Darkpath escrita por Lyra Roth, João Pedro


Capítulo 2
♠01 –Caminhos que se cruzam♤


Notas iniciais do capítulo

É agora que a história começa, minha gente!! A dinâmica da história será a seguinte: nos capítulos comuns, a narrativa ou será do Matt ou da Milla. O narrador estará indicado no início do capítulo, para vocês não se perderem. Em capítulos especiais, como o prelúdio/interlúdios/poslúdios, a narrativa será em terceira pessoa, porque aí queremos mostrar um outro ponto de vista na história. Sacado? Então vamos para o que interessa!

Boa leitura!



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⌘ Camilla Tosetti da Costa⌘

Eu não teria como saber naquele momento, mas assim que peguei aquele panfleto sobre intercâmbios na faculdade, minha vida viraria de ponta cabeça.  

Era um panfleto bastante comum, na verdade. Os veteranos do último ano do curso de Design gráfico e animação estavam distribuindo na minha sala de aula, provavelmente com o intuito de nos alertar “por favor, não deixem o intercâmbio para o final do curso porque não dá tempo de fazer!”. E depois de toda uma explicação elaborada sobre os benefícios do intercâmbio na minha vida, acabei me convencendo de pegar um dos papéis que distribuíam.

Claro que a viagem não seria de graça, óbvio. Custava uns dez rins, só que a minha sorte era que os cinco melhores alunos da turma ganhavam a possibilidade de intercâmbio com um desconto bastante generoso, o que me possibilitou ir. Eu tinha três escolhas de destino: Reino Unido, Estados Unidos e Canadá –sendo que escolhi esse último por várias razões particulares.

Depois de decidido o lugar, falei para meus pais sobre a possibilidade que me ofereciam, e, claro, eles ficaram muito felizes com isso –principalmente com a parte de  pagar bem menos que os dez rins originalmente pedidos. Uma vez que eu já era maior de idade, pude resolver quase tudo sozinha e nem tive tempo de ficar muito ansiosa; era tanta coisa para solucionar, passaporte, documentação, transferência de faculdade, que, quando dei por mim, faltava um dia para o embarque.

E lá estava eu, fechando a mala verde a pulos que meus pais me deram –provavelmente porque eu abarrotei a mala com casacos, já que no Canadá é um frio da peste, enquanto aqui no Brasil o inverno mais frio mal chegava aos zero graus Celcius. Assim que terminei de checar tudo, despedi-me temporariamente de meu quarto e já ia entrando no carro às pressas, quando subitamente lembrei-me de algo importante:

—Espera!! –Gritei praticamente, porque meu pai já estava ligando o carro. Pulei do automóvel e sai correndo sem dizer nada, voltando uns minutos depois de achar meu precioso colar; eu não podia ir a lugar nenhum sem aquilo! –Pronto.

—Tudo aí, Milla? –Minha mãe indagou, irônica –Não ‘ta esquecendo mais nada mesmo dessa vez? –E riu.

—Agora ‘ta. –Respondi, sucinta, vendo-os rir de mim e dar a partida no carro.

⌘⌘⌘

Quando cheguei no Canadá, me arrependi profundamente de não ter colocado um casaco mais grosso dentro do avião. O vento estava tão frio e tão cortante que eu praticamente fui correndo –pra ver se me esquentava –até o lugar combinado.

Era uma especie de abrigo para intercambistas que vinham para a faculdade canadense que eu escolhera estudar. Nós ficaríamos alguns meses lá para aprender coisas novas e voltar com um currículo melhor para nossos países de origem e –quem sabe –arrumar um emprego decente. No entanto, não era só no Brasil que eu teria que ter um emprego quando voltasse; provavelmente eu precisaria arrumar um no Canadá mesmo, visto que as aulas aqui eram de meio período e, por isso, eu poderia trabalhar e estudar.

Entrei, limpei os pés no tapete chique e me dirigi diretamente para a recepção, depois para a secretaria e, assim que resolvi toda aquela burocracia, para o dormitório. Estávamos no sexto andar e o papel que me deram indicava o número do nosso quarto: 66.

—Meia meia? –Me peguei falando sozinha –Quase o número do capiroto? Eu acho que comecei bem.

