Logo depois do aviso do piloto, o grupo preparou-se para desembarcar do avião. Assim que pousaram, eles pegaram suas bagagens e olharam ao redor, examinando com curiosidade o Arquipélago Nyah, felizes por terem chegado na ilha que tinham escolhido por votação, a Sunshine Island.
Ou pelo menos era o que pensavam.

— Ei… esse lugar não é muito pequeno para ser a Sunshine Island? —Asuna perguntou incerta.
— Realmente, não se parece nada com a ilha que vimos no guia turístico —Kaede concordou.
— Isso é propaganda enganosa! Fomos tapeados! — Haruna exclamou indignada — Quero meu dinheiro de volta!
— Acalme-se, Haruna — Yue pediu. Ela e Nodoka tinham se afastado do grupo por alguns minutos. Eles pensaram que as duas tinham se demorado mais para pegar suas bagagens, porém só agora notaram que as malas delas estavam junto com as dos outros — Essa não é a Sunshine Island.
— Não é? Então onde estamos? — Haruna perguntou.
— De acordo com o zelador daqui, nós estamos na Ilha Misaki — Nodoka esclareceu — É um lugar pequeno, mas parece que temos que partir daqui para chegar até a Sunshine Island. Não existe outro caminho.
— Que estranho. Não me lembro disso quando checamos o local — Setsuna estranhou. A viagem mal tinha começado e já estava começando a acontecer coisas suspeitas… ela estava com um mau pressentimento sobre aquilo.
— Não se preocupe Setchan, o importante é que poderemos chegar à Ilha — Konoka falou ao seu lado. Ela era sempre tão despreocupada… era mais um motivo para ficar alerta — E então, como chegamos à Ilha, Nodoka?
— Podemos chegar de barco ou de avião — ela respondeu.
— Mas teremos que pagar frete para usar qualquer um deles — Yue acrescentou.
— O que? Isso não está incluído na viagem? — Asakura exclamou — Nós já pagamos as passagens!
— Eu estou dizendo, é tudo propaganda enganosa — Haruna sentenciou.
— Acalmem-se, por favor — Negi pediu — Vamos ver o valor desse frete e escolher o que for mais barato… — ele pegou o panfleto que Nodoka tinha recebido do zelador e quase caiu para trás quando viu o preço do frete. Tanto o barco quanto o avião tinham os mesmos valores absurdos — Céus, isso é caro demais!
— Que exagero — Kotaro tomou o papel das mãos dele — Não pode ser tão caro assi… credo,isso é um assalto! — ele largou o papel no chão, como se ele pudesse devorar sua carteira a qualquer momento — O que vamos fazer? Eu não tenho esse dinheiro todo.
— Claro que não tem, você não trabalha — Natsumi lembrou.
— Nem você, oras! — ele rebateu.
— Mas os meus pais pagaram a minha passagem! — a garota exclamou
— Bem, sinto muito se eu sou órfão! — Kotaro cruzou os braços e deu as costas para ela.
— Lamento dizer, mas estou no mesmo barco que ele — Setsuna falou antes que os dois começassem a discutir — Não trabalho e também sou órfã. Mas ainda tenho minhas asas, dependendo da distância, posso te levar até lá, Milady.
— Jura? Você é demais, Setchan! — Konoka sorriu e atirou os braços ao redor do pescoço dela. Céus, como ela conseguia fazer aquele tipo de coisa em público? Setsuna já tinha notado que qualquer demonstração de afeto de Konoka para com ela causava reações estranhas nas amigas. Elas ficavam encarando-as de um jeito estranho que Setsuna não sabia explicar, mas que a deixava constrangida.
— Ei, isso é injusto — Asakura reclamou — Por que você só vai levar a Konoka? Quer dizer que nós vamos permanecer nessa ilha microscópica enquanto vocês duas vão sozinhas para… ahh… — a expressão de indignação dela mudou para um sorriso suspeito. Aquele tipo de expressão que Setsuna não sabia identificar o que significava, mas que a deixava desconcertada e a fazia se sentir culpada por alguma coisa que nem sabia o que era — Entendi… sim, agora eu compreendo. Como é bom ter asas, não é, Setsuna? Você pode voar livremente pelos céus com a sua querida Milady e ficar a sós com ela fazendo sabe-se lá o que…
— Do que que você está falando? — Setsuna perguntou, temendo a resposta.
— Não se preocupe, Setsuna, já dissemos várias vezes que estamos do seu lado — Haruna balançou a cabeça, também sorrindo de forma suspeita — Entendo perfeitamente que vocês queiram ter privacidade. Isso é normal.
— Sim, é completamente natural que vocês queiram ficar em particular para…
— Não digam esse tipo de coisas obscenas na frente da Milady! — Setsuna finalmente entendeu do que elas estavam falando e tampou a boca de Asakura antes que a garota terminasse a frase.

