Além Do Horizonte escrita por Amber Brownie


Capítulo 8
Capítulo 7 - Um Passado Cinzento




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ALÉM DO HORIZONTE

 

Capítulo 7

Um Passado Cinzento

Sala do clube de interesses históricos. 16:10 p.m.

— Ahhhh. Não há nada melhor do que uma boa sala de estudos!

Arqueei uma sobrancelha.

— Parece que alguém teve um trabalho duro, pela primeira vez.

— O que você está dizendo? — Meiling me encarou fechando o cenho — é claro que como próxima candidata a líder do clã ter que resolver esses assuntos.

Fiquei em silêncio esperando Meiling terminar.

—… só que é tudo tão chato — murmurou colocando as folhas como uma muralha entre nós dois.

— Será que eu escutei direito?

As folhas estavam abaixadas novamente, Meiling sorriu de lado jogando o cabelo negro por cima do ombro. Isso é um ataque fatal.

— O que? Você estava esperando que eu me declarasse? É isso não era?

— Como você sempre faz isso Meiling? — retruquei mudando de assunto outra vez. Pelo visto ela estava tentando suprir a cota de me importunar que não conseguiu bater ontem — Está começando a deixar de ser irritante.

— É mesmo? Então você deve estar pensando em outra garota, não é?

Depois de um longo período de silêncio Meiling começou a rir histericamente. Acho que passar um dia inteiro resolvendo assuntos diplomáticos deve ter mesmo estressante. Tentei ignorá-la o máximo que pude, já que na verdade, era outra coisa que estava me incomodando.

Há quinze minutos Kinomoto estava parada em frente a porta do clube. Apesar de saber que tanto eu como Meiling podíamos saber que sua presença estava ali ela continuava parada. Me pergunto se Meiling agiu fora do normal e isso a tenha assustado. Ainda mais com essas risadas espalhafatosas.

— Que coincidência, Sakura-chan! — disse Eriol abrindo a porta e revelando Kinomoto encolhida à frente.

— É-é mesmo E-Eri-Eriol-senpai!

Kinomoto devia saber que é uma péssima mentirosa a essa altura.

— Então você finalmente chegou — retrucou Meiling olhando Eriol por trás de uma das antologias. Oh, isso é ruim. Eu não acredito que vou assistir isso de camarote. Kinomoto pareceu ter percebido a deixa e se sentou ao lado de Meiling sem deixar de observar os dois.

— Meiling-san, parece que finalmente temos um acordo.

— É mesmo não é? Syaoran não irá mais se declarar para mim.

— Ei! Pare de inventar essas coisas!

— Declarar? — Kinomoto indagou curiosa.

— Isso mesmo, Sakura-chan. Depois de todo esse tempo que eu esperei que ele confessasse, tudo foi uma ilusão!

— Meiling! Pare de falar essas besteiras para Kinomoto!

— Tsc. Tsc. Inacreditável, Syao-chan.

— É mesmo?

Kinomoto realmente está acreditando nessa palhaçada?

— É claro que não!

— Então, Eriol, nessa semana você me deve 1400 ienes — Meiling voltou a assumir sua postura habitual. Mas que diabos… Eles me usaram como aposta? Tentei não ficar irritado, mas a reação de Kinomoto também não cooperou. Porque diabos ela estava acreditando em toda esse teatro meia boca? Encarei os dois por um momento e voltei a ler a antologia para ignorá-los.

— Bom, estou feliz que Sakura-chan não tenha saído do clube — disse Eriol se sentando ao meu lado — Muito obrigado, Meiling-san.

A quem você está agradecendo, era você que queria tirá-la do grupo já que estava desconfiando dela! Pelo menos, Kinomoto não ficou apreensiva quanto a isso.

— Hoje eu chamei Sakura-chan para nos focarmos em adiantar o trabalho, já que na próxima semana teremos provas.

— HOEEE!! Provas!?

