Seja feliz no melhor lugar do mundo.

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Regra obrigatória número 1: sorria bastante todos os dias que estiver neste paraíso e volte para casa com toda essa energia.

Se um dia estiver precisando recarregar os sorrisos, é porque está na hora de voltar. A gente vai estar esperando você de braços abertos!

“Esse cartão de boas vindas deles é muito fofo. Será que eu posso levar pra casa?” Sakura está mais falante do que nunca. É óbvio que ela está bastante empolgada, o que eu também deveria estar, mas nossos sentimentos não seguem o rumo que queremos. Infelizmente. “TenTen, você está vendo isso?” Ela praticamente esfrega o papel em meu rosto.

“Aí, o que é isso?” Reclamo, afastando suas mãos para que eu possa ver melhor o que ela está me mostrando. É um cartão de boas vindas, que diz um monte de coisas bonitas, que te faz pensar que você realmente está em um lugar muito perfeito. Aquelas frases de incentivo que, de início, a gente olha com pouco caso, mas que depois fica lembrando e chorando de saudade.

“Aqui diz: sorria bastante todos os dias. Viu, até mesmo eles estão sentindo essa sua aura negativa de longe e fizeram esse cartão especialmente para nós. Personalizado, querida. Somos especiais.” Não consigo conter um sorriso diante do que ela fala. Ah, claro, fizeram o cartão especialmente para nós mesmo. “Agora tira essa cara de cansaço, estamos no paraíso baby! Só nos resta aproveitar!’

“Sakura, são três horas da manhã. Eu não tive nenhum descanso hoje. O que você quer aproveitar? Eu preciso dormir!”

“Por Kami, como você é chata! Ainda são três horas da manhã, o dia está apenas começando. E eu te garanto que vamos ter uma viagem péssima se você continuar com essa sua cara de bunda. E daí você vai pro outro lado do continente e não vamos ter nenhuma última lembrança boa.”

Suspiro, porque é a única coisa que posso fazer no momento que vai irritá-la o menos possível. Passo as mãos pelo meu cabelo e confiro o horário no meu celular, instantaneamente me lembrando de que preciso avisar meu namorado de que fiz boa viagem e que já estou no resort.

“Eu vou avisar o Lee que eu cheguei.” Ela revira os olhos para mim, murmurando algo desconexo enquanto pega uma toalha em cima da cama e vai direto para o banheiro.

Sento-me na cama, o aparelho em mãos enquanto digito uma rápida mensagem. Ele não está online e sua última visualização foi à meia noite, desejando-me um bom vôo, mesmo que eu soubesse que era a contra-gosto. Bom, as coisas não estavam mil maravilhas entre Lee e eu. Estávamos passando por uma fase conturbada, o principal motivo do meu mau-humor. Aceitei uma oferta de emprego no exterior e estava me mudando em um mês. Desde então, aconteciam brigas frequentes entre nós.

Costumávamos ser tão próximos e desde que isso aconteceu, parecíamos dois estranhos. Não nos falávamos direito por mensagens e, quando acontecia, parecia que era por obrigação. Quando nos víamos pessoalmente, qualquer mínima coisa era motivo para uma enorme briga.

E então veio essa viagem, Sakura planejou tudo sem eu saber e, de repente, veio com drama dizendo que em um mês iríamos ser rudemente separadas pelo destino, palavras dela, e que precisávamos viajar juntas por uma última vez. Apenas nós duas. O que, claro, foi motivo de mais uma confusão com meu namorado.

“Você vai ficar encarando o celular por mais quanto tempo? Disse que tava cansada, que queria dormir, mas pra ficar falando com o namoradinho tá toda desperta né.” Levantei os olhos e minha amiga estava de toalha mexendo em sua mala, sem me encarar, com toda a certeza procurando algo para vestir amanhã. Sim, vocês não leram errado. Ela é dessas pessoas que escolhe roupas no dia anterior.

“Eu já estou indo tomar banho, senhora dramática.” Pego minha toalha com rapidez, para me esquivar de seus sermões e me tranco no banheiro. Não estou no clima para aproveitar esta viagem, mas amanhã é um novo dia. Quem sabe o que pode acontecer?

&

“A gente vai conhecer a cidade hoje, né?! Você não vai ser aquelas companhias chatas que só querem ficar dentro do quarto não né?! Porque branca do jeito que eu tô, parece que eu nunca vi sol na vida. E preciso pegar um bronze. E limpar minha vista né, essa cidade parece ter muitos caras bonitos. Eu sei que a gente tá hospedada num resort e tal, e a intenção é justamente que não precisemos sair desse complexo, mas a gente vai sair bastante né, miga?” Reviro os olhos, enquanto termino de tomar meu iogurte.

