William ergueu os olhos do pãozinho,que ele ainda estava avaliando se comeria ou não,quando se deparou com a Srta.Marilyn Galesmith o fitando impaciente. Ele olhou para os lados aturdido e constatou que ela provavelmente falara alguma coisa-o que por si só já não era um bom sinal-e pior ainda,falara com ele.

—Hã...sim?-Ele arriscou e viu Lady Somerset ao seu lado conter uma risada.

—Sua casa de campo Sr.Davies,perguntei como foi o tempo em que passou vivendo aqui.-A menina repetiu,lançando um olhar acusador para o garoto.

—Foi muito bom.-William falou e acrescentou em um tom nostálgico:-Tenho boas lembranças da minha infância aqui.

—É mesmo?-Marilyn perguntou,incrédula-Mas na cidade tem tanto conforto a mais.

—Não está gostando das nossas acomodações,Srta.Galesmith?-William perguntou,mais para ver uma expressão envergonhada passar pelo rosto da menina do que por ter se ofendido. Ele mesmo não gostava muito de estar ali,apesar das boas lembranças também era doloroso relembrar com tanta vivacidade de quando sua mãe ainda estava presente em sua vida.

—Não,não,não é isso.-Ela apressou-se em dizer-É so que há tantos insetos e outras animais assustadores nessas casas de campo,é um pouco desconcertante.

Com essa declaração Will se virou-pelo que devia ser o que?A sexta vez?-na direção da porta e esperou,como se Margaret fosse passar pela porta a qualquer instante,ele gostaria muito que ela voltasse,estava preocupado com o que quer que ele tenha dito que a incomodara,pois ele estranhamente pode reconhecer que a história de não estar passando bem fora uma desculpa para sair dali,ele só não entendia o porquê.

Mulheres...ou melhor,Margaret...Ele daria tudo para entender o que se passava na cabeçinha dela.

—Vá atrás dela.-Lady Somerset sussurrou para ele,com um sorriso fraternal nos lábios.

—O que?-Will perguntou pego de surpresa.

—Já é a terceira vez em menos de um minuto que você olha para a porta esperando vê-la,e nem adianta dizer que não-Ela deu uma palmadinha no ombro dele-Se gosta mesmo dela,fique com ela Will. Não deixe seu rancor limitar o seu futuro,pare de se importar com o que o seu pai pensa.

—Impossível.-Will afirmou impassível.

—Não,não é.-Ela apertou os lábios em uma linha rígida-Não cometa os mesmos erros que nós cometemos. Você é jovem e tem toda uma vida pela frente para fazer o que quiser.

—Eu não sei o que quero.-Will admitiu surpreendendo a si mesmo e Emmeline afagou o braço dele gentilmente,o sorriso se reabrindo em seu rosto. Era estranho ter alguém tratando ele daquele jeito afetuoso,a última vez que havia sido tratado assim fora pela mãe.

—Então descubra.-Ela incentivou,apontando com a cabeça para porta.

Will sorriu se dando por vencido e se levantou o mais discretamente que conseguiu,murmurando um "Com licença" aos poucos convidados que o olharam.
       *                            *                            *

William conteu um suspiro de frustração quando descobriu que a Srta.Walsh não estava em seu quarto,ele não sabia exatamente o que diria quando a encontrasse,talvez convida-la para um passeio pela propriedade,mas definitivamente não estava preparado para a frustração que o dominou quando ele não a achou. Sentia uma vontade urgente de vê-la e não acha-la foi simplesmente...decepcionante.

Ele se apoiou em uma janela enquanto esperava a criada que prometera descobrir aonde a garota fora. Um vento frio de vez em quando o atingia e ele se encolhia em seu casaco. O maravilhoso clima da Inglaterra. Lá fora já era possível ver nuvens carregadas cobrindo todo o céu,Will só esperava que Maggie não tivesse ido para os jardins,se dentro de casa já estava frio lá fora devia estar congelante. Estava prestes a ir ele mesmo para os jardins atrás dela,conhecendo Margaret como conhecia era bem capaz da garota estar lá em meio a toda aquela ventania,quando a criada apareceu ofegante correndo na direção dele.

—Ela está cavalgando,milorde.

—O que?-William quase gritou,aturdido.

—O cavalariço disse que ela buscou um cavalo a pouco tempo e disse que iria cavalgar pela propriedade.-A criada continuou hesitante.

O que diabos ela estava fazendo?Will pensou horrorizado lançando mais um olhar para a janela,ela devia estar morrendo de frio!O que passara na cabeça dela para sair com um céu daqueles?

—Há algo que eu possa fazer,milorde?-A criada perguntou aflita,vendo a mudança de expressões do patrão.

—Não,muito obrigado,Mary.-William agradeceu e viu o rosto da criada se contorcer em um sorriso satisfeito por ele ter lembrado o nome dela.

