A consciência além do tempo. escrita por Julia Leicester Sotero


Capítulo 4
Aprisionado e com chá




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Harry conseguiu saber um pouco mais sobre sua situação após conversar com Dumbledore.

O garoto descobriu que o cenário era de guerra, tanto no mundo bruxo quanto trouxa. E que, basicamente, os motivos dessas guerras eram iguais. Tanto Grindelwald quanto Hitler queriam “purificar” a raça e eliminar tudo que consideravam escória. No caso de Hitler o que não se enquadrava na raça ariana alemã e no de Grindelwald os chamados “sangues-ruins”.

Harry não podia ter tido mais azar. Ele foi parar em uma época de conflito e ainda por cima debaixo do mesmo teto de Tom Riddle.

Dumbledore explicou que o rapaz conseguiu a permissão de Dippet para realizar um projeto de poções durante o período de férias. O jovem Potter perguntou em sua mente se poderia ter feito o mesmo no seu tempo com alguns de seus professores. Mas nada de poções, Snape o detestava.

O menino-que-sobreviveu saiu da ala hospitalar, meio atordoado e com medo. Apesar de seu corpo protestar, ele precisava andar para por as ideias no lugar.

Certo, Harry. Você está preso há mais de cinquenta anos de distância de seu tempo. Seus pais não nasceram ainda, você está sozinho e aprisionado aqui.

O jovem Potter pensou. Talvez, se ele tivesse pesquisados sobre vira-tempos, igual Hermione, conseguisse pensar em um jeito de voltar a seu tempo. Ele lembrou-se do alerta que a amiga lhe deu várias vezes: “não podemos ser vistos”. Mas Dumbledore já o tinha visto.

E o filho da puta do Riddle também...”

Por mais que Harry quisesse matar o sonserino antes dele crescer e assassinar seus pais, sabia que mudar o passado era um risco muito grande. Ele já fizera merda o suficiente na linha do tempo só por ser visto, matar Riddle poderia causar vários estragos inimagináveis.

Dumbledore lhe havia dito que quando estivesse mais disposto, seguisse para as masmorras. Ele avisou que enviaria uma coruja ao diretor Dippet para que voltasse à Hogwarts, explicando a situação. Para que Harry não ficasse sozinho enquanto se recuperava, deveria ficar no salão comunal da Sonserina junto do “rapaz incrivelmente promissor” de Hogwarts. O moreno tinha detectado um forte tom irônico quando Dumbledore lhe falou isso, mesmo naquela época o velho não gostava de Riddle.

Pelo menos isso ainda é familiar...Pensava o moreno enquanto virava os corredores até chegar às masmorras.

 

 

Tom estava sentado bebendo chá no chão da sala comunal. Tentava reescrever a receita da poção que teria que fazer durante as férias. Ele a carregava antes do outro moreno aparecer, mas alguns de seus pergaminhos se espalharam e não conseguiu achá-los. Tinha acabado de terminar sua Veritaserum, mas ainda faltava a polissuco, o que complicava sem ter toda a receita escrita.

A poção demorava um mês para ficar pronta, então Riddle não se importava muito por ter perdido a receita. Poderia muito bem reescrever a receita, copiando-a do livro de poções que pegara da biblioteca. Só por estar em Hogwarts seu humor melhorava e ele conseguia evitar se estressar por qualquer coisa.

Enquanto passava para seu rolo de pergaminho o modo de instruções da poção, Tom viu a entrada da sala comunal se abrir. O moreno de óculos ainda parecia machucado, mas sua aparência estava bem melhor. Riddle pôde perceber a expressão odiosa que o garoto fez assim que o viu. Ele respirou fundo e reuniu todo seu poder de encenação para parecer o mais educado possível:

— Olá. Sente-se melhor? – Tom conseguiu soar incrivelmente amigável. Até sorriu. –  O professor Dumbledore me pediu para lhe fazer companhia enquanto o diretor Dippet não chega.

O moreno da cicatriz arqueou uma sobrancelha:

—  Acha que eu não sei disso? Qual outro motivo me faria vir para cá, Riddle? –  A rispidez era evidente.

E começava a se esvair o bom humor do sonserino.

Tudo bem Tom, ele é só um pirralho ingrato...inspira...expira...conte até dez... não o mate... –  era o que Riddle repetia em sua mente diante da arrogância de Harry

—  Você não precisa ser tão hostil. –  Disse tentando disfarçar a irritação. –  Não sou um dos homens de Grindelwald. Não vou te machucar.

Tom fora inconscientemente irônico. Ele sabia muito bem que o garoto não fora atacado por Grindelwald. Ele viu na mente do rapaz a surra que o mais novo levara de um trouxa incrivelmente gordo enquanto uma mulher e um garoto, que deveria ter a mesma idade daquele menino, observavam sem fazer nada. Tom sabia que o homem era trouxa pela hostilidade com a varinha do moreno depois que ele a derrubou de seu casaco acidentalmente.

