Filhos De Martino - Enigma Do Amor(Degustação) escrita por moni


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Bem-vindos a mais uma aventura da Família De Martino.
Espero que gostem de conhecer Angel.



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   Angel

  Deixo a cama e caminho até a varanda, o dia está surgindo em Viena. O céu vem perdendo a escuridão e ganhando um tom alaranjado que vai se misturando ao azul e uma única estrela ainda insiste em brilhar.

   Linda visão das ruas da cidade ainda silenciosos. Um vento gelado sopra me arrepiando, uso uma camiseta branca e lisa, cruzo os braços no peito para me proteger do frio. Os cabelos ainda azuis, mas não por muito tempo estão bagunçados depois de uma noite maluca como tantas outras.

   ─ Angel, volta para cama, está frio. – Dieter me convida e faço uma leve careta. – Angel, está frio. Ouviu essa parte?

   Deixo a varanda, quando alguém deixa algo com um simples vento do norte impedir de enxergar a beleza do amanhecer é simplesmente alguém que não vale a pena. Dieter nunca valeu a pena, foram apenas duas semanas divertidas e nada mais.

   Fecho as pesadas portas duplas e quando me volto ele está escondido sob as cobertas, só resta os cabelos dourados. Meus olhos correm o quarto. Encontro o jeans, começo pelas peças intimas, depois o jeans, a camisa xadrez azul o all star vermelho sobre meias pesadas, jaqueta, sobretudo e cachecol.

   Os dias frios estão chegando ao fim. Finalmente, de qualquer modo não vou estar aqui para assistir o verão chegar com seus vinte graus em dias quentes.

   Pego a mochila, coloco nas costas, encaro a cama. Dieter ainda apagado, a garrafa de vinho ao lado da cama sobre o móvel, taças vazias, noite quente em dia frio. Subo na cama e me sento ao seu lado, toco o que parece ser seu ombro sob as cobertas.

   ─ Uhm! – Ele geme em resposta.

   ─ Dieter, eu estou... indo embora.

   ─ Sono demais para seu humor cítrico.

   ─ É sério, eu estou indo embora de Viena. Estou... vou pegar o trem para... para algum lugar novo.

   Dieter se senta confuso, abre os olhos e me observa, passa as mãos pelos cabelos, suspira e procura o celular.

   ─ Não são seis da manhã, Angel, como assim? Em que momento tomou essa decisão entre a noite de ontem e o amanhecer do dia?

   ─ Quando fechava as portas, depois de dizer que estava frio. O dia está amanhecendo e está lindo, o céu... quero ver acontecer, não quero me enterrar em uma cama quente.

   ─ Garota maluca. E nós dois? – Ele questiona. Afasta as cobertas, anda nu pelo quarto em direção ao banheiro. Leva uns minutos até voltar e levar a garrafa de vinho aos lábios. – Secamos duas dessas essa noite. – Ele devolve a garrafa ao móvel, acende um cigarro, vai até a porta alta e encara o dia.

   ─ Desculpe. – Digo a ele. Dieter se volta. Balança a cabeça em negação.

   ─ É só mais um dia, como outro qualquer, céu azul e vento frio. Ir e vir, gente apressada ou não, é só... mais do mesmo.

   ─ Nunca se sabe, eu quero ter certeza. Esses dias foram muito legais.

   ─ Nem tanto, você é meio doida. Dormi pouco e passei boa parte dos meus dias a caminhar pelo mundo ao seu lado, preciso trabalhar.

   ─ Eu sei. Você é mesmo especial.

   ─ Você também, sabe para onde vai? – Nego, dou de ombros, nunca sei direito. – Boa sorte. Eu vou... voltar a dormir.

   ─ Deixo a conta paga, vão te dar umas horas para sair. – Ele sorri. Me encara um momento.

   ─ Vão ser boas memórias. – Sigo até ele e o abraço, momento estranho, ele nu, eu vestida. Dieter beija minha testa. Afaga meu rosto. Tem trinta anos, trabalha em seu próprio negocio que gerencia pela internet e nos conhecemos por puro acaso assim que cheguei a Viena, nos divertimos muito esses dias. – Maluca!

   ─ Boas memórias com toda certeza. – Deixo seus braços e ajeito a mochila nas costas, sorrimos um para o outro. – Adeus.

   ─ Angel. – Ele me chama quando chego a porta do quarto. Me volto sorrindo. – Volta para a Itália. Vai te fazer bem.

   ─ Já que estamos em modo conselhos de despedida, liga para ela.

