorava copiosamente. Trêmulo pela emoção, ele se agachou em frente a esposa e, com cuidado, o colocou sobre o peito dela. Com a linguagem de toques, formalizou a apresentação:

— Jane, esse é Benjamim Kruger Weller, nosso Ben. Dei a ele o nome de seu pai.

A sala estava cheia, mas era como se não houvesse mais ninguém além dos três no mundo. O amor que os unia os envolvia numa emoção única que ainda não tinha experimentado antes. Jane se aninhou ao bebê e as lágrimas banharam seu rosto:

— Oi, Ben. Nossa, como seu cheirinho é bom. – beijou a cabecinha do filho - Eu estou aqui. Finalmente estou em casa com você. Senti tanto a sua falta, meu amor...

Tasha e Patterson, que se afastaram para dar espaço à Kurt, se abraçaram dispostas a não evitar as lágrimas. Rich se juntou a elas. Reade, que embalava Miguel, foi disfarçar seu choro virando-se na direção da cozinha.

— E nós sentimos muito a sua falta também, mamãe. – Kurt disse marcando os símbolos que representavam as palavras no braço de Jane enquanto encostava sua testa na dela.

O pequeno Ben foi se acalmando para ouvir a voz da mãe, agarrando-se à roupa dela, e parou de chorar. Na breve pausa que Jane fez, começou a choramingar, mas Jane sentiu o resmungo pela movimentação do filho e disse:

— Shshshshs, está tudo bem agora, amorzinho. – e ele silenciou de novo.

— Por favor, não deixem ela parar de falar nunca mais. Se eu soubesse que bastava colocá-lo no colo dela que ele parava, tinha levado essa criança para o hospital no final dessa manhã. – Rich disse ainda entre lágrimas.

Tasha soltou um riso e se aproximou de Reade dizendo:

— Nós nos esquecemos do quanto ele é parecido com Weller. Lembram como Kurt reagia antes de conhecer Jane? Eu me lembro que naquele dia em que os dois ficaram presos no laboratório da CDA, dei graças ao céu por não estar lá dentro lidando com a irritação dele. O que eu não sabia era o efeito calmante que Jane teria sobre ele. Weller saiu de lá rindo.

— Eu me lembro que nos entreolhamos e tivemos que baixar a cabeça pra disfarçar o riso. – Reade confessou.

Weller sorriu torto:

— O garoto é inteligente como o pai e descobriu o melhor lugar do mundo. – disse sentando-se ao lado de Jane e depositando um beijo no rosto da esposa.

Os amigos não demoraram muito para partir. Era tarde. Estavam cansados e o casal também precisava de privacidade e descanso. Com Jane ali, Ben ficou tão calmo que nenhum deles hesitou em deixá-los a sós. Ela tinha seus meninos totalmente sob controle.

Assim que saíram, o casal subiu para os quartos. Ben parecia dormir profundamente e foi colocado no berço. Então o casal foi para seu próprio quarto. Kurt ajudou Jane a se trocar e a acomodou na cama. Ele já ia saindo, ela segurou seu braço e se sentou novamente puxando-o para um beijo muito mais intenso, carregado de saudade. Nenhum deles teve pressa em interrompe aquele contato tão especial. Precisavam um do outro, precisavam sentir que era real,  que era pra sempre. Sem mais ZIP, sem mais meias verdades ou medos. Eles tinham uma família agora e a felicidade pulsava pedindo aquele momento de entrega:  um beijo que celebrasse o longo e tortuoso caminho que percorreram até aqui; um beijo que celebrasse a paz que sentiam.

Quando finalmente se separaram, ela colocou a mão de Kurt sobre seu coração e sussurrou:

— Eu imagino o quanto foi difícil...

Ele a silenciou colocando o dedo sobre seus lábios, recostou a testa na sua e desenhou os símbolos nas costas de sua mão:

“Não importa. Só o que me importa é você, Ben e a nossa família. Agora descanse.”

— Eu te amo tanto. – ela disse e suspirou com quem entende que as palavras nunca dariam conta de um sentimento tão imenso.

“Eu também te amo, mais que tudo” ele sinalizou para ela e depositou um beijo na sua testa antes de pegar a babá eletrônica e se dirigir ao banheiro.

Jane tentou adormecer, mas estava eufórica demais. A cura, Kurt, Ben... Ben... Ben… O quarto ao lado parecia tão distante. Ela tentou se acomodar melhor na cama, mas sentiu-se cada vez mais aflita. Segundos depois, aquele som do choro do filho quebrou o silêncio que a cercava. Não era como ela se lembrava de choros de bebês. Apesar dela ainda não ser capaz de identificar totalmente o som, estava lá, tão forte e tão doce, chegando aos seus ouvidos ou vindo de seu coração, ela não tinha certeza.

