Darkpath escrita por Lyra Roth, João Pedro


Capítulo 15
「Interlúdio」Death and conversation


Notas iniciais do capítulo

TRIGGER WARNING!!! Atenção, esse capítulo contém uma cena de (auto)mutilação. Não é muito descritiva, nem longa (dá umas cinco linhas), mas deixo avisado que, se você é propenso a ter crises de ansiedade/pânico/depressão, POR FAVOR NÃO LEIA DEPOIS DESSE SÍMBOLO [!!!]

Avisados, continuemos: esse capítulo é um interlúdio, e assim como todos os interlúdios/poslúdio, será narrado em terceira pessoa.

Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/751777/chapter/15

Death and conversation

Uma das coisas que aprendera após aquilo que mudou toda a sua vida: que era bem fácil reconhecer a personalidade das pessoas pela voz. 

—Fraca. 

E aquela era uma voz inocente de alguém que raramente a usava. 

A garota não o conhecia de verdade, só o havia visto algumas vezes, e o rapaz lhe causava arrepios. Não havia como vê-lo naquela hora; no entanto, ela podia senti-lo perto, bem perto de si. 

—Você quase arruinou tudo —sua voz era naturalmente baixa e rouca, porém naquela hora estava perigosamente contida e friamente controlada.

Ela estava se esforçando para não gaguejar ou demonstrar qualquer sinal de fraqueza. Não podia ser fraca naquele momento, não após mexer com aquelas coisas.

—Diga alguma coisa —Foi um sussurro, mas o ambiente estava tão quieto que o eco fez com que parecesse um grito. Depois de bastante tempo, ele finalmente fez algum som —Você gosta dela. Amigas. Até mesmo dele. Imperdoável.  —O rapaz não conseguia se manter estático; o tamborilar de seus dedos fazia leves ruídos na janela. A menina conhecia a história, sabia que ele era instável e descontrolado. Sua vida podia acabar em um único movimento errado.

—É parte do plano. —Constatou suspirando. —Que não vai funcionar se matá-los agora.

Risadas de leve fizeram os pelos de sua nuca se arrepiarem. Um, dois... três passos, e ele parou. Estava se aproximando. Ela não podia dizer o quão perto ele estava. Foi forçada a recuar alguns passos, era como se suas pernas se movessem sozinhas.

—Não preciso de todos eles. 

Os olhos dela se arregalaram. Seu hálito quente tocava o pescoço da garota apavorada; ele estava realmente perto.

Para... —Ela disse tão baixo que duvidava que ele havia escutado. Em contraste com o calor no pescoço, os dedos frios do rapaz percorriam seus braços nus, subindo lentamente. A garganta da jovem fechou, ela quase não conseguia respirar. Queria matá-lo —  e ela o mataria se pudesse, mas perto dele, era completamente impotente. Quando os dedos gelados apertavam-lhe levemente, era como se seu corpo não pertencesse mais a ela. Não se movia, não se defendia e não sentia nada que ele não permitisse. Ela fechou os olhos quando as mãos deixaram seus braços e repousaram em seu pescoço.

—E eu não preciso de você. —Ele apertou-a por apenas um momento, forte. Uma onda de adrenalina inundou seu corpo, que em resposta, começou a tremer. —Se ficar em meu caminho, vai ser só mais uma historinha triste que morreu nessa merda. —As mãos deixaram seu pescoço. Cada átomo de oxigênio que entrava apressado parecia uma bênção à ela. Suas pernas bambearam e a garota trêmula caiu de joelhos, encarando os raios lunares que ousaram invadir o quarto.  Dor, novamente dor. Uma bota dura que quase quebrou sua espinha fez com que seu rosto despencasse em direção aos raios de luz. Lágrimas ousaram cair. Infelizmente, ela não perdeu a consciência. Ainda pode ouvir os leves risos. Não ousou levantar a cabeça, com medo de irritá-lo mais.  Um, dois, três passos e então parou.  —Não me desaponte, vadia egoísta. Não é só sobre você agora.

Ela sentiu. Bem de leve, bem lá no fundo... o delicioso cheiro de medo. Um sorriso se formou em seus lábios e ela se levantou. Não havia porque temer uma criancinha assustada. [!!!]

—Eu vou matar você. —Ameaçou, mas já não havia ninguém ali. O que ele queria dela, afinal? Que ela fizesse o trabalho sujo? Ou aquilo tudo foi só para torturá-la pelo resto de humanidade que ainda tinha? A menina cambaleou até a cama e enterrou o rosto no travesseiro, deixando as lágrimas caírem. Ela era fraca demais, mortal demais, e era por isso que precisava deles. Queria ser forte o suficiente para desafiar a morte, mas para isso ela tinha que mudar, tinha que crescer.

Ela esticou o braço até alcançar algo que guardava sempre junto com seu celular. Sentiu os dedos agarrarem o objeto metálico e tiritou ao perceber que eles estavam tão frios, tão gelados quanto a própria lâmina. Por que ela não podia pegar todos os seus sentimentos, seus medos, e trancá-los numa caixa para sempre? Por que tudo que ela sentia quase sempre a afundava, a prendia no chão? Por que ela não podia ser livre? O que mais a vida queria dela afinal? Lentamente a jovem apertou o objeto contra seu pulso. Para ser forte, ela tinha que crescer, e, para crescer, tinha que ser forte. 

—Garotas crecidas não choram! —A menina olhava fixamente para seu próprio braço, e repetiu isso para cada linha vermelha que traçava em si —Não choram! NÃO CHORAM NÃO CHORAM NÃOCHORAMNÃO.... —E ela continuou olhando, continuou sangrando, continuou se machucando até que não caísse mais nenhuma lágrima de seus olhos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Nem preciso dizer que o raciocínio da /pessoa ai do cap/ ta totalmente bagunçado, prejudicado por conta das circunstâncias, né? Ela ta confusa e sofrendo, por isso acaba fazendo essa ligação totalmente tóxica, indevida e cruel de sua força com a capacidade de ela suportar a dor da automutilação.

Aliás, o capítulo foi escrito pelo João (eu só revisei), então créditos pra ele :P



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Darkpath" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.