Não estou exatamente irritada, estou apenas neutra, vendo como o dia vai ser. Lee ainda não acordou, porque ainda não visualizou minha mensagem e um frio se instala em minha barriga, estou com certo receio de como vamos nos relacionar hoje. Não quero brigar, só quero realmente curtir o lugar que estou com minha amiga. Mas isso não será possível se Sakura ficar igual uma matraca do meu lado o dia todo.

“Não, Sak, eu não quero ficar só no quarto. A gente vai sim conhecer a cidade, a gente vai em todos os lugares que você quiser. A gente pode ficar o dia todo fora e só voltar pra dormir e tomar café da manhã se é isso que você quer. Vamos fazer o que você quiser.”

“Miga, você é a melhor! A gente pode terminar de comer aqui e dar uma andada por aqui mesmo, pra conhecer né, já que a gente chegou e foi direto pro quarto e não viu nada.”

“Sakura, são nove horas da manhã. Sério que você quer começar o dia andando?” Faço uma careta de desgosto e ela para o que está fazendo, comendo um bolo no caso, para olhar diretamente para mim, os braços se cruzando.

“Mitsashi TenTen, eu não quero nem saber do seu mau humor hoje. Tá um sol lindo lá fora, hoje o dia promete ser perfeito. E se você se levantou da cama, você vai fazer o que eu quiser fazer, me entendeu?”

“Credo, nem minha mãe é desse jeito, sai garota. Tô só dizendo, calma. Não tô de mau humor, só não tô disposta a andar. Como sempre. Eu nunca estou disposta a andar. Você me conhece e sabe.”

“Bem” Ela volta a comer, como se nada tivesse acontecido. “Eu aceitava isso quando achava que você ia morar para sempre no Brasil. Agora que você vai se mudar pra Argentina, as regras são outras baby.” Essa mulher é impossível. Dou de ombros, porque é tudo o que posso fazer. Se já estou aqui de qualquer forma, porque não aproveitar um pouco esses quatro dias que o bom Kami me deu de férias, longe das preocupações e estresse?

Não demoramos a terminar de comer, visto que minha amiga está extremamente animada hoje para conhecer várias coisas. Já estamos com nossos biquínis, saídas de banho, toalha, protetores e todas essas coisas legais de quando se vai à praia e, segundo Sakura, prontas para conhecer o resort.

Depois de dois minutos de caminhada, já estou claramente cansada. Definitivamente, não nasci para fazer caminhada e sim para ficar sentadinha ou deitada em qualquer lugar que fosse possível. O lugar em que nos hospedaremos por mais quatro dias é enorme. Tem várias piscinas, salão de beleza, spa, vários restaurantes… temos que tomar cuidado para não nos perdermos neste lugar. Estamos andando há dez minutos quando chegamos à um lugar aberto. É um espaço anexo, que parece o final daquele interminável terreno.

Digo aberto porque não tem teto sobre nossas cabeças, apesar de que o lugar é coberto de tendas. Não há paredes ou tijolos. Há um bar, no canto, várias mesas espalhadas debaixo dessas tais tendas que citei anteriormente e um espaço realmente aberto (sem tendas) de frente à um palco grande, também coberto.

“Espaço interessante. Que tal nos sentarmos e bebermos alguma coisa? O que você acha?” Aceno positivamente para minha amiga, concordando com o que ela propõe. Não parece uma ideia ruim, principalmente porque vamos nos sentar e beber. Duas palavras que, inclusive, amo bastante.

Pegamos uma das mesas no canto esquerdo do palco, uma das primeiras para que possamos ver melhor o que aconteceria ali. Não havia muitas pessoas presentes, mas, bem, eram nove horas da manhã. Dificilmente as pessoas acordavam essa hora aqui e as que acordavam estavam por aí conhecendo a cidade.

“Bom dia, sejam bem vindas ao nosso espaço de lazer. Aqui está o nosso cardápio, o meu nome é Edson.” Uma garçom com um sorriso simpático nos recebeu logo que nos sentamos. Estendeu-nos um cardápio, um para cada uma e ficou esperando que déssemos uma olhada e, claro, fizéssemos o pedido.

“Eu vou querer uma caipirinha.” Diz a mulher de olhos verdes ao meu lado, sua total atenção ao homem à nossa frente. “Com licença, mas há alguma atração agora pela manhã? Chegamos hoje e não estamos muito situadas na programação por aqui.”

“Sim, temos atrações o dia todo. Nossa equipe de lazer é formada por humoristas,  dançarinos e professores de dança. Logo vai começar com a companhia de dança e se vocês quiserem, vocês podem se dirigir ali para a frente do palco para dançarem e se divertirem.”