Sem nem pensar duas vezes Will disparou pelos corredores de sua casa,parando apenas quando já estava nos estábulos,dando instruções para que o cavalariço preparasse rapidamente um cavalo para ele. Céus,onde ele poderia encontra-la?A propriedade tinha uma extensão enorme,ela poderia estar em centenas de lugares diferentes. E se ela estivesse muito longe e começasse a chover?E se ela se perdesse?Ou caísse e se machucasse?

Despejando uma série de palavrões Will subiu rapidamente em seu cavalo e saiu em disparada.
           *                           *                          *

William sentou na grama e deu um suspiro cansado enquanto observava seu cavalo tomar água no lago. Já havia procurado Margaret por tantos lugares,que sentia que conhecera mais sua propriedade naquela tarde do que em sua infância inteira. Estava começando a achar que a garota percebera o tempo ruim e devia ter voltado para casa.

Ele se encolheu em seu casaco quando mais uma onda de frio passou pelo garoto,ele daria tudo por estar em sua sala de estar,na frente de uma lareira com uma xícara de chá em suas mãos e Margaret ao seu lado.

Espera,Margaret ao o que?

—William?-Ele ouviu alguém o chamar com um tom de surpresa e se virou,não era possível...

Mas sim,lá estava ela. Montada no cavalo,que se o garoto não se enganara chamava-se Tempestade,os cabelos deviam ter se soltado do penteado cheio de tranças que Will vira nela mais cedo,pois agora caiam em cachos claros e cheios até o meio de suas costas,ela estava vestindo um vestido diurno verde e olhava para ele com um misto de espanto e confusão.

—O que diabos você estava pensando quando saiu de casa?-O garoto explodiu se levantando da grama.

—Que eu queria cavalgar?-Maggie levantou uma sobrancelha e Will bufou.

—Com esse tempo?Não ocorreu a você que provavelmente iria chover?

—Não estava tão frio quando eu sai.-Ela murmurou olhando para o céu com a testa franzida,as nuvens já haviam se tornado uma densa cobertura cinza para onde quer que olhasse.

De repente Will se tornou bem ciente de que o vestido que ela usava era bem fino e provavelmente não a aquecia em nada,preocupado ele tirou seu casaco e o estendeu para a garota.

—Tome,está muito frio e você já tomou muita friagem.-Ofereceu e ela piscou,o olhando surpresa.

—Mas e você?

—Vou ficar bem-Ele lhe deu um sorriso encorajador-Já passei por situações assim antes,tenho uma saúde de ferro.

Margaret inclinou a cabeça,em uma pergunta silenciosa,mas aceitou o casaco e se encolheu com gratidão dentro dele.

—Eu costumava fazer isso quando era mais novo,só para preocupar o meu pai.-William admitiu indo atrás do próprio cavalo,seria melhor se eles voltassem logo para casa,o tempo estava totalmente instável e ficar encharcado não era um dos seus desejos no momento.

—Mas você não disse que seu pai nunca se importou com você?-A menina perguntou,surpresa.

—Eu disse?-Will revirou sua cabeça a procura do momento que revelara aquilo.

—Talvez tenha dado a entender.-Maggie completou dando de ombros.

—Não acho que ele estava preocupado comigo,e sim com seu título-William explicou-Com minha mãe morta e ele já não sendo mais jovem,eu era a única chance de herdeiro que ele poderia ter,se eu morresse seria...incoveniente para ele.

—Não acho isso-Margaret opinou franzindo a testa-Todos os pais se importam,ao menos um pouco,com seus filhos.

—Bem,o meu não.-O garoto pegou a rédea do seu cavalo e subiu habilmente na sela,ele já parecia um pouco mais descansado,o que era bom,pois precisariam ir correndo para casa antes que...

Começou devagar,algumas pequenas gotas de  chuva caíram sobre a calça do garoto e em sua palma quando ele a abriu e esperou a confirmação de seus temores,e então tão de repente quanto começou a chuva aumentou. Aumentou tanto que William teve que estreitar os olhos e olhar ao redor a procura de Maggie,ele a avistou exatamente onde a deixara,estava toda encolhida e com os braços enrolados ao redor do peito,como se tentasse conservar o calor do corpo. William cavalgou até lá rapidamente e desejou ter pensando em trazer algum manto para poder lhe oferecer,apesar de ter cedido seu casaco ainda estava vestindo uma camisa de manga comprida por baixo.

—Você está bem?-Ele gritou,tentando se fazer ouvir acima do vento.

—Estou-Ela respondeu e o fitou preocupada-O que vamos fazer?

Will sabia o que ela estava perguntando,mesmo que decidissem ir correndo para a casa principal ainda demorariam mais de meia hora,sem falar nos perigos de se andar a cavalo tão depressa considerando a tempestade que estava fazendo a trilha ficar toda lamacenta e a visão deles turva. Entretanto,não poderiam ficar parados ali,debaixo da chuva.

