Sobrevivendo Ao Verão Com Você escrita por teffy-chan


Capítulo 3
Capítulo 3 - Esquentando




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Felizmente, Konoka e Setsuna chegaram na recepção do hotel a tempo de se registrar e conseguir o último quarto vago. O grupo havia conseguido apenas cinco quartos na verdade. Como tinham gasto a maior parte do dinheiro alugando aquele barco ridiculamente caro, teriam que dividi-los, mas decidiram deixar para pensar em quem dividiria o quarto com quem mais tarde. Apenas deixaram seus pertences em quartos aleatórios assim que receberam as chaves na recepção e se apressaram a ir trocar de roupa. Afinal, como dissera Haruna, a graça de se estar na praia é o mar.

As garotas levaram mais tempo do que realmente era necessário para trocar suas roupas normais por trajes de banho, apenas porque algumas eram mais tímidas e estavam se perguntando se era realmente necessário usar maiô na frente dos garotos, o que era uma tolice de se perguntar a essa altura do campeonato. Ao mesmo tempo, outras tentavam deixá-las mais sexys, seja aumentando o decote do biquíni desnecessariamente ou até mesmo através de magia. Até que Asuna lembrou que, se elas continuassem perdendo tempo com essas bobagens, não voltariam a tempo para almoçar no hotel e ficariam com fome até a hora da janta, fazendo com que as amigas sossegassem e saíssem do quarto de uma vez.

— Ah, aí estão vocês! — Negi exclamou quando as meninas saíram do hotel. Ele e Kotaro já tinham trocado de roupa há muito tempo, é claro, e agora esperavam pelas garotas do lado de fora.
— Finalmente! — Kotaro reclamou — Por que demoraram tanto?
— Ora, Kotaro, acho que você já convive conosco há tempo suficiente para saber que garotas demoram algum tempo para se arrumar — Asakura cruzou os braços.
— Na verdade a Natsumi não demora tanto — ele observou.
— Ei, o que você quis dizer com isso? — ela se ofendeu. O garoto percebeu que tinha dito algo de errado, embora não soubesse exatamente o quê, e saiu correndo. Natsumi correu atrás dele.
— E lá vão eles de novo — Kaede riu.
— Nós deveríamos ir também — Negi falou — Foi para isso que viemos até a praia, não é?
— Oh, agora sim você entrou no espírito da diversão, professor! — Asakura exclamou — O que estamos esperando então? Vamos para o mar!

O grupo logo se espalhou pela praia, que, logo descobriram, não era exatamente como imaginaram. A areia era quente demais. Quer dizer, era verão, então é lógico que a areia era quente, mas não deveria ser tão quente a ponto de queimar os seus pés, literalmente. Se você pisasse descalço na areia, logo ganharia bolhas de queimadura nos pés. E a água do mar… ela não era gelada e refrescante como deveria ser. Ou pelo menos não estava agora. Era uma água morna, como a de uma fonte termal, exceto que não tinha fumaça saindo dela. Parecia até que o sol escaldante tinha aquecido o oceano. Haruna e Asakura, que pretendiam deitar na areia durante algum tempo para se bronzear, desistiram imediatamente da ideia e se juntaram a Nodoka e Yue na água, onde pelo menos estava mais fresquinho. Elas estavam brincando de vôlei aquático. Ou pelo menos tentavam. Nenhuma das duas conseguia pegar a bola.

— Tem certeza disso, Setchan? — Konoka, que estava sentada em cima de uma grossa toalha estirada em cima da areia embaixo de um guarda-sol, perguntou. Mesmo aquela sendo a toalha mais grossa que tinham trazido, ainda dava para sentir a areia quente abaixo de si.
— Sim, Milady. Acabei de entrar na água, e a temperatura não está nada refrescante — Setsuna sentou-se ao lado dela — Não sei como a Nodoka e as outras estão aguentando ficar lá.
— Aposto como está mais refrescante do que aqui. Está tão quente, e não corre um vento… — Konoka reclamou.
— Posso te abanar se quiser, Milady.
— Não precisa fazer isso! E me chame pelo meu nome, quantas vezes preciso pedir? — Konoka já estava ficando cansada de dizer aquilo.
— Desculpe, Mi… Konoka… é força do hábito… — ela murmurou, corando levemente pelo simples fato de dizer o nome da amiga e desviando os olhos dela.

Em seguida a olhou de novo de soslaio. Como eram muitas, as garotas tinham usado dois quartos para se trocarem, então ela não tinha visto Konoka trocar de roupa e nem tinha prestado atenção nisso até então. Ainda estava preocupada com a possibilidade de Konoka querer nadar, mas, agora que a garota parecia ter desistido da ideia, Setsuna estava mais tranquila, e só então prestou atenção na amiga em si, que não estava mais usando o vestido que trajara durante toda a viajem. Agora Konoka não usava nada além de um biquíni rosa. Ele não era decotado, felizmente, mas a parte de baixo… Setsuna gostaria que ela não usasse algo tão ousado.

