A consciência além do tempo. escrita por Julia Leicester Sotero


Capítulo 5
Veritasserum parte 1




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Harry desviou o olhar de Riddle. Ele não podia deixar o rapaz perceber que algo estava errado. Resolveu beber seu chá também, chegando à conclusão de que o sonserino não tinha motivos para envenená-lo. Ainda.

De fato, aquela bebida era deliciosa. O líquido doce escorria pela sua garganta anestesiando todo o seu corpo. Por estar quente, Harry podia sentir-se aquecido por dentro, e, por um momento, quase se esqueceu da situação em que se encontrava e de quem estava sentado ao seu lado.

— Nunca tomou chá de camomila antes? – Harry virou ao escutar Riddle perguntar-lhe cordialmente.

O sonserino podia perceber as ondas de alegrias que inundavam o outro rapaz apenas por causa daquela bebida.

Não é da tua conta, imbecil. Era o que jovem Potter queria responder. Contudo, o que saiu de sua boca foi:

— Não. Essa é a primeira vez. – respondeu no mesmo tom cordial.

— Bom, espero que te ajude a se acalmar.

Riddle tentou evitar, mas Harry percebeu a pontada de ironia. O menino-que-sobreviveu respirou fundo e tentou parecer amigável.

Se esse idiota consegue encenar a educação, então eu também consigo!

— Ah, eu... – começou conseguindo a atenção do outro rapaz – Sinto muito. Por ter sido ignorante.

O menino conseguiu engolir o seu orgulho e de fato parecia estar arrependido. O sonserino estranhou a atitude do garoto, mas não se importou. Sabia que o rapaz passara por um grande trauma.

— Tudo bem. Você estava em choque. Ainda está, na verdade.

Quem Riddle pensava que era para dizer se Harry ainda estava ou não em choque? Não importava que ele estivesse certo, não tinha o direito de ser presunçoso daquele jeito.

— É, eu... – O mais novo começou tentando não se enrolar na explicação – Passei... por muita coisa... nas mãos de alguns homens à serviço de Grindelwald.

Tom o olhou desconfiado.

— Você não parece muito convincente... – o sonserino deu uma risada baixa.

— O que você quer dizer?

Riddle bebericou mais um pouco seu chá e deu de ombros:

— Nada. Deixe para lá.

Harry então o ignorou e voltou para sua xícara, espiando a do outro uma vez ou outra, torcendo para que aquela poção tivesse sido feita de forma incorreta e não possuísse efeitos.

— Sabe, ainda não sei o seu nome.

Porque Riddle insistia em tentar puxar assunto com ele? Estava ficando difícil de não mandá-lo para onde sua mãe lhe deu a luz.

— É Harry. – Parou antes de perceber que não podia dizer seu sobrenome. A família de seu pai seguiu por anos uma linhagem de sangue bruxo. Era provável que o mais velho conhecesse um Potter ali em Hogwarts.

— Harry de quê? – O olhar que o moreno deu em resposta quase pôs todo o seu esforço anterior, de parecer educado, a perder – Ok, não está mais aqui quem falou.

— Obrigado.

O garoto de óculos tentou levar a xícara aos lábios novamente, mas Tom fez questão de interrompê-lo mais uma vez:

— Apesar de você já saber o meu nome, eu prefiro me apresentar de forma correta. Sou Tom Riddle. –  esticou sua mão para o menino-que-sobreviveu.

Foda-se. Pouco me importa o que você prefere. Era o que a língua de Harry estava coçando para dizer, porém ele se conteve e apertou a mão do rapaz, murmurando a palavra “prazer”.

— Sente-se melhor? Não foi muito fácil tentar amenizar seus... hematomas – mencionou Riddle falsamente envergonhado.

—  É evidente que eu levei uma surra. Não precisa ficar constrangido pela pergunta. – Harry respondeu entrando no jogo das encenações.

— Bom, quero evitar um conflito. Mas como eu ia dizendo, não foi fácil para mim e para os professores cuidarmos de você – parou de falar e bebeu rapidamente mais um pouco do chá – Não sabíamos nem como mantê-lo na ala hospitalar por termos poucas poções medibruxas prontas. O professor Slughorn disse que talvez fosse necessário amputar sua mão.

Harry acabou correndo o olhar para a mão enfaixada. O quão forte Tio Válter podia ser para lhe causar aquilo?

