Cem Anos Depois escrita por Adson Kamps


Capítulo 8
VIII – O Laço de Oz


Notas iniciais do capítulo

NÃO ESQUEÇA A INTRO:
https://youtu.be/ydXfBwebH5I



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/754337/chapter/8

ܔܢܜܔܢܜܔܔܢܜܔ♛ܔܢܜܔܢܜܔܔܢܜܔ

Dorothy lembrava como se fosse ontem o dia em que fora arrancada de casa. Recordava-se dos campos dourados de trigo balançando fortemente com os ventos que fariam inveja à qualquer deus da velocidade; do aroma de chuva sendo erguido das terras do Kansas e do temível Verde.

Verde era como os moradores de Pedacinho do Céu e seus arredores classificavam o mais poderoso de todos os tornados já vistos naquela região. Ele não era de fato verde, o que lhe dava essa aparência era a fragmentação da luz através das nuvens acima dele, mas isso não é algo relevante.

O que importava para a garota naquele momento era o quão poderoso e destruidor aquele funil se apresentava pessoalmente, e não por meio de imagens que lhes era mostrada. Somente uma vez em toda a história do Kansas havia aparecido uma daquelas tempestades, e realmente a fama dela à precedia.

Era um dia comum da semana e seus pais haviam saído para feira em busca de mantimentos para a casa, e como de costume, Dorothy ficava sozinha junto à Tysa, sua irmãzinha mais nova que sempre se distraía brincando com Totó, o cachorrinho da família. Porém neste momento nem mesmo um bichinho poderia chamar atenção do que ocorria do lado de fora da casa.

O ar da manhã que antes era tranquilo, sem vento ou brisa, já havia deixado a mãe das duas garotas, a Senhora Pearl, com os ouvidos em pé. Sempre tem a calmaria antes da tempestade costumava dizer, Portanto tomem cuidado com os dias que começam assim, preguiçosos, pois estes são como pessoas: sempre escondem o pior de si.

Naquele dia como em qualquer outro havia sido dado o aviso para as garotas de evitarem o sótão em caso de tornado e procurarem se abrigar no porão, pois este seria o local mais seguro em uma situação dessas.

Mas as irmãs ­– naquela época com quatorze e dez anos – não eram o exemplo de crianças obedientes, mas sim as mais curiosas dentre todas, e portanto trataram de permanecer na janela observando os raios dançarem entre as nuvens cinzas que se expandiam até cobrir o céu como o cimento veda uma sepultura. O dia antes ensolarado se transformou em uma noite eterna, sendo os raios a única fonte de iluminação no exterior da casa.

Dorothy e Tysa observavam admiradas como os cúmulos-nimbos balançavam em ondas como no mar, e como esse balançar realmente parecia fragmentar a luz dourada acima deles até deixa-la em uma tonalidade esverdeada. Raios amarelos e azuis cortavam-nos de vez em quando, deixando tudo ainda mais sombrio.

As garotas perceberam, tarde demais, que o funil de vento não se formava nas colinas ao longe como elas esperavam, mas sim logo acima da casa onde estavam!

Viram então uma parede de vento esverdeado descer ao redor da casa aos poucos, como aqueles redemoinhos líquidos das substâncias sendo misturadas em um caldeirão. Dorothy horrorizada olhou para cima, além da janela, esperando ver apenas uma pequena esfera branca que seria o sol encobrido pelas espessas nuvens, mas tudo o que viu foi uma lua.

Sim, uma superlua brilhava no centro do olho do furacão em toda a sua glória e esplendor dourados como sol enquanto as estrelas pareciam dançar ao seu redor.

— Impossível... – Dorothy murmurou com os olhos arregalados enquanto agarrava-se à Tysa que se segurava em Totó. A última coisa que a garota lembra de ter pensado foi no porão, o abrigo de tempestades que seus pais tanto à alertaram para usar, mas agora já era tarde demais.

O funil de vento se formou ao redor da pequena residência dos Primm e arrancou o sótão da mesma, levando para si ele e as duas garotas que lá estavam junto ao cachorro.

Enquanto a casa era erguida em direção aos céus o vento esverdeado se alastrou por toda a extensão do Kansas em direção à sua fronteira, destruindo tudo em seu caminho.