—A casa do jardineiro fica aqui perto,podemos ir para lá,nos secar e esperar a chuva passar.-Will sugeriu,a casa era pequena,de apenas um cômodo e não estava sendo utilizada fazia um bom tempo,já que o jardineiro havia se casado e se mudado para um lugar maior,mas o lugar agora era uma opção muito melhor do que ficar na chuva. Margaret assentiu,seguindo rapidamente o garoto.

William tentou tomar o caminho mais cuidadoso e rápido possível até a casa,mas mesmo assim não conseguiu não espiar de vez em quando para trás,verificando se Maggie estava bem. Ela tremia de frio,assim como ele,mas conduzia sem pestanejar seu cavalo.

Com um suspiro de alívio ele conseguiu enxergar em meio a chuva a pequena construção,acelerando ele chegou até a parte coberta e desceu de seu cavalo,ajudou Margaret a fazer o mesmo e amarrou os dois cavalos a uma pilastra.

—Sinto muito,ainda vai estar frio,mas pelo menos vocês estarão cobertos.-Will se desculpou acariciando o pescoço de Tempestade e se virando em seguida para Margaret,que estava perto da porta o fitando curiosa. O garoto achou a chave debaixo de um vaso e abriu a porta.-Tem uma lareira,seria melhor acendermos.

Maggie assentiu e olhou ao redor em busca de lenha,Will seguiu o olhar dela e achou os restos de uma cadeira estraçalhados em um canto. Aquilo iria servir. Com a ajuda da garota,ele conseguiu acender a lareira,e os dois ficaram sentados em frente a ela,tentando se aquecer. Aos poucos Will parou de tremer e se sentiu melhor,lá fora estava infinitamente mais barulhento e frio,tanto que aquele pequeno casebre empoeirado agora parecia o paraíso. Arriscou um olhar para Margaret e franziu a testa de preocupação,ao contrário dele ela ainda tremia muito e os lábios estavam com uma cor azulada nada boa. O garoto se levantou e olhou ao redor a procura de qualquer coisa que pudesse aquecê-la,tudo que viu foi o cobertor que estava esticado sobre a cama,o pegou e se agachou ao lado de Margaret.

—Talvez seja melhor você tirar o seu vestido e se cobrir com isso.-Ele sugeriu e a viu corar,estava se preparando para receber uma resposta negativa,mas ela devia estar mais exaurida do que parecia,porque apenas anuiu com a cabeça e estendeu os braços para receber o cobertor.

William se virou de costas e esperou enquanto a garota se ajeitava,em outra situação talvez tivesse ficado tentando a espiar,mas naquele momento tudo o que sentia era preocupação por ela.

—Pode se virar.-Ela falou e Will obedeceu,a garota estava enrolada no cobertor perto da lareira e o fitava com tanta intensidade que Will sentiu suas pernas tremerem.

—Você está bem?-Ele sussurrou se aproximando da lareira.

—Acho que sim.-Ela respondeu com um pequeno sorriso-Pelo menos já não estou encharcada.

—Não devia ter saído.-Ele tentou soar censurador e ela deu de ombros,desviando o olhar para o chão.

—Queria me distrair um pouco.

—Por que?

—Estou confusa-Ela admitiu frustrada-Não entendo você.

—Eu?

—Sim.-Ela ergueu os olhos e o fitou-Você disse que não quer se casar comigo.

—Que não posso.-Will a corrigiu.

—Mas então por que me defender e me tratar tão gentilmente?Por que não acabar de uma vez com isso?

—Porque...-Will começou,incapaz de desviar os olhos dela,do seu rosto tão bonito e delicado. Não queria magoa-la,a última coisa que queria era isso. E também não queria deixa-la.-Eu gosto de você.-Ele confessou dando um passo para frente,para mais perto dela.

—Você gosta de mim?-Ela repetiu,desconcertada,um vínculo de confusão adorável se formando em sua testa,Will queria toca-la,ele queria muito estender a mão e seguir todo o caminho dos cabelos dela até sua boca,sua boca...William a fitou,incapaz de desviar o olhar.

—Eu quero tanto beijá-la.-Will admitiu em voz alta e a viu arregalar os olhos e entreabrir os lábios surpresa. O garoto estendeu o braço e colocou sua mão sobre a bochecha dela,sentindo o contato enviar sensações por todo seu corpo,ele sentiu seu coração bater mais forte e tentou se repreender,não devia fazer isso,não devia beijá-la ou tocá-la,não devia...

—Então me beije.-Margaret sussurrou,o fitando com a mesma intensidade. O coração do garoto deu um salto,ele parecia incapaz de se lembrar de como respirar,seus dedos na bochecha de garota formigaram e então ele fez o que queria fazer há muito tempo,se inclinou,envolveu a garota com seus braços e a beijou.