Dancing With Death escrita por Tetekah18


Capítulo 2
Capítulo 1




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O Coronel-General Belikov andava pelas ruas primaveris de Moscow com seu primo, Conde Ivashkov. Dimitri não tinha títulos de nobreza, era um bastardo assim como muitos outros. Entretanto, seu senso de moral e centralidade o fez crescer radicalmente na carreira militar. Com influência de seu pai, um nobre que a irmã fora prometida ao Czar, Dimitri adquiriu a confiança do próprio como de seus superiores. Esforçado, pensando em sua família que fora mal vista.

Sua mãe havia sido uma “amante”. O casamento não havia sido aprovado, mas estavam apaixonados. Ele permaneceu fiel a sua mãe por muitos anos, e conseguiu bons casamentos para as duas filhas mais velhas. Dimitri foi o segundo a nascer, pouco tempo depois de sua irmã Karolina. Ambos se juntaram, enfrentando a sociedade. Eram amigos inseparáveis e mesmo que ela tenha se casado, se falavam periodicamente. Ela o apoiara enquanto permanecia no treinamento militar. Sua mãe o queria perto, mas como sua velha avó dizia: “É necessário. Deixe-o crescer Olena.”

Formando-se com honras, o jovem ascendeu na carreira. Um pupilo, novo demais para um posto tão alto antes mesmo de completar os vinte e sete anos. Coronel-general, terceiro maior posto. A ele foi confiada à supervisão de Moscow. Todo o seu trajeto causou aos outros muita admiração e inveja. Esse segundo fator o deixou ainda mais fechado do que era. Sério e taciturno seriam as melhores definições para um primeiro olhar. E diferente do que muitos pudessem pensar, sua educação era lapidada. Um cavalheiro de poucas palavras.

Embora, muito bonito com seu olhar cor marrom marcante, rosto bem definido e cabelo sempre bem aparado tal como a barba que mantinha muito bem feita. Ele virara um dos maiores partidos, mas não tinha interesse nas moças comuns. Nenhuma delas o chamava atenção. Estava mais preocupado com sua mãe, avó e irmã mais nova. Viktoria, a caçula, sempre dava dor de cabeça para Dimitri. Então, ele pensava, para que ainda arranjar uma esposa? Já havia preocupações o suficiente para o momento.

—Soube que essa noite o Bolshoi apresenta uma nova solista para a peça Giselle.- comenta Adrian animadamente.

Dimitri apenas acena com a cabeça enquanto andam pela cidade. Ele sempre caminhava todos os dias nesse mesmo horário da manhã. Conferia as partes principais da cidade e algumas vezes seu primo o acompanhava. Adrian sempre fora seu inverso. Loiro de olhos verde esmeralda. Um galanteador nato.

—A bailarina da vez é uma otomana.- continuou, e internamente comemorou por seu primo esboçar alguma reação. Mesmo que tenha sido mínima como levantar levemente uma sobrancelha com surpresa. -Vai comigo, primo?- insiste.

—E para quando seria?- Dimitri devolve não aparentando importância. Mas seu pensamento mostrava outra coisa. Seria uma distração para Vikka. Ela vinha com ideias mirabolantes de viagens dessa vez. Talvez lhes desse uma trégua.

—A estreia será esse fim de semana. Tia Tatiana pretendia vir.- disse a última frase um tanto cabisbaixo. Ele era o sobrinho favorito de Tatiana. Ela havia se casado há poucos anos com o Czar, mas estranhamente não conseguia engravidar e quando sim, o perdia. Ela não era velha, apenas alguns anos a mais que Dimitri. Adrian nascera três anos depois, e sim, o convívio foi maior e o laço se estreitou. Além da diferença gritante entre ele ser um nobre e Dimitri bastardo.

—Então irei com Vikka.- falou conciso. Adrian logo tratou de se animar novamente.

—Posso reservar o camarote?- questionou segurando a animação. Dimitri apenas acenou em concordância e a mesma rotina foi seguida. Mais um dia qualquer.

[...]

A noite chegava naquela sexta-feira quando o Coronel-General terminava de vestir um de seus trajes militares de gala. Era o mais simples dentre os que tinha. Ombreiras com franjas e bordado o símbolo de sua posição militar. Terminou de pôr suas medalhas, fruto de suas conquistas em conflitos que ajudou a resolver. Não eram as maiores guerras, entretanto importantes ao ponto de mostrarem sua extrema habilidade conquistada para o oficio.

