Um Estranho No Natal escrita por Damn Girl


Capítulo 3
Aquela série chamada.....? (Christian)


Notas iniciais do capítulo

Voltamos com a terceira parte do conto, espero que gostem!



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        Liberto dos limites do círculo, o fantasma teve uma reação mais rápida que a minha e correu para a direção oposta num rompante, desaparecendo em meio as caixas. Ameacei segui-lo, contudo os gritos desesperados Jaynet fizeram-me virar em sua direção. Ela se debatia e lutava para livrar-se de algo grande e bruto que, incrivelmente, a atingira, já que a maior parte das coisas costumam simplesmente.... ultrapassá-la, como se ela não existisse.

— Saí de cima de mim!!

          O montante moreno e bagunçado, se ergueu e tomou forma dentre a meia luz. O homem baixo de pele negra ajeitou sua capa preta, revelando seu corpo trajado com uma veste de couro de um modelo muito esquisito e um olhar bastante ameaçador.

— Quem é você?! – Questionei um pouco irritado, enquanto Jaynet se reerguia.

         Ele havia arruinado totalmente meu exorcismo, colocado a segurança das pessoas novamente em risco, e sequer se deu o trabalho de me encarar. O esquisito correu os olhos pelo cômodo, me ignorando deliberadamente. Foi quando Jaynet perdeu sua paciência de vez e agarrou os cabelos pretos, compridos e encaracolados do homem misterioso, puxando-o em sua direção e forçando-o a encará-la.

         Achei que ele finalmente iria pronunciar alguma coisa, seu nome ou mesmo um singelo "desculpe, atrapalhei alguma coisa?", ou mesmo um " desculpe cair em cima de você". No entanto ele permaneceu vasculhando entre as sombras, alarmado com algo.

— Apareça, Richard. Posso sentir seu cheiro podre de moribundo daqui!

         Jaynet e eu nos entreolhamos. Foi apenas por uma fração de segundo, contudo quando voltamos a olhar para frente o homem não estava mais sozinho; outros três com o mesmo semblante pálido e maligno estavam parados ao seu lado. Todos com as roupas parecidas, portando espadas nas mãos e vasculhando o lugar ao redor. Em suas feições pude ver o misto de raiva e preocupação.... E ameaça.

        Um calafrio percorreu meu corpo em forma de eletricidade, uma espécie de premonição sinistra da qual me alertava que aqueles homens não eram pessoas normais. Minhas mãos suaram e o alarde comprometeu o ritmo de minha respiração, fazendo minhas pernas tremerem.

        Um pressentimento irracional e bobo... Afinal, o que seriam esses homens comparados com os fantasmas que enfrento praticamente todo dia? Sério, que perigo eles ofereceriam a algué, que lida com gente morta e descontrolada. Entretanto, quando um dos novos intrusos realmente virou o rosto em minha direção, fiquei tão surpreendido com o que vi que tive de me equilibrar para não caí para trás.

— Caralho!...

       Longos caninos brancos e brilhantes pendiam de sua boca entreaberta. Os olhos de íris vermelhas me fitaram com desejo. Não um desejo amoroso, ou sexual daqueles que partem de uma atração à primeira vista, não. O homem tinha em seu semblante a nítida vontade surreal de me devorar.

        Então um outro homem apareceu. Diferente dos outros, ele manteve um certa distância do grupo e o olhar atento e preocupado em nossa direção. Seus olhos vermelhos mais claros - e igualmente assustadores - se fixaram em Jaynet de maneira desconfortável, com o mesmo desejo sangrento que o anterior, e instintivamente passei os braços por sua cintura, tentando nos proteger do que pareciam figurantes de algum filme ou série de vampiro muito profissionais. 

        Em uma velocidade descomunal, eles se aproximaram do novo intruso, sacando espadas, lanças e arcos. Eles começaram a brigar com ele, tão rápido que mal que pude acompanhar os movimentos, numa coreografia confusa e mortal.  Eles se amontoaram junto ao recém-chegado que, mesmo encurralado, desviava da maioria dos golpes com surpreendente facilidade.

— Diga-me Arthemis, para que mundo estranho fomos transportados?