Tom não pôde ver muita coisa, mas sabia que o jovem se chamava Harry, era mestiço, órfão e... não era daquele tempo. Viu que o garoto apareceu junto com o restos do que um dia fora um vira-tempo.

E isso significava que ele poderia lhe ser muito útil. Se ganhasse a confiança do rapaz, Tom poderia saber o que o aguarda e executaria seus planos com perfeição. Ele tinha que suportar a petulância e ingratidão dele se quisesse ser recompensado.

—  Sabe, tem chá lá dentro. Eu vou trazer pra você, precisa se acalmar.

E com isso retirou-se para a escada entrando em um dos dormitórios.

Harry esperava impaciente Riddle voltar. Não que quisesse que o rapaz aparecesse, na verdade, torcia para que ele escorregasse na escada e quebrasse o pescoço.

Era incrível ver Voldemort em sua forma adolescente outra vez. E toda aquela educação falsa e ensaiada pareciam o deixar ainda mais assustador do que quando não passava de uma lembrança fantasmagórica. Harry, infelizmente, lembrava-se perfeitamente do Tom Riddle que conhecera na câmara secreta. Toda a cordialidade do rapaz e sua boa aparência mascaravam suas verdadeiras intenções e o jovem Potter ainda se lembrava de uma das frases sujas de Riddle, quando referia-se sobre o culpado pela morte de Murta. Aquilo descrevia perfeitamente o poder de persuasão do sonserino:

“...De um lado Tom Riddle, pobre, mas brilhante, órfão, mas muito corajoso, monitor, aluno-modelo... do outro lado, o trapalhão do Hagrid...”

Era um fato que ninguém tinha, e nunca teve motivos para desconfiar de Riddle. Quer dizer, menos Dumbledore. Mas o velho professor também não foi capaz de pará-lo.

Harry sabia que precisava controlar suas emoções. Ele tinha que fingir que não tinha nenhum problema com o outro moreno. Deveria fazer tudo que fosse possível para bagunçar o menos possível a linha do tempo. Assim que o tal diretor atual de Hogwarts voltasse, iria pesquisar e descobrir tudo que podia sobre vira-tempo e viagens temporais. Se esforçaria tanto que quando Hermione soubesse ela ficaria orgulhosa.

O jovem Potter resolveu sentar no chão próximo às coisas de Riddle decidido a se desculpar pela arrogância quando este voltasse. Ele percebeu que vários materiais e frascos com ingredientes de poções estavam espalhados em um canto, enquanto havia um rolo de pergaminho do outro. Do lado esquerdo do papel havia uma xícara de chá, o qual Harry moveu para que pudesse sentar-se mais confortável. O problema é que o garoto sempre atrai confusão, e, sem querer, derrubou um dos frasquinhos dentro da xícara de Riddle.

Harry percebeu o que fizera e rapidamente tirou o frasco de perto da xícara. Metade do líquido havia se misturado ao chá. Ele tentou desesperadamente tentar entender pelas anotações do sonserino que poção era aquela. Seu coração batia descompassado com a incerteza e inconstância da situação.

“Pensa Harry, o que você pode fazer para consertar isso? Ou melhor, o que Hermione faria?” Bom, para começar, Hermione nunca teria derrubado aquela poção mesmo que acidentalmente. E nem voltado cinquenta anos no passado.

Harry se lamuriava, perdido, desejando que a amiga estivesse ali. Era incrível que até quando estava quieto, evitando causar problemas, os problemas apareciam mesmo assim. Por mais que sempre tomasse cuidado, acabava estragando alguma coisa. Fora assim com o colar e agora com aquela poção.

Não que ele se preocupasse com o bem-estar de Riddle. Ele só não podia piorar as coisas.

Harry largou as anotações assim que escutou passos na escada. Tom estava voltando, então, rapidamente, o jovem Potter arrumou as coisas do mesmo jeito que encontrara e tentou deixar em seu rosto sua melhor expressão de distração.

—  Pronto, é de Camomila. –  disse Tom com sua máscara de suavidade, segurando uma xícara e fazendo um bule levitar próximo de sua cabeça.

Ele olhou para Harry sentado e vasculhou, quase que imperceptivelmente, seus materiais. Era como se soubesse que algo estava errado, mas mesmo assim sentou-se um pouco afastado do outro moreno e entregou-lhe o chá. O sonserino levou o bule até a sua própria xícara derramando mais um pouco do líquido quente, antes de levitá-la para mais perto de si e assim pudesse beber. Riddle fechou os olhos para apreciar melhor o gosto da bebida escorrendo pela sua garganta.

Se os tivesse aberto, teria visto a careta de desespero do outro rapaz.


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