No meio do caminho, o elevador travou e decidiu que não ia mais para cima do que o terceiro andar. E isso significou três andares pela escada com minha mala gigantesca e a bagagem de mão. Claro que não era esse o tipo de coisa que me abalava muito –só me deixava cansada –e logo lá estava eu, ainda disposta e desperta, em frente ao quarto 66, com a chave na mão.

Não tinha ninguém ao meu redor; os alunos intercambistas deviam chegar somente na semana que vem –eu, todavia, optei por aparecer uma semana antes para me estabelecer melhor. Entretanto, era possível ouvir conversas e barulhos dos outros apartamentos ao meu redor, os poucos ocupados no momento.

Descansei a bagagem toda no chão e girei a pequena chave prateada nas mãos, sorrindo para mim mesma.

—Cheguei –Constatei, satisfeita comigo mesma.

Enfiei e girei a chave na porta, a qual abriu com um click simpático. Empurrei a porta e adentrei.

Estava tudo escuro e vazio lá dentro. A maioria dos quartos precisaria ser dividida, porém o meu estava desocupado.

—Acho que seremos só nós dois mesmo, pelo menos por enquanto –Falei sorrindo enquanto tirava meu coelho roxo de pelúcia de dentro da mala e o posicionava em cima do sofá.

O apto 66 não era muito grande: um pequeno corredor na entrada dividia-se em dois caminhos: à esquerda, para a cozinha e lavanderia, à frente, para a sala de estar, onde tinha uma mesa mediana, sofá e TV, além da sacada. À esquerda da sala uma especie de hall que tinha um banheiro, dois quartos grudados um no outro à esquerda do banheiro (conectados com a lavanderia) e em frente aos quartos, uma sala de estudos para duas pessoas.

Bocejei, entrando no banheiro para tomar um banho. Depois de me estabelecer e colocar o coelho em cima da cama no quarto mais próximo ao banheiro, decidi que era uma boa hora para uma voltinha por aí. Coloquei meu colar, ajeitei os cabelos ondulados castanhos e me encarei no espelho com minhas órbes verdes:

—É isso aí –Pisquei pra mim mesma e peguei a chave. Já estava a caminho da porta quando ouvi a maçaneta girar. Pulei para trás, surpresa: quem seria?

—Ahh. –A pessoa que entrara exclamou, claramente desconcertada pela minha presença, porém sem muito ânimo ou intenção para demonstrar. Perguntou em um Inglês britânico –Aqui é o quarto 66?

—...É –Respondi com cautela, encarando seus olhos azuis acinzentados. 

—Que coisa... –O rapaz falou ainda em Inglês. Passou a mão clara pelos cabelos da cor de palha e finalmente concluiu o que eu já supusera –parece que seremos colegas de quarto, hã?

⌘Matthew D. Coleman⌘

Eu tive um sonho antes de chegar na cidade. 

Claro, era só um sonho idiota, mas talvez haja algum sinal, sei lá, qualquer coisa que tornasse a porcaria da minha vida interessante!

Nesse sonho, eu estava andando. Eu caminhava por entre as árvores e um zumbido soava sobre minha cabeça. Quanto mais eu me afastava da floresta, mais alto ficava... e eu gostava. Havia uma menina segurando minha mão ao meu lado, eu não conseguia ver o rosto dela, mas devia estar sorrindo. 

Ela me guiava por um caminho de luz. Quando chegamos no fim da trilha, pessoas me esperavam, pessoas que eu já conheciam. Estavam sorrindo ao me ver. 

Meu pai estava com os braços abertos, esperando a mim junto com as pessoas da escola e minha mãe! A casa atrás deles era um simples barraco e suas roupas eram simples, eles não tinham nada, mas tinham a mim e estavam felizes com isso!

Com medo do sonho se acabar, olhei para a menina que me trouxe para meu paraíso particular. Ela era um pouco menor do que eu e tinha os cabelos castanhos, além de um lindo sorriso. Ela desfilou em minha direção e me tirou dos braços do meu pai, envolvendo-me em seus próprios. 

Então sussurrou baixinho no meu ouvido: "Você está em casa, Matt. Seu tempo sozinho acabou."

E então aconteceu a maior desgraça da minha vida: Eu acordei!

⌘⌘⌘

Quando entrei naquele naquele quarto, eu esperava que tivesse tão vazio quanto a minha carteira, porque ninguém chega tão cedo... aparentemente, ela era uma exceção.