Ouviu uma leve batida na porta e murmurou para que entrasse enquanto alcançava seu quepe. Sua mãe entrou calmamente e ficou a frente de Dimitri. Arrumou a posição de alguma medalha e passou a mão nas poucas dobras do tecido que apenas ela via, como se aquele fato fosse fazê-las desamassar.

—Está muito elegante.- comentou sua mãe recebendo um pequeno sorriso de volta.

Ela sentia amor, orgulho e culpa. Culpa por ter deixado seus filhos em tal situação perante a sociedade. Ela ainda sentia vergonha de todas as acusações. Dimitri quando completou certa idade, tomou para si a responsabilidade de reerguer a dignidade da família. Entretanto, estava orgulhosa de onde seu filho havia chegado. Preocupação perpassava constantemente por ela. Dimitri não dera indicação alguma de querer formar uma família para si. Ele havia se fechado em um casulo e isso a preocupava.

—Viktoria está pronta?- perguntou Dimitri.

—Sim, está. Esperando impacientemente por você.- respondeu sua mãe.

Vikka não perdia uma oportunidade de sair. Principalmente para o teatro. Ela era apaixonada pelas peças. Ela gostava da dança quando pequena, mas a garota não foi a melhor das alunas. Impaciente, imediatista. Nunca foi o tipo que passasse horas lendo. Isso a deixava irritada ou com sono. Seria uma ótima atriz, Dimitri e suas irmãs compartilhavam esse pensamento quanto a Viktória. Ela sempre conseguia fazer drama quando era de seu interesse desde pequena.

—Me daria à honra de sua companhia, bela dama?- questionou a sua mãe estendendo um braço, que em recompensa, soltou uma breve risada.

—Será um prazer acompanhá-lo até a sala, Coronel-General.- ela pegou o braço do filho e desceram as escadas.

A mais nova andava de um lado para o outro abrindo e fechando o leque de ansiedade enquanto a avó, Yeva, resmungava de sua impaciência.

—Finalmente!- exclamou a garota quando viu seu irmão no ambiente.

[...]

Saltando da carruagem, Viktoria estava eufórica. Dimitri apenas agradecia que não havia mais a conversa sobre as benditas viagens. Entraram no teatro e logo foram encaminhados para um camarote. O estilo rococó herdado do barroco permanecia, na verdade, esse era o estilo favorito do império. O luxo dos tapetes e papeis de paredes com o tradicional tema vermelho com detalhes em ouro. As mobílias de luxo com madeira escurecida pelo verniz, algumas obras de arte no hall e poltronas confortáveis na sacada voltadas para a nave do teatro.

Adrian, que antes sentado, tratou de vir cumprimentar os primos. Eles se tratavam de maneira respeitosa, não eram tão próximos na infância. Nathan, seu pai, era muito rigoroso. Porém, Dimitri sempre achou incrível a semelhança na personalidade entre Vikka e Adrian. Desinibidos, não se preocupavam com as consequências.

Sentados nas poltronas, Adrian e Viktoria estavam animados, ansiosos pelo espetáculo. Adrian a atualizava das novidades, enquanto Dimitri lia mais uma vez a programação da peça, Giselle, de Théophile Gautier. Seria dividido em dois atos. Ele já conhecia o enredo, Vikka sempre que podia, fazia Dimitri a acompanhar ao teatro. Era a segunda apresentação desde que foi lançada na França. O que não era novidade, todas as peças estreavam lá. Aquele país era movido apenas por diversão noturna, promíscuos, pensou o Coronel-General.

A música soou e as cortinas foram levantadas. O silêncio reinou após a breve salva de palmas. O bailarino que faria o papel do nobre que se disfarçaria de camponês entra em cena, mas a dança se inicia quando a bailarina, no papel de Giselle, centraliza no palco. A moça que dançava sozinha era diferente. Dimitri se lembrou do que Adrian tinha comentado. Uma otomana. Ele pegou seu binoculo do bolso inferior de suas vestimentas. Observou a dançarina o mais “próximo” que o objeto poderia proporcionar. Algo nela o chamou atenção além da beleza incomum. Cabelos escuros e pele levemente bronzeada. Ele não conseguia parar de segui-la com olhar. Em meio à dança, o inicio da sedução entre o nobre e a camponesa Giselle. Dimitri parecia hipnotizado.

