Brave escrita por mjonir


Capítulo 3
Futura arritmia cardíaca


Notas iniciais do capítulo

Oie! Eu voltei e dessa vez é pra ficar ♥



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Três semanas inteiras tinham se passado desde que Peter se encontrou subitamente com a sua salvadora de língua afiada e tudo parecia nada mais que normal se estivesse, é claro. Veronica já tinha conseguido, por algum milagre esquisito, se tornar colega de Michelle e até mesmo de Ned que não parava de importunar o Parker com comentários como: ela é tão bonita. As sardas dela são tão bonitas. O sobretudo dela é bonito. Ela é bonita.

Aliás, neste exato momento, Ned estava dizendo o quanto Veronica ficava bonita trajada com um sobretudo vermelho e uma touca preta que quase parecia fazer parte de seu cabelo da mesma cor.

‘’Tudo bem, Ned, eu entendi. Ela é bonita!’’ Peter resmungou enquanto puxava seu livro de Gramática.

Ned deu mais uma olhadela em Vee e depois para o amigo como se estivesse submetido a um feitiço maligno da garota sorridente até demais para uma personalidade tão forte e irritante.

Suas andanças e respostas inteligentes nas aulas tinham um poder de incomodar Parker de uma forma assustadoramente profunda. Ela era a metida inteligente, e antes dela, aquele papel era somente dele.

Talvez ele só estivesse com um pequeno ciúmes pelo professor de Literatura declarar toda sua admiração pelos conhecimentos de Veronica para com suas respostas e opiniões sobre livros que ele citava ou pedia que lessem e discorressem sobre.

Além de tudo, a professora de Gramática quase estampava as redações de Vee para que todos tomassem vergonha na cara e aprendessem a argumentar como gente grande assim como a Veronica. Aquele era seu mantra de todos os dias na sala, Parker não se surpreenderia se chegasse na sala e o quadro estivesse com uma mensagem escrita à mão pela professora dizendo que todos deveriam ser como a Veronica Andrews.

Ned e Peter foram para a terceira tortura do dia, a aula de Gramática e com certeza, Veronica estaria lá com o holofote de melhor aluna só pra ela.

Peter havia escutado alguns comentários até mesmo maldosos sobre a garota, o que não deixou de irritá-lo porque, apesar de se sentir incomodado com a adoração repentina dos professores e de seus amigos para com Veronica, ele não gostava que os outros falassem algo ruim dela.

Andrews, apesar de extremamente irritante, ainda tinha um coração muito melhor que a maioria daqueles alunos pomposos e mesquinhos que perambulavam pelos corredores só pensando nas festas de sextas-feiras.

Parker e Ned se sentaram em seus lugares e viram Veronica entrar acompanhada de uma Michelle que parecia pela primeira vez, em todos aqueles anos, ter penteado o cabelo. Seria uma influência da Andrews? Ou…

Veronica se sentou no local vago ao lado de Peter e Michelle se sentou atrás dela. As duas deram risadinhas o que fez os olhos de Peter quase saltarem pelas órbitas.

‘’É impressão minha ou… a Michelle tá rindo, Pete?’’ Ned perguntou também abismado.

Parker só conseguiu assentir devagar enquanto demorava-se no sorriso discreto de Michelle e no aberto para o mundo de Veronica.

Ela era uma garota cheia de extremos, Peter pensou e Vee sabia que era assim, ela se conhecia bem. Tudo parecia ser sentido intensamente dentro dela e era difícil se conter porque, desde pequena, as amigas de sua mãe diziam o quanto ela era expressiva, direta e como não conseguia, de forma alguma, esconder o que sentia porque, seu rosto era seu cartão de visita. Literalmente.

Às vezes, Veronica se incomodava com isso, mas, ser ela mesma passou a ser tão normal que, foi um esforço total esconder coisas que, agora pareciam presas em teias de aranha nas paredes de seu coração.

Ao decorrer dos dias, do tempo e de sua idade, Veronica não se livrava disso, mas, empurrava o mais fundo que conseguisse.

Ela não era uma garota rabugenta, nem mesmo mal humorada, bem, de vez em quando ela era, como todo mundo, mas, ouvir um bom Ramones melhorava um pouquinho o seu dia, o seu humor e plantava-lhe um sorriso discreto no rosto claro marcado por sardas.

E bem, hoje no caminho para a escola, Ramones serviu como uma boa trilha sonora para o percurso de ônibus até mais um dia de aula, além de que, Veronica estava longe de um bloqueio criativo e tinha se dado bem na redação da última prova, e felizmente não deu mais de cara com o moleque aranha bancando o herói por aí.