       Uau, Arthemis.. Com certeza são atores! Ninguém colocaria esse nome no filho em pleno século 21... bem, talvez agora depois de Game of Thrones nomes estranhos surjam por aí...

  - Não sabe, Richard? - Aquele que havia mostrado as presas para mim o respondeu. - Achei que fosse o favorito de seu Mestre por possuir dons especiais, receio que me enganei.. Não passas de um mero vampiro comum, escravo da vontade dos Antigos durante toda eternidade aprisionado por seus desejos egoístas. 

       Richard deu um meio sorriso debochado enquanto deferia um golpe com sua espada na perna de um dos inimigos. 

— Sim, sou um Vampiro comum.  Sabe porque o Criador me considera o favorito? - Ele sacou uma adaga do sobretudo e lançou-a em direção do pescoço de outro dito vampiro, que pôs a mão no ferimento com os olhos arregalados e caiu de joelhos. -  Porque levo insignificantes como você para ele executar. 

       Arthemis deu de ombros e fechou o semblante em meio ao insulto. Pareceu que ia avançar sobre Richard por um momento, no entanto no segundo seguinte, sua expressão havia se tornado completamente fria e apática. 

— Perseguidor...  já fez mais do que lhe foi ordenado, cumpriu sua ordem. Agora vá embora e deixaremos vós, os humanos aqui presente e você, em paz.

— Tenho uma contraproposta a fazer... - Os olhos escarlate brilharam e ele de repente, desviando de todos numa velocidade absurdamente rápida, apareceu a poucos centímetros de Arthemis. - Acompanhem-me pacificamente e eu os deixarei viver... até vossas respectivas execuções, é claro.

— Acho que não, príncipe renegado. 

       O homem correu até Jaynet enquanto os outros continuavam seu embate e a segurou pelo pulso, exibindo-a para Richard como quem exibe um troféu. Um lampejo de tensão brotou do fundo de seu olhar, enquanto a face permaneceu indecifrável e intricada.

— Largue-a! Não piore sua situação.

       Richard foi agarrado pelos braços por dois outros Vampiros e grunhiu quando um deles executou um corte em seu abdômen com uma faca de lâmina escurecida por um líquido de aparência grosso, envelhecido e negro. O odor de podridão do liquido desconhecido que permeava a adaga chegou até mim, me embrulhando o estômago e do corte em sua pele jorrou sangue fresco, brilhante e bem espesso. Algo que nenhum efeito especial poderia reproduzir com tanta fidelidade.

       Como se para confirmar minha suspeitas os vampiros efetuaram novos cortes em sua carne provando que eram de verdade. Que aquilo tudo que estava acontecendo, por mais surreal que fosse, de alguma maneira era de verdade. Não eram figurantes de algum seriado como True Blood ou Diário do Vampiro, nem atores de um filme de quinta qualquer. Aqueles vampiros ali eram tão reais quanto os fantasmas que passei a enxergar, só que ainda mais assustadores e mortais. 

       Ao ser atingido pela realidade um medo poderoso e genuíno se apoderou de minhas entranhas, paralisando minhas pernas. Cada célula do meu corpo parecia travar um pequeno embate entre correr dali e tentar ser invisível para os predadores. Lidar contra a força psíquica dos fantasmas era algo árduo para um mortal comum e quase impossível, lidar com vampiros então... Estava acima de qualquer poder de Mediador que eu tinha - o que não eram muitos, na realidade se resumiam a enxergar espíritos, tocá-los e jogar conversa fora.

       Richard soltou outro grunhido aterrador enquanto tentava se livrar de seus algozes, o que me impediu de entrar em estado de choque e me fez instintivamente fitar a fantasma aprisionada ao meu lado. Não havia tempo para dramas ou mesmo para desconfiança, tudo que eu tinha de fazer era salvar a amiga que eu - secretamente - amava. 

        O Vampiro a ergueu facilmente nos braços enquanto Jaynet se debatia, e respirando fundo comecei a me mover como quem não quer nada em sua direção. Meu olhar se encontrou com o da fantasma e seus olhos arregalaram conforme percebia o que eu estava prestes a fazer. no entanto tudo mudou quando pouco antes de eu conseguir me aproximar por trás e golpeá-lo na cabeça, o vampiro que a segurava cheirou seu pescoço e franziu o cenho, virando-a para que ficasse de frente para ele.