O final do primeiro ato chegou e as cortinas caíram. Ele se recompôs para se levantar e só então ele guardou o binóculo.

—Por que não me falou que trouxe?- reclamou Viktória se referindo ao objeto que seu irmão guardara. Ela havia ficado tão centrada que nem mesmo prestou atenção ao seu redor. Dimitri não respondeu e de braços atados com sua irmã, seguiu para o foyer¹. Eram servidos coquetéis para os espectadores no intervalo dos atos.

Adrian e Viktoria saiam andando pelo espaço na maior familiaridade possível. Cumprimentavam as pessoas e engajavam conversas animadas. Um dos assuntos principais era a nova dançarina, aquela que chamara a atenção de Dimitri. Ele não falava muito, apenas respondia o necessário, prestando atenção a todos os detalhes da nova solista.

[...]

Apressadamente, em meio à euforia da troca do cenário e intervalo entre os atos, Rose trocava o seu figurino no camarim reservado a ela. Era sua primeira apresentação e ela mal acreditava. Quase um mês de ensaio e trabalho duro. Alguns dias depois o teste foi chamada para o papel de Giselle. Parecia uma ilusão quando Sonya abriu o envelope e lhe comunicou de seu primeiro papel em uma peça.

Após controlar sua animação, escreveu uma carta destinada aos pais contando as novidades. Há poucos dias atrás, a resposta chegou. Sabia que seu pai estava contrariado e que de todas as formas não a queria onde estava, mas sua família apenas desejou o seu sucesso e pediu por mais notícias.

Olhou-se no espelho com a roupa alva sob a luz das velas. Para ela tudo aquilo era novidade. Com seu coração a mil, saiu do camarim assim que ouviu a voz de Kirova indicando o tempo que faltava para o inicio do segundo ato. Ela era uma professora exigente, assim como o diretor Stan Alto. Um velho ranzinza e mal amado. E mesmo de sua pior maneira, tentava extrair a perfeição de sua companhia. Rose não fazia ideia, mas fora uma enorme discursão para que esta estivesse lá. Ambos afirmando seu talento, já que a antiga estrela -Avery Lazar- já não alcançava o ideal para ser a primeira bailarina do teatro.

Apressada, Rose se posicionou atrás da coxia esperando o seu momento para entrar. As cortinas se levantaram e ela entrou no palco depois de um impulso. O segundo ato se iniciou. Ela dançou sozinha até outras bailarinas entrarem em cena. A música era mais calma e quase melancólica. Mas pudera, era o fantasma da Giselle que estava representando...

Ambrose entrou na dança. Ele fazia o papel do nobre. Sua beleza podia se equipara. Cabelos pretos cacheados e olhos castanhos. Seu corpo era definido por conta da dança. Um belo homem, ninguém jamais discordaria.

Rose se permitiu esquecer do público ao seu redor e se entregar a dança. Ela se imaginou em um ensaio como fez anteriormente. Para todos que assistiam, era nítida a sua entrega. Pelo seu amor à dança, toda a sensação que o roteiro indicava era passada para o público e aquilo chamou atenção dos espectadores.

Próximo ao fim, Rose encerra sua participação deixando Ambrose no palco. Mesmo depois de morta, Giselle havia perdoado Albrecht por esconder sua verdadeira identidade. Aplausos no fim da apresentação e no agradecimento. Assim que terminou, Rose saiu depressa ao encontro de Sonya, que a esperava no caminho para o camarim.

—Você foi perfeita!- exclamou Sonya. Rose a puxou para um abraço apertado e empolgado.

—Eu não acredito que consegui...- Rose sussurrou engolfada pela animação. Elas não conseguiram seguir para o camarim. À porta, haviam espectadores a sua espera. Bem, ainda não era tempo de ir para casa...

[...]

—Dimka, temos que ir felicitá-la!- começou Viktoria, decidida, se pondo de pé.

—Ela tem razão, Dimitri.- reforçou Adrian. Ele queria conhecer a otomana de perto.