Céus, como podiam pensar isso dela? Seu dever era proteger Konoka, sempre foi, mas era apenas isso. Bem, elas também eram amigas de infância, mas… eram apenas amigas. E as duas eram garotas. Como podiam pensar isso dela? Mesmo se não fossem duas garotas, Setsuna jamais ousaria tocar em Konoka, não ousaria sequer pensar nela daquela maneira, ela não era digna de algo assim… espere, por que ela estava pensando nisso? Veja só o que as insinuações das amigas estavam fazendo com ela, só a estava deixando confusa.

— Impressionante. Por mais que a Setsuna seja forte, ela ainda é inocente demais — Yue comentou, observando a cena — Embora eu seja obrigada a concordar com elas, ao menos pelo lado da Konoka — ela murmurou mais para si mesma. Setsuna estava obviamente envergonhada, mas Konoka era um poço de mistério. Yue não sabia dizer se a amiga realmente queria ficar a sós com Setsuna ou se simplesmente não tinha entendido as insinuações das amigas.
— Setchan, pare com isso. Está sufocando ela — Konoka falou, e só então Setsuna percebeu que estava segurando a amiga com força demais. Esqueceu que Asakura era uma garota comum e acabou não controlando sua força. Assim que a soltou, Asakura caiu no chão, tossindo com força.
— Você… não sabe mesmo brincar… hein Setsuna… — Asakura resmungou.
— Hm, garotas… ficar discutindo sobre… o que quer que a Setsuna e a Konoka fazem ou deixam de fazer não vai resolver o nosso problema — Negi lembrou. Ele também não tinha entendido do que Asakura e Haruna estavam falando — A Setsuna está certa. Ela pode levar uma pessoa, mas não todos nós até a Sunshine Island. E eu tenho o meu báculo, posso levar uma, talvez duas pessoas comigo, mas ainda não é o suficiente. Alguém tem alguma outra sugestão?
— Já sei! — Haruna exclamou e todos se encolheram. Geralmente a maioria das ideias dela não prestavam — Posso usar meu Artefato para criar alguma coisa que nos transporte até lá!
— Oh! Grande ideia, Haruna! — Kaede exclamou impressionada.

O Artefato de Haruna, Imperium Graphices, tratava-se de um caderno de desenho com uma pena mágica que, literalmente, trazia a vida qualquer coisa que você desenhasse nele. O sonho de todo mangaká. Ele fora adquirido através de um pacto feito com Negi algum tempo depois de a garota ter descoberto que ele era um mago.

— É verdade. Você pode desenhar um navio ou coisa assim para chegarmos lá — Asuna falou empolgada — Finalmente uma ideia que preste, hein Haruna!
— Obrigada, eu acho…
— Lamento cortar a onda de vocês, mas não vai dar — Yue falou — Nós conversamos com o zelador daqui e ele disse que não é permitido se teletransportar, nem construirmos nossas próprias jangadas, nem se transformar no que quer que seja, nem usar magia… enfim, não é permitido "trapacear" de qualquer outra forma para chegar em Sunshine Island.
— As únicas opções são realmente fretar um barco ou um avião deles — Nodoka lamentou.
— O que? Mas que gente mais mesquinha! — Asuna reclamou.
— É a crise… — Kotaro murmurou.
— Não faça piada com os países dos outros Kotaro. Que falta de educação! — Natsumi censurou. Ela andava assistindo reportagens demais ultimamente.
— Não, ele tem razão, Natsumi. Estamos em uma crise aqui — Negi falou — Vamos avaliar nossas opções e ver como faremos para chegar em Sunshine Island.

E eles avaliaram. Conversaram, discutiram, discordaram, alguns apanharam por fazer piadinhas de mau gosto, até que chegaram a um acordo. Fazendo outra votação, para variar, da qual alguns não gostaram do resultado, obviamente.

Eles decidiram ir de barco dessa vez, o que deixou alguns com enjoo. A maioria tinha levado dinheiro extra para comprar lembrancinhas para as amigas que não puderam ir viajar, mas precisaram usar esse dinheiro para pagar o frete. Então, adeus lembrancinhas, elas teriam que se contentar com as fotos mesmo. Também precisaram gastar parte do dinheiro que usariam para pagar o hotel. Inicialmente, cada um teria seu próprio quarto. Agora precisariam dividir o quarto com alguém, pois os quartos compartilhados eram mais baratos. Estavam quase conseguindo, mas ainda faltava pouco para conseguirem pagar o frete do barco mais barato. Até que o zelador disse que tinha achado Konoka muito bonita e que daria um desconto para eles se a garota saísse em um encontro com ele.

Na cabeça de Konoka, ela iria comer e beber de graça. Setsuna interpretou aquilo como um homem depravado querendo se aproveitar do corpo dela. E ela tentou cortar a cabeça dele fora. Não a cabeça de cima. Felizmente, o zelador não tinha nenhum instinto de luta e não percebeu a garota que estava prestes a atacá-lo por trás, o que deu tempo a Asakura e Haruna para recomeçarem a fazer suas intermináveis piadas sobre ela estar com ciúme, e como ela desejava estar no lugar daquele homem naquele momento, e que ela deveria se declarar para Konoka de uma vez, o que a deixou embaraçada o suficiente para perder sua sede de sangue, e também deu tempo suficiente para Asuna afastar Konoka do zelador. Ele estava tão encantado com Konoka que se deu por satisfeito por apenas conversar com ela e deu um desconto no barco para o grupo, que deixou a Ilha Misaki o mais depressa possível.

