Adrien adentrou o quarto de hospital olhando para Marinette e esperando ver os olhos azuis da garota mas ela continuava ali. Imóvel e sem reação. Ele suspirou e caminhou até o pequeno sofá abaixo da janela se sentando ali e deixando a bolsa da escola no chão. Ele apoiou os braços no joelho e esfregou as mãos no rosto. Já fazia dois dias. Dois dias desde que Marinette desmaiou seus braços e não acordou mais. Dois dias em que ela estava internada naquele hospital e os médicos não faziam ideia de quando ela iria acordar.

"É normal" disseram eles "Depois de tudo o que ela passou, seu corpo ainda está se recuperando."

Ela estava se recuperando, pensou irritado consigo mesmo . Marinette havia levado um tiro e ele não estava com ela no momento que a garota mais precisava. E ele se quer pode dizer algo.

Tudo o que ele precisava era apagar um homem. Apenas isso. Mas no momento que se viu cara a cara com aquele mesmo homem que sufocara, atirara e ameaçara Marinette, fez com que as imagens da garota sofrendo por causa dele voltarem com tudo, a raiva o consumindo fazendo o perder o controle. Quando deu por si estava em cima do cara, que já estava inconsciente, socando o com toda raiva que tinha. Plagg teve que intervir antes que Adrien o matasse. Não que ele não merecesse mas porque ele sabia que Adrien se arrependeria.

Quando voltaram ao grupo encontraram Marinette encostada contra a parede enquanto Tikki tentava em vão se comunicar com ela. A azulada estava com um olhar perdido, repleto de dor e desespero. Adrien se aproximou o mais rápido possível e tentou falar com ela, mas no momento em que ela pareceu voltar a si, desmaiou antes que pudesse dizer algo. E não acordou desde então.

Um click suave na porta despertou o loiro de seus pensamentos. Ele levantou o rosto e encarou
Wang Cheng, o tio de Marinette. Ele estava fora a trabalho mas assim que soube do ocorrido voltou para a cidade o mais rápido que pode.

"A enfermeira me disse que estava aqui" Wang murmurou para Adrien dando um breve olhar para a sobrinha "você devia descansar garoto" falou se encaminhando em sua direção um sorriso gentil, que não chegava aos olhos por esses já estarem cobertos de tristeza e preocupação.

"Não consigo descansar. Nem me distrair" Adrien murmurou enquanto o homem sentava ao seu lado. "Eu fui a escola hoje mas não consegui focar em nada". Wang suspirou

"É eu sei como é" O homem murmurou mais para si do que para o garoto ao seu lado "não consigo parar de pensar que se eu estivesse aqui..."

"Não é sua culpa" Adrien o interrompeu. O homem não o olhou, manteve o olhar na sobrinha, ainda desacordada.

"Nem dela" murmurou simplesmente "e mesmo assim ela foi a única a ser internada. Passou por uma cirurgia, teve uma parada cardíaca e ainda precisou de transfusão de sangue." murmurou levemente irritado "ninguém mais passou por isso. Nem mesmo aquele imbecil que levou um tiro! E eu sequer estava aqui!" ele passou as mãos pelos cabelos frustado. Adrien o olhou compreendendo a irritação do homem. Todos aqueles bandidos haviam sido encaminhados para o hospital e todos já haviam levado alta e mandados para a cadeia onde esperariam o julgamento. Todos, até mesmo o baleado e o que Adrien espancou. E Marinette sequer havia acordado.

"Sei que pode não ajudar muito mas Marinette salvou nossas vidas. Ela é um heroína. E apesar de eu também não gostar do risco que ela passou e ainda está passando precisamos aceitar e apóia lá quando acordar. Porque é exatamente disso que ela vai precisar" Adrien murmurou olhando o tio da garota que em tão pouco tempo havia mexido tanto com ele. Wang anuiu com a cabeça e soltou uma leve risada com o pensamento que lhe atravessou a mente.

"Ela não vai gostar nem um pouco da atenção que vai receber" outra risada se fez presente, dessa vez vinda de Adrien. Marinette detestava chamar atenção no entanto, por um descuido por parte da polícia, o vídeo das câmeras de segurança da loja foi parar nas mãos da mídia e em pouco tempo a gravação de Marinette enfrentando os bandidos viralizou.

Adrien havia ido pra escola naquele dia a pedido de sua mãe com o argumento de que, assim, pudesse se distrair, mas o garoto mal pisou no local e foi bombardeado por perguntas. Aquilo não fora agradável, e olha que estava acostumado com a atenção. Imagine como a sempre tímida Marinette reagia ao receber tanta atenção. Só de pensar Adrien ria.

