Darkpath escrita por Lyra Roth, João Pedro


Capítulo 4
♤03 ㅡConvite?♤


Notas iniciais do capítulo

Oie aqui é o João Pedro, co-autor dessa história, é prazer conhecer você ^-^/
Cheguei trazendo um capítulo novinho, espero que goste, te vejo lá embaixo te mais lol



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⌘Matthew D. Coleman⌘

Quando ela disse que era brasileira, tudo começou a fazer sentido. Aqueles traços, aquela pele... não havia a menor chance de ser cubana. Ela não tinha o corpo de uma sambista... descobri que nem tudo o que falavam dos brasileiros fosse verdade. Isso me deixava ansioso para descobrir tudo o que podia sobre ela, apesar de que eu tinha a leve impressão que não conseguiria falar com ela sem ficar vermelho.

Suspirei e percorri os dedos pelos meus fios cor de palha. Eu tinha deixado o apartamento uma completa bagunça! E se ela fosse uma daquelas loucas com mania de organização? E se começasse a sambar enquanto eu tentava escrever (ela disse que não sabe, mas vai saber...)? E se... Ok, chega de e se. Eu finalmente não estava sozinho mais e não ia deixar o Matt da minha cabeça me deixar mal de novo.

Fazia apenas alguns minutos desde que ela saiu do quarto e foi dormir. Minutos e minutos depois, não consegui escrever nenhuma linha sequer! Tateei pelo quarto em busca da chave do meu carro que estava jogada em frente ao espelho. 

Céus, eu estava parecendo um mendigo! Quem me visse dirigindo a Urus pensaria que eu tivesse roubado-a de algum playboyzinho. Primeira parada: Banheiro. 

Sabe quandi você é criança e eles te dizem que existe uma bruxa dentro do espelho? Eu nunca havia acreditado nisso. Não até aquela hora. 

Eu estava tentando não cortar meu próprio pescoço quando senti uma mão sobre meu ombro. "Camilla?" Perguntei. Eu devia ter fechado a porta, mas pensei que não seria necessário para algo tão simples. Virei-me abruptamente. 

Não havia nenhuma menina de olhos verdes ali. Talvez eu tivesse imaginado a sensação... 

Quando voltei-me para o espelho, percebi um reflexo que não era meu lá no fundo. Era a de uma menina pequena. Ela era ruiva e usava uniforme de enfermeira. Virei-me novamente e dessa vez ela estava lá. Seus olhos estranhos me encarando sobre a máscara... ela se movia como um zumbi. Um zumbi ruivo bem bonito, mas ainda assim um zumbi.

— Quem é você? - perguntei. Não obtive resposta.

A enfermeira continuou caminhando em minha direção desajeitamente tentei recuar quando vi as costuras em suas juntas.

— Que tipo de pegadinha é essa? - Eu disse um pouco alto demais.

Bati minhas costas contra o espelho. A mulher continuou andando em minha direção, calmamente. 

Meu coração batia forte, desesperado! Minha pulsação estava acelerada e meus olhos, arregalados. Fechei os olhos e orei silenciosamente. Possivelmente estava em uma pegadinha e havia algum idiota com uma câmera em algum lugar. "Ah vamos trolar o britânico!" Não seria a primeira vez que algo do tipo acontecia.

Quandi abri os olhos, ela parou. Parou e estendeu a mão. Aquele olhar triste e perdido me fez sentir pena da pobre assombração.

— Vá embora! - pedi. - Por favor, vá embora!

Ela não se moveu.

— SAI DAQUI! - Os outros idiotas que haviam chegado tão cedo quanto eu deviam ter ouvido os gritos. 

A enferneira agora estava bem perto de mim. Deixei-me cair no chão e me encolhi. Ela fez o mesmo. 

Continuei gritando, gritando como um louco! Mas ela não se movia! Ela continuava me olhando e me olhando... 

Então, ela levou a mão até a máscara que usava na boca. Ela queria me mostrar o que havia por baixo da máscara? Não tinha certeza se queria ver, mas a curiosidade falou mais forte. Estendi a mão na direção dela e toquei sua própria. 

A carne era fria, como um bloco de gelo, mas era tão macia... 

— O que 'ta acontecendo aqui? - Camilla, literalmente arrombou a porta do banheiro! - Você está bem?

