Guilda Do Alvorecer: O Reino Caído escrita por Mandy, TenshiAkumaNoLink


Capítulo 22
Capítulo 21 - Negociando Com O Corvo - Will




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Logo após o fim do meu treinamento, me retirei para os meus aposentos, esperando por fim poder descansar. Após me lavar, fui até a cama secando os cabelos com uma toalha, quando ouvi uma batida na porta. 

— Só um instante. - Falei, colocando a camisa às pressas e indo abrir a porta. 

— Algo aconteceu e eu serei necessária em outro lugar. - Disse Shao-Yen, entrando e se sentando na cama. 

— Entendo. 

— Você vem comigo. 

— Vou? - Perguntei, surpreso. - Quero dizer, eu ainda estou em treinamento.  

— Você pode ir em missões, contanto que seu mentor esteja com você. - Explicou ela. - Não faça nada precipitado e escute tudo o que eu disser. Infelizmente, é uma missão bem importante e que vai impactar no futuro da guilda, não podemos fazer besteira. 

— O que pode ser tão sério? 

— Eu lhe explicarei no caminho. Arrume suas coisas, partiremos em uma hora. 

“Droga, não vou poder nem descansar um pouco.” pensei, mas corri pra guardar tudo que parecia necessário na mochila. 

—____________________________________________

   

Enquanto nos dirigíamos para a Dyron, Shao-Yen me explicou o ocorrido em um tom sério. 

— A sacerdotisa foi capturada durante a escolta. 

— Como!? Eles pegaram a Hinata? - Perguntei tremendo de nervosismo. 

Shao-Yen baixou a cabeça de forma que o cabelo cobriu seu rosto mascarado e prosseguiu em tom soturno:

— Os Fanáticos de Iseu interceptaram um grupo com alguns dos nossos melhores homens, incluindo o  próprio comandante Volken e incapacitaram todos, a maioria com feitiço de sono. Dos feridos, a maioria teve ferimentos leves e ninguém morreu. 

— A GUILDA PROMETEU PROTEGÊ-LA! AGORA AQUELA GAROTA BOBA E INOCENTE ESTÁ EM ALGUM LUGAR POR AÍ, NAS GARRAS DE PESSOAS NEM UM POUCO INTENCIONADAS!

— Will, se acalme. - Shao-Yen colocou a mão no meu ombro. 

Eu tremia, mas eu não sabia dizer se era mais por raiva ou desespero. Ela...ela confiou neles, e eles falharam com ela. 

— Ainda podemos salvá-la, mas para isso precisamos nos acalmar e ter foco. 

— ELA ERA MINHA AMIGA, SHAO-YEN! 

— E eu farei o que estiver ao meu alcance para ajudá-la. - Disse me ela de forma tão terna, que por um instante eu me perguntei se era mesmo a Shao-Yen. - Escute, se você achar que não vai conseguir manter o foco nessa missão, eu posso pedir para alguém treinar você enquanto eu estou fora. 

— Eu vou, não saber de nada vai apenas me deixar mais ansioso. Além disso, eu sou bom obtendo informações e tenho alguns contatos que podem ajudar a encontrarmos ela. 

— Entendo. Até o momento as informações que temos são de que eles foram interceptados na estrada de Yazeul até Yarvoth. Os Fanáticos usam uma túnica de mago com capuz da cor branca, com a borda das mangas e do capuz nas cores vermelha e dourado, e tem pequeno um brasão nessas mesmas cores no peito. Era um total de oito, na maioria magos. Devem ter usado pergaminho de teleporte, mas há um limite para a distância que podem ir sem um portal, então ainda devem estar dentro do território de Mytra. 

— Nós iremos interceptá-los? - Perguntei.    

— Não seja tolo, nós não teríamos como fazer isso nem se quiséssemos! - Essa é a Shao-Yen que eu conheço, ríspida como sempre. - Nem sequer temos a localização exata deles. Ao invés disso, vamos conseguir aliados para nos ajudar a conseguir informações, para então nos organizarmos para salvá-la.  

