Coincidências escrita por Miss A


Capítulo 2
Marte em Escorpião




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Peguei o telefone e disquei o número antes que eu mudasse de ideia.

— Alô?

— Oi, é a Rose.

Scorpius sorriu do outro lado da linha.

— Tire esse sorriso convencido do rosto ou eu vou desligar.

— Como você sabe que eu estou sorrindo?

— Você é Scorpius Malfoy.

— E você é Rose Weasley.

Por que eu tinha ligado para esse garoto mesmo?

— Conte-me uma novidade.

— Abriu uma nova cafeteria no centro, falaram que ela é boa.

— Que?

— Você pediu para que eu te contasse uma novidade.

— Não literalmente.

— Eu sei, mas eu quero saber se você quer ir até lá.

— Claro, pode ser... Não, espera. Fui eu que te liguei, eu deveria te convidar.

— Você demorou muito.

Bufei.

— Que tal às 19hr?

— Às 20 – Eu disse.

— Te encontro na saída do metrô. Não se atrase.

— Eu é que deveria falar isso. Você é o narcisista dessa ligação.

Ele riu.

— Pode me fazer um favor?

— O que?

— Não leve esse ótimo humor para o nosso encontro.

— Quem disse que é um encontro?

— Como é que você gostaria de chamá-lo?

— Confraternização entre homo sapiens.

— Será muito pesado se eu fizer uma piada referente à homo erectus?

Eu sorri.

— Será, e eu vou desligar agora, antes que você a faça mesmo assim.

— Até daqui pouco, Weasley.

Desliguei.

Ainda não sabia o que estava fazendo, mas Scorpius despertava o pior em mim e isso era tão divertido que eu não poderia me negar esse prazer.

 

— Oi, ruiva.

Ele estava encostado perto da escada de saída com aquele sorriso atraente e quase irritante.

— Malfoy.

— Meu sobrenome nunca soou tão excitante.

— Sabe o que eu acho excitante? Homens sem testículos.

Ele riu, estendeu o braço em arco, oferecendo-o.

— Vamos?

— Vamos.

 

— Que tal um jogo?

— Que jogo?

— Um jogo de perguntas. Nada demais.

— Sem bebidas? Isso não vai funcionar.

Ele sorriu.

— Você pode começar.

Dei um sorriso maquiavélico.

— Você já saiu com uma aluna? – É claro que eu já sabia a resposta, mas queria saber se ele negaria o fato.

— Pulo.

— Você não tem essa opção.

— Hum, ok. Sim, já saí.

— Sabia! Você tem cara de professor pervertido.

— Que lisonjeiro.

— Foi mais de uma?

— Uma pergunta de cada vez, Weasley.

— Certo. Sua vez.

— O que você tem contra relacionamentos?

— Como é?

— Você disse que eles te entediam.

— Eu disse que falar sobre eles me entedia.

— Quase a mesma coisa.

— Bem, acho que é porque as pessoas elevam os relacionamentos amorosos mais do que a si mesmas, o que acaba tornando-as superficiais e dependentes. Não sou fã disso ou de pessoas assim.

— Isso quer dizer que você é contra relacionamentos?

— Uma pergunta de cada vez, Malfoy.

Ele revirou os olhos.

— Por que seu nome é Scorpius?

— Minha mãe ama observar as estrelas e ela tem uma paixão pelas constelações do zodíaco, eu nasci no mês do signo de escorpião, então...

— Você é de escorpião? Sério? Que horror.

Ele ergueu a sobrancelha.

— E isso significa o que?

— Que você é tudo do que eu quero distância, mas não vou julgar até fazer o resto do seu mapa astral.

— Então você entende de astrologia? Minha mãe costumava me falar um pouco sobre, mas eu nunca lembro nada.

— Você provavelmente deve ter peixes no mapa.

— Agora é a minha vez. Conte-me algo sobre você que eu não saiba.

— Isso não é uma pergunta.

— E?

— É muito amplo. Tem várias coisas que você não sabe.