A tensão pareceu se dissipar um pouco no ambiente e ambos passaram a conversar como dois amigos antigos que se reencontraram com um pensamento em comum.

Marinette.

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A primeira coisa que Marinette sentiu foi uma dor horrível que parecia começar na cabeça e se alastrar por todo seu corpo. Câimbras. Pensou enquanto acreditava ter dormido demais.

Ela abriu os olhos mas os fechou imediatamente ao sentir a luz arder. Fez o mesmo processo algumas vezes, piscando sempre, até seus olhos se acostumarem com a luz. Quando conseguiu encarou um teto branco enquanto um barulho irritante  e repetitivo adentrava seus ouvidos.

Aquele não era seu quarto.

Ela tentou se levantar mas logo foi impedida por duas mãos em seus ombros.

"Acho melhor não fazer isso. Você está de pontos e não queremos que eles estourem." uma voz extremamente familiar soou. Ela olhou para seu dono e sentiu o coração falhar um batida ao ver Adrien ali, sorrindo pra ela.

As lembranças então voltaram com força total fazendo a menina arregalar os olhos. Ela ficou agitada e abriu a boca pronta para soltar milhares de perguntas, no entanto nem um som saiu. Ela levou uma das mãos a garganta sentindo-a seca e dolorida.

"Você deve estar com sede néh?" Adrien perguntou e ela concordou levemente a cabeça. "Já volto" murmurou se afastando e saindo, deixando uma Marinette confusa pra trás. Ele voltou pouco tempo depois com uma garrafinha de água e um copo em mãos. Ele se aproximou e a ajudou a se sentar com cuidado.

Ela olhou ao redor a sala e encontrou o autor do tal barulho irritante. Uma maquina que contava seus batimentos. Fez uma careta. Detestava hospitais.

Adrien estendeu o copo com água para ela que o pegou de prontidão o engolindo de uma vez e sentindo a garganta relaxar. Adrien soltou uma leve risada fazendo Marinette o encarar hesitante.

"Você deixou todo mundo preocupado sabia?" ele murmurou, um meio sorriso nos lábios e alivio nos olhos. Marinette abaixou o copo, já vazio em mãos e o encarou preocupada.

"C-como eu vim parar aqui? Tem m-mais alguém fer...?" ela começou com pressa e um pouco de desespero, mas logo foi interrompida.

"Calma..." Adrien murmurou levantando as mãos, Marinette respirou fundo "eu vou responder tudo que quiser mas depois. Seu tio foi comprar algo para comer mas eu já o avisei que você acordou assim como a sua médica. Logo eles devem estar aqui" afirmou. A mestiça franziu a testa.

"Meu tio?" perguntou confusa. Afinal era pra ele estar em uma viagem a horas de distância dali. "A quanto te..." a porta se abriu num rompante fazendo a se calar novamente. Seu tio a encarou com um misto de felicidade e alívio. Adrien pegou o copo da mão da azulada e se levantou para o homem sentar.

Ela encarou o tio ainda em choque enquanto o mesmo se sentava a sua frente. "Mari..." sussurrou a puxando para um abraço.

"Tio o que faz aqui?" ela murmurou a meio fio "Não deveria estar na China?"

Ele se soltou dela a encarando e segurando seu rosto com uma das mãos "Eu voltei assim que soube. Não podia deixar minha sobrinha sozinha. Não mais." Ela sorriu para o tio e logo franziu a testa novamente.

"Mas são mais de 10 horas de viagem!" ela perguntou exasperada "Quanto tempo eu apaguei?" 

Wang suspirou para a mestiça "quase três dias" sussurrou e Marinette abaixou os olhos. Três dias. Tudo que ela conseguia pensar era em como o seu tio devia ter ficado preocupado. Não era justo faze lo passar por isso depois de tudo.

"Desculpa... " ela murmurou e sentiu seu tio abraça lá novamente.

"Não foi sua culpa. Eu que não deveria ter te deixado sozinha. Mas agora o importante é que você está bem, ok?" ele perguntou e Marinette anuiu com a cabeça enquanto apertava mais os braços em volta do homem. A ultima parte da família que lhe restara.

Ela sentiu um olhar sobre si e levantou levemente a cabeça se deparando com um par de olhos verdes e pela primeira vez Marinette notou como eles pareciam com esmeraldas. Adrien a encarava, numa parte mais distante do quarto, com um meio sorriso no rosto e a mestiça sentiu a bochechas corarem.