— Se você precisar Sakura-chan, eu posso ajudá-la — disse Eriol com aquele sorriso maldito no rosto.

— Bom, se a Sakura-chan tiver dificuldades podemos estudar juntas.

Finalmente algum comentário sensato. Na verdade, se eu olhar direito, parece que ambos estão lutando pela atenção de Kinomoto. Isso é bem estranho se eu fosse lembrar do primeiro dia de aula. Kinomoto tinha criado uma aura escura ao seu redor que fazia com que quase ninguém falasse com ela. E isso não combinava em nada com ela.

— Agradeço, Meiling-chan.

Subi os olhos para encarar Eriol e percebi Kinomoto me olhar e desviar o rosto. Imagino se ela está mesmo bem com isso.

— Parece mesmo que é o fim Meiling-chan.

— É, não é?

— Vocês dois parem com isso! — retruquei e suspirei, porque diabos eu sou o único a sofrer aqui? Se eu não mudasse de assunto isso iria continuar o resto da tarde — Bom, por causa das provas eu não vou poder estudar as antologias o tempo todo.

— Nada disso, além do mais, Sakura-chan é sua responsabilidade agora também já que você foi quem a trouxe para o clube.

— Eu estou dizendo isso justamente porque eu sempre acabo sobrando aqui!

Meiling me ignorou dando de ombros.

— É claro! O que mais um perdedor poderia fazer?

— Bom, é verdade que estamos ocupados também com os últimos eventos — ponderou Eriol arrumando os óculos — Não conseguimos rastrear o Youkai e as informações sobre o ataque à Sakura-chan ainda são poucas para chegarmos a um culpado.

— De qualquer forma, vamos nos focar essa semana assim ninguém deve sair prejudicado — concluiu Meiling fechando o livro que folheava — talvez seja uma boa ideia fazer um estudo em casa, então sintam-se livres para pegar as edições guardadas.

Dito isso, começamos a nos organizar. Meiling acabou levando alguns para casa, coisa que eu já comecei a fazer há semanas. Separei algumas obras para Kinomoto e lhe expliquei outra vez como funcionava o método de análise. Trabalhamos a tarde inteira sem parar. Foi um dia produtivo no final das contas. Um pouco antes das seis da tarde, Meiling teve que voltar para casa assim como Eriol. Nesses últimos dias aconteciam com frequência reuniões entre os clãs de Tomoeda e os das províncias vizinhas e todos pareciam ter feito um acordo.

Depois disso, fiquei sozinho com Kinomoto na sala de interesses históricos em quase absoluto silêncio. Não era como se eu não estivesse incomodado, mas as imagens da noite anterior vinham na minha mente e eu não estava tendo muito sucesso em ignorá-las apesar de ter decidido que não iria mais me meter nisso. Suspirei e fechei o livro sob a mesa.

O último sinal tocou, e logo a escola iria fechar. Peguei minha mochila para colocar os livros que iria estudar em casa e Kinomoto fez a mesma coisa.

— Oh. Me desculpe, eu pensei que também levaria alguma coisa.

— Não se preocupe — retruquei separando uma parte do que eu tinha coletado para mim, afinal por Kinomoto ser novata na clube ela também tinha que cumprir as tarefas mesmo que eu seja responsável por ela — aqui está, se você não se incomodar.

— Tudo bem, não vai.

Ficamos um de pé frente ao outro em completo silêncio outra vez sem nos olharmos. Se eu queria dizer algo a ela esse… esse era o momento. Fechei os olhos e respirei fundo antes de falar:

— Eu… — dissemos em uníssono, ficando em choque logo em seguida. Kinomoto recuou na mesma hora abaixando o rosto.

— Desculpe, pode falar.

— Não, não, eu que te interrompi Li-kun, você pode falar.

Engoli em seco e evitei encará-la.

— Você está melhor?

— Sim.

— É... seguro você voltar para casa?

