Estava caminhando para fora da escola quando sinto um par de olhos me encarando mas não tenho coragem suficiente para olhar quem era. Aperto o passo e ando um tanto apressada até estar fora dos portões da escola. No caminho para minha casa, coloco meus fones que tocavam Clair de Lune em uma altura um pouco alta demais, me fazendo esquecer o mundo.

Ao chegar em cas destranco a porta e largo minha mochila no sofá, minha mãe que estava sentada no sofá assistindo televisão olha para mim e fala algo que eu não consigo entender por conta da música. Retiro meus fones e peço para ela repetir.

— Como foram as aulas de hoje meu bem? - ela dá dois tapinhas no assento do sofá ao seu lado e eu me dirijo até lá mantendo ainda uma certa distância.

— Hoje na aula de biologia foi um pouco diferente mas as outras foram como sempre - comento pensativa, eu nunca guardava segredos de Renée então achei melhor contar tudo - Eu recebi uma carta hoje, ela estava dentro do meu livro de biologia mas não sei quem colocou lá dentro. Me surpreendeu bastante.

— Mas o que tinha nessa carta? Não era algo maldoso, era Bella? 

E lá estava Renée mais uma vez adotando sua pose de super mãe, ela conseguia ser mais superprotetora que  Charlie de vez em quando. Rolo meus olhos e balanço a cabeça em negação.

— Bom, era alguém tentando ser meu amigo. Ele acabou escutando a senhora falar com o diretor sobre a minha fobia - logo vejo a expressão da minha mãe cair, ela estava com medo dessa pessoa espalhar meu segredo - Mas não se preocupe mãe, essa pessoa falou que não iria contar a ninguém sobre isso é estranhamente eu acho que ela realmente não faria isso comigo. Se quiser ler a carta, aqui está.

Entrego o envelope com a carta para minha mãe e brinco com meus dedos impaciente, esperando ela terminar de ler.

Depois de alguns minutos, quando ela finalmente acabou, vejo um sorrisinho brotando em seu rosto, com certeza ela estava feliz de alguém finalmente ter paciência e coragem para tentar se aproximar da sua filha problemática.

— Você já sabe quem te mandou isso?

— Ainda não - nego um pouco nervosa - No fundo, acho que não quero descobrir quem é. Tenho medo de fazer algo errado, de não saber como conversar com essa pessoa...

Minha mãe suspira e quebra o pequeno espaço entre nós, me abraçando pelos ombros. Me encolho um pouco sentindo minhas mãos soarem um pouco mas apoio minha cabeça em seu ombro tentando me controlar.

— Minha Bella, você precisa tentar sair da bolha. Eu imagino o quanto deve ser difícil para você mas se não tentar, só vai ser pior pra você. Eu não quero te ver sozinha querida e eu vou estar ao seu lado para te apoiar e te ajudar a dar esse passo - ela beija meus cabelos e eu mordo meu lábio inferior tentando controlar minhas emoções.

— Tudo bem mamãe, prometo que vou tentar seguir em frente com isso. Vou fazer de tudo para enfrentar meu medo - sorrio dando um beijo estalado em sua bochecha - Vou para o meu quarto, quando o jantar estiver pronto eu desço.

Pego minha bolsa e subo as escadas de dois em dois degraus, entro no meu quarto e me jogo na cama. Coloco minha bolsa em cima das minhas pernas e abro todos os bolsos para retirar meus materiais de dentro quando noto a presença de outro envelope mas dessa vez era amarelo com pequenas carinhas sorridentes. Com as mãos trêmulas, eu abro e retiro um pequeno papel de dentro, dessa vez era apenas um pequeno bilhete.

"Hoje eu vi como você ficou confusa ao ler minha carta e parando para pensar é realmente meio injusto você não saber quem eu sou enquanto eu sei quem você é. Por isso, a cada carta que eu mandar vou acrescentar uma letra do meu nome. Vai ficar bem fácil agora, não acha?

PS: Esse não é meu primeiro nome, mais uma dica. Acho que estou facilitando demais para você Bella mas não me importo, talvez eu esteja ansioso para que me descubra logo.

With Love, An"

Sorrio ao terminar de ler e coloco minha cabeça para funcionar. Penso somente nos meninos com nomes compostos na minha sala que tem o segundo nome com A mas ainda assim são muitos, preciso da próxima letra para me ajudar a cortar mais nomes e minhas opções dimuirem até restar somente uma.

Será que se eu respondê-lo, ficaria mais fácil de perceber quem ele é? Em um impulso de coragem, pego meu caderno e rasgo uma folha, pesco alguma caneta de dentro do meu estojo e começo a escrever.

"Olá misterioso An

Para começar, saiba que eu estou realmente muito nervosa e sinto como se fosse vomitar meu próprio coração a cada palavra que estou escrevendo mas eu realmente precisava fazer isso.

Gostaria de lhe agradecer por todas as palavras bonitas e carinhosas que escreveu para mim. Preciso lhe agradecer também por ter me abordado de um jeito tão diferente, conversar através de cartas torna tudo um pouco mais fácil.

Mas se me permite a pergunta, porque quer tanto se aproximar de mim? Por que quer tanto ser meu amigo? Existem tantos alunos pela escola que não precisariam de todo esse seu esforço para se tornar seu amigo, já que nenhum deles tem esse problema. Resumindo tudo, por que eu?

Por favor, não me leve a mal, eu realmente aprecio todo esse seu esforço, ninguém nunca fez isso por mim além de você. Eu só tenho medo de estragar tudo no final mas talvez eu já esteja estragando com essas palavras. Eu sinto muito.

Eu tenho medo sabe? De no final você perceber que eu sou só uma garota comum e sem graça que não valia todo seu esforço.

Mas preciso lhe confessar também que me pego pensando em quem é você e como você é, me pego pensando em como seria encontrar você. É incrível como você já está me mudando, se fosse antes, eu jamais pensaria em encontrar alguém.

Enfim, espero ansiosa pela sua próxima carta. E mais uma vez obrigado.

PS: Espero não ter te chateado com minha carta.

Isabella Swan"

Assim que termino de escrever a carta eu escuto o alarme do celular tocando, era a hora de tomar meu remédio. Retiro a cartela de dentro da minha cômoda e separo uma pílula a engolindo facilmente sem ajuda de água. Suspiro ao lembrar que daqui a alguns minutos eu ficaria ainda mais letárgica que o normal, eu odiava isso mas não podia ficar sem tomá-lo.

Volto a olhar para o papel em cima da minha cama, como eu não tinha nenhum envelope para guardar a carta, eu apenas a dobrei e coloquei no bolso pequeno da minha mochila. Amanhã eu daria um jeito dessa carta chegar na mão desse menino mistério. 

Ajeito tudo e me deito mais uma vez, lentamente sinto meus olhos pesarem pelo efeito do remédio. Me ajeito encontrando uma boa posição para dormir e cruzo os dedos, torcendo para que amanhã dê tudo certo e para que a carta chegue nas mãos da pessoa certa.