‘’Você está ótima, Michelle. Eu acho que seu cabelo fica ainda mais bonito solto. Seus cachos são tão curvados, você deveria usar assim mais vezes.’’

Veronica disse aquilo com sinceridade porque, gostava de dar elogios às pessoas que se abriam para aquilo.

Não era sempre que Vee o fazia, mas sempre gostou de ressaltar algo bonito nas pessoas que estavam ao seu redor. Ela costumava fazer aquilo quando criança, o tempo inteiro. Elogiando a paisagem e encontrando um pontinho bonito até mesmo numa cidade carcomida e desajustada como o Brooklyn é.

Porém, depois da infância, achar um ponto bonito em qualquer lugar, até mesmo em uma pessoa tinha se tornado um tanto difícil e mesmo que achasse, aquilo não trazia mais cor dentro de si, principalmente na cidade onde estava antes do Queens. Talvez fosse esse o motivo de sua mãe ter subitamente achado um emprego em outro lugar e decidido sair do Brooklyn.

É preciso sempre novos ares, novos vendavais para que nossas asas se fortaleçam para voar.

Era uma frase e tanto de efeito que, ao ouvir pela primeira vez, Veronica achou ter sido retirada de um livro, mas sua mãe apenas sorriu de lado e disse que, às vezes, quando quisesse poderia ser tão poética como os autores que Vee gostava.

Então, a garota decidiu aceitar que, mesmo não querendo experimentar algo novo, o Queens deveria ser um lugar bom para passar seu último ano escolar.

‘’O que você acha, Ned?’’ Veronica questionou o garoto atrás de Peter.

Ned se remexeu inquieto na cadeira e, Parker sabia que ele ia gaguejar, que faria uma cara de tonto e, bem, estragaria tudo.

‘’E-eu?’’ Ned começou.

Peter soltou um suspiro o que atraiu os olhos curiosos e incrivelmente escuros de Veronica para ele. Foi como se os dois estivessem naquela noite em que se conheceram e Peter sentiu um resquício de nervosismo se instalar na base de sua coluna, mas, decidiu empurrar a sensação pra longe.

‘’Sim, sua opinião também é importante.’’ Vee sorriu amarelo.

Michelle bufou e torceu o nariz para Ned.

‘’Ele mal consegue formular uma frase perto de uma garota bonita, Vee. Não o obrigue a tentar falar mais do que esse gaguejo esquisito.’’

Veronica soltou uma risada pelo nariz e mirou Ned. O garoto estufou o peito e pareceu visivelmente irritado com o comentário ácido de Michelle.

‘’Q-qual é seu problema, Michelle?’’

Peter arregalou os olhos e voltou-se para Ned. Era o fim do mundo, ou talvez, o início dele. Parker temeu quando uma das sobrancelhas de Michelle se ergueu. Veronica acompanhou o desespero do garoto e quis rir daquilo, ela tinha percebido que a colega não tinha uma certa tolerância e, Peter tinha acabado de confirmar que uma terceira guerra mundial poderia acontecer naquele momento até que a porta da sala se abriu.

‘’Bom dia!’’ a professora de Gramática murmurou e todos se ajeitaram nas cadeiras.

‘’Sorte a sua, Edward Leeds!’’ Michelle resmungou e abriu o caderno.

Peter levantou os lábios em um sorriso discreto e percebeu que Veronica o olhava da mesma maneira, com um sorriso divertido e cúmplice.

Um peixinho pareceu pular no mar de sensações dentro de Peter e ele não gostou daquilo. O peixinho enxerido foi uma partezinha dele que gostou daquele sorriso de Vee e que gostou ainda mais por ela ter colocado seus olhos sobre ele.

 

 

Peter mal podia acreditar. Ele andava um pouquinho mais rápido que Ned pelos corredores para finalmente sair da escola e voltar para casa. Sua mente que antes só conseguia pensar naquele caso do cara maluco de olhos vermelhos explodindo caixas eletrônicos, agora só pensava em como sua sorte tinha virado de um jeito esquisito.

Veronica Andrews era agora sua parceira em um trabalho de Gramática e ele ainda tinha escutado da professora que esperava muito daquela dupla e que todos ficassem de olho neles dois porque coisas boas sairiam dali.

Quando foi que a sra. Torres tinha se tornado tão indiscreta assim e tão…

‘’A professora parece pender bem para um lado, não acha?’’

Peter quase deu um pulo pelo susto e, mais ainda por encontrar Veronica andando ao seu lado, tão rápido quanto ele. Como ela havia o alcançado?