   ─ Ela? – Ele me pergunta surpreso.

   ─ Eva, sonhou com ela duas vezes enquanto estivemos juntos, também disse qualquer coisa sobre ela uma noite dessas, quando bebeu demais. Se a ama, vá até ela e diga como se sente.

   Dieter não me responde, fica a me olhar em choque, sorrio mais uma vez e então deixo o quarto. Aperto o elevador e quando entro, uma mulher em roupas de executiva com um bebê no colo me sorri. Sorrio de volta.

   Adoro crianças, sempre fui filha única, sem muitos amigos na infância, apenas um casal de primos que tive pouco contato e que hoje não passam de garotos rebeldes e mimados em busca de aventuras.

    Fecho a conta do hotel em que passei as últimas duas semanas, pago e caminho para a rua. O dia agora está definitivamente azul, com céu limpo e as pessoas começam a caminhar para seus trabalhos.

   Voltar para Florença? Tem pelo menos dois anos que não vejo papai, falamos por telefone de vez em quando, normalmente converso mesmo com Justine, sua secretária e muleta para tudo que ele precisa.

   Gosto dela, somos amigas, nos tornamos amigas de tanto nos falarmos por conta do meu pai. Emiliano Sartori é um aristocrata muito ocupado para falar pessoalmente com a filha. Para isso paga um salário milionário para Justine, a loira e elegante assistente, secretária, amiga e sei lá mais o que.

   Amo meu pai e sei do seu amor por mim, apenas não nos entendemos muito bem. Ele quer de mim algo que não posso oferecer e espero dele algo que ele não tem para me dar.

   Enquanto ando pelas ruas geladas de Viena em direção a estação de trem, penso no próximo destino. Toco o pescoço em busca do colar.

   Odeio me lembrar que ele não está. Meu coração aperta toda vez que me lembro que o colar que mamãe me entregou um dia antes de morrer não está mais comigo.

   A última vez que me lembro de tocar nele, estava em um trem chegando em Istambul, saltei na estação lotada, esbarrei em alguém, talvez um assaltante. Aposto que sim, é assim que eles fazem, fingem esbarrar e roubam seus pertences, deve ter sido naquele momento.

   Não notei até já estar longe demais para fazer qualquer coisa. A relíquia de família, o momento mais precioso que tivemos, tudo perdido por um idiota ladrãozinho.

   Quando chego a estação são seis e quinze. Encaro os próximos trens no painel. Viena para Florença, partida as seis e trinta. Quinze minutos, posso saltar pelo caminho se me decidir por não voltar para casa. Compro o bilhete. Chega as quatro e trinta da tarde.

   Ajeito a mochila nas costas e procuro a plataforma de embarque. Me acomodo na cabine individual. Normalmente gosto de estar entre as pessoas, falar com qualquer um que surja em meu caminho, conheci gente de todas as partes do mundo apenas assim, falando com estranhos.

   Hoje em especial quero dormir um pouco. Meu celular toca. O numero do meu pai. Sorrio para tela do celular e levo ao ouvido.

   ─ Bom dia, Justine. – Digo sorrindo.

   ─ Como sabe que sou eu? – Ela questiona.

   ─ Meu pai nunca liga, sabemos da sua falta de tempo. – Digo irônica. – O que faz no trabalho tão cedo? A escravidão não tinha sido abolida? Me lembro de aprender qualquer coisa sobre isso no colégio.

   ─ Dia complicado por aqui. – Ela me diz de modo superficial.

   ─ Manda Angélica voltar para casa agora mesmo! – Escuto meu pai gritar ao longe. Sorrio, se ele fosse tão irritado quanto quer parecer.

   ─ Angel...

   ─ Angélica! – Meu pai a corrige. – Angélica Della Torre Sartori! Não entre nesse jogo dela. – Sorrio.

   ─ Emiliano, quer falar diretamente com ela? – Justine diz em tom duro. A melhor parte é quando eles brigam enquanto fico na linha.

   ─ Como? Como vou falar com ela com todos esses papéis para ler?

   ─ Então pare de se intrometer! – Ela rebate e me ajeito na poltrona confortável, o trem começa a andar, primeiro lentamente. – Está num trem, Angel? – Ela frisa meu nome lentamente para irritar meu pai.

   ─ Sim.

   ─ Para onde?

   ─ Para o infinito e além! – Digo em tom animado, não se pode resistir a uma deixa como essa.

   ─ Quando vem para casa?

   ─ O que vocês querem?

   ─ Vem você, saber como está. Descobrir a cor do seu cabelo.