Cerca de meia hora depois, o grupo finalmente chegou ao seu destino. Uma ilha enorme, com algumas árvores que formavam uma pequena floresta. A maior parte era formada por uma grande camada de areia clara. E o mar  era azul e límpido.
Sunshine Island.

— Pessoal, finalmente chegamos — Negi, o primeiro a descer do barco, anunciou feliz — Sunshine Island!
— Uau, que lugar incrível! — Konoka exclamou sorridente enquanto Setsuna a ajudava a descer do barco. Ela deu um giro completo na areia, querendo ver tudo de uma só vez — A areia é tão limpa e o mar é tão lindo… isso é demais! Não é, Setchan?
— Tem razão, Milady. É realmente incrível — Setsuna sorriu de volta. Era realmente incrível… e pensar que até um ano atrás ela nem conseguia falar com Konoka. A culpa por tão tê-la salvado quando era pequena a corroeu de tal forma que ela não conseguiu mais encarar a amiga. E, conforme o tempo foi passando, mais difícil se tornou se aproximar dela. Mas agora, lá estava Konoka ao seu lado outra vez, como se nada tivesse acontecido. E elas poderiam passar as férias de verão juntas. Era realmente fantástico.
— Certo, certo, eu sei que estão felizes por estarem aqui juntas outra vez, mas precisamos nos registrar no hotel — Asuna passou um braço por cima do ombro de Konoka e o outro pelo ombro de Setsuna e as guiou na direção do hotel, para onde os outros já estavam indo sem que elas percebessem.
— Asuna? — Setsuna a encarou confusa — Do que está falando…?
— Está escrito na sua cara — a amiga respondeu — Você está feliz por ter feito as pazes com a Konoka, não é?
— Sim… é claro que estou — a garota desviou os olhos dela.
— Ótimo. É bom mesmo que estejamos todos felizes, porque estamos de férias afinal — Asuna lembrou, soltando as duas e passando a frente delas — Agora é melhor se apressarem, ou vão ficar com os piores quartos do hotel, ouviram? — ela saiu correndo na frente aos risos.
— Setchan — Konoka chamou ao seu lado. Setsuna virou-se para encará-la e viu que a amiga sorria para ela — Eu estou muito feliz, mas não é porque estamos de férias.
— Não é? — Setsuna piscou surpresa — Achei que gostaria de relaxar e descansar um pouco a mente…
— Bem, é claro que sim — ela respondeu — Mas eu estou feliz por poder passar as férias com você — ela esticou a mão e segurou a de Setsuna — Eu senti muito a sua falta durante esse tempo em que você esteve longe treinando.
— Milady… como você consegue dizer esse tipo de coisa tão facilmente? — Setsuna finalmente conseguiu perguntar agora que não tinha ninguém por perto. Mas não era só isso. Não era só como Konoka conseguia dizer esse tipo de coisa, mas também como ela conseguia fazer essas coisas? Segurar a mão dela, abraçá-la tão espontaneamente, com tanta naturalidade… como ela conseguia fazer isso? E na frente de todo mundo, sem ficar envergonhada ainda por cima.
— O que? Ah, Setchan, você ficou sem graça por causa disso? — Konoka riu. E tinha razão. Setsuna estava se perguntando se deveria soltar a mão dela ou se a segurava entre a sua naquele momento — Não precisa ficar com vergonha, não tem ninguém olhando agora.
— Você é muito despreocupada, Milady, e muito inocente, é por isso que preciso agir desse jeito — Setsuna acabou por segurar a mão dela inconscientemente. Sem sequer perceber, segurou a outra mão também — Não importa se não tem ninguém aqui agora, alguém pode aparecer a qualquer momento e… interpretar a situação de forma equivocada. Eu não poderia deixar isso acontecer.
— Eu é que sou muito inocente? — Konoka ergueu uma sobrancelha — Setchan, você demorou bastante para entender do que a Haruna e a Asakura estavam falando lá na Ilha Misaki.
— Você… entendeu aquilo? — Setsuna sentiu o rosto esquentar. Céus, e se Konoka acreditasse nas tolices que aquelas duas estavam dizendo? O que Konoka pensaria dela?
— Não de imediato, eu admito, mas entendi na parte em que elas começaram a dizer que queríamos privacidade — Konoka respondeu — Elas sempre fazem essas piadas para tentar constranger os outros, Setchan. Não devia se abalar por causa disso.
— Então… não está zangada comigo?
— É claro que não! Foi até engraçado — Konoka riu.
— É muito bom ouvir isso — Setsuna suspirou aliviada — Milady… eu também estou muito feliz em poder passar as férias de verão ao seu lado — ela deu um tímido sorriso. Em seguida soltou uma das mãos de Konoka e segurou a outra com um pouco mais de força — Agora, por favor, prepare-se para correr. Ainda precisamos garantir um daqueles quartos de hotel — ela começou a correr na direção do hotel em seguida, arrastando Konoka consigo.