— Não tem cheiro de nada! Como pode?! - Arthemis se voltou para Richard com o semblante furioso. -Isso é mais uma artimanha sua, seu perseguidor maldito!

— Eu não sei do que está falando.. - Respondeu o vampiro solitário, nem um pouco abalado.

— Esta humana não tem sangue algum! Certamente um de seus malditos poderes.

— Não tenho nada a ver com isto. Como você mesmo disse, sou comum. - A ultima palavra saiu com a incerteza de alguém que está escondendo algo. Como um cara que escondeu um segredo por um ano inteiro posso afirmar isso com a devida propriedade. 

       Os Vampiros, inclusive o tal de Richard, farejaram o ar em direção a Jaynet, contudo voltaram o olhar para mim, fazendo-me paralisar  de medo no meio de meu percurso.

       Ah merda!! eu não! Puta que pariu..

— Ele tem sangue... porque ela não tem? - indagou um dos vampiros que eu não sabia o nome.

       O Vampiro Richard se aproveitou da distração formada pela minha acompanhante loira e desvencilhou-se dos vampiros que o seguravam e sem qualquer tipo de aviso, ergueu sua espada e cortou a cabeça dos dois com um único golpe. Fiquei ali parado observando com asco os dois tateando o ar por um momento no local onde deveriam estar suas cabeças, porém logo ambos entraram em combustão e desmancharam-se em cinzas e em uma fumaça fedorenta, dispersando a poeira do que antes eram seus corpos suavemente pelo chão resplandecente de porcelanato. Os membros decepados também se dissolveram da mesma maneira, e logo o sangue espalhado foi o único indício de suas presenças que fora deixado para trás.

       O único sanguessuga que não foi desintegrado correu em direção ao seu último amigo, ao passo que lançava adagas antigas e com o mesmo liquido escuro e esquisito na direção de Richard.

— Vamos embora agora, largue essa droga de humana no chão. 

       Intrigado, o Vampiro que segurava Jaynet deu-lhe uma última olhada antes de arremessá-la como uma boneca de pano e ainda com os olhos nela, deu um para o lado e ergueu ambos os braços em direção ao ar. 

        Ele desenhou um círculo imaginário com as mãos, circundando o espaço vazio e com o indicador traçou alguns desenhos intricados e aleatórios dentro do espaço imaginário, que então se tornaram traços de em uma luz púrpura florescente e se esticaram por todo o perímetro, ascendendo em um brilho dourado que se estendeu para fora dos limites, tão forte que tive de virar o rosto ou suspeitava que nunca mais fosse enxergar nada, não sem antes ver perfeitamente um castelo de pedras sombrio, rodeado por tochas e um lago congelado. 

        O clarão se dissipou rapidamente e levou com ele qualquer vestígio dos Vampiros do mal. Ergui o olhar para a base de uma montanha de caixas onde o tal de Richard tinha Jaynet no colo. Ela o encarava de forma embasbacada, e a julgar pela sua feição admirada ele a tinha agarrado no ar antes que alcançasse o chão. 

— A senhorita está bem? - perguntou num tom de voz provocante e genuinamente preocupado, fitando-a num misto de curiosidade e adoração que me fez ranger os dentes e fechar os punhos.

— Estou bem sim, obrigada. - Jaynet praticamente ronronou, espalmando as mãos em seu peitoral largo e musculoso, dando trela para a aproximação do idiota.

— Sinto muito, pensei que era uma conhecida minha.. É tão parecida. - Sussurrou próximo aos lábios de Jaynet aumentando a irritação em minha garganta. - Estou um pouco transtornado pela semelhança.

        E doido para pôr as mãos na MINHA fantasma!

        Imediatamente cruzei o espaço até eles e o empurrei, fazendo-o cambalear com ela para trás. Não bastasse competir com um Fantasma Conde Escocês do século XV podre de rico e extremamente lindo que a queria como esposa, tinha que vir alguém de uma outra dimensão dar em cima dela também. 