   ─ Mandei foto.

   ─ Vinte dias atrás. Angel, sentimos sua falta. Seu pai sente. – Justine usa um tom mais delicado, trabalha com papai a doze anos, começou logo depois de se formar e deixar a França. Foi amiga da minha mãe e agora é tudo na vida do meu pai, deviam namorar, casar e me dar um irmãozinho, acho que ainda dá tempo. – Angel? Está me ouvindo?

   ─ Sim. Estava aqui pensando por que não casa com o papai.

   ─ Diga a essa irresponsável que a herança da mãe dela não vai durar para sempre! – Papai esbraveja mais uma vez.

   ─ Mas deve levar uma vida para acabar. Investi, avisa para ele, não sou idiota. Viajo com a renda. Nunca toquei no dinheiro propriamente. Sou filha de Emiliano Sartori, sei ganhar dinheiro.

   ─ Vocês dois me deixam maluca, eu tenho muito trabalho, volte. Sei pai está me perturbando as sete da manhã e deixei o escritório ontem as nove da noite. Então apenas volte de onde quer que esteja. Uns dias ao menos.

   ─ Boa noite, Justine. – Digo para confundi-la.

   ─ Onde está, Angel?

   ─ Estou perdendo sinal... Justine... Just... – Deligo rindo e guardo o aparelho.

    Toco o pescoço mais uma vez. Odeio aquele ladrãozinho. Simplesmente odeio. Fecho os olhos e me lembro daquela manhã. Era perto de seis, verão, da janela do seu quarto tínhamos a melhor vista que se pode ter de Florença. A doença tinha ido longe demais. O médico deu a ela duas semanas, papai me contou na noite anterior. Meu coração se partiu. Me sentei à beira de sua cama decidida a estar com ela o tempo todo até acabar.

   Passamos a noite mais linda que já dividimos, conversando sobre a vida, ela me contou histórias sobre a sua infância, os pais, os avós, séculos de tradição Della Torre.

   As vezes, riamos até perder o fôlego, outras, nos abraçávamos em lágrimas e quando o céu começou a ficar colorido pela chegada da manhã. Quando a cúpula de alvenaria da catedral ficou visível. Mamãe se sentou em sua poltrona confortável diante da janela.

    Me pediu a velha caixa de relíquias que guardava em seu baú e quando entreguei a ela seu cansaço estava evidente.

“─ Devia dormir, mamãe! – Ela me sorri doce, sempre delicada.

  ─ Dormir? Ainda não, olhe. – Com olhos cansados ela me entrega um colar de ouro com um pingente em forma de coração. – Abra! – Mamãe pede e abro com cuidado a joia antiga. – Minha avó, presente do meu avô, quando se casaram, herança dele. Antes da foto dela, o que havia aí era a foto de um casal apaixonado que viveu no século dezenove. Os primeiros Della Terra, feito por um joalheiro famoso da época. Guardou o amor do casal por anos, então se perdeu.

   ─ E como voltou a nossa família? – Pergunto curiosa.

   ─ Ninguém sabe, mas o vovô o encontrou apenas depois de conhecer vovó. Estava com ela. Perdido em uma gaveta no quarto do casal. Vovô então mandou retratar vovó e deu o colar a ela. Ela entregou a minha mãe que me entregou quando eu tinha dezesseis anos. Agora é seu. – Ela me sorri, fecha a joia em minha mão e aperta com cuidado. – É sua, vai te lembrar de mim, vai te trazer sorte no amor.

   ─ Mamãe...

   ─ É uma relíquia, cuide com carinho. Não quis nunca tirar a foto da vovó, ela foi tão feliz, eles foram tão felizes e essa joia é tão cheia de mistérios, assim como você. – Coloco o colar no pescoço, ela toca com carinho a peça que fica grande, e arranca um sorriso de mamãe. – Minha pequena! Amo você. Quero que seja muito feliz. Vá conhecer o mundo quando tiver chance, não deixe a rotina engolir você como fez comigo e o seu pai. Não fique sofrendo. Prometa.

   ─ Amo você, mamãe, não vamos pensar no futuro. Olha que dia lindo nasceu? – Ela me procura a mão, ficamos assistindo as luzes do dia, raios de sol a refletir na vidraça transparente, nenhum som além da respiração cansada dela. Apenas nós duas ali, em silencio por toda manhã.”

 

   Até papai entrar no quarto pela hora do almoço e decidir que era melhor voltar ao hospital. Ainda consigo lembrar de abraça-la já na maca antes de ser colocada na ambulância e me acenar. Papai voltou depois da meia noite. Sozinho.