Ela me olhava de forma preocupada. Deveria ser cega pra não ver a porcaria do Zumbi bem na frente dela!

Foi quando eu olhei novamente e não havia mais nada, apenas minha mão tocando o ar. Sem entender nada e constrangido por ter uma alucinação na frente de outra pessoa, comecei a chorar como uma criança. Meu Deus, agora ela tinha um motivo para rir de mim, assim como todos faziam! Por um momento decidi que o Zumbi voltasse e comesse meu cérebro, aí não teria que passar por essa humilhação!

Além da minha imaginação com a Zumbi enfermeira, minha maior surpresa foi a garota brasileira. Ela não riu de mim. Muito pelo contrário... ela se ajoelhou ao meu lado e disse que tudo ficaria bem. Ela não me pediu para contar o porque eu estava caído no chão com espuma de barbear no rosto, não... ela só ficou comigo e isso me fez sentir muito melhor.

— Obrigado. - Eu disse quando parei de chorar. - Desculpas por ter feito você ver isso.

Removi a espuma e a barba, ignorando suas perguntas que agora se mostravam irritantes.

— Tem certeza que está bem? - Ela perguntou novamente.

— Tenho. - Caminhei apressadamente até meu quarto, mas ela me seguiu. 

— Não vai me contar o porque estava no chão? - Ela deveria estar pensando que eu era louco ou algo do tipo. 

— Quarto 66... não deveria se surpreender com um cologa de quarto atormentado!

— Matthew... - Ela disse meu nome com a voz irritantemente fina. Suspirei. 

— Estou atrasado. - Peguei as chaves.

— Atrasado? As aulas ainda não começaram.

— Quer vir também? - Surpreendi a mim mesmo perguntando aquilo. A verdade é que aquela alucinação desapareceu quando ela chegou. Eu não queria ficar sozinho.

— Ir para onde? Você está me assustando.

— Para onde eu vou depois de entrar em pânico. - Balancei as chaves no ar. - Vem?

                                 -:.:-

Ela não falou nada demais sobre a Urus, apenas que era linda e que deve ter custado uns cinco rins (deve ser algum tipo de moeda brasileira, vai saber). A verdade é que, após a vergonha por eu ter ficado daquela forma na frente dela, a forma que eu a tratei me deixou com nojo de mim mesmo. Se tivesse alguém berrando no banheiro, eu também ia querer algum tipo de explicação. 

— Desculpa. - Eu disse baixinho, mas ainda assim ela levou um susto. - Você está bem?

Ela sorriu, nervosa. 

— Sim, claro. - Ela parou de olhar pela janela e voltou-se para mim. - Desculpas pelo que?

— Você sabe. - suspirei. - Por aquilo. 

Imagens vívidas do zumbi voltavam para minha mente. Nunca havia acontecido algo do tipo antes.

— Algum dia vai me contar o que aconteceu? - Ela pergunta. - Achei que, depois do tempo que passamos juntos, você saberia que não quero seu mal.

Ficamos em silêncio durante a curva no cruzamento com a Jack's Street. Eu era tão idiota... não havia nenhum motivo para não confiar nela.

— Lembra quando me contou do "Petro"?

Foi quando ela estava me contando sobre o Brasil. "Petro" foi um príncipe, acho, aí ele gritou alguma coisa na frente de um lago e virou imperador. Pelo que a Camilla me disse, ele estava bêbado e tinha imaginado um momento glorioso cheio de pessoas e uma guarda montada que colocaria inveja na guarda real da Rainha Elizabeth. 

— Você estava bêbado? - Ela levantou a sobrancelha. Tive a impressão de que ela não queria dividir o quarto com um bebum.

— Céus, não! Se eu estivesse o zumbi ia ter um cavalo!

Parei o carro, frustrado. Talvez ela teria sorrido se eu tivesse mencionado o zumbi antes.

— Como assim zumbi? - Ela tirou uma mecha de cabelo dos olhos. Eu tinha "sequestrado-a" no meio da noite, ela teve que se arrumar às pressas. - Você viu algum?

— Eu não só vi... eu toquei nela! Eu juro! - Tremi. - Eu não sou louco, foi tão real...

— "Nela". - Ela repetiu. 