— Que aliados? 

— Lorelai irá até a capital para falar com o rei e com o Grande Conselho, e eu e você iremos até os Corvos. 

— Com todo o respeito, mas essa é a ideia mais estúpida que eu já ouvi. Você realmente planeja pedir ajuda para os Corvos? Tem ideia de com quem está lidando? 

Ela suspirou irritada e disse:

— Sim, eu sei muito bem com quem estamos lidando. A Guilda Do Alvorecer já trabalhou com eles antes uma série de vezes. Provavelmente vão nos pedir uma quantidade exorbitante de ouro ou para executar algum trabalho sujo para eles. Infelizmente não temos outra opção, e eu suponho que queira salvar a sua amiga. Eles tem pessoal em todo o reino e sabem de tudo que acontece por aqui, são a nossa melhor opção. Além disso, não temos certeza se a Guilda Do Alvorecer vai conseguir convencer o Grande Conselho a colaborar, e até lá pode já ser tarde demais. 

Odiava admitir, mas realmente não via outra opção. 

— Felizmente, as opções de saída deles estão reduzidas. Não poderão passar pelo sul, onde fica Ignikor, pois usamos magia para entrar em contato com os draconianos e eles estão cientes de tudo. Além disso, após o ataque de Vorsêris na região, enviamos Guardiões para fortalecer a fronteira e construir defesas, além de auxiliar na reconstrução da vila, então provavelmente essa é a parte mais segura da fronteira de Mytra. 

— Qual o motivo do Grande Conselho ser tão difícil de convencer? 

— Muitos não gostam da Guilda Do Alvorecer, e nos vêem como “Algum tipo de milícia estrangeira dentro do território de Mytra”. Além disso somos super receptivos com magia e temos magos não filiados à Torre De Mytra, o que os deixa desconfortáveis. Segundo as leis Mytrianas, todo mago deve ser registrado e estudar ao menos cinco anos na Torre De Mytra ou em alguma outra academia de magia. Se não, eles podem ser presos, e em alguns casos, condenados à morte. Uns acham injusto estarmos no território deles e não seguirmos as mesmas regras, mas se você soubesse ao que os magos de Mytra são submetidos, acharia um absurdo qualquer pessoa ter que seguir elas. 

— Que tipo de regras? 

— 1) Todos magos devem ser registrados assim que sua magia se manifestar. Um mago sem registro pode ser preso por até dois anos na Torre de Mytra. 2) Um mago só pode executar magias em público se possuir registro e tiver cumprido 5 anos na academia de magia. Descumprimento da regra resulta em prisão perpétua ou pena de morte. 3) Aqueles que possuírem magia selvagem devem ser sentenciados a morte. Na prática sabemos que a maioria é usada em experimentos e morre no processo. 4) Um mago não pode se tornar rei ou rainha do reino, nem ser chefe de uma grande casa. Também não podem assumir nenhum tipo de cargo público. Omitir tal informação resulta em sentença de morte. 5) A entrada na academia deve ser feita assim que a magia se manifestar, e só poderão deixar a academia assim que os estudos forem concluídos. Todos que tentaram fugir da academia tiveram seu mana retirado e se tornaram quase como pessoas sem alma. É terrível, e pior que a morte. O mesmo acontece com quem tenta fugir das prisões, e é um processo irreversível.  

— A quarta regra me parece bem extrema. - Comentei. 

— SÓ ela? 

— Todas, na verdade, mas essa me parece a mais sem sentido. 

— Na verdade, faz bastante, e não é nem um pouco legal. Eles querem controlar os magos, e por isso não podem dar nenhum poder político para nós. O mais perto de ter algum poder político entre os magos é o Airus e o Quírio, chefe da Torre De Mytra, mas Quírio só falta lamber as botas do Grande Conselho. 