Dimitri ficou calado, sério por um tempo. E mesmo com sua postura estoica, acabou cedendo. Desceram para os fundos do teatro. A parte boa de ter nome naquela sociedade era a facilidade para se obter algo, como conseguir apresentar sua irmã a mais nova bailarina do teatro. Depois de um bom tempo em uma fila, foi chegada a vez do trio.

—Você foi maravilhosa!- começou Vikka com seus elogios. Dimitri observou a jovem ainda com a roupa da apresentação. Era ainda melhor vê-la de perto, pensou ele enquanto sua irmã não parava de falar.

—Em meus anos frequentando esse teatro nunca vi melhor bailarina.- Adrian começou com seus galanteios. Dimitri se retesou. Essa ação tão libertina o incomodou pela primeira vez. Antes ele apenas ignorava, mas algo dentro dele se inflamou. -Tem como retornar para casa?- o loiro continuou.

—Não é de sua responsabilidade meu senhor.- respondeu a mulher ao lado da dançarina.

No momento em que Rose virou o rosto para Sonya, ela reparou o homem alto e bonito atrás dos que estava conversando. Ele era sério. Algo diferente parecia exclamar pela atenção da jovem. Nem mesmo os elogios de Adrian foram tão significativos quanto o momento em que seus olhos cruzaram com Dimitri. Rose sentiu algo se agitar dentro de si, era como se parte da adrenalina voltasse a suas veias como a espera para o inicio de sua apresentação.

Dimitri não queria quebrar o contato de seus olhos com o de Rose. Nem mesmo sabia o real nome dela, entretanto, conhecia suas obrigações. Limpou a garganta e falou em um tom neutro:

—Está tarde, temos que ir.

Vikka suspirou e puxou Adrian consigo. Dimitri continuou um tempo parado até criar coragem para se retirar.

—Foi uma bela estreia, senhorita...- comentou Dimitri pegando uma de suas mãos antes de beijar o seu dorso.

—Rose!- ela completou de imediato, nervosa pelo contato sentindo o frio na barriga. -E o senhor?- perguntou ela quando aquele belo homem recuperava a postura de maneira elegante e polida.

—Coronel-General Belikov.- respondeu com uma sombra de sorriso antes de sair.

Coronel-General Belikov...

Era o que rondava a mente de Rose, ainda parada olhando o caminho que o belo homem havia partido.

—Vamos querida, tem que descansar. Amanhã haverá outra apresentação.- disse Sonya a levando para o camarim.

Haviam algumas flores, e dentre todas elas, uma rosa negra chamou sua atenção. Estava em frente ao espelho. Rose tinha certeza que vinha de seu pai. As raras rosas negras otomanas. Seu pai sempre dava algumas para ela ocasionalmente. Rose sempre ficara encantada com elas. Passava horas admirando-as e apreciando seu perfume antes de murcharem. Sua mãe, Janine, uma vez confessara que aquela havia sido a inspiração para o seu nome. Sorriu com as lembranças. Parecia um sonho o passado e ainda tudo que havia conquistado.

Depois de trocar a roupa, desatou as fitas das sapatilhas. Ela nem mesmo queria imaginar o estado dos próprios pés.

—Não tire as ataduras.- Sonya mandou. -Será pior para chegar em casa.- Rose fez uma careta ainda tirando com cuidado as sapatilhas de seus pés doloridos. -Prometo uma bacia de água quente antes de dormir.- propôs solicita.

—Será maravilhoso!- comentou Rose regozijando por aquilo. Seria um grande alívio para ela.

—Sei que irá pensar naquele oficial.- murmurou a mais velha em provocação.

—O que? Não!- Rose retrucou rápido demais e Sonya soltou uma risada enquanto as duas se retiravam do cômodo. Seria uma pequena caminhada até em casa, mas a noite de sucesso ainda inebriava a mente de ambas. Estavam felizes, era o que importava.

1-Área externa dos auditórios, definido por ser o local ideal para pequenas exposições, excelente para realização de coquetéis, apresentações, coffee breaks, vernissage, além de outros eventos.


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Notas finais do capítulo

Hoje estou postando o primeiro capítulo. Não tenho data para postar o próximo e a estória será feita a prestação. No meu tempo livre vou tentar escrever, já que esse ano estou meio atolada e para essa estória é necessário muita pesquisa, mas com calma tudo dá certo. Peço paciência comigo.
Beijos da raposa!
Teka. :3



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