Marinette estranhou sua reação diante o sorriso do garoto e escondeu o rosto na dobra do pescoço do tio para que o loiro não percebesse. Seu coração palpitava loucamente enquanto ela se lembrava do tempo que passou com o garoto naquela noite. Aquilo a assustou.

Seria possível que estivesse se apaixonando por Adrien?

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Marinette encarou a vista a sua frente enquanto apoiava os braços sobre a grade de sua sacada. Logo o Sol iria começar a se por e ela amava presenciar tal cena. Uma leve brisa  balançou seus cabelos negro azulados e ela fechou os olhos em satisfação. Era tão bom finalmente sair daquele hospital.

Mesmo depois de acordar ela precisou ficar mais alguns dias em observação. Inquieta como era fora realmente um sacrifício aguentar aquilo.

Durante o tempo que passou lá recebeu diversas visitas. Nino e Alya, Plagg e Tikki, alguns colegas da escola e até mesmo aqueles dois irmãos que conhecera na loja. Todos, mesmo que preocupados com sua saúde, comentaram sobre o video de sua luta contra aqueles homens e ela só conseguia pensar no pesadelo que seria quando voltasse para a escola.

Quando recebeu alta foi recebida por vários repórteres na porta do hospital afim de descobrirem sua parte na história. Assim ela teve certeza que demoraria muito para que conseguisse passar despercebida em algum lugar novamente. Então agora ela aproveitava umas vez que teria de ir a escola no dia seguinte.

"É uma bela vista" a voz de Adrien adentrou seus ouvidos e ela se virou para encarar o loiro que entrava pela claraboia, um meio sorriso escapando pelos lábios. Ele sorriu de volta e apontou para um tablet em suas mãos.

"Trouxe as anotações dessa última semana pra você não ficar muito perdida amanhã." ele sorriu meio sem graça e ela sorriu de volta. Adrien deixou o tablet na pequena mesa que tinha ali e caminhou até seu lado também se encostando a grade.
"O que você está fazendo afinal?"

Marinette soltou uma leve risada e se sentou na grade se virando pro lado de fora, as pernas balançando levemente "Apenas esperando o Sol se pôr. É uma vista linda!" ela murmurou sorrindo com a lembrança então notou Adrien se sentar ao seu lado.

"Bom agora você me deixou curioso.  Se importa se eu esperar com você?" ele perguntou e Marinette negou com a cabeça.

Adrien havia passado quase o tempo todo com ela no hospital. Quase porque ele teve de ir a escola e a alguns compromissos impostos por seu pai. Eles conversaram muito e agora que Adrien não a provocava mais, pelo menos não tanto quanto antes, ela descobrira nele uma pessoa que se quer manter por perto. Parecia até que eles eram amigos de meses atrás e não de apenas dias.

"Como está se sentindo?" Adrien perguntou e ela notou um leve tom de preocupação.

"Ainda dói um pouco mas bem. Acho que só estou meio preocupada com a minha ida a escola amanhã" ela murmurou meio sem graça e Adrien pegou sua mão chamando lhe a atenção.

"Não vai ser fácil mas, se quiser, vou estar lá pra apoiar" um sorriso terno apareceu em seus lábios e Marinette corou um pouco.

"Obrigada" murmurou levemente. Então se virou novamente para a vista a sua frente e Adrien fez o mesmo.

O silêncio se instalou entre os dois. Marinette tinha total consciência que seus dedos ainda se tocavam e a cada segundo que passava corava mais o um pouco.

" Mari... Eu não quero parecer intrometido nem nada mas... O que realmente aconteceu com seus pais?" ele perguntou hesitante e Marinette sentiu o coração falhar uma batida "você tinha dito lá na loja que vocês tinham se afastado..."

"Eu menti" ela o cortou abaixando o olhar para a rua lá em baixo. Adrien suspirou ao seu lado e Marinette acreditou tê-lo decepcionado. Afinal ele foi sincero com ela sobre sua família. "Não me leva a mal Adrien, mas é que eu ainda não estava pronta" murmurou o olhando de soslaio. Ele sorriu compreensivo e novamente Marinette sentiu o coração falhar uma batida, mas dessa vez por um motivo diferente. Ela desviou o olhar corando novamente.

"Ta tudo bem Mari. Se não quiser falar sobre isso eu não me importo"

Marinette ponderou suas palavras. Ela podia fazer isso. Continuar escondendo e seguir com as coisas normalmente. Mas algo em si não concordava com aquilo. Ela não só queria conversar como também ela precisava. Ou aquilo a sufocaria.