O que Konoka estava pensando? Havia garotos viajando junto com elas. Bem, na verdade eram apenas Negi e Kotaro. Seu professor já havia sido arrastado para outras viagens com as meninas, então não era a primeira vez que a via de biquíni, e provavelmente não seria a última. E Kotaro aparentemente ainda não tinha malícia nenhuma em relação a esse tipo de coisa e passava mais tempo com Natsumi do que com elas, então Setsuna também não precisava se preocupar com ele.

— O que houve, Setchan? — Konoka a despertou de seus pensamentos — Seu rosto está vermelho.
— Hein? O que? — ela se afastou um pouco da garota — Não é nada, Milady, eu estou bem, eu juro!
— Lá vem você com "Milady" de novo — Konoka resmungou — Você estava me encarando de um jeito estranho… ah! Agora entendi.
— Entendeu? — ela gaguejou.
— Sim, entendi tudo — Konoka repetiu — Você está preocupada porque eu tenho seios maiores do que os seus, não é? — ela apontou acusadoramente para a amiga.

Bom, ela realmente tinha, mas essa era a última preocupação de Setsuna naquele momento. Na verdade o corpo dela era muito pouco desenvolvido para uma garota de 14 anos, mas Setsuna nunca parou para pensar nisso. Sua única preocupação era e sempre seria o bem-estar de Konoka

— Hã… — Setsuna começou, sem saber o que dizer — Na verdade…
— Não se preocupe com isso, Setchan — Konoka se jogou em cima dela, na intenção de abraçá-la, mas acabou por derrubá-la no chão. Por mais embaraçoso que fosse, Setsuna estava começando a se acostumar com esse tipo de ações espontâneas da garota, mas não esperava que Konoka colocasse as mãos nos seios dela e soltou uma exclamação de surpresa — Veja, eu acho que estão um pouco maiores do que quando voltamos a nos falar na escola. É claro que eles vão crescer, não se preocupe.

Setsuna gaguejou alguma coisa incompreensível. Sentia seu rosto queimar, e não era por causa do calor absurdo que estava fazendo naquela ilha. Tinha plena consciência das mãos de Konoka em seu corpo, tocando-a com delicadeza… Setsuna jamais se atreveria a fazer esse tipo de coisa, mas também nunca imaginou que Konoka faria algo assim com ela. O que ela deveria fazer? Afastar Konoka? Mas isso poderia magoá-la, não? Mas espere, não tinha problema Konoka tocá-la desse jeito? E se alguém as visse naquela situação comprometedora? Ou melhor, aquilo estava certo?

Não… é claro que não estava. Não era apenas as mãos de Konoka em seu peito que lhe causava aquela sensação estranha, e sim todo o seu corpo. A pressão do corpo leve da garota em cima do seu. As pernas dela entrelaças com as suas. Ambas estavam com a pele exposta no momento, então o simples fato de roçar a perna na de Konoka fazia o coração de Setsuna disparar. Os cabelos longos de Konoka caindo pelo seu rosto e pescoço, lhe fazendo cócegas. E o sorriso dela… aquele sorriso tão lindo… como uma pessoa com um sorriso tão angelical e um olhar tão inocente podia causar esse tipo de reações nela?

Setsuna estava errada. Não era com os garotos que ela precisava se preocupar. Ela é que era o maior perigo.

A luz de um flash despertou a garota de seus devaneios. Ela e Konoka olharam para cima e viram Asakura com uma máquina fotográfica apontada na direção delas.

— A Haruna tinha razão. A praia é o melhor lugar para se desenvolver um romance — Asakura falou com um enorme sorriso no rosto.
— Ei, você tirou uma foto da gente? — Konoka indagou, finalmente saindo de cima da amiga. Parecia chateada — Isso não vale, nós estávamos tendo uma conversa importante aqui!
— Conversa importante, sei… eu vi muito bem o tipo de "conversa" que vocês estavam tendo — o sorriso de Asakura se tornou ainda mais maldoso — Então era mesmo por isso que você queria ficar a sós com a Konoka na ilha, não é, Setsuna? Ah, mas quem diria que a Konoka ficaria por cima…
— Apague essas fotos agora — Setsuna mandou, segurando o braço da garota que segurava a câmera. Asakura nem tinha visto quando ela se levantou.
— O que? De jeito nenhum! — ela exclamou — Eu faço parte do Clube de Jornalismo, esqueceu? Isso aqui vai vender como água no deserto, e parece que nós estamos mesmo no deserto, considerando o calor que está fazendo…
— Apague agora — Setsuna interrompeu. Nem parecia a pessoa que estava morrendo de vergonha até alguns instantes atrás. Seu olhar era assustador — Apague antes que eu quebre essa maldita câmera ao meio!
— Está bem, está bem! Vou apagar — Asakura se apressou a dizer e, com pesar, deletou suas preciosas fotos da câmera. Mas foi uma sábia decisão. Ela poderia conseguir outras fotos mais tarde, mas só tinha uma câmera — Pronto. Satisfeita?
— Ficarei mais satisfeita se você não contar isso para ninguém — ela respondeu.
— Como você é rígida… a Konoka deve gostar muito de você para conseguir te aguentar — Asakura soltou a piada e saiu correndo antes que Setsuna a ameaçasse de morte ou coisa parecida.