“Ah sim, que legal. Na verdade vamos apenas tomar uma bebida, já temos programação para hoje. Quem sabe amanhã?”

“Um suco de morango, por favor.” Faço o meu pedido e ele sai, ainda com um sorriso simpático, em direção ao bar.

“Você viu, que interessante? Dança e humoristas, parece interessante. Podemos ficar aqui mais tempo amanhã, apenas para ver como é. E como a pista de dança não é coberta, podemos aproveitar para tomar sol enquanto perdemos algumas calorias. Apenas pela manhã, eu digo, quando o sol é mais tranquilo né.”

“Pode ser. Não estou muito certa de que isso é animado, mas também não sei.”

“Você nunca dá uma chance pras coisas, TenTen.”

“Nada a ver. Sempre dou chance sim. Só to falando que, sei lá, não é exatamente o tipo de coisa que eu escolheria para fazer nas minhas férias.”

“Aí, olha só, a companhia de dança está entrando.”

Ambas olhamos para o palco quando um apresentador entra e começa a anunciar a entrada da companhia de dança. Fico surpresa, quando entram, ao perceber que há homens e mulheres, para ser exata quatro homens e quatro mulheres, e que eles estão muito pouco vestidos. Não que as pessoas que estão na pista de dança estejam reclamando, é claro. Não que as pessoas quando vão à praia estejam vestidos, é claro. A temática é tudo.

“Uau, os caras estão realmente só com um short que parece claramente uma cueca. Ok, já gostei desse lugar. Definitivamente vamos vir amanhã!” Reviro os olhos enquanto uma risada escapa de meus lábios. Sakura sendo Sakura, nada de novo sob o sol.

Observo com atenção os dançarinos e as dançarinas, vendo como eles fazem a coreografia em perfeita sincronia. Bem, tirando uma pessoa e outra. Quando uma música inteira se passa rapidamente, já sou capaz de dizer algumas coisas sobre eles. E não posso deixar de comentar com minha amiga.

“É divertido, afinal. Tem um carinha loiro lá que parece que não dança nada. Ele sorri o tempo todo e fica conversando com o pessoal da plateia, acaba que ele se perde na coreografia.”

“Eu vi. Ele parece se achar muito, mas não sei né, não conheço a pessoa. Com certeza o mais bonito é aquele de óculos escuros. Na verdade, não sei dizer. Acho que é ele, mas talvez ele seja mais feio sem aquilo na cara né, a gente nunca sabe.”

“Sério que você achou ele o mais bonito? Sério mesmo? Porque achei ele bem, sei lá, ele fica encarando o pessoal e fica mordendo o lábio o tempo todo, isso parece meio bizarro pra mim. Além disso, quem é que usa óculos de sol num lugar coberto, pelo amor de Kami?”

“Bem, talvez ele tenha problemas de vista e não queira usar um óculos normal. Óculos de sol são sexys, garota.” Bufo, porque sério, não acredito que ela está me dizendo isso.

“E outra, ele tem barba. Argh, não consigo achar caras de barba bonitos.”

“O quê? Você está doida? São os mais bonitos! Homem sem barba é tão… sei lá, cara de bebê. Não gosto muito não. Mas ó, ele é todo sarado, aí que homem lindo. Ele entrou de novo, vamos apreciar.”

Tudo o que posso fazer é balançar a cabeça. No mesmo instante nossas bebidas chegam e fico muito feliz com o fato. O suco de morango está divino e não tenho do que reclamar. Estou sentada, bebendo alguma coisa e um ventinho gostoso batendo no rosto. Finalmente eu estava começando a apreciar essas férias que, no início, pareceram um inferno.

“Mas e aí, qual você acha mais bonito?”

“Sei lá, Sakura, eu não tô tipo olhando pra eles.”

“Ah, TenTen, para de ser chata. Não tô perguntando nada demais, ué, só porque você tá namorando quer dizer que você ficou cega agora?”

“Aí, nada a ver. Só to dizendo que não tava secando os caras igual você e as outras mulheres daqui.”

“Não tem nada de errado em secar os caras viu, meu amor, o que é bonito é pra ser olhado mesmo, apreciado com moderação, é claro. Tu acha que eu de férias, solteira, com esses olhos que o bom Kami me deu vou deixar de olhar pra uns boy lindo desses? Por favor!”