— Sim, ela. Estava vestida como uma enfermeira, era ruiva e usava uma máscara na boca. Ela ia tirar para comer meu cérebro quando você apareceu!

Camilla sorriu.

— Então eu salvei sua vida? 

— Minha heroína. - Retribuí o sorriso. - Esse é meu jeito de agradecer. Gosta de jogos? 

                               -:.:-:.:-

— Que lugar é esse? - ela perguntou, estranhando as luzes àquela hora.

— Não está totalmente pronto... - Guiei-a por entre as máquinas onde alguns poucos clientes estavam concentrados em seus respectivos jogos. - Eu tive que abrir antes de terminar por...

— Por causa de seu pai? - Ela completou. Eu havia esquecido que a gente já tinha conversado sobre aquilo. - Isso tudo é seu?

— Era. - sorri, esperando surpreendê-la. - Hoje é seu, peça o que quiser, tudo liberado por conta da casa.

Eu estava esperando um sorriso ou sei lá um "Muito obrigada Matthew" com aquela voz irritante tentando esconder o sotaque, mas ela disse:

— Você não vai perder dinheiro se fizer isso? 

— Claro que não. - Menti. - Nós lucramos bem no mês de estréia, da para cobrir os gastos. 

Menti de novo. Eu queria fazer algo legal e gastar dinheiro era como um hobby para mim. Levei-a até a lanchonete. No momento eu tinha duas garçonetes e um zelador mal humorado, precisava urgentemente de mais empregados ou aquele ligar ia desmoronar! Quando cheguei na cidade não sabia que adolescentes canadenses eram um bando de nerds viciados em jogos. Eu também não tinha considerado que havia cursos voltados pra essa área no outro quarteirão, foi pura sorte.

Pedi dois mil shakes para a garçonete e para colocar Avril Lavigne, por algum motivo canadenses também adoravam aquela loira aguada. Infelizmente não havia nenhum cd da Avril no momento, fiz uma anotação mental para comprar alguns mais tarde. 

— Então... Vai me contar mais sobre a moça zumbi? - Ela perguntou, pensando. 

— Você não me parece muito surpresa. Já viu algo assim?

Ela desviou o olhar e me respondeu com um sussuro incompreensível. 

Eu havia acabado de perguntar se ela era louca e de insinuar que era esquizofrênica. Parabéns Matt.

— Desculpa, eu...

— Posso sentar-me aqui? - alguém me interrompeu. Alguém canadense. - Ouvi algo sobre "moça zumbi", desculpe não resisti e...

— Tá tudo bem, se acalme. - Camilla sorriu. - A gente não morde. 

Fiquei calado. Era uma menina baixa, sorridente e usava um tapa olho no olho esquerdo. Talvez fosse moda em algum lugar do Canadá. Seu outro era verde. Não como o verde dos olhos de Camilla, parecia um tanto quanto errado... se a zumbi não tivesse olhos castanhos, podia jurar que teriam aquela cor. 

— Você é o dono do lugar, não é? - Ela perguntou.

— Como você sabe? - Tomei um gole do Milk-Shake.

— Nem todo mundo tem uma Lamborghini no estacionamento. 

Camilla arregalou os olhos. 

— Estava nos espionando? - Perguntou.

— Não é muito educado, sabia? - Sorri. Era bem fácil ficar perto dela na verdade, desde que ignorasse o acessório bizarro no olho esquerdo. 

— Eu estava "pesquisando" quando vocês chegaram. - Ela disse. - Quando ouvi a voz de um menino e uma menina saí loguinho. Vai que estavam fazendo "coisas de casal"? Eu não ia querer atrapalhar. 

Meu rosto estava ficando vermelho, eu sentia. 

— Nós não somos um casal. - Dissemos ao mesmo tempo e começamos a rir. Não sei sobre Camilla, mas o meu foi um riso envergonhado. Casal... nunca me passou pela cabeça, eu nem sabia o que era isso, juro. 

— Desculpa. - Ela pediu. - Eu não devia comentar coisas do tipo na frente e pessoas que nem conheço. 

— Ta tudo bem. - Forcei a dizer. O silêncio desagradável durou uns seis segundos, até Camilla quebrá-lo com uma observação. 

— Você disse que estava pesquisando? O que poderia ser no estacionamento?