Quem quer que estivesse nos estados vizinhos daquele, como os residentes do estado do Colorado ou Oklahoma viu um grande nevoeiro entre os limites dos territórios que sumiu tão rapidamente quanto surgiu.

E assim, a realidade e todas as histórias que se passaram naquele Kansas foram apagadas do nosso mundo e transportadas para um universo paralelo, como se nada nunca tivesse ocorrido naqueles monótonos campos de trigo.

Dorothy piscou os olhos várias vezes assim que acordou para perceber que tudo ao seu redor não se tratava de um sonho. Após o Verde tirar ela e sua irmã do lugar que chamaram uma vez de casa, e as atirou para um terra estranha e completamente saturada onde cada ponto cardeal era divido por suas próprias características e se chocavam no centro de tudo por meio de uma estrada de tijolos amarelos.

O que Dorothy conseguiu processar durante breves momentos era que o sul e leste eram respectivamente frio e quente, e o norte e oeste eram a luz e escuridão. Porém, naquela época, o oeste não passava de uma grande mancha nebulosa naquela terra misteriosa e clara, o que deu arrepios nas garotas por não conseguirem ver através de tão espessa massa de neblina.

Instintivamente as duas se afastaram do local – detalhe que Tysa ainda possuía Totó no colo, que rosnava em direção à claridade da Cidade das Esmeraldas ao norte.

— Já ouvi falar de pessoas que desmaiam enquanto são levadas por um tornado e acabam acordando em outro lugar, mas isso é ridículo! – Comentou Dorothy observando o lugar enquanto a irmã se mantinha firme agarrada às suas pernas, olhando em direção ao castelo – Que lugar é esse? Nebraska, Missouri?

A mais velha observava agora as planícies de centeios amarelos ao leste e como elas despencavam em direção à um mar azul infinito que se estendia até uma grande barreira de ventos esverdeados, traçando um limite. Bem abaixo na linha do horizonte era possível ver um pequeno fio de luz, mas a garota não sabia dizer ser uma brincadeira de sua mente ou não.

Na verdade ela imaginava se tudo aquilo ao seu redor não era uma brincadeira de mal gosto, uma ilusão que a fazia sentir saudades de casa dentro de um sonho. Não seja tola repreendeu à si mesma, Aquele Verde foi muito real, tanto é que arrancou nosso sótão!

Tysa começou a puxar incessantemente o vestido de sua irmã, tentando chamar-lhe atenção para algo que vinha se aproximando da direção do palácio de esmeraldas, uma criatura que Totó já havia notado há tempos. Um enorme macaco vinha voando em sua direção e ao pousar acabou por assusta-las.

— Humanas – murmurou farejando o ar em frente às duas, logo abriu um sorriso de dentes afiados – Como meu mestre presumiu. Sigam-me, senhoritas, o Mágico aguarda por vocês há muitos anos.

— O Mágico? ­– Perguntaram juntas, curiosas. – Quem é o Mágico?

— Vocês hão de descobrir em breve, agora venham comigo! – Intimou elas novamente – Isso, é claro, se quiserem sobreviver.

Dorothy, Tysa e Totó seguiram o símio voador palácio adentro olhando admiradas toda aquela mistura de cores. O castelo fora esculpido há muito tempo a partir de uma enorme montanha de esmeralda bruta, onde esta despontou do mar quando este refletiu a supernova da única estrela verde que existia. A quantidade de magia presente naquelas pedras era imensa, o que resultou em um campo de força na forma de um tornado verde ao redor de toda ilha de Oz e em um desiquilíbrio nos biomas em cada ponto cardeal da mesma.

Voltando ao interior do palácio, uma variedade de tapeçarias decorava o interior com as mais diversas cores, todas retratando um período da época de Oz ou da história do mago. Um balão colorido sendo carregado por um redemoinho, uma mulher loura de vestido branco com uma varinha em mãos, uma outra negra com um vestido dourado e adornos marrons, enfim, eram tantas que as garotas nem conseguiram processar.