Parker olhou para os lados e diminuiu o passo. Suas sobrancelhas se arquearam involuntariamente quando ele encontrou os olhos de Veronica brilhando de curiosidade.

Ela agora estava sem sua touca e de cabelos amarrados em um coque, deixando a franja e alguns fios caírem de lado de seu cabelo levemente ondulado.

‘’Oh! Graças a Deus, achei que nunca conseguiria te acompanhar. Obrigada por desacelerar o motorzinho’’ ela disse com um sorriso animado nos lábios.

Peter ainda estava surpreso, estarrecido por ela falar com ele tão de repente assim.

‘’Eu...’’

Veronica parou e Peter parou junto com ela. Os dois estavam quase próximos à porta de saída e alguns alunos desviavam deles. Uns soltavam reclamações baixinho, mas Vee apenas desviava seus olhos de Parker e olhava para eles como se os desafiasse a dizer em voz alta que estavam incomodados.

‘’Eu estava dizendo...’’ Veronica começou.

‘’Que a sra. Torres tomou um partido para o nosso trabalho, eu sei.’’ Peter respondeu um tanto seco, o que fez Veronica se sentir um pouquinho arrependida de ter puxado assunto com ele tão repentinamente.

Ela achou que, por ter se dado bem com Michelle e por claramente ver que Ned queria sua amizade, talvez investir em uma conversa com Peter o faria se aproximar e assim, ela teria um esquadrão só dela, três amigos bons e nerds como ela sempre adorou. Um quarteto fantástico, mas sem o ideal de super-herói idiota.

‘’É, acho que é isso que ela fez’’ Veronica disse com muito, muito menos entonação na voz.

Peter piscou os olhos. Ele não podia agir como se não gostasse de Vee tão claramente pela conversa que tiveram quando ele era o Aranha. Ficaria estranho demais, talvez óbvio.

E lá vamos nós de novo para as costumeiras paranoias de que todos sabem que Peter Parker é o Homem-Aranha.

Peter pensou.

Ele costumava agir como uma pessoa culpada, quase o tempo todo, achando que todos sabiam que ele era o Aranha, principalmente quando algo dava muito, muito errado. Mas na verdade, aquilo não passava de sua mente lhe pregando peças. Ninguém sabia que ele era o herói do Queens, ninguém tinha o poder de julgá-lo e mesmo que tivesse, ele estava fazendo a coisa certa através de sua perspectiva, claro.

‘’Ela não costumava ser assim, bem, claro que eu era seu queridinho, pelo menos Michelle e Ned diziam isso, mas, não era algo tão aberto como agora’’ Peter riu de leve.

Vee se sentiu um pouquinho melhor, um pouquinho mais à vontade. Então, sorriu de leve para Peter.

O garoto sentiu seu coração bater um terço descompassado por aquele sorriso, mas logo se conteve. Talvez fosse um sinal de uma arritmia cardíaca futura.

Se permanecesse perto dela, talvez tivesse mesmo problemas de coração no futuro, e num futuro não tão longe.

 

‘’Então… quando quer começar o trabalho?’’ ela questionou quebrando o silêncio e estranhando por Peter ter ficado calado a olhando com cara de idiota.

O garoto piscou de novo voltando com força para a terra por conta da gravidade. Ele agradeceria a ela depois por sempre colocá-lo de volta ao chão, mesmo que fosse difícil demais parar de flutuar por aí.

‘’Eu… bom, não sei! Acho que, nos finais de semana?’’ fora mais uma pergunta do que uma certeza.

Veronica precisava de certezas, ela reprimiu um revirar de olhos. Por que Peter parecia falar com ela como se não a suportasse e depois, agindo como um idiota que ao menos consegue formular uma frase?

‘’Aos fins de semana, ótimo, eu não sou mesmo uma garota que curte sair por aí aos sábados, beber até cair e encontrar sabe lá Deus um herói maluco que me encha daquelas teias gosmentas’’ ela riu pelo seu comentário azedo sobre o Cabeça de Teia.

Peter olhou de um lado para o outro tentando se orientar. Ela estava falando do Homem-Aranha na frente dele, que no caso, era o Homem-Aranha e, Vee mal sabia disso.

Okay, isso está confuso demais.

Peter pensou.

‘’É, eu também não. Quer dizer, talvez aconteceria comigo, eu não sou a pessoa mais sortuda do mundo.’’

Vee estalou a língua. Mais um que acreditava em sorte e azar para o clubinho.