— Um assassinato. - Ela respondeu naturalmente, assustando todo mundo. 

— O quê? - A voz de Camilla estava mais fina que o normal. 

— São mais fáceis de acontecer em becos escuros. - Ela disse. - É para um trabalho... relaxa, eu chamaria a polícia assim que percebesse.

Olhei para minha colega de quarto e ela retribuiu o olhar. Ambos concordávamos que aquela menina precisava de um psiquiatra. 

— Por que estava procurando algo assim? - Perguntou Camilla, rodando uma batatinha no Milk-Shake. Eu duvidava que ela ia comer aquilo...

— Quero desenvolver um jogo. - Ela falou. Foi nesse ponto que comecei a prestar atenção de verdade. - Uma moça zumbi poderia se encaixar, então voltamos lá, porque não me conta?

Abaixei a cabeça. Eu não queria falar daquilo com qualquer pessoa. E ela ainda estava fazendo um jogo? Se alguém ia ter uma vilã zumbi em um game seria eu! Mesmo ela não se encaixando em nenhum lugar no roteiro. 

— Matthew. - Camilla sussurrou. - Talvez ajude... falar disso com outra pessoa.

— Ela tava esperando alguém ser assassinado! - Sussurrei de volta. - Tem certeza?

O olhar perdido dela indicava que não, ela não tinha.

— Vocês tem vodca? - Ela perguntou. - Cairia bem agora.

Aquilo não era bem um bar, mas ela não pareceu perceber.

— Nós não temos vodca. - Eu disse. 

— É uma pena... se quiser sobreviver no Canadá, comece a vender vodca. Então, zumbis... me conta.

Suspirei. Ela não ia sair dali se eu não contasse, então contei com algumas modificações. Eu disse que foi um sonho e que estava na minha cama, não quase morrendo no chão do banheiro. Camilla também prestava atenção, eu não havia contado com tantos detalhes. 

Quando acabei, a menina tocou meu ombro com a mão pequenina e morna, enviando uma sensação bem diferente de quando aconteceu a mesma coisa no banheiro. 

— Por que você recuou? - Ela perguntou. - Ela não estava sendo violenta pelo que você me disse.

— Que parte de "zumbi" ela não entendeu? - Camilla falou baixinho. 

— Porque eu não queria que meu cérebro fosse comido. - Respondi. 

Ela sorriu. 

— Talvez ela quisesse te comer. Talvez estivesse te chamando, ou querendo te mostrar algo. - Propositalmente, ela abaixou o tom de voz, tentando me assustar. - Ela não ia te machucar mesmo, afinal era só um sonho, não é? 

— Sim, era só um sonho. - Disse, sem ter muita certeza disso. 

Ela escreveu alguma coisa no guardanapo.

— Meu número. - Ela colocou-o na frente do copo. - Caso precise de alguém para conversar sobre esses sonhos.

Eu tinha Camilla, não precisava ligar para ela, mas não seria educado recusar.

— Você já vai? - perguntou Camilla. - Ah... o Matt vai ficar sem ninguém para ouví-lo. 

Ela disse meu apelido pela primeira vez desde que a conheci.

— Amanhã estarei aqui de novo, - Ela disse. - Caso ele precise. A propósito, meu nome é Nathalie. 

— Sou a Camilla, prazer em te conhecer. Ele é o Matt.

— Adorei esse nome. "CA-MIL-LA" - ela soletrou. - Brasileira?

Ela havia acertado de primeira. Eu era realmente péssimo em adivinhar coisas.

— Acertou. - Camilla sorriu. 

Nathalie deu de ombros.

— Você é bonita demais para ser argentina ou portuguesa. Foi um chute. 

Camilla agradeceu o elogio.

— Eu tenho que ir agora. - Ela bateu  os dedos no caderno de desenho que eu não havia notado antes. - Foi um prazer conhecer vocês. Tchau Camilla. Tchau Matt.

Com essas palavras, a menina bizarra saiu da minha loja. 

Voltei o olhar para Camilla. Ela realmente comeu a batatinha.


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Notas finais do capítulo

Tapa-olhos deveriam ser moda em mais lugares, da mo climão de mistério 0.0
Rsrs espero que tenha gostado, conta aí o que achou ^-^ até o próximo bye



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