— Surpreenda-me.

— Sou aquariana, às vezes beijo garotas e outras cometo incesto.

Ele riu.

— O que nisso é verdade?

— Tudo. Eu não minto.

— Verdade?

— Não – Eu ri – Agora é a sua vez. A mesma não pergunta.

Ele sorriu antes de falar.

— Sou filho único, sou quase um músico e escrevo novelas de sexo.

Onde é que eu fui me meter?

— Você é sensível e sexual?

— Esqueceu-se do sensual.

— E do presunçoso.

— Mas não começa com S.

— E?

Ele bebeu seu café e olhou ao redor.

— Meus amigos iriam adorar te conhecer.

— É?

— Nós sempre nos reunimos para falar sobre literatura e música. A gente sempre toca alguma coisa e tenho uns amigos poetas que também declamam alguns versos.

— E tem bebida?

— Mas é claro.

— Eu adoraria ir, supondo que isto é um convite.

— Agora é.

Ele sorriu.

Aquela noite estava sendo de muitos sorrisos.

 

Depois houve um segundo, terceiro e quarto encontro, em todos nós encontrávamos um lugar para dar uns amassos, mas nada além disso, o que era bem decepcionante. Scorpius era uma peça complexa, conseguia ser terno e pervertido no mesmo instante e por alguma razão eu me sentia confortável ao seu lado.

Era como se fôssemos amigos há anos.

Meu celular tocou e eu corri para atendê-lo. Era Scorpius.

— Alô?

— Oi, Weasley.

— Já está com saudades, Malfoy? Achei que você fosse mais resistente.

— Eu sou no que precisa ser.

Ignorei sua malícia.

— O que você quer?

— Quer vim aqui? Eu posso tentar cozinhar.

— Tentar?

— Ou podemos pedir uma pizza.

— Eu prefiro a pizza.

— Você vem?

— Sim, me passa o endereço.

Ele passou, despedi-me e desliguei. Seria Scorpius um telepata?

 

Bati na porta e alguns depois, Scorpius apareceu só de calças, secando o cabelo molhado. Que clichê. Ergui uma sobrancelha, ele só sorriu.

— Entre, Weasley – Ele puxou-me para os seus braços e beijou-me.

— Separou o que eu pedi?

— Certamente. Está ali em cima perto do notebook— Ele apontou para a mesinha de centro. É claro que eu ignorei tudo isso porque me deparei com uma estante muito maior do que a estante de James e a minha juntas.

— Scorpius! Você roubou uma biblioteca?

A estante pegava uma parede inteira da sala.

— Não. Ao contrário do que você pensa, não sou um ladrão.

— Não sei não. Essa estante não fala ao seu favor.

Passei os dedos pelas lombadas dos livros. Wilde, Hemingway, Woolf, Orwell, Shakespeare, Fitzgerald, Austen, Brontë, Nïn, Saramago, Kawabata, Kafka, só para citar alguns.

— Impressão minha ou isto está completamente aleatório?

— Não é impressão.

Senti uma dor física.

— Isso te incomoda?

— Não – Menti.

— Certo. Vou pegar uma camisa. Pode usar o notebook.

Assenti e explorei um pouco mais sua estante antes de pegar o computador e a certidão de nascimento ao seu lado.

Aquele era o momento em que eu descobriria todos os segredos de Scorpius Malfoy.

Todas as suas neuras, características, talentos e fetiches seriam expostos.

Toda a sua vida pessoal desvendada.

Toda a sua intimidada revelada.

Eu iria fazer seu mapa astral.

 

Talvez eu tenha exagerado um pouco.

Mas era muito importante fazer o mapa astral antes de transar com alguém. Especialmente se ele fosse escorpiano.

Esperei, em agonia, enquanto o site carregava.

Scorpius voltou vestido e de cabelo penteado.

— Já fez?

— Já – Eu falei enquanto avaliava o seu mapa – Nós temos o mesmo o Marte. Marