Como Escapar do Paraíso escrita por Luh Castellan


Capítulo 2
Capítulo 2 - O Hotel


Notas iniciais do capítulo

Cá estou eu com mais um capítulo! Obrigada a todos que estão acompanhando ♥ Espero que gostem.



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Já era noite quando chegamos em Korassaum. O pequeno avião nos deixou numa pista de pouso ao lado de um luxuoso hotel. Da aeronave, desembarcou um grupo de doze de pessoas, além de nós três. O ar cheirava a árvores tropicais e maresia.

Pude ver a silhueta do vulcão banhada pela luz da lua, soltando uma fina coluna de fumaça, quase imperceptível. Aquilo me deixou intrigada. O blog não havia dito que estava inativo? A última coisa que eu queria era passar meus últimos dias numa ilha estranha para morrer queimada por lava.

— Uau...  — exclamou Mikkel, olhando ao redor, deslumbrado como uma criança encarando a vitrine de uma loja de brinquedos. — A arquitetura desse lugar é incrível.

Vários andares erguiam-se numa construção moderna a beira-mar. As luzes de dentro do hotel escapavam pelas imensas janelas de vidro. A área verde, as piscinas e todos os detalhes recebiam a iluminação certa para ressaltar a grandiosidade do lugar. A diária num hotel desses deveria custar um ano inteiro da aposentadoria dos meus avós.

Arrastei minha mala pelo portão principal.

Por dentro, o lugar também não deixava a desejar. Pé direito alto, decoração com móveis caros em tons de laranja e plantas naturais. O hall de entrada dava visão para três pavimentos elevados, além do térreo, ondem viam-se várias portas do que presumi serem os quartos. Os pavimentos eram protegidos com uma cerca de vidro e corrimãos de metal. Um grande lustre pendia do teto bem no centro do lugar, em frente a recepção.

— Ainda quer ir embora? — Andy perguntou para mim, com um sorriso zombeteiro.

Limitei-me a balançar a cabeça em negação. Estava com uma sensação estranha desde que havia descido do avião, uma espécie de tontura semelhante a embriaguez. Deveria ser os efeitos de dois voos no mesmo dia, ou o impacto de estar naquele hotel extraordinário, ou a mudança pra outro clima ao qual eu não estava acostumada. Ou talvez, todos esses fatores juntos.

Por trás do balcão da recepção, havia uma mulher que aparentava estar na meia idade, usando roupas formais. Ela tinha uma mistura de traços indígenas e japoneses, resultando numa aparência exótica e bonita.

Mikkel se aproximou do balcão para resolver os trâmites da documentação.

— Não pega sinal de celular aqui — Andy reclamou, olhando para o aparelho. Em seguida, se dirigiu à mulher. — Vocês têm Wi-Fi aqui?

Ela soltou uma risada prazerosa, como se tivesse ouvido aquela frase centenas de vezes.

— Não, querido. — Seu tom de voz era gentil. — Aqui, nós valorizamos as conversas olho-no-olho, ouvir o canto dos pássaros e observar as belezas da ilha ao vivo, sem se esconder atrás de telas. Garanto que vocês não vão sentir falta da internet. Mas, caso seja de extrema urgência, o único telefone da ilha está aqui. — Apontou para um telefone fixo pendurado na parede atrás dela.

Senti um leve desespero ao ouvir isso. Eu não era nenhuma obcecada nem nada, mas gostava de verificar e atualizar minhas redes sociais diariamente. Querendo ou não, sentiria a abstinência, mesmo que fosse só por uma semana.

Porém, o meu lado “Malu responsável” disse a mim mesma que era exatamente disso que eu estava precisando, desconectar do mundo virtual e viver o aqui e o agora, aproveitando os benefícios desse paraíso tropical. Então, eu relaxei um pouco. Ali era fácil relaxar. O lugar passava uma sensação de segurança, de que tudo ia ficar bem.

— Aqui estão as chaves dos quartos de vocês. — A mulher entregou-nos três chaveiros em formato de vulcão.

— Teremos quartos separados? — indaguei, surpresa.

— Claro — Ela sorriu. — Vocês têm direito a todos os benefícios. Além disso, temos quartos de sobra. — Em seguida, puxou um walkie-talkie da cintura da calça social. — Kauê, venha ajudar com as bagagens dos nossos hóspedes.

“E o que aconteceu com as ‘conversas olho-no-olho’?” alfinetei, mentalmente. Era pura implicância, pois eu sabia que era um objeto necessário para a comunicação dentro daquele hotel enorme.

Um rapaz se aproximou, descendo as escadas que levavam aos pisos superiores. Ele usava uma camisa floral com as mangas arregaçadas até os cotovelos, bermuda e chinelos. Era uma roupa que você esperava ver de alguém que iria caminhar na praia, não de um funcionário de um hotel (muito menos do Paradise Hotel, por fatores óbvios já descritos anteriormente). Por isso, fiquei surpresa quando ele parou ao lado do balcão e a recepcionista se dirigiu a ele.

— Acompanhe estes jovens até seus quartos.

Enquanto a mulher lhe passava informações dos quartos, aproveitei para observá-lo. Seu tom de pele não chegava a ser negro, mas era mais do que simplesmente “bronzeado”. Deveria ter cerca de 20 anos. Seus cabelos eram escuros e levemente ondulados, longos até a altura dos ombros. Tinha as sobrancelhas grossas e olhos um pouco apertados, da cor de buracos negros. De repente, eles desviaram para mim, me sugando para o seu interior. Seus lábios pequenos se abriram num sorriso meio torto para o lado.