— Sim. Eu tenho uma nova kekkai, então... vai ficar tudo bem — Kinomoto retrucou abrindo um leve sorriso —  eu agradeço, por se preocupar comigo e por ter me ajudado ontem à noite.

Meneei com a cabeça em silêncio.

— Peço desculpas pelo que falei ontem à noite isso... não é da minha conta.

A voz de Kinomoto me chamou atenção outra vez.

— Eu…

— O quê?

— Eu fiquei feliz — Kinomoto murmurou baixo, mas consegui ouvir claramente já que só estávamos nós dois na sala.

— A-ah.

Meu rosto esquentou no mesmo instante e tive que virar de costas para tentar esconder o meu nervosismo, concentrando em colocar os livros dentro da bolsa. Kinomoto imitou o meu gesto voltando a falar com calma.

— Eu estou feliz por ter entrado no clube. Faz muito tempo que eu não sei… O que é ter um amigo assim.

Sim, eu entendo. Agora, nesse momento, você sabe o que é se sentir viva. Queria poder dizer algo, mas minha boca estava seca. Além de que Kinomoto pode querer ir embora de novo e eu posso causar mais problemas… Não. Isso é bom, não é? É puro egoísmo, provavelmente, se envolver em problemas de outras pessoas apenas para se sentir útil aos outros, sentir que está ali por alguma razão. Tinha tanto de mim em Kinomoto e eu não queria que esses mesmos demônios que me rodeiam fosse o mesmo destino dela.

— Obrigada Li-kun.

Talvez esteja tudo bem em ser egoísta algumas vezes.

Me despedi de Kinomoto na esquina do parque e segui para casa. Lembrei de passar na caixa de correio como fiz na última semana. Havia apenas um envelope simples e uma caixa amarela. Parece que minha mãe anda mais atenta do que o costume pelo visto. Subi as escadas e abri a porta do meu apartamento entrando em seguida. Como de costume, preparei o banho e o jantar. Não houve nada de extraordinário. Quando enfim desliguei a TV e decidi abrir a caixa amarela que minha mãe enviou ainda era cedo demais para dormir.

Dentro havia alguns livros antigos que abri na mesa em frente a TV e passei as páginas amareladas sem muito interesse. Eu não sabia do que se tratavam já que não tinha o título na capa como a maioria dos livros tem. No livro vermelho com detalhes dourados algumas páginas estavam em branco e logo surgiam várias páginas com diagramas. Exatamente como uma árvore genealógica. A mais extensa pertencia a família Reed, seguida pelos Li e Wong.

Se o clã dos Li e Reed estavam nesse livro, quer dizer que aqui estão todas as linhagens mágicas existentes. Nos outros dois livros, o verde e o branco também eram sobre o mesmo assunto. Porque diabos minha mãe me mandaria esse tipo de livro? Eu poderia mandar uma mensagem ou ligar para perguntar, mas ela não era muito adepta as novas tecnologias.

No fundo da caixa tinha um cartão escrito com sua caligrafia que sanou minhas dúvidas no mesmo instante.

Espero que isso ajude à coleção do clube e que seja interessante pra você!

Isso é uma boa aquisição pra sessão de livros mágicos, eu suponho. Voltei ao livro vermelho, na página inicial do clã Reed que tinha quase 10 páginas terminando, é claro, nas figuras Clow Reed e o que indicava ser seu irmão ou primo Fei Wong Reed. Fei Wong aparecia completamente só no fim da página, enquanto Clow seguia com três descendentes desconhecidos. Na linhagem dos Li, como eu esperava, apenas Meiling aparecia entre os últimos magos do clã junto com sua tia Yelan e suas quatro primas.

Sim, minha mãe também não aparecia. O motivo é porque ela pertence a outra família mágica. A família Mizuki é bem pequena em consideração aos Li e Reed, até mesmo à Hiiragizawa. Os Li até hoje são aficionados pelo puro sangue, portanto, estrangeiros não podiam entrar no clã.