‘’Bem, se isso existisse eu estaria no final da lista de pessoas sortudas, mas…’’ Vee olhou para seu relógio pequeno de pulso e se surpreendeu com a hora ‘’eu preciso ir agora…’’ ela o olhou como se tentasse lembrar seu nome.

‘’Peter… Peter Parker.’’

‘’Peter. Eu preciso ir, mas, foi um prazer, quer dizer, não é um prazer fazer uma dupla pra um trabalho porque, fazer lição não é lá uma coisa que traz prazer, mas, foi um prazer te conhecer e… eu estou repetindo demais essa palavra.’’ Veronica riu e se afastou de Peter.

Ela andou de costas e, antes de sumir pela porta, deu um aceno para Peter.

‘’Tchau! A gente se vê, Parker!’’

Peter acenou de volta ainda mais confuso.

‘’Ela é mesmo uma garota esquisita.’’

O garoto piscou de novo e pôde ver a garota de sobretudo vermelho se afastar lá na frente quase correndo para não perder o ônibus escolar.

 

 

Veronica chegou ao Graham’s e encontrou seu patrão lá no melhor humor do dia. Não havia ninguém sentado nas mesinhas e ela suspirou de alívio.

‘’Desculpa, Graham. Estava cumprindo uma promessa pra minha mãe e acabei me atrasando um pouco.’’

O homem mais velho assentiu enquanto limpava o balcão e cantarolava alguma música do Elvis que Vee tinha a certeza que já tinha escutado por aí.

‘’Promessa? Eu gosto de promessas, o que era? Se me permite saber.’’ Graham levantou os olhos para ela.

‘’Bem…’’ Vee riu ‘’ela queria que eu fizesse amizade na escola, sabe como é. Aquela coisa de mãe que não tem tempo pro filho e que espera que amizades supram a falta que eu sinto.’’

Graham se sentiu um tanto acuado com aquele discurso. Ele sabia que a maioria dos jovens sente falta dos pais ausentes e chamam atenção de diversas formas. Veronica não parecia aquele tipo de garota que faz inconsequências só pra punir a mãe pela ausência.

‘’Não se preocupe, Graham. Eu sei que ela precisa trabalhar, é assim que ela nos mantém bem. É só que, às vezes não é justo, sabe? Mas… eu entendo.’’

Graham assentiu de novo para ela ainda com um peso em seu coração por Vee passar por momentos difíceis. Ele não sabia de quase nada, mesmo que a garota parecesse um livro aberto, ele sabia que não tinha como imaginar as coisas que um dia Veronica tinha passado.

E não tinha mesmo.

‘’Querida Veronica, você é uma jovem no corpo de uma adulta muito, muito madura.’’

A garota riu. Às vezes escutava esse tipo de comentário de sua avó, no entanto, ela não era tão sutil quanto Graham.

‘’Minha avó diz que eu sou uma velhinha num corpo esbelto de adolescente, mas que minha mentalidade não engana ninguém.’’

Os dois riram daquele comentário.

Graham era uma das pessoas mais fáceis de se conversar que Veronica um dia já tinha conhecido, depois de sua avó, claro.

De repente, Vee sentiu saudades da avó, do bolo gostoso que ela fazia à tarde e também das novelas do canal mexicano que ela tanto adorava.

O barulho do sino na porta fez com que os dois saíssem daquela bolha e começassem a trabalhar.

Vee suspirou.

‘’Finalmente trabalho!’’ ela disse em um muxoxo.

Graham riu e foi para a cozinha.

‘’Nem me fale, querida, nem me fale!’’

 

 

Já eram quase cinco da tarde e Graham tinha precisado sair para comprar alguns legumes que faltavam no estoque. Vee estava sozinha no restaurante e zapeava os canais da TV. Ela estava procurando veemente o canal de novelas mexicanas que sua avó tanto gostava, mas não conseguia encontrar de jeito nenhum.

Ela se sentiu mal a tarde toda, mas decidiu esconder com trabalho e mais trabalho. Quando sua mente a levava de volta para a avó, se sentia triste, arrependida, mas também nervosa por ela não ter feito nada enquanto esteve vivendo seus piores dias no Brooklyn.

Mas o que ela poderia fazer?

Veronica se perguntou.

Sua avó não era uma heroína, não era como se ela pudesse chegar voando em sua casa e salvá-la dele. Salvar a ela e sua mãe dele. Não havia como e era também por isso que Veronica não acreditava em super-heróis. Eles não resolviam problemas como aqueles.

Enquanto zapeava pelos canais, Vee mal percebeu que o sininho da porta alertou a entrada de alguém. Só depois seus olhos capturaram um homem vestido de preto que chegou todo alvoroçado próximo ao balcão.