Eu desviei o olhar, constrangida por ter sido pega em flagrante.

Outro grupo de turistas se aproximou da recepção. Kauê pegou a minha mala e uma das de Anderson. Eu fiquei com a minha mochila marrom, Andy levou a outra mala (ele disse que nunca se sabia do que iria precisar, então trouxe tudo, por via das dúvidas) e Mikkel levou sua mochila e a pequena maleta com materiais de arte.

— Vamos? — O rapaz do hotel falou com sua voz firme. Foi mais uma afirmação do que uma pergunta, porque ele saiu em seguida, sem olhar para trás pra ver se o seguíamos.

Fiquei feliz e aliviada ao ver que tomamos o caminho do elevador e não o das escadas. Subimos quase em silêncio, a não ser pela pequena discussão entre Andy, ainda indignado pela ausência de internet, e Mikkel, evidenciando os benefícios da desconexão. Eu espiava Kauê pelo canto do olho, de vez em quando, notando detalhes que eu não havia reparado antes, como os músculos levemente definidos dos seus braços, talvez por causa dos anos levantando malas pesadas.

— O que vocês têm para se divertir aqui? — Andy perguntou, em certo momento.

— Três bares, salão de jogos... — Kauê enumerava, levantando um dedo para cada opção. — As piscinas, que vocês já devem ter visto lá fora, cinco restaurantes, cada um especializado num tipo de comida, academia e quadra de esportes.

— E nós temos acesso a tudo isso? — Mikkel indagou, deslumbrado.

— Absolutamente tudo. — O outro sorriu.

As portas do elevador se abriram, revelando um amplo corredor decorado com palmeiras.

— Tem dois quartos com vista para o mar e um com vista para o interior da ilha, para o vulcão — O rapaz falou, quando saímos para o corredor. — Podem decidir entre vocês.

Pelos olhares dos garotos, percebi que nenhum deles queria abrir mão da vista para o mar.

— Eu quero o do vulcão — falei, num impulso.

Algum motivo me deixara intrigada com aquele vulcão e eu queria observá-lo com mais atenção. Além disso, eu morava numa cidade litorânea. De mar, eu já estava enjoada.

— Tudo bem. Podem se acomodar e, depois, descerem para o jantar em qualquer um dos restaurantes. Ou pedirem o jantar no quarto, se preferirem. Dentro dos quartos, vocês vão encontrar folhetos com mapas do hotel.

Os quartos dos meninos ficavam antes. O meu era o último do corredor. Quando abri a porta, fiquei de queixo caído. Caberia a minha casa inteira só naquele cômodo. Além da cama gigantesca, escrivaninha, sofá, frigobar e mesa com dois lugares, a última parede era totalmente de vidro, do chão ao teto, com portas duplas que levavam à varanda, além da exuberante vista do Vulcão Hime e o céu de mil estrelas como plano de fundo.

— Bem, está entregue — Kauê deixou a mala no chão e já ia deixando o quarto quando o chamei.

— Não, espere!

Ele paralisou a mão na maçaneta e virou-se, com aqueles olhos de buraco negro voltados inteiramente para mim.

Tive que tomar forças para prosseguir. Aquela sensação estranha estava ali, novamente.

— Kauê, certo? Eu tenho uma... Hm... — Procurei a palavra certa, porque aparentemente todas tinham fugido. — Dúvida. Sobre o vulcão. Um site que eu vi dizia que ele estava inativo, mas ele estava soltando fumaça quando cheguei. Tem algum perigo de, sei lá, ele explodir e todos virarmos pedra?

Ele sorriu, aquele mesmo sorriso torto do hall.

— O velho Hime é um gigante adormecido. Essa fumaça é normal. Todo dia, ao pôr-do-sol, ele solta um gás. Mas não se preocupe! — Ele deve ter notado os meus olhos arregalados de pânico após a informação nova. — É totalmente inofensivo. Moro aqui desde quando nasci e nunca me aconteceu nada. E, se acontecer qualquer coisa com os turistas, temos uma equipe médica especializada.

Novamente, aquela sensação de segurança se sobrepôs ao medo.

— Percebi que até agora não sei o seu nome — falou, com o olhar fixo em mim.

Era difícil sustentar o olhar. Eu sempre acabava sendo covarde e desviando para outros lugares: o teto, a luminária na parede, o pequeno sinal no seu pescoço, próximo ao pomo-de-adão...

— Pode me chamar de Malu.

— Então boa noite, Malu. Me procure se precisar de qualquer coisa.

E deixou o quarto com outro sorriso. Eu sorri de volta, involuntariamente (no caso, para a porta).

Não desci para jantar naquela noite. Comi uns petiscos aleatórios que encontrei no frigobar e desabei de cansaço. Meu último pensamento antes de adormecer foi uma lista de coisas que eu poderia precisar de Kauê.


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Notas finais do capítulo

Obrigada por terem lido até aqui.
Não se acanhem em comentar!
Nos próximos capítulos, vou tentar trazer umas imagens de como eu imagino os personagens.
Bjbj e até o próximo ♥



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