Uma exceção a tudo. De longe dava para ver que não era nenhum pouco canadense e ela não riu do meu sotaque como as outras. O dela era bem sutil, mas ainda estava lá e eu nunca havia ouvido antes, devia vir de algum canto afastado da França ou da Suécia... não sou muito bom com países.

De início, pensei já tê-la visto antes, mas tenho certeza que me lembraria daqueles olhos verdes enormes.

— Vai falar alguma coisa? - Perguntei. A menina ainda estava parada me olhando como se eu fosse um ser anormal.

— Desculpe-me. - E caminhou para... Sei lá para onde, mas ela foi.

— Se vamos morar aqui, poderia saber pelo menos o seu nome, não acha?

— Camilla. -Disse, sem olhar para trás.

— Eu sou o Matt. - Eu disse, para o vento.

"Parabéns Matt, conseguiu o nome dela... já são quase amigos."

Se eu pudesse socar minha própria voz dentro da minha própria cabeça, socaria. Suspirei e tirei a mochila das costas.

Não tinha muita coisa lá dentro, apenas meu notebook e algumas roupas. O resto de minhas coisas estava na Urus. Ao contrário de certas pessoas, eu não estava com nenhuma pressa.

"Camilla" pensei. Nome... Cubano? Dei de ombros. Ela havia deixado várias coisas espalhadas por esse apartamento apertado, talvez eu pudesse descobrir algo sobre ela se... olhasse por algumas delas.

Geralmente eu não faria, mas ela não me deixou escolha! Suspirei. Eu era melhor do que isso. Ainda.

Deixei a mochila no chão e fui procurar o banheiro. Depois de horas vivendo naquele maldito carro, qualquer um precisaria de um banho.

Depois de devorar um saco de batatinhas que encontrei na cozinha e esperava que não fosse da Camilla (Ou "Kémillia", elafalou rápido demais, não tinha certeza), fui tomar banho. A água quente tocando meu corpo foi um alívio. O único lugar que poderia ficar era tão ruim que preferi ficar no meu carro.parece que os antigos donos acreditavam que os empregados mereciam morrer de hipotermia enquanto tentavam tomar banho. Eu estou falando de uma loja de jogos fracassada que comprei com o dinheiro da mensalidade. Meu pai ficou uma fera, não confiava que eu transformaria aquilo no maior centro comercial do Canadá. Péssimo assunto para relembrar durante o banho. 

Ao invés de pensar nas broncas que meu pai me dera dias atrás e em todo o dinheiro que ele tirou de mim, decidi voltar meus pensamentos para a única coisa boa que aconteceu comigo durante muito tempo: um sonho.

Havia uma menina nele e eu já li em algum lugar que nosso cérebro não consegue criar rostos durante o sono. Talvez fosse uma britânica aleatória. Talvez fosse uma canadense aleatória. Eu cheguei a pensar que fosse Camille (sic) por um momento, ela também tinha olhos verdes e cabelos castanhos, mas tinha um sorriso angelical e Camillie (sic) não. Além da voz deixar bem claro que era americana e não cubana (sic).

Minha lista de moças com olhos verdes e cabelos castanhos começou e acabou com o nome "Camillia". Frustrado, me vesti, levei as roupas sujas para a lavanderia (eu precisava mesmo aprender a lavar roupas?) e voltei para a sala de estar.

Haviam dois quartos no apartamento, não entrei em nenhum porque minha mochila estava na sala e lá tinha sofás. 

Aconcheguei-me nas almofadas e macias e abri o notebook. Finalmente, após longos três dias de discussão e drama familiar, eu me sentia em casa.

Meu papel de parede era foto de um panda (pandas são legais), estava ali desde que comprei e nunca tive vontade de trocar. Hesitei um pouco antes de abrir um arquivo. Era o roteiro de jogo que finalmente poderia ganhar vida agora. Foi um dos motivos para eu insitir em programação enquanto meu pai gritava "Medicina!". Onde você encontraria profissionais baratos e de ótima qualidade além de uma das melhores universidades do mundo? 

Estava quase finalizado de qualquer modo... era um jogo de terror que faria Silent Hill parecer Minecraft! E também seria bem mais bonito do que The Last of Us e muito mais profundo do que Bioshock!

Talvez eu tenha exagerado um pouquinho, ou não. Nunca saberemos se o roteiro não estiver terminado. 

Com um último suspiro, comecei.

 


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Notas finais do capítulo

HIHIIH, que a treta comece!!

Kisses!!



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