Um largo tapete azul-cobalto com bordas prateadas também era decorado como uma linha do tempo com todos os acontecimentos de Oz em ordem cronológica, desde à criação da ilha até a chegada das garotas. Ele vinha desde a entrada do castelo e seguia até o fim do corredor onde uma porta dupla de carvalho escuro dava acesso ao trono do Mágico.

— Admirando minhas tapeçarias? – Questionou uma voz rouca por detrás das portas que logo após se abriram. Sobre um trono feito de luz pura, refletindo todas as tonalidades do arco-íris, um homem alto em um terno risca-de-giz sorria para as garotas. Uma cartola negra estava apoiada no trono junto à um cajado de madeira escura com uma pedra magenta em seu topo; o homem massageava a mesma.

Ele tem cara de mau... pensou a garota Tysa, mas logo mudou de ideia ao ver um sorriso estonteante brotar nos lábios dele.

— Vocês sabiam que este tapete conta toda a história dessa terra? – Lógico que não, acabamos de chegar observou Dorothy – Pois é, Oz é um lugar tão antigo quanto o mundo de onde vocês vieram, de onde nós viemos – ele deu uma piscadinha para elas – Conforme vão ocorrendo acontecimentos importantes neste “país” ­– fez aspas com as mãos – o tapete vai se alongando e junto o consigo o corredor que as trouxe até este trono. Inclusive neste exato momento vocês estão pisando sobre vossas cabeças.

Ambas deram um pulinho para frente pisando fora do tapete e olharam incrédulas para o que havia desenhado nele.

— Como eu, é claro, sou o Mágico de Oz, previ a chegada de tão belas senhoritas à muito tempo atrás. Claramente não tanto quanto devem pensar, pois se não já estaria um senhor velho, e como podem ver, ainda sou novo – disse aquilo com um estranho brilho nos olhos, algo que somente a mais velha das irmãs Primm notou: loucura.

— Ajoelhem-se – grunhiu o primata ao lado delas.

— Ora, não é preciso senhor macaco – disse Oz rindo – Quem deve se ajoelhar perante enorme presença sou eu! Afinal, não é todo dia que duas feiticeiras aparecem por aqui.

— Espere – disse Dorothy se pondo na frente da irmã – Feiticeiras? Você nos chamou de bruxas?

— Vejo que tem muito que aprender ainda – disse o homem com uma pequena risada – Bruxas e feiticeiras são diferentes umas das outras, meu bem. Vocês fazem parte de uma antiga linhagem da Segunda Armada de Waverly, o que as torna feiticeiras! Não é incrível?

Dorothy afastou-se alguns passos do homem procurando a mão da irmã que, fascinada, se aproximava um pouquinho mais dele.

— Tysa! Volte aqui! – Chamou-a baixinho, sem sucesso.

— Eu tenho poderes? Mesmo? – Os olhos brilhavam de excitação.

— Claro que tem garotinha – Oz massageou os cabelos dela. Então olhou para a mais velha quase que com severidade – E você também, Dorothea.

— Dorothy – corrigiu para o apelido que acostumara a ser chamada e depois se deu conta de algo – Espera, como sabe meu nome? – Perguntou recuando mais uns passos.

— Do mesmo modo que sei o nome da menina Tsavorita aqui – disse apontando para a pequena que ainda o olhava fascinado – Eu sou o Mágico! Deveria ter alguma outra explicação?

— Uma mais lógica, talvez? – Disse a garota puxando a irmãzinha para perto de si – Se você é tão poderoso assim, porque não nos manda de volta?

— Tudo ao seu tempo, querida – disse o homem fazendo um aceno de mãos – Você e sua irmã estão aqui por um motivo: aprender mágicas comigo. Esse será o meu presente de boas-vindas, e como boas visitas vocês me retribuirão de uma forma.

— E qual seria essa forma, Cartola? – Provocou a mais velha.

Dorothy jurou que viu um lampejo de dor e raiva passar por um breve momento nos olhos do Mágico, mas foi tão breve que não pode ter certeza – Vocês me ajudaram a curar minha amada Rachel, a Dama do Oeste. – disse apontado para uma porta fechada, que provavelmente levava ao quarto da tal Rachel.

— E depois disso – a menina mais nova que até então ficara calada resolveu se pronunciar – Nos levara para casa?