— Boa parte de seus dedos estavam quebrados e seu pulso quase foi esmagado. Dumbledore conseguiu ganhar tempo para que eu ajudasse o professor Slughorn a terminar a poção necessária, solidificando suas mãos com um feitiço de transfiguração. No fim deu tudo certo. Sua mão ainda está aí – disse Riddle tranquilamente, apontando para Harry. – Ah, e depois eu tive que te emprestar um pijama. Suas roupas estavam deploráveis.

E só naquele momento Harry percebeu que não estava usando sua camisa de sempre e seu casaco. Arregalou os olhos e começou a tatear a roupa que usava procurando sua varinha e o mapa do maroto. Ele tinha consciência que só havia sobrado pó do vira-tempo.

— Não se preocupe. Seus pertences estão ali. – disse Riddle percebendo o desespero do mais novo. Ele apontou para uma estante com algumas fotos de turmas dos anos anteriores. O jovem Potter colocou a xícara de lado e se levantou. Ele foi até a estante e a abriu com cuidado, achando rapidamente sua varinha em cima do mapa do maroto, perto de uma fotografia que mostrava um grupo de primeiranistas no salão principal. Harry pôde reconhecer Riddle na imagem, perto de um garoto que lembrava muito Draco Malfoy. O sonserino sorria, mas tinha algo em seus olhos, como uma imensa vontade de sair dali o mais rápido possível.

— Pensando bem, essa roupa ficou um pouco grande em você. – disse Tom enquanto Harry fechava o armário e voltava a se sentar no mesmo lugar de antes. – Qual é a sua idade?

O jovem Potter pegou novamente a xícara de chá e a aproximou dos lábios antes de responder.

— 13. Quase 14.

— Então eu sou mais velho – disse o garoto do lado sorrindo misteriosamente, como se soubesse de algo secreto. – Eu tenho 15. Quase 16. – falou fazendo um pequeno deboche com o tom sério que Harry havia usado.

Riddle despejou mais chá em sua xícara. Ele começou a sentir um desconforto em sua garganta. Tentou massagear o local para amenizar a sensação.

— Então, Harry, não serei indelicado ao ponto de perguntar como escapou dos bruxos das trevas, mas realmente estou curioso quanto ao fato de como você foi capaz de entrar no castelo apesar barreira de proteção.

— Olha, eu realmente...

— Dippet vai te perguntar a mesma coisa. – disse ainda com a mão no pescoço – É melhor que você já saiba o que... dizer.

O sonserino teve dificuldade de terminar a frase. Sua garganta incomodava, como se suas cordas vocais tivessem dado um nó. Harry percebeu as mãos no pescoço, entretanto Riddle não deixou transparecer seu incômodo.

— Eu não sei como entrei aqui. Foi tudo muito rápido. – Em parte, aquilo era verdade. Harry não entendera como o vira-tempo o levara para lá.

— Acha que ele vai... acreditar nisso? – Riddle apertava sua própria garganta de leve, tentando esconder de Harry a ardência que crescia no local.

— Por que ele não acreditaria? É a verdade.

Sem contar que se ele confia em você, é porque não é tão difícil de enrolar. Potter pensou secretamente antes de beber mais um gole de seu chá e finalmente reparar no desconforto do sonserino ao seu lado.

— Ah, Riddle...você está bem?

Tom não conseguiu responder. Fechava os olhos em decorrência do incômodo e simplesmente se levantou do chão e ficou dando voltas pela sala comunal. Harry ficou atordoado.  Aquilo é o efeito da poção? E se a garganta dele fechasse e Riddle morresse? Espera, isso não seria tão ruim... o garoto afastou esse pensamento que considerou em parte um pouco egoísta. A linha do tempo, ele precisava focar na linha do tempo.

O sonserino parou de dar voltas e apoiou-se nas costas do sofá esverdeado no centro da sala. Ele tampou sua boca com uma de suas mãos, como se estivesse prestes a vomitar. Harry se obrigou a levantar e tentar ajudá-lo:

— O que está acontecendo? O que está sentindo?

Riddle arregalou os olhos para o outro garoto e destampou a boca sem aguentar mais. O rapaz gritou tão alto que Harry não sabia se ficou sem ação pela entonação das palavras, ou pelo o que elas significavam.

— Eu entrei na sua mente! Sei que chegou aqui por meio de um vira-tempo!


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