Seguimos caminhando por um bom tempo, enquanto ela me explicava mais coisas sobre a missão e sobre questões políticas de Mytra. Quando finalmente chegamos em Dyron, ela me disse:

— Chegamos. Eu irei pegar algumas coisas que iremos precisar na missão. Faça o que bem entender enquanto isso, mas em uma hora me encontre no portão, ou partirei sem você.     

 

—____________________________________________

 

Dia 12 de novembro, ano 15 da Nova Era, eu e Shao-Yen chegamos em Yarzeth sem muitas dificuldades. Eu estava com o coração pesado, me perguntando como estaria aquela pobre garota inocente, a quem eu me apegara tão facilmente, mas eu sabia que precisava manter o foco para poder ajudá-la de alguma maneira. Como era tarde, fui com Shao-Yen até a casa de minha família, onde descansamos para repor nossas energias para o que viria a seguir.  

Bea amadureceu muito nesse tempo que estive fora. Ela costumava ser inocente como a Hinata e eu sempre precisava ajudá-la para que ela não fosse feita de boba por outras pessoas, mas ela parecia ter ficado mais perceptiva quanto algumas coisas. “Pra lidar com clientes espertos na alfaiataria” ela me disse. Confesso que embora me agrade  ver minha preciosa irmãzinha crescendo e se tornando uma mulher forte, perspicaz e independente, eu estou levemente desapontado por ela não precisar mais de mim para protegê-la e mimá-la. Lhe entreguei parte do pagamento da missão de Hinata, e disse-lhe para guardar para possíveis emergências. Ela arregalou os olhos ao ver a cor do ouro, e disse que guardaria em um lugar seguro. 

Já Jamie não mudou nada. Ele passou o dia inteiro cheio de energia, e não parou quieto um segundo. Curioso, encheu Shao-Yen de perguntas sobre a guilda e sobre ela, a ponto de eu ficar com medo dele irritá-la. Para minha surpresa, ela respondeu-lhe de forma terna e disse-lhe que ele parecia muito com o seu irmãozinho mais novo, e ainda lhe contou várias das histórias dos deuses, algumas que ela me contava nas aulas, mas de uma forma mais lúdica, e ele ouviu tudo animado. 

— Will, já está de pé? - Perguntou Shao-Yen batendo na porta do quarto o qual eu dividia com Jamie. Fechei meu diário e guardei dentro de minha saca de viagem. 

— Estou, mestra. - Respondi. - Já vamos partir? 

— Sim.  

Yarzeth seguia linda e caótica como sempre. Embora não fosse um dos períodos mais movimentados, a cidade estava sempre cheia e barulhenta. Confesso que quando estava na Torre De Wyzen-har eu sentia falta desse barulho e desse caos, mas quando voltei tudo parecia tão estranho para mim, mesmo estando a mesma coisa de sempre. 

Ao lado de Shao-Yen, segui pelas ruas tumultuadas até a base dos Corvos. Ela quase se perdeu de mim algumas vezes, e eu tinha que lhe chamar a atenção para ela não ir pro lado errado, e acabei sentindo como se estivessemos invertendos os papéis. Chegamos na base dos Corvos em cerca de uns 15 minutos. Eles se escondiam em uma falsa fachada de casa de penhores, bem no centro da cidade. Entramos ali e alguns dos Corvos nos olharam intrigados e sussurraram alguma coisa entre si. Uma figura familiar se aproximou e me disse: 

— Will! Você aqui? Posso ajudar de alguma maneira. - Elanil, ah, Elanil. Não mudara nem um pouco, provavelmente graças a sua descendência élfica. Ela era uma pequena mulher de traços finos e cabelos cor de palha e belos olhos verdes. Ela sorriu para mim amavelmente, de forma que um dia tocaram meu coração, mas que atualmente apenas me deixava extremamente desconfortável.  