Kurt estava no banho. Ouviria o choro se fosse real e logo estaria lá para Ben. Entretanto, não foi preciso mais que alguns segundos daquilo para ela saber que era irresistível e se por em pé tateando o caminho para o quarto ao lado. Um quartinho que já esteve vazio um dia e que agora guardava algo mais valioso que sua própria vida.

Jane transpôs a distância de forma rápida e fácil. Ela não precisava de seus olhos para seguir seu coração. Ela se aproximou do berço e inalou o cheiro do filho. Depositou suavemente sua mão sobre ele procurando sentir se ele realmente chorava ou se seu desejo de estar junto dele a fez ouvir aquilo que seus ouvidos ainda não eram capazes de decifrar ainda, segundo os médicos. E seus instintos não falharam. Ben chorava. Ela se abaixou, sussurrou garantias no seu ouvido, acariciou suas costinhas, mas ele não parou. Queria o colo para acabar de vez com aquela distância não aprovada.

Por um segundo, ela vacilou. Ainda estava fraca, Kurt não estava por perto. Quando teve o filho nos seus braços na sala ao conhecê-lo, estava sentado no sofá e rodeada de pessoas que amparariam Ben se ela falhasse. Ela respirou fundo e não pensou em mais nada. Tomou o filho nos braços e o acalentou. Após senti-lo mais calmo, pensou que deveria haver uma poltrona por ali. Mas tatear o cômodo com o filho no colo não era uma opção segura. Podiam haver obstáculos. Então, usou o próprio berço como apoio e, lentamente, escorregou até o chão. Mais seguro ali. Se ela falhasse, as chances do filho escapar ileso eram enormes. Mas seus braços se mantiveram firmes segurando o pequeno enquanto ela lhe acalmava com suas palavras.

Pouco depois, Jane sentiu o calor das mãos de Kurt em seus braços, ainda meio úmidas, pelo banho interrompido às pressas diante do choro do filho.

— Eu sei que não devia... Mas ele estava chorando, eu tinha que fazer alguma coisa. – ela disse num tom suave.

— Tudo bem. Sei como é... – Kurt falou espontaneamente, antes de iniciar os toques que transmitiriam sua consideração a ela.

Jane se retraiu ao primeiro toque fazendo-o interromper imediatamente a sequência. Seu rosto se iluminou num sorriso largo.

— Kurt, por favor, fale de novo.

Ele estreitou os olhos querendo entender e disse com a voz carregada de sentimento:

— Eu te amo, Jane.

Ela fechou os olhos:

— Mais uma vez... – seus lábios tremiam de emoção.

— Eu te amo, Jane. Você consegue me ouvir?

— É sua voz... As palavras ainda estão entrecortadas, mas é sua voz, a mesma voz... é tão linda, Kurt!

— Eu te amo e nunca nada vai mudar isso.

— Am...mo. É isso? – e riu – eu também te amo.

Mal terminou de falar e sentiu os lábios do marido sobre os seus, quentes, carinhosos, selando aquele sentimento que nunca nada seria capaz de destruir. Foi breve, mas intenso, marcando mais um momento inesquecível para eles. Depois Kurt se sentou ao seu lado e a abraçou. Ficaram mais um tempo ali até decidirem que era hora de voltar para o quarto do casal. Nesse tempo, Jane já foi capaz de identifcar várias palavras que Kurt pronunciava. Só foi preciso dizê-las mais distanciadas umas das outras.

Ben acompanhou os pais. Kurt contou que o bebê tinha dormido com ele na cama desde o dia em que veio pra casa. Agora era a vez da mamãe ter esse privilégio. Os dois se acomodaram e dormiram em questão de minutos. Kurt buscou a poltrona do quarto e colocou ao lado da cama. Desconfortável? Talvez, mas não havia outro lugar no mundo onde ele quisesse estar.

Após boas horas de sono com apenas duas breves interrupções para alimentar Ben, o dia amanheceu com uma beleza sem igual naquela casa. A audição de Jane estava muito melhor. Os dois já conversavam normalmente. E agora ela também era capaz de distinguir os vultos com muito mais nitidez.

Enquanto tomavam o café da manhã com Ben estranhamente calmo no bebê conforto apenas segurando o dedo da mãe, Kurt ousou introduzir um assunto novo e delicado:

— Você está se sentindo realmente bem?

— Estou ótima, Kurt. Melhor que isso só quando voltar a enxergar e a fazer amor com você. – a malícia no olhar dela não havia mudado.

A frase terminou com os lábios de Kurt já exigindo os dela. Mas o beijo foi curto.

— Eu vou te cobrar isso, prometo. – ele disse. – Jane, tenho mais uma coisa pra te contar. É algo bom. Sei que te surpreenderá bastante. É realmente algo grande. Então, se você achar que precisa mais um tempo para se restabelecer melhor, a gente espera.