‘’Você… você tem banheiro por aqui?’’ ele perguntou.

Veronica tomou um susto. Ele estava com os olhos arregalados e tremia de leve. Parecia estar sob efeito de algo que o deixava fora de si.

‘’S-sim, nos fundos, a porta a direita.’’ Veronica respondeu no automático.

Suas mãos começaram a tremer.

O homem assentiu e se afastou olhando de um lado ao outro. Ela quis correr dali, todos os sentidos de seu corpo gritavam em alerta dizendo que aquele homem era perigoso e que ela estava sozinha, completamente sozinha e indefesa.

Ele desapareceu aos fundos e Veronica prontamente se aproximou do telefone no balcão. Ela discou o número de celular de Graham e esperou. A ligação chamou, chamou e chamou, mas ele não atendeu.

‘’Por favor, Graham, atende!’’ ela sussurrou discando mais uma vez.

‘’Tira a mão do telefone!’’ Veronica ouviu a voz do homem atrás de si.

Ela não soube o que fazer por um milésimo de segundo, mas suas mãos souberam e o telefone caiu sobre o balcão com um baque. O homem que estava atrás se aproximou com uma arma preta e medonha apontada para a cabeça de Veronica. Tudo dentro dela se agitou de medo misturado a adrenalina. Ela não conseguiu desviar os olhos do cano preto apontado para si.

‘’Não olha pra mim!’’ o homem gritou quando Veronica levantou os olhos pra ele ‘’Pega o dinheiro e me dá, agora!’’

Ele repetia o tempo inteiro, gritando, enquanto Veronica se aproximava lentamente do caixa com as mãos levantadas na altura do queixo.

‘’Anda, garota, eu não tenho o dia todo!’’ as mãos do assaltante tremiam e ele esfregava o nariz com o antebraço esquerdo o tempo inteiro.

‘’Tudo bem, acalme-se, por favor!’’ Veronica pediu tentando manter a calma enquanto falava com o assaltante.

‘’Não fale comigo! Não olhe pra mim, só pega o dinheiro!’’ ele gritou de novo.

Assim que Vee abriu o caixa, o barulho do sino da porta tocou de novo e seus olhos se levantaram para a pessoa que entrava. O assaltante se virou ao mesmo tempo e Veronica gritou assim que reconheceu quem era o visitante.

‘’Graham, não!’’

O barulho oco do tiro pareceu ecoar dentro de Veronica e tornar toda a cena em pura câmera lenta. Ela se viu levantando o lado móvel do balcão e correndo para Graham assim como o assaltante que agora corria para longe do restaurante do lado de fora.

‘’Graham! Graham!’’ Veronica se abaixou e segurou o rosto de seu chefe. Ele ainda estava com os olhos abertos, olhando para o teto de um lado para o outro, tentando entender o que havia acontecido. Talvez em choque.

Veronica deu batidinhas em seu rosto.

‘’Graham! Graham! Não feche os olhos, por favor, por favor!’’ ela suplicou.

Seus olhos foram para onde o sangue escorria. Tinha sido na barriga, bem no canto esquerdo. Sangue cor de carmim manchava sua camisa azul e Veronica tentou não se desesperar, ela engoliu em seco e com as mãos tremendo, desamarrou seu avental e com ele, apertou o local do tiro com a mão direita tentando estancar a hemorragia.

Com a mão esquerda, Veronica tentou ao máximo retirar o celular do bolso da calça jeans surrada e assim que conseguiu, trocou de mão e abriu na tela de discagem de emergência. Ela selecionou o contato de ambulâncias e esperou chamar.

Lágrimas saltavam de seus olhos e suas mãos agora estavam pintadas com o sangue de seu chefe.

Veronica sentia-se estilhaçada por dentro. Aquele tiro poderia tê-la atingido momentos atrás, mas, Graham tinha sido atingido, por ela, no lugar dela.

‘’A-alô?’’ Veronica disse com a voz embargada ‘’Por favor, eu… e-eu preciso de uma ambulância. Um homem foi atingido!’’

Veronica disse com a voz entrecortada olhando entre a porta e o rosto de Graham. Ela deu as coordenadas certas do restaurante e logo desligou o telefone.

Ela deixou o aparelho cair em qualquer lugar ali perto e passou uma das mãos no rosto de seu chefe e amigo.

‘’Vai ficar tudo bem, Graham… v-vai ficar tudo bem.’’

Vee dizia repetidas vezes, não para convencê-lo, mas convencer a si mesma que ficaria tudo bem.


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Notas finais do capítulo

Até o próximo capítulo, amores ♥



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