— Ela. - Falei sério, chamando-a pelo seu apelido. Shao-Yen olhou de Ela para mim e de mim para Ela, provavelmente confusa. 

— Precisamos discutir algo de grande urgência com Vlad. - Disse Shao-Yen, tomando a iniciativa em explicar a situação. 

— Entendo. Eu não sei se ele vai querer recebê-los. Algo aconteceu e ele estava até pouco tempo atrás gritando com alguns dos Corvos. - Explicou Elanil. - Mas tentarei ver com ele. 

— Diga-lhe que viemos da Guilda Do Alvorecer. 

— Seu nome é…?

— Shao-Yen. 

Elanil não demorou para retornar e nos guiou para uma sala no terceiro andar subterrâneo, onde Vlad nos aguardava. Ele era muito diferente do que eu esperava, ele era um homem de uns quase cinquenta anos, alto e esguio, tinha cabelos grisalhos e ondulados na altura dos ombros, e usava um manto vermelho preso com um broche de leão dourado sobre as vestes negras de nobreza. 

— Eu imagino que devem estar muito desesperados para enviarem o braço direito do grande comandante Volken, a misteriosa Shao-Yen, para vir diretamente me pedir ajuda, sem nem mesmo me enviarem uma carta antes avisando da vinda. 

— Peço desculpas por virmos de surpresa. - Falou Shao-Yen. - De fato a situação não era das melhores. 

— Algo a ver com o rapto da sacerdotisa da Sunaria?

— Você sabe disso? 

— Não há nada que ocorra em território mytrio que eu, líder dos Corvos, não saiba. - Ele  colocou a mão no queixo dela e ela mexeu a cabeça, se afastando. - Me diga, senhorita, o quanto está disposta a dar pela minha ajuda? 

— Me diga, senhor, o que você quer em troca de sua ajuda? 

Ele endireitou a coluna e andando pelo recinto ele disse: 

— Tivemos mercadorias preciosas apreendidas nos domínios de Lorde Elric. Recuperem-na para mim e eu conseguirei a localização exata da sacerdotisa e seus captores. 

— Há algo que devemos saber sobre isso? - Perguntou Shao-Yen. 

— As mercadorias estarão bem protegidas, então não será fácil. Lorde Elric é conhecido por ser obcecado por segurança, e há até mesmo dispositivos mágicos protegendo alguns locais chave de seu domínio, por isso não posso mandar meus homens para lá, não são as pessoas certas para o trabalho. Mas a Srta., uma maga habilidosa, certamente dará conta desse trabalho. Estou errado? 

— Não está. Farei o que tiver que fazer. Vamos, Will.

E enquanto ela se dirigia para a porta: 

— Espere, eu não terminei. 

— Há mais alguma coisa? 

— Eu gostaria de ver seu rosto sem a máscara. - E um silêncio desconfortável tomou conta da sala.     

— Isso…

— Não me entenda mal, mas saber a real identidade do braço direito do líder da Guilda Do Alvorecer é uma informação valiosa. 

Shao-Yen cerrou os punhos e disse de forma séria: 

— Está certo. Farei o que pede. Espero que não tenha mais nada para me pedir. 

— Não tenho. 

— Sendo assim, iremos nos retirar. - E ela deu as costas a Vlad e se retirou do recinto. 

Ficamos em silêncio até sairmos do prédio. Já do lado de fora, Shao-Yen suspirou e eu lhe perguntei: 

— Vai mesmo fazer isso? 

— Tem alguma ideia melhor? 

— Não tenho. - Falei, sem graça. - Mas o que eu quero dizer é...me pareceu que estará dando a eles algo muito importante pra você e que pode colocá-la em perigo.

— Não temos outra opção, e infelizmente meu trabalho já envolve muitos riscos, e pior do que já é, dificilmente vai ficar. De qualquer forma, vamos. Temos um trabalho a fazer antes de nos preocuparmos com isso. 


    FIM DO CAPÍTULO 21


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