Quando concluiu que já tinha corrido o suficiente para que Setsuna desistisse de persegui-la (se é que o estava fazendo), Asakura parou para tomar fôlego e em seguida começou a caminhar, até avistar o resto dos amigos a poucos metros dali. Ou pelo menos parte deles. Kotaro estava deitado de bruços em uma toalha, debaixo de um guarda-sol com cara de quem estava morrendo enquanto Natsumi segurava um frasco branco e esfregava o conteúdo nas costas dele. Negi, Asuna e Nodoka estavam sentados ao redor dos dois. Ainda assim, Asakura conseguiu pegar um ângulo para tirar uma foto apenas de Natsumi e Kotaro.

— Peguei vocês — ela se aproximou do grupo, sacudindo a máquina fotográfica como se fosse um prêmio — O que está fazendo com o pobre menino, Natsumi? Ele está com uma cara péssima.
— Bem, você também estaria se estivesse no meu lugar — Kotaro resmungou.
— Ah… não me diga que você se ofereceu para passar protetor solar nele, mas na verdade está usando alguma coisa suspeita? — ela deu uma risada maldosa.
— Não diga besteiras! É só pomada para queimadura — Natsumi mostrou a embalagem do frasco — Tem na recepção do hotel.
— Ah, entendo — o sorriso de Asakura murchou. Ela tinha acabado com a graça da situação — Bem, e para quê isso? Não vejo nenhuma queimadura. Na verdade o Kotaro parece ter acabado de sair do mar, o cabelo e a cauda estão encharcados.
— Esse é o problema. Ele nem entrou no mar — Asuna falou.
— O que? — Asakura exclamou pasma — Mas ele está ensopado… isso tudo não pode ser suor…
— Que calor… vou morrer… adeus, mundo cruel… — Kotaro murmurava para ninguém em especial.
— Ou talvez possa — Asakura mudou de ideia — Ei, Kotaro, eu sei que está quente, todos nós estamos com calor, mas você não acha que está exagerando um pouco? Ou só está fazendo drama para a Natsumi cuidar de você, hein?
— O que? Olha, não vou nem me dar ao trabalho de tentar entender as suas piadas idiotas — o garoto fez um esforço para encará-la — Eu disse que era má ideia vir para essa ilha idiota, vou literalmente morrer de calor se continuar tão quente assim. Era por isso que eu queria ter ido para Escuridown.
— Aquela ilha parecia ser muito mais perigosa — Natsumi lembrou.
— Mas aposto que era muito mais fresquinha — ele rebateu.
— Ah, aí estão vocês — Konoka surgiu de repente ao lado deles, sobressaltando a todos — Por acaso vocês viram… minha nossa, o que houve com você, Kotaro?
— A camada de ozônio está morrendo e vai me levar junto. Vou morrer de calor nessa maldita ilha — ele resmungou.
— Esse garoto sabe mesmo como fazer um drama — Asuna comentou.
— É sério! — ele exclamou — Se isso continuar, vou ficar fraco e não conseguirei mais manter essa forma. Se eu voltar a minha forma original, aí sim que eu morro de calor de vez.
— Sua forma original? — Konoka perguntou curiosa.
— Você nunca viu, Konoka? — Negi perguntou e a garota balançou a cabeça.
— Basicamente ele fica com garras enormes… o cabelo dele se torna mais claro e cresce mais ainda, vai quase até os pés. A cauda fica mais felpuda também — Nodoka contou, lembrando-se da única vez que o tinha visto com aquela aparência — É, pensando bem, é como se virasse um lobisomem ou algo do tipo. Céus, você vai realmente morrer de calor se assumir aquela forma, Kotaro.
— Mas com essa aparência é natural sentir mais calor do que nós — Negi observou — O seu cabelo, por exemplo, é muito comprido. Por que você não corta? E a sua cauda também não ajuda…
— É o que? — Kotaro tirou forças sabe-se lá de onde para discutir com ele — Ficou maluco? Quer que eu corte a minha cauda? Bem, vamos fazer o seguinte então, vamos cortar o seu braço fora e ver como você fica sem ele, Negi!
— Não! Desculpa! Não foi isso o que eu quis dizer! — Negi se apressou a falar. Podia ser um mago, mas ainda era humano. Não sabia muito bem como esses "acessórios de youkais" funcionavam exatamente.
— Ele está certo, que indelicadeza a sua, Negi! — para a surpresa do garoto, Konoka o repreendeu também — A cauda dele deve ser como as asas da Setchan. É claro que vai doer se você puxar ou tentar cortar fora.
— Ah, sim… a Setsuna é meio-youkai — Kotaro recordou. Ao contrário dele, a garota conseguia esconder suas asas, então eles se esqueciam disso às vezes — Sim, ela conseguiria me entender melhor. Aliás, onde ela está? Vocês duas estão sempre juntas.
— Não sei… ela saiu correndo depois que a Asakura veio falar com a gente — Konoka falou, tentando disfarçar a preocupação.
— Ah, Asakura, o que foi que você fez? — Asuna exclamou.
— Eu realmente adoraria contar, acredite em mim, mas não quero que a Setsuna corte a minha cabeça fora — a garota respondeu com sinceridade.
— Na verdade eu vim aqui perguntar se vocês a viram — Konoka falou.
— Não, ela não passou por aqui - Nodoka respondeu — Tente a Yue e a Haruna, talvez elas a tenham visto.
— Sim… obrigada — ela agradeceu e se afastou.

