Aparentava ser uma tarefa fácil, sereias faziam isso o tempo todo. Por que com Thalia Grace seria diferente? Ela mordeu o lábio inferior, entrando no círculo, olhando ao redor suas amigas tão nervosas quanto ela.

Ir a superfície, cantar, atrair um homem, seduzir e puxa-lo para baixo, simples. Porém ela estava terrivelmente enganada.

Quando seu corpo submergiu, seus olhos se perderam na quantidade de estrelas no céu, deixando-se boquiabrir-se com aquilo que ela via, ela sempre achou o fundo do mar a coisa mais bela do mundo, mas naquele momento ela descobriu que estava errada. Seus olhos azuis elétricos se perderam no céu junto com o tempo passando, quando ouviu um grito.

— Pessoa ao mar! — isso a fez ter um sobressalto, seu rosto se virou em direção ao barco, relativamente grande.

Voltou para baixo d’água, mergulhando em direção ao mais fundo possível, sentindo seu coração saltar em nervosismo, seus olhos procurando algum sinal que a ajudasse.

Subiu novamente depois de estar mais calma, começando a cantoria, conseguindo ouvir o coração deles, se sintonizando com o feitiço que expelia por seus lábios. Chegou a superfície, se aproximando mais do barco que parava, os homens começando a se aproximar da borda, os olhos perdendo a vida lentamente.

Suas mãos encostaram na proa do barco, puxando mais seu corpo para cima, deixando que sua calda azul com detalhes pretos e roxo ficasse amostra, seu rosto a alguns centímetros do homem a sua frente, os olhos negros dele fixos no seu.

Ele começou a cortar a distância, fazendo Thalia começar a aumenta-la, voltando para o mar, sem parar de cantar e chama-lo para mais e mais perto.

Seus lábios se selaram e em um movimento rápido sua mão foi para o pescoço dele o puxando para fora do barco e mais e mais fundo no mar, para a sua surpresa as mãos dele foram para a sua cintura dificultando que ela nadasse.

Cortou o beijo e o empurrou para baixo, tentando ir o mais longe possível, mas ver a dificuldade dele de respirar a agoniou, ele estava morrendo, não era o primeiro homem que ela via morrer afogado, mas era o primeiro que ela puxava para a morte, o primeiro que ela beijava.

Quando raciocinou seu corpo já estava na superfície novamente, colocando ele deitado em uma pedra, ele cuspia água em busca de ar, seus olhos focaram no dela, agora sem o feitiço que tirava a vida e o raciocínio deles.

Thalia mergulhou se afastando e voltando ao barco, notando que eles estavam desnorteados, em um movimento rápido ela puxou um para baixo, nadando o mais rápido possível, vendo o Kraken esticar seus tentáculos em busca de seu alimento.

Soltou o homem nadando para longe, vendo o corpo dele ser agarrado e escutando os ossos dele se quebrando, enquanto o mostro puxava-o para sua boca nojenta e repleta de dentes. A Grace voltou a superfície, pegando mais um dos homens do barco e levando para o monstro, ele tinha que se acalmar, se não seria o fim de sua cidade.

Três homens foram o suficiente para o tentáculo que a tinha seguido sumir, concluindo que não precisaria arrancar mais vidas, começou a nadar então, em direção aonde tinha deixado o moreno de olhos negros.

Assim que ele a viu tentou se afastar, mas a pedra era pequena e isolada, ele parecia muito abalado ainda para tentar nadar até a areia.

— Eu não vou te machucar — a sereia anunciou, encostando na pedra e puxando seu corpo pra cima, exibindo sua calda.

— Você...você quase me matou...você é... — ele não sabia o que pensar, aquilo parecia um sonho muito louco, ele não entendia o que tinha acontecido, ele não entendia como tinha parado ali, parecia um borrão em sua mente, dele no barco com um bando de desconhecido tentando ligar para seu primo e ele no fundo do mar, se afogando, beijando aquela menina.

— Mas eu não te matei — contrapôs, suspirando — vem, eu só vou te levar pra areia e você pode ir embora, em segurança, não é seguro nadar quando o Kraken está por aí.

— O que? Kraken? — ele questionou pasmo, tentando se afastar mais ao ver a mão dela sendo esticada para si, quase caindo da pedra. — Eu não vou com você, eu quero explicações... as pessoas do barco?

Ela suspirou negando, pegando impulso e subindo na pedra, sentando ali, sem tirar completamente seu corpo da água, exibindo seu colo nu, coberto apenas pelo cabelo dela que passava de sua cintura.

— Eu não quero matar pessoas — deixou claro, balançando a calda no mar —, mas é necessário, pois se não alimentarmos o Kraken ele corre o risco de voltar a superfície e o caos que foi na época em que as pessoas iniciaram as navegações.

— Do que...? Kraken é uma lenda mitológica — ele rebateu, mas de imediato a calda dela mexeu. —... Sereias também!

— Venha comigo, se eu quisesse te matar, não acha que eu já teria te matado — esticou a mão para ele novamente.

Dessa vez ela foi aceita, Thalia o puxou lentamente para água, segurando a cintura dele e nadando em direção a costa, até que ele desse pé e fosse seguro.

— Eu fico por aqui — olhou algumas pessoas na areia, com medo de ser notada.

— Por quê? Por que me poupou? — questionou, olhando para a terra firme e retornando o olhar a ela, que sorriu.

— Acho que é por conta do meu primeiro beijo — suas bochechas coraram e ela retornou ao mar, nadando rápido para sua casa.

Ele ficou algum tempo ali em pé, olhando o mar, mas apenas isso que ele via, uma imensidão azul de água se mexendo calmo, como se não escondesse uma imensidão de segredos, que agora ele conhecia um terço.

— Nico! — uma voz feminina o fez olhar para trás e ele sorriu em ver sua irmã correndo em sua direção, preocupação estampada no rosto, ela provavelmente deveria ter descoberto do incidente no barco. — Nico!

Correu até ela, saindo completamente do mar e sentindo a segurança o atingir, mas também um vazio, ele olhou para trás mais uma vez antes de abraçar Bianca e ir com ela para o hospital.