A família Wong era uma das remanescentes do clã Reed que se desfez. No resto das páginas as menores famílias apareciam. Shinomoto, D. e etc. Então encontrei enfim o que procurava, a família Kinomoto. A linhagem pertencia a grandes magos que tinham o poder de falar com seres que não tem voz. Ela acabava em um casal com dois filhos Chiharu e Touya…

Não havia nenhuma Kinomoto Sakura.

Apesar disso me intrigar, passei para o livro verde que falava das guerras entre os clãs mágicos. Os Reed se rebelaram contra Clow, dividindo a família, e durante a sua queda houve uma guerra entre os Reed e os Kinomotos. Em nenhum momento foi dito o motivo e o que aconteceu durante, apenas mencionando o sumiço de Clow e do líder da família Kinomoto, Kinomoto Fujitaka.

O livro branco apenas falava sobre criaturas mágicas que eu acabei não dando tanta importância como aos dois primeiros. Encerrei a noite guardando os livros de volta na caixa e me preparei para dormir mesmo que ainda não estivesse tão tarde. Eu sabia que não ia conseguir dormir tão rápido de qualquer jeito. Bom, eu provei estar errado quando acordei no dia seguinte com o barulho do meu celular apitando como louco.

Era sábado e não tinha aula, por isso acordei atordoado. Quando desbloqueei a tela vi uma chamada perdida e duas mensagens de Eriol. A primeira dizia:

Bom dia Syao-kun! Sinto muito perturbá-lo em pleno sábado, mas acredito que você esteja interessado na minha investigação.”

Eu queria xingá-lo, porém ele estava certo. Depois de ler os livros que minha mãe mandou, eu estava ainda mais intrigado. Mais do que querer saber porque ela tinha mandado exatamente estes. Li a segunda mensagem.

“Me encontre na entrada do parque do Rei Pinguim antes do almoço. Por precaução leve seus talismãs.”

Segui a deixa e me levantei para fazer o café enquanto preparava o banho. Não demorei muito para tomar o desjejum e sair de casa. Quando cheguei ao parque, Eriol estava sentado em um dos bancos com o ar despreocupado de sempre.

— Yo. O que você encontrou então?

Eriol me fitou de canto tirando as mãos de dentro do casaco.

— Você parece estar mesmo pronto para um aventura — se levantou sorrindo de lado.

— O que diabos você quer dizer com isso.

Eriol começou a andar.

— Certo, certo. Vamos ao que realmente interessa.

Demos a volta no parque em direção a àrea onde a floresta era mais densa o som das folhas sendo pisadas quebrou o silêncio enquanto seguia Eriol, sem saber onde ele estava indo. O silêncio e o mistério dele até agora estava me irritando, mas esse também é o Eriol de sempre.

Aos poucos o cenário mudou. As árvores frondosas e os arbustos verdes pouco a pouco foram substituídos por cinzas e troncos negros. Eu tinha visto o incêndio apenas na TV de manhã antes de ir para a escola e na manchete do jornal local. Mas não estávamos na área do incêndio. Aqui foi onde aconteceu a luta entre Kinomoto e aquele mago misterioso.

Eriol parou frente a árvore no meio do campo cinzento e eu o imitei por puro reflexo.

— Você também sentiu?

— Sim.

Havia uma forte presença mágica nesse lugar parecida com o mago daquela noite. Eriol não se virou ou materializou o báculo, estava em alerta como eu. Por precaução coloquei minha mão no bolso de trás, pronto para usar algum talismã se fosse necessário. Apesar da tensão, perguntei:

— Por que estamos aqui?

— Porque esse é o lugar perfeito. Me diga Syaoran, você acha que um youkai atacaria no mesmo lugar duas vezes?

Um youkai não, mas um mago sim.

— Não.

— É por isso que estamos aqui.