        Roosevelt é a perfeição em pessoa, definitivamente não precisava de mais um cara perfeito em minha cola.

— Você e seus figurantes Vampiros-bruxos arruinaram meu exorcismo! - Gritei a única coisa que poderia dizer sem afirmar que estava com ciúmes da mulher que ele tomava nos braços.

        Como se lesse meus pensamente, ele gentilmente depositou Jaynet no chão e passou a estudar meu rosto, ao passo que ela continuou estudando o dele. Com um encantamento velado, tocou-lhe a face e correu os dedos por seu maxilar.

— Quem é você por acaso, Conde Drácula?! Você é ator?

        Soltei o ar que prendia quando ele se desvencilhou de Jaynet e se aproximou de mim com o semblante confuso. Parte de mim ainda temia que ele cravasse as presas em meu pescoço, mesmo elas não estando mais aparentes. Seus olhos transcenderam para um tom de verde um pouco mais escuro e profundo que os meus.

— Conde?.. Não sei, nunca ouvi falar deste termo. -  A voz grave dele soou calma e baixa.

— Conde é um título de honra dado por integrante da realeza, o rei ou a rainha. - Jaynet surgiu flutuando atrás de si com um sorriso encantador, que certamente não era para mim. - Nós temos um amigo Conde! Talvez você seja um duque? - Ela lhe examinou as roupas, demorando tempo demais.

— Não sei... Mas se serve de alguma coisa eu já fui um príncipe alguns anos atrás... - Ele esfregou as mãos uma na outra, acanhado.

— Aimeudeus, mentira que você era príncipe!! - Jaynet o rodeou flutuando, animada. 

—Eu ainda sou é que, bem.. meu reino e minha atual condição.. hum... é uma situação complicada. No momento sou mais um Perseguidor de outros vampiros, como puderam notar. Eu prendo os transgressores e os levo até os vampiros responsáveis por seu julgamento. 

       Isso não pode estar acontecendo. Não, não mesmo. Daqui ha pouco eu vou acordar na casa da minha mãe, com um belo de um presente debaixo da árvore de natal. 

— Então você é mesmo uma Vampiro! - Arfou Jaynet boquiaberta.

— Sim, receio que sou. Mas não se assuste humana, não estou com sede no momento.

— Uau! Você bebe sangue de verdade?

— Bem... sim, bastante. - Richard franziu o cenho.

— Uau!!! - Repetiu Jaynet embasbacada. Então ela se ergueu na pontas dos pés, apoiando-se nele pelos ombros. Puxou-o pelos cabelos pretos, lisos e brilhantes, e praticamente enfiou as mãos em sua boca. - Para onde elas foram? Mostra as presas de novo, por favor, por favor, por favor! 

         Um Conde e agora um príncipe/Vampiro sensual! Contra eu... um estudante do segundo ano vagabundo filhinho de papai, magricelo e sem nada de interessante. Uma competição totalmente desigual e injusta pelo coração da mocinha. Já que de nós três eu era o único humano e mortal.

          Sério, porque eu não nasci como um rei, ou um super-herói ou algo poderoso assim? É pedir demais não ficar para trás dos outros pretendentes de sua garota?

          Suspirei pondo para fora toda minha frustração e caminhei até o lugar onde os vampiros sanguinários estavam segundos atrás, logo abaixo do meu círculo de exorcismo inacabado. Richard apareceu ao meu lado, examinando o local com um semblante desolado e com as presas novamente a mostra. 

— Estou preso neste mundo...

          Ouvi um ruido de comemoração de Jaynet enquanto ela mordia os lábios e o enlaçava pelo braço, claramente se controlando para não gritar e não mostrar a verdadeira patricinha histérica que existia ali. 

          Em minha mente a abertura daquela antiga série de vampiros, True Blood da HBO começou a tocar, com todo seu fundo country e as pessoas nuas e as cenas de igreja. Só que na minha imaginação a cabeça da cobra no meio da abertura foi substituída pela de Richard, e ele abocanhava a fantasma em seus braços enquanto ela morria feliz da vida, pois algo me dizia que ele não ficaria sem sede por muito tempo.

          Ótimo!! Incrível, este natal não poderia ficar melhor.


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