— Oh, por certo que sim – disse ele arrumando a cartola negra sobre a cabeça – Agora meu fiel mordomo, senhor macaco! – Chamou o primata que ficou em posição de sentido – Mostre a essas damas os seus respectivos quartos, sivoplê.

— Agora mesmo, majestade – virou para as garotas. Ainda estava meio rancoroso pelo seu chefe estar dando mais atenção a elas do que a si, mas fez o máximo que pode para abrir um sorriso que foi pra lá de assustador – Venham comigo.

— E desçam daqui a pouco para jantar! – gritou o Magico enquanto as garotas desapareciam pelo corredor.

Os dias se passaram naquele lugar tão estranho, e conforme o faziam, a magia das duas irmãs que Oz tanto jurou existir não dava um sinal de vida. Até a primeira superlua.

É meio estranho de se compreender mas vamos lá: o céu de Oz é “furado” bem no centro do olho do Verde, o que fazia com que qualquer um enxergasse as constelações mesmo no dia mais ensolarado – a magia naquela ilha era tanta que o oxigênio não escapava para o espaço –, o que tornava eventos como a superlua muito frequentes.

Porém esta que despertou a mágica nas irmãs Primm foi muito mais especial do que aquela que as levou até a terra de Oz: a lua chegou tão perto da ilha que era possível tocar na mesma se voasse muito alto ou subisse em algum dos pinheiros nos vales gelados do sul. E foi o que o Mágico fez.

Levando as meninas até lá, o homem ergueu-as com sua mágica limitada – domínio era o norte e não o ponto cardeal em que estavam, o que o enfraquecia – e encarregou-se de faze-las tocar o satélite. No começo Tysa ficou decepcionada quando percebeu que a lua não era feita de queijo, mas quando seus dedos começaram à formiga enquanto a energia da mesma despertava seus poderes ela logo se alegrou.

E a partir desse dia a vida do Mágico virou um caos.

Certa vez, Tsavorita, na tentativa de acender uma vela acabou por atear fogo a uma tapeçaria de seda que mostrava a loura vestida de branco, uma das falecidas damas que comandavam o sul. Oz fez de tudo para esconder sua irritação, mas teve certeza que, apesar de ter conseguido enganar a mais nova, Dorothea havia captado sua ira.

Outro dia, Dorothy estava treinando evocação de esferas mágicas para iluminação e acabou por transformar todos os candelabros, braseiros e velas em fontes de água que inundaram todo o palácio – inclusive quem um dia tiver a oportunidade de visita-lo poderá perceber um risco mais escuro no meio das paredes, foi até nessa altura que a água chegou.

Depois, na tentativa de concertar o estrago, ela evocou as esferas luminosas nas pequenas nascentes. Estas por sua vez se dissolveram ao entrar em contato com o líquido o que acabou acarretando em várias salas banhadas em tons de neon gritantes que em nada combinavam com o verde do castelo.

A pior de todas foi quando as duas garotas tentaram juntas tentaram reviver um corvo que estava preso dentro de uma gaiola. O resultado foi muito bom, a ave reviveu, só não esperavam que aquele feitiço também multiplicasse as coisas, o que acabou fazendo com que o quarto do Cartola se tornasse um viveiro para corvos. Nem é preciso dizer que ele não ficou muito feliz com isso.

— Muito bem, garotas – disse o Magico após um delicioso jantar no salão que teria uma linda vista para os campos de centeio e praias ao leste se a neblina que vinha do oeste não houvesse baixado até tocar o solo. – Hoje iremos ao último teste de vocês, e se tudo correr certo irei manda-las para casa.

As irmãs se olharam alegres e cheias de expectativas. Tudo bem, elas não foram uma das melhores alunas de magia no começo, mas haviam aprendido muita coisa maravilhosa durante as sessões que haviam praticado com Oz.

Voo em vassouras – algo que as meninas sempre pensaram ser exclusivo de bruxas –, controle sobre o frio e variantes do elemento água – Dorothy descobriu que tinha grande vocação para ser uma possível próxima Dama do Sul, mas ela queria mesmo era ir embora logo daquela ilha –, sobre a terra e o que nela nascia – Tysa sentiu-se maravilhada com o convite de ser a sucessora da Dama do Leste, mas não queria deixar sua irmã. O único dos quatro elementos que elas não conseguiam controlar direito era o fogo, mas como não o haviam visto em parte alguma na terra de Oz não deram muita importância quanto a isso.