Sim, eu sabia disso. Sabia que aquele mago o controlava, mas eu não podia dizer isso a Eriol. Depois de acusar Kinomoto, não sei o que ele fará se souber da ligação entre eles dois. Ele parou em frente da árvore em cinzas e colocou sua mão no caule. Senti o ar ao meu redor se comprimir e imediatamente entendi o que ele estava fazendo. Uma kekkai. Não uma normal, é claro. Bom, existem diferenças entre tipos de kekkais que eu poderia lhe explicar, mas isso vai tomar um tempo que não tenho agora.

— Você conhece Seishirou Sakurazuka?

— Sakurazuka? O coletor de memórias?

— Sim. Ele é um dos últimos Momonis vivos que mantêm guardadas as memórias de quase todo tipo de entidade, evento e família mágica.

Yumemis são só um tipo de habilidade especial de feiticeiros. Seishirou Sakurazuka tem outro tipo de habilidade, também rara entre eles. Memonis têm a habilidade de guardar memórias, algo muito mais complexo do que ter memória fotográfica, infelizmente eu não sei bem explicar como eles fazem isso, então é algo que ficarei devendo por hora.

Bom, voltando ao assunto.

— Porque você precisaria de alguém assim?

— Quando você falou sobre Kinomoto Sakura, eu disse que não tinha ouvido esse nome.

— O nome?

— Sim. “Kinomoto”.

Oh. Ele não estava falando da pessoa Kinomoto Sakura, mas do clã Kinomoto. O clã dos grandes magos que tinham o poder de falar com seres que não tem voz. O clã amaldiçoado que usava o sangue com magia. O clã em que não existia nenhuma “Kinomoto Sakura” na linhagem mágica.

— Você está dizendo que não conhecia essa família?

— Isso.

Franzi as sobrancelhas. Eriol como futuro líder dos Hiiragizawa sabe de todos os clãs, em principal os de Japão.

— Mesmo assim, esse tipo de informação deve existir no banco de dados da família Li.

— Foi o que eu pensei também, mas não havia nada sobre essa família lá.

Prendi minha respiração por um instante. O que aquilo deveria significar? Estudei bem a expressão de Eriol. Ele não parecia estar mentindo ou brincando. Seu rosto estava tão sério quanto a primeira vez em que lutamos.

— Você quer dizer que não existe uma família de feiticeiros chamada Kinomoto?

— Errado, eles existiram. Mas o que aconteceu com eles é um boato que parece uma história de terror.

Suspirei de alívio, apesar de já saber pelo livro vermelho que minha mãe tinha mandado. Mas esse tipo de informação me deixou inquieto. Todas as famílias mágicas até das linhagens mais fracas podem ser encontradas pelo banco de dados dos Li. Se eles não tinham os dados que os Kinomoto existiam, como Meiling podia saber? Eriol continuou a falar:

— Você quer mesmo saber? Ainda há tempo para evitar se meter em encrenca, Syao-kun.

— Já é tarde demais para se preocupar com isso.

Eriol sorriu e começou enfim a falar:

— A família Kinomoto era um clã de feiticeiros normal. Eram famosos pela habilidade e se comunicar com seres que não têm voz. No entanto, Fujitaka Kinomoto, que era o líder do clã na época, liderou um exército para uma guerra contra um clã inimigo. Claro que com os poderes de premonição que os Kinomotos tinham foi considerado fácil vencer por alguns, mas ainda assim, Fujitaka ficou desaparecido. Depois de alguns anos, ele conseguiu retornar a sua família. Foi recebido como herói, conquistando assim a posição de líder do clã. Era casado e tinha dois filhos que tinham um potencial extraordinário podendo até ultrapassar o poder de Clow Reed.

Clow Reed. Esse nome mais uma vez. Eu sabia o que aquilo significava.

— Ou seja, uma ameaça.

Eriol assentiu e abriu um sorriso de satisfação, mas havia algo diferente em seu olhar que eu não sei descrever exatamente o que era.

— Mas diferente de Clow Reed que apenas sumiu sem deixar vestígios, coisas estranhas começaram a acontecer com os Kinomoto depois dessa guerra.

