Georg esticou o pescoço para fora da cozinha para ver quem tinha chegado. Era apenas uma tia.

 - Espero que a sua namorada não venha, Georg.- Disse a mãe de Georg, lavando as mãos.- Quer dizer, essa garota não é boa pra você, eu te disse, mas você não me ouve...

 - A Mia vai vir?- Ele voltou à posição de antes, com os braços cruzados, encostado na parede, e suspirou.

 - Ah, vai. O pai dela não queria que ela viesse, ainda está se recuperando, mas ela disse que estava bem...

 - Se recuperando? O que aconteceu com ela?- Ele afastou o cabelo dos olhos e prestou mais atenção no que a mãe dizia.

 - Ah, eu não te contei? Trágico! Ah, ela é uma menina tão boa, gosto tanto dela...- A mãe lançou um olhar significativo para o filho.

 - Mãe, o que aconteceu?- Ele ignorou o olhar, mesmo sabendo o que queria dizer. Sempre que havia um feriado, e que a família se reunia a mãe fazia questão de lembrar a Georg de como ele e Mia eram na adolescência.

 - Mia trabalha muito, e chega muito tarde em casa. Há duas semanas, quando saía do trabalho, ela foi assaltada e levou dois tiros e quebrou a perna. A sorte é que o pai dela passou na rua aquela hora.

 - Ela está bem?- Ele perguntou com a voz embargada pelo nó em sua garganta. Sentiu o coração apertar.

 - Ah, está se recuperando lentamente. Você sabe como ela é, não consegue ficar parada! O médico recomendou repouso absoluto, mas ela fica em pé, cuida do pai doente, arruma a casa...

 - Ela nunca foi das mais obedientes.- Disse Georg, deixando um sorriso discreto brotar em seu rosto.

 - Você sabe que ela é como uma filha pra mim, não é, Georg?- Ela passou as mãos nos cabelos do filho.

 - Georg, chegamos!- Disse a voz de Tom na sala.

 - Aahn... Vou falar com os meninos, mãe!- Georg desviou da mãe e foi para a sala.

 Tom Kaulitz já tentava seduzir uma prima de Georg. Bill se olhava em um espelho perto da entrada. Gustav Schäfer olhava para a casa entediado.

 - E aí, Georg? Você tem umas primas gostosas, hein cara!- Disse Tom com a língua no piercing e a mão na calça.

 - É, mas se você pensar em encostar a mão em alguma delas eu arranco seu melhor amigo à força.- Bill e Gustav riram, agora prestando atenção.

 Os meninos foram para a sala, onde suas famílias já o esperavam. A campainha tocou. Georg se levantou para atender com a mãe.

 O senhor Geisenberger entrou sorrindo e cumprimentou sua mãe. Atrás dele, uma garota pálida, com os olhos castanho avelã, com gesso na perna e uma expressão de dor no rosto delicado.

 Georg correu para ajudá-la, e reparou que os cabelos escuros de Mia estavam mais longos do que ele se lembrava, do que ela geralmente gostava de manter. A garota ficou vermelha e deu um sorriso tímido para ele.

 - Você está bem, Mia?- Ele perguntou preocupado.

 - Ah, sim, estou melhorando. Quanto tempo, não é, Georg?- Georg ajudou a ir para a sala e se sentar, em um lugar perto dele.

 - Três anos.- Eles se olharam tristes pelo acontecimento de três anos antes, mas afastaram o pensamento.- Gustav está aqui.

 Mia olhou para Gustav, não muito longe deles, que pareceu não ter percebido que ela estava lá. Respirou fundo e voltou aos olhos verdes e hipnotizantes de Georg, de quem sentia tantas saudades, mesmo que não quisesse admitir para si mesma.

 - Que bom.- Ela disfarçou. Sabia que Georg não gostava de tocar no assunto. Ele suspirou e se sentou ao seu lado.

 - O que aconteceu com você? Fiquei preocupado.

 - Ah, não foi nada. Eu estou viva, e feliz. Apenas com um tiro na coxa, um perto do estômago e uma perna quebrada.- Ela sorriu, porém Georg não achou graça.

 - Não está feliz de verdade, está?- Mia sentiu o coração acelerar e desviou os olhos para Gustav, que havia percebido que ela estava ali, finalmente. Ele sorriu timidamente e ela retribuiu.

 Porque mesmo tinham terminado o namoro? Ah, por Georg!, ela pensou amargurada.

 - Fiquei sabendo que está namorando, Georg.- Ela mudou de assunto.- Ela é legal?

 - Sim. Maravilhosa.- Georg pensou ter visto um relance de raiva e decepção nos olhos de Mia, mas pensou ter sido apenas sua imaginação.

 - Fico feliz por você.- Ela disse fria. Depois, se virou para conversar com seu pai deixando Georg incrédulo por sua atitude.

 Ele se levantou e voltou para onde seus amigos estavam.