— E esse teste seria ajudar Rachel? – perguntou Dorothea.

— Sim – disse o homem levantando com um sorriso enigmático em sua face – Me acompanhem e lhe explicarei no caminho.

As meninas se levantaram e puseram-se a caminhar uma de cada lado do Cartola. Dorothy ainda não gostava dele e era um pouco desconfiada, mas sabia que ele não lhes faria mal algum enquanto precisasse delas. Tysa por outro lado estava um pouco enciumada da irmã por ter conseguido quase que completa atenção do Mágico para ela durante os treinamentos, mas também não tinha nada a mais do que reclamar.

— Dorothea e Tsavorita, me ouçam bem – disse ele parando em frente à porta do possível quarto de Rachel – Minha amada ficou um pouco instável depois que aquilo que lhes contei aconteceu com ela – disse ele fazendo uma pausa.

Charlie lembrava-se pouca coisa da história – apenas que a Dama havia sido trocada por sua irmã, uma outra princesa, um dia antes de se casar com o rei de uma terra distante e por isso entrou em uma espécie de frenesi. Aquela seria a única chance de se ver livre de Oz – tanto a terra quanto o feiticeiro –, porém essa parte da história ela havia lido no tapete mágico, onde também lhe ocorrera que o Mágico devia ser um marido possessivo para a mesma, por isso ela quis fugir.

— Não sei como ela vai reagir ao ver você – ambas notaram que ele não se referia as duas como se não soubesse quem iria ser o motivo de qualquer reação vinda da mulher – Então evitem contato visual com Rachel. Eu a distrairei enquanto vocês preparam o feitiço.

Entraram no quarto e as duas irmãs puseram a conjurar o feitiço que haviam treinado por tanto tempo, enquanto isso o Mágico foi andando até a mulher encolhida no chão – Meu amor, Rachel? – Chamou carinhosamente – Estou aqui querida, pode me ouvir?

— Oz? – Chamou uma voz fraca que parecia vibrar para fora do corpo fragilizado no chão. – Quem está aqui com você?

— Não se preocupe meu amor – se ajoelhou ao lado dela – Elas estão aqui para curar você, vão te ajudar, eu prometo.

— Elas...? – perguntou como se fizesse manha. Dorothy estava curiosa para saber quem era e sentia o olhar da Dama sobre sua irmã e si, mas recusava-se a olhar – Quem são elas?

— Dorothea e... – o Mágico olhou para apontar para trás para apontar qual era qual quando se assustou com algo – Tsavorita!

A curiosidade da irmã mais nova a havia vencido. Ela olhara para a mulher, e se perdera nos profundos olhos amarelos da mesma – Tsavorita... – Rachel rosnou ao ouvir e ver a menina a sua frente – Eu sabia! Sabia que não ia demorar muito para você vir me matar sua feiticeira! Esperou que eu ficasse fraca para me destruir!

— Eu... Eu não entendo – disse recuando alguns passos desfazendo o feitiço quase completo. Procurou as mãos de Dorothy como quem busca proteção – Nós não nos conhecemos, moça!

— Você pode não me conhecer, garota burra! Mas sua alma sim! – Ela olhou para Oz que fitava seu rosto com assombro. Quem é essa? Onde está minha Amada?! pensava – Suma da minha frente! – Com um aceno de mão o Mágico se fundiu nas sombras do quarto escuro e sumiu como se nunca tivesse existido.

— Dorothy, o que está acontecendo? – Perguntou Tysa em prantos, morrendo de medo.

A Dama se levantou exibindo um corpo esbelto, coberto por um vestido que parecia ser feito de óleo. Os cabelos ruivos desgrenhados caiam sobre o ombro como um mar de sangue – Agora quando a você, Tsavorita — ela rosnava o nome da irmã mais nova – Sua alma será minha! – estendeu a mão em garra sobre as meninas e as três sumiram em nas sombras como Oz.