   É uma lembrança bonita, tocar o colar me deixava mais perto dela, assim como ela, ele se foi, uma relíquia caríssima, mas não é o seu verdadeiro valor.

   Abro um livro, não se pode viajar pelo mundo sem um bom livro. Me perco na leitura até a hora do almoço quando deixo meu vagão em busca do vagão do restaurante.

   O chacoalhar leve do trem é um bom jeito de me manter desperta, mas depois do almoço só o que consigo fazer é me acomodar de novo na cabine e pegar no sono.

   Talvez eu faça uma surpresa e vá falar com papai no escritório no fim da tarde. Invadir sua sala vai ser divertido. Papai sempre fica chocado com minha aparência.

   Salto do trem e caminho por Florença. São quase cinco da tarde quando chego a mansão. Os portões não se abrem quando paro diante deles acenando para as câmeras. Sorrio. Provavelmente não estou sendo reconhecida em minha própria casa.

   Aproveito para mostrar a língua e fazer umas caretas. Até Delfina ser chamada para decidir o que fazer com a estranha no portão e dar um grito com o segurança de plantão eu vou me divertindo.

   As grades começam a se abrir lentas uns cinco minutos depois. Passo por elas e caminho em direção ao jardim. São os jardins mais elegantes de Florença. Assinados por um grande artista.

   O percurso até as grandes portas leva mais cinco minutos, então as portas se abrem e Delfina me espera risonha e de braços abertos. Ela vai me esmagar em seu amor. Já sinto a dor no pescoço antes mesmo de chegar até a corpulenta governanta da mansão dos Sartori.

   ─ De volta, finalmente. – Ela me envolve, me aperta, esmaga e beija. Chora e ri. Com Delfina é tudo ou nada.

   ─ Estou sem ar, Delfina! – A mulher especial que me ajudou com mamãe por dois anos me liberta. Toca meus cabelos sem qualquer gentileza. Nega com a cabeça.

   ─Vá lavar esses cabelos, tirar essa tinta.

   ─ Nem pensar. Se lavar sai tudo, não lavo os cabelos tem quatro anos. – Ela se espanta. Delfina acredita em tudo que digo e me diverte provoca-la. Da última vez que estive aqui o dialogo foi o mesmo. Sempre é.

   ─Não pense que não enfio você na banheira e esfrego até a tinta sumir. – Ela me pega pelo braço e atravessamos o grande salão, sou arrastada pela casa até a cozinha, acho que meu pai jamais entrou nessa parte da casa. Talvez ficasse perdido se viesse para esse lado da casa.

   ─ Vou te dar comida, depois resolvemos isso do cabelo.

   ─ Vou pintar de verde. Talvez todo rosa. O que acha?

   ─ Que está na hora de crescer. – Vou tirando as peças de roupas até restar apenas a camiseta branca e o jeans. – Esses tênis, vamos lavar agora mesmo. – Delfina me arranca um sorriso quando tentar me puxar a perna para arrancar meus tênis. Então subitamente ela para e me olha assustada. – Cadê ele? O colar que Violetta te deu antes... você sabe.

   ─ Perdido para sempre, Delfina. – Finalmente as lágrimas me tomam. Uma crise de choro nos braços protetores de minha velha amiga. – Um ladrãozinho, não vi muito dele. Esbarramos, mas eu sei que não estava sozinho, então... só muito depois eu me dei conta. Era tarde. Turco idiota.

   ─ Como sabe que ele é turco? – Ela pergunta enquanto afaga meus cabelos. – E como esses cabelos ainda são macios assim com toda essa tinta vagabunda. – Rio por entre as lágrimas. Pago uma fortuna para ter os cabelos coloridos assim, sou a maior farsa que esse mundo já viu. Uma rebelde mimada, uma mochileira que dorme em hotéis caros.

   ─ Para de me fazer rir que guardei essa crise de choro tem meses. Vou até o escritório ver meu pai. – Me afasto dela. – Não conta que já cheguei, vou tomar um banho e procura-lo. Chorar no chuveiro onde ninguém vai ter a ousadia de me fazer rir.

   Beijo seu rosto e deixo a cozinha, atravesso mais salas e subo a longa escadaria em direção ao meu quarto. Um elegante e bem decorado quarto de princesa. Quase um pequeno apartamento, sala, quarto de dormir, closet e banheiro, além da varanda com vista para Florença.


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Notas finais do capítulo

Apenas uma apresentação
beijossssssssssssssssssssssssss



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