Isso quer dizer que dois estão conectados, assim como no livro. Alguma coisa aconteceu durante a guerra entre os Reed e os Kinomoto que acabou dizimando a todos.

— Clow e Fujitaka desapareceram depois da guerra certo?

Os olhos de Eriol se estreitaram.

— Sim.

Um poder tão grande como o que Clow tinha que ser hereditário ou passado para outra pessoa.

— Clow Reed… O mago mais poderoso de todos os tempos, não é?

— Correto, mas isso você deve saber muito bem disso, Syao-kun.

Sim. Eu já devo ter dito que esse nome é muito popular entre os feiticeiros, mas devo confessar que dentro do Clã dos Li esse nome era quase sagrado. Na biblioteca dos Li existem vários livros sobre Clow, sempre foram obcecados por seu enorme poder. Porém, ele desapareceu misteriosamente sem motivos e sem deixar vestígios. Desculpe, mas outra vez, preciso lembrar que existem diferenças entre feiticeiros e humanos. Enquanto pessoas comuns deixam vestígios como impressões digitais, toda e qualquer magia utilizada por um feiticeiro deixa rastro.

Clow não tinha deixado absolutamente nada.

Pude soltar um longo suspiro, controlando um pouco a ansiedade que tive que lidar por todo o dia. Isso quer dizer que Kinomoto não está mentindo. No entanto, percebi algo pior. O clã dos Kinomoto podiam prever o futuro. Se Kinomoto fosse uma Yumemi, quer dizer que ela tinha trazido os feiticeiros para Tomoeda atrás do Além do Horizonte. Ou devia ser o que Eriol estava pensando agora. Não posso mentir e dizer que discordo dessa teoria.

Decidi por ora, voltar ao assunto principal.

— Então o que aconteceu com os Kinomoto? Você disse que era como uma história de terror.

— Oh sim, sem dúvida. Essa é a parte mais interessante. Eles desapareceram.

Prendi minha respiração por instinto, mas continuei a sustentei o olhar.

— Desapareceram?

— Sim, todos foram encontrados mortos depois de alguns anos. O clã foi completamente exterminado. Como se nunca tivessem existido.

Estudei bem a expressão de Eriol. Seu sorriso tinha desaparecido e mesmo que ele parecesse tranquilo, encostado na árvore que serviu de pilar para erguer a kekkai, eu sabia que algo estava o inquietando.

— Isso não é motivo para terem sumido dos registros.

— Não. Isso é um mistério. Não entendo porque alguém faria algo assim. Mas não era esse o boato que parecia uma história de terror — Eu o olhei de volta. A expressão tranquila de Eriol tinha se tornado estranha de novo. Mesmo que eu o conheça há bastante tempo, não sabia o que ele estava pensando agora.

— Boatos? Pensei que Sakurazuka soubesse de tudo.

— Ninguém realmente sabe o que aconteceu — Eriol respondeu — mas dois boatos que escutei devem interessar você.

Continuei aparentemente quieto esperando Eriol continuar.

— Você já se perguntou porque Clow Reed desapareceu?

— É claro — respondi, questionando aquela pergunta — isso é bem óbvio.

Eriol franziu as sobrancelhas intrigado pela primeira vez.

— É?

— Sim. Ele desapareceu porque era um presságio de agouro.

Pelo menos, era o que eu tinha concluído ao ler sobre sua vida. Clow Reed tinha grandes poderes mágicos, e desde que ele desapareceu isso começou a ser considerado como o aviso sobre uma catástrofe. Talvez para não manchar sua reputação nunca mencionaram o motivo da sua queda. Por outro lado, depois disso, feiticeiros que surgiam com o potencial de ultrapassar Clow começaram a ser marginalizados entre os próprios feiticeiros.

 Pensei que isso era o óbvio a se pensar até Eriol ficar intrigado com a minha resposta. Ele fitou o chão de raízes nodosas e esboçou seu sorriso habitual. Cruzei os braços, esperando que ele continuasse.