Yue e Haruna não sabiam onde Setsuna estava. Ninguém tinha visto quando ela voltou para o hotel sozinha e decidiu tomar um banho para tirar a areia do corpo e também para esfriar a cabeça. O que não deu muito certo, pois a água do chuveiro estava estupidamente quente. Ela começou a mexer nas várias torneiras que haviam ali em uma tentativa de abaixar a temperatura da água, mas só conseguiu deixá-la ainda mais quente. Por fim, desistiu de tentar regular a temperatura da água e encará-la do jeito que estava por tempo suficiente para tomar um rápido banho. Felizmente, seu corpo era treinado para suportar desde nevascas a altas temperaturas de montanhas vulcânicas. Não era um banho com água fervendo que iria matá-la.

Mas talvez outra coisa pudesse matá-la. Como a recordação do que sentiu enquanto estava tão próxima de Konoka na praia, por exemplo. Céus, ela poderia morrer de vergonha agora mesmo por causa daquilo. Se vergonha matasse, ela já estaria morta há muito tempo. Ainda não podia acreditar que tinha se sentido daquele jeito por causa de Konoka. Mas a mera lembrança daquilo… de como seus corpos se tocavam, discretamente e ao mesmo tempo de forma estranhamente provocante, de suas pernas entrelaçadas com as dela, de sentir a própria pele roçando na dela, de sentir a mão de Konoka em seu peito, só lembrar disso já era suficiente para fazer seu coração acelerar. Seu rosto queimava terrivelmente, e Setsuna sabia que não era por causa da água quente.

E o pior de tudo… é que ela desejava mais. Não sabia porquê, mas desejava. E odiava-se por isso. Céus, o que havia de errado com ela? Seu dever era proteger Konoka, apenas isso. Já era uma grande honra que a garota considerasse alguém como ela, uma meia-youkai que foi renegada pelo próprio clã, como uma amiga. O que mais ela poderia querer? Quando foi que passou a ter esses desejos ilícitos pela amiga?

Ela queria estar ao lado de Konoka. Queria poder continuar conversando com ela todos os dias, ver o sorriso dela, voltar junto com ela depois da escola, acompanhá-la até o dormitório, e poder fazer todas essas coisas triviais… mas, se as coisas continuassem do jeito que estavam, ela não poderia mais fazer nada disso. Talvez tivesse que voltar a protegê-la de longe, sem falar com ela, apenas observando-a sigilosamente.

Sim… talvez essa fosse a melhor decisão.

Setsuna fechou o chuveiro, tentando ignorar a dor pungente que sentia só com a ideia de não poder mais falar com Konoka de novo e pegou uma toalha. Em seguida ouviu a porta do banheiro abrindo e depois se fechar de novo. É mesmo, aquele banheiro era comunitário. Ela tinha esquecido disso. Era melhor se vestir depressa e sair logo dali. Não estava com vontade de conversar com ninguém no momento.

Ela virou-se para a muda de roupas que tinha trazido quando viu o vulto por trás do rastro de fumaça deixado pela água quente.

— Setchan… finalmente te encontrei.

 


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