Estavam agora no lado Oeste da ilha. Como a névoa havia descido para a planície era agora possível distinguir os grandes picos de montanhas rochosas e sentir a areia sobre os pés como cacos de vidro. Para alguém que estivera presa por tanto tempo e fraca, ela pode fazer coisas incríveis pensou Dorothy e logo teve vontade de bater em si mesma. Mas é claro, durante esse tempo todo ela poupou energia para isso, para nós!

As duas irmãs continuavam juntas, uma agarrada a outra enquanto Rachel segurava em suas mãos um objeto dourado – uma conchinha vinda dos mares além de Atlântida – riu triunfante.

— Esta concha aprisiona tudo o que uma bruxa quer, seja a voz, alma e até o próprio corpo! – Gargalhou novamente. Trovões ressoavam sobre o castelo na montanha – Diga adeus para suas lembranças e poderes! – Apontou o objeto para Tsavorita – Olhe para a concha, meu bem.

Como se hipnotizada, Tysa fixou seus olhos na cor dourada enquanto Dorothea encarava assombrada a luz prata que iluminava os orbes da irmã. Duas mãos cintilantes saíram da concha e tocaram os olhos da garota mais nova e logo se juntaram em uma só, ultrapassando a testa da menina.

O objeto dourado começou a sugar aquela garra brilhante de dentro da mente de Tysa, que saia agora com uma luz verde pulsante e entrando na concha. Tsavorita caiu desmaiada no chão – Tysa! – gritou Dorothy se ajoelhando ao lado da irmã enquanto Rachel ria maldosamente.

Dorothy se levantou e encarou a mulher na sua frente – Sua... sua... BRUXA! – Preparou uma esfera azul nas mãos para atirar na Dama enquanto Totó se preparava para pular sobre a mesma.

Com um aceno de mãos, a bruxa mandou a garota voando para longe, onde ela foi bater sua cabeça sobre uma grande pedra enquanto Totó sofreu um destino muito pior:

Seus olhos se tornaram maiores e vermelhos, seu pelo antes marrom escuro tornou-se cinza a medida em que seus membros cresciam. A cauda antes pequena e enrolada se alongou em uma grande massa peluda assim como as orelhas que eram caídas se ergueram alertas a tudo que ocorria a sua volta e, ali, nasceu o próprio Lobo.

Enquanto os olhos de Dorothy se fechavam em direção ao céu furado de Oz, ela pode perceber a luz âmbar da superlua presente no centro de um funil de ventos verdes que descia na direção dela e de sua irmã e do que um dia fora o cachorro de estimação da família.

Então tudo escureceu.

Dorothea estava a lembrar de tudo o que havia se passado entre ela e a irmã, Tsavorita. Quando saíram de Oz por meio do Verde elas foram mandadas para outra terra desconhecida, desta vez, separadas. Dorothy dedicou anos de sua vida a procurar sua irmã, e quando a achou viu que realmente Rachel havia cumprindo o que disse: Tysa não se lembrava de nada a não ser o próprio nome. Suas memórias no Kansas com os pais, a irmã e o cachorro foram substituídas por outras; como se ela sempre tivesse vivido naquela Floresta Encantada.

E também como se ela nunca tivesse tido uma irmã.

Dorothea chorou por dias, sempre usando a magia para se manter alimentada e aquecida. Sempre fora taxada de bruxa quando alguém a via praticando magia, até que descobriu um novo dom: esculturas em madeira.

Fugiu para o lado negro da floresta, o Bosque Ewige Nacht e construiu lá uma casa humilde para servir de moradia para si mesma e suas esculturas, sendo procurada por aventureiros que buscassem o sucesso por meio da magia.

Agora, parada no batente da porta e vendo as duas princesas a se afastar uma lágrima rolou pela bochecha. Teriam elas o mesmo destino que Tsavorita e Dorothea? Pois algo ali era bem claro:

As duas eram uma das escolhidas de Eswar, assim como as irmãs Primm um dia foram as escolhidas de Oz, e se o futuro dos Reinos Encantados estava nas mãos daquelas duas meninas, então Dorothea estava tranquila.

Ainda havia esperança.

ܔܢܜܔܢܜܔܔܢܜܔ♛ܔܢܜܔܢܜܔܔܢܜܔ


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cem Anos Depois" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.