— Kurt... – ela suspirou e sorriu ao mesmo tempo, buscando palavras pra explicar – Se eu fui capaz de sobreviver a tudo de ruim que vivi até aqui, não será algo bom que vai me afetar agora.

— Bom. Lembre-se disso. Sua surpresa chega em dez minutos.

Terminaram o café e se sentaram na sala. Pouco depois alguém bateu na porta. Kurt foi abrir. Tasha entrou com Miguel no colo e Roman ao seu lado, bem apreensivo.

— Bom dia. Entrem. Ela está ouvindo e entende quase tudo. É só falar devagar. – Kurt disse sem conseguir disfarçar totalmente sua desconfiança.

— Quem é? – Jane questionou tentando distinguir os vultos.

— Sou eu: Tasha. E trouxe alguém que está louco pra te dar um abraço já tem mais de um ano. – a latina segurou Roman pelo braço e o conduziu até a poucos passos de Jane.

Ele tinha uma mão enfiada no bolso da calça. Com a outra limpou as lágrimas uma e outra vez. Jane continuava sentada no sofá, agora já um pouco apreensiva por não ter sido capaz de identificar essa outra pessoa. Roman se abaixou a sua frente e disse:

— Oi, Sis...

Ela imediatamente puxou o ar atônita. E levou as duas mãos ao rosto do irmão, desesperada por uma confirmação:

— Roman...? – sua respiração acelerada demonstrava sua confusão beirando quase o desespero.

Kurt sentou-se ao lado dela e acariciou suavemente suas costas tentando acalmá-la.

— Como? Você morreu nos meus braços...

— Por favor, me desculpe...por tudo. – Roman soluçava e não conseguia organizar seu relato justificativo.

— Nós desconfiamos que Blake ia querer matá-lo. Então, organizamos tudo para que ela achasse que tinha conseguido. A arma que eu dei a ela usava balas de festim. Como não sabíamos em quem confiar dentro das agências de segurança, achamos que vocês precisariam acreditar na morte dele também. Por isso, usamos a mesma substância que desacelera o coração e foi usada em você, Jane, para resgatar a recompensa por sua cabeça.

Impossível dizer qual dos irmão puxou o outro para o abraço primeiro. Ficaram ali um bom tempo antes de se separarem.

— Se isso é um sonho, não quero mais acordar. – Jane disse se encostando em Kurt.

— Tudo vai dar certo daqui pra frente. O pior já passou. – Kurt disse, beijando o topo da cabeça dela.

Eles ficaram ali conversando por um tempo. Kurt estava calado, respondendo apenas o básico quando questionado. Isso não passou despercebido por Jane. Ela conhecia o receio que o marido tinha de seu irmão, um sentimento forjado em razões sólidas. Tasha explicou sobre os profissionais que procuraram, a necessidade de tratamento, algo que não estavam fazendo adequadamente para não expor Roman às agências de segurança nacionais. Mas Rossi já tinham o melhor lugar da Europa preparado.

Kurt ouviu e observou tudo com atenção. Roman próximo à Jane parecia tão mais calmo. O vínculo que tinham era algo inegável e inquebrável. A felicidade dela e aquela esperança em seu olhar de ver seu irmão levar uma vida normal era muito significativa para ele.

Quando Tasha anunciou que era hora de irem, a despedida se entrelaçou a promessa de visitas constantes. Roman passou por Kurt e deu um leve aceno de cabeça, baixou o olhar e se iniciou a caminhada em direção à porta.

— Roman! – Kurt o interrompeu e o coração de Jane disparou.

Ele se virou e esperou. Kurt foi até ele.

As mãos de Jane começaram a suar frio. Ela se levantou e apertou os olhos querendo ver mais que os vultos permitiam. Estava tudo tão perfeito. Ela entendia que Kurt e Roman tinham sérias diferenças e que talvez nunca pudessem superá-las...mas talvez fosse possível uma vida sem serem inimigos um do outro.

Devagar, os vultos à sua frente foram ganhando forma e cor. E, como naquele sonho que ela sequer ousava recordar depois de tudo que viveu, viu e ouviu quando Kurt entendeu a mão para Roman e ele retribuiu:

— Somos uma família agora. Por Jane.

— Por Jane. – Roman respondeu e sorriu pra ela antes de sair.

Ela estava em sua casa. Essa era sua família. E só havia uma certeza: a felicidade existia e nada poderia tirá-la dela.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Valeu a pena acompanhar essa história até aqui? Será ótimo se você puder compartilhar isso comigo.
Para encerrar, o próximo capítulo trará um pequeno salto de tempo para vermos esse casal incrível daqui há alguns meses. Por favor, me acompanhem na aventura final dessa história.
Muito obrigada pela leitura.



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Reencontro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.