O que ela chama de “uns boy lindo” são quatro caras que, bem, devo admitir, dançam melhor do que a maioria dos caras que eu conheço. O moreno que ela, aparentemente, ficou toda apaixonadinha se chama Sasuke. Sei disso porque o apresentador, depois do fim da segunda música, traz toda a companhia de dança ao palco para apresentá-los à plateia. Ele tem o corpo todo malhado, uma barba que sinceramente não consigo achar bonita, cabelos negros espetados de uma forma que estranhamente dá um charme a ele e olhos da mesma cor; e sim, ele tirou os óculos para se apresentar as pessoas. Bem, eu não chamaria esse cara de lindo, mas acho que sou a única. Porque quando ele vai a frente, parece que todas as garotas do espaço gritam por ele, inclusive minha amiga.

O segundo cara, mais desejado ainda que o primeiro, é o loiro que, em minha visão, não sabe dançar muito bem. Ele tem um sorriso grande que me incomoda um pouco, não sei. A impressão que eu tenho é que ele só sorri. O corpo dele também é definido, várias tatuagens na região da barriga e peito, olhos azuis brilhantes e uma barba por fazer no rosto. Seu nome é Naruto e quando ele vai à frente percebo que ele também tem piercings nos mamilos. Pisco, achando que é uma miragem, mas não é. Ele realmente tem e, uau! Não posso deixar de reconhecer algo como isso. As mulheres também gritam muito pra ele e me sinto uma estranha por não achar os caras que as outras mulheres acham tão bonitos assim.

A seguir, vem um ruivo com um sorriso fácil. Ele é bonito, não vou dizer que ele é feio. Dos que se apresentou até agora, é o mais ajeitado deles. Seu cabelo é baixo, olhos verde-água, corpo também definido e seu nome é Gaara. Não prestei muita atenção nele, mas vi a forma como todos eles dançavam. Gaara era, na verdade, quase bem parecido com Naruto nesse quesito. Ele mais brincava com o pessoal da plateia do que dançava realmente. Bem, eles estavam fazendo lazer, afinal. 

E então o último dançarino era uma pessoa, no mínimo, estranha. Bem não era minha intenção ofendê-lo de forma alguma, mas ele era muito destoante dos outros membros. Sua pele era muito branca, quase pálida, ao passo que os outros eram tipo morenos. Seu cabelo era grande e quando eu digo grande eu realmente dizer grande. Batia em seus ombros e estava solto o que, pra mim, não fazia muito sentido, já que ele estava, claramente, suando bastante ali em cima. Não só isso, ele também era o único dos quatro que não exatamente definido. Sua barriga não tinha os famosos gominhos. Ao invés disso, existiam traços do que poderia ser uma barriga malhada, mas ele tinha um buchinho¹ que pareceu muito fofo aos meus olhos. Seus olhos pareciam cinzas ou algo assim, de onde eu estava vendo, e seu sorriso era tipo simpático, daquelas pessoas que sorriem e dá vontade de ser melhor amigo. Seu nome era Neji, mais conhecido e apresentado como “o novinho” e, na minha humilde opinião, ele era a pessoa que mais se esforçava ali. Ok, ele não era o mais bonito e nem o que rebolava melhor, mas ele era determinado, sabe? E esse esforço definitivamente dava a ele muitos pontos positivos.

“Esse Neji acho que é o melhorzinho daí.” Digo, continuando a observar o palco, onde as meninas estão sendo apresentadas. Como não tenho interesse em garotas, me viro para conversar com Sakura.

“O Sasuke é muito mais bonito, com certeza.”

“Isso não é uma competição. Cada um com seus gostos. Você já terminou sua caipirinha? Achei que estivesse animada para sair daqui.”

“Claro que estou! Só tava comentando o quanto o cara era gato. Enfim, terminei aqui minha bebida. Vem, vamos. Praia, lá vamos nós.” Nos levantamos, eu rindo dela, é claro, por quão louca essa mulher era e o quanto eu a amava mesmo assim. O melhor era que não precisávamos pagar agora, porque poderíamos pagar quando fôssemos fazer o check-out. Demos um aceno rápido ao garçom e seguimos nosso rumo.

Como as turistas que éramos, pegamos um táxi até uma praia da qual Sakura ouvira falar. Passamos o resto do dia lá, ela torrando minha paciência comentando sobre um monte de caras, nem sei dizer o quanto revirei os olhos e o quanto ri naquele dia. Foi definitivamente bom, nos deitamos às duas da tarde em cadeiras de praia e nem preciso comentar o quanto já ficamos vermelhas no primeiro dia. Há muito tempo que eu não me divertia tanto, mas ao mesmo tempo também havíamos ficado bastante cansadas, o que resultou em nós duas dormindo às nove horas da noite. De qualquer forma, nenhuma de nós estava reclamando.

¹A título de informação, o que eu chamo de buchinho é quando uma pessoa tem uma barriguinha saliente, ou seja, uma protuberância na região abdominal, como aquelas gordurinhas chatas que ficam na barriga.