— E o que você acha que é esse presságio Syao-kun?

— Algum tipo de poder amaldiçoado, talvez. Que trouxesse…

Eu só trago desgraça… as pessoas ao meu redor.” as palavras de Kinomoto surgiram na minha mente, completando a frase. Meu corpo ficou paralisado ao perceber isso então me calei por completo. Eu sabia que Eriol estava fugindo do assunto e o encarei mais uma vez.

— É esse o boato?

— Syaoran. Você gosta de ler livros de mistério e história. Acho que você entendeu o que aconteceu.

Ali estava o Eriol de irritante de sempre. Sua voz parecia gentil, mas dizer meu nome era um aviso. Ele sempre sabe o que falar sem dizer o que está pensando. Mas eu sabia dessa vez. Ainda não dei o assunto como encerrado.

— É, mas você disse dois — retruquei sem tentar mostrar minha raiva, mas foi inútil. Então, antes que Eriol dissesse alguma coisa que passasse do limite da minha paciência eu entendi — O youkai?

— Como o esperado de você, Syao-kun — Eu o ignorei e ignorei suas salvas de palmas — Sim, durante aquela época ataques de seres mágicos eram comuns na vila dos Kinomoto. Parece que eles eram a “vingança de Clow”.

A vingança de Clow… Sabe, existe uma lenda que dizia que Clow tinha criado diversas criaturas mágicas para proteger a si e seu clã. Quando ele era vivo, essas criaturas ficavam as sombras da casa principal.

— Então a lenda das “criaturas de Clow”, não é bem uma lenda?

— Parece que não mais.

— Os Li sabem disso? — perguntei tentando não parecer sarcástico.

— Acho que sabem a mais tempo que nós — Eriol sorriu de lado — mas não está com eles. Você conhece essa presença, não conhece?

Sim, essa é a presença de Clow.

— Então você ainda acha que ele está vivo?

— Ou alguém está controlando suas criaturas mágicas.

Engoli em seco.

— Sabe, Syao-kun, eu normalmente não concordaria com o seu trato, já que ele quebra o nosso acordo de paz — voltei a fitá-lo quando Eriol começou a desfazer a kekkai e se afastar da árvore e ele continuou — mas, parece que é o melhor que podemos fazer para evitar o que há por vir.

Apesar do sorriso e da proposta de trégua, Eriol não estava nada contente. Na verdade, não há motivo para estar. Quem estivesse com o controle das criaturas mágicas de Clow poderia trazer catástrofes ao mundo como ter o controle dele. Inspirei fundo e apertei a mão que ele estendeu, selando o novo pacto.

— Você continua não podendo se aliar a ninguém. Exceto a Sakura-chan.

Assenti.

— Mas não acho que isso seja uma coisa ruim pra você, não é?

— EI!

Eriol virou me dando as costas.

— Certo, está quase na hora do almoço. Qualquer tempura está bom.

— Por mim, sim — dei ombros o alcançando até ver o sorriso de lado ridículo dele.

— Obrigado pela refeição, Syao-kun!

— Porque diabos você pensa que eu vou pagar pra você? Hein?

Eriol riu claramente se fazendo de desentendido, mas nada disso me deixou aliviado. Então, depois do almoço eu decidi que não voltaria para casa ainda, mesmo sabendo quais seriam as consequências do que eu estava me metendo agora. Continuei andando até parar naquele edifício do pequenos apartamentos amarelos.

Continua…


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Notas finais do capítulo

Olá pessoal!
Eu volteeeeeeei o/
Bom, eu realmente demorei (muito) mais do que o previsto, mesmo que o capítulo já estivesse praticamente pronto há um tempão e então bateu o conhecido bloqueio :cc
Obrigada pelo apoio e sejam bem vindos os novos leitores!
Espero que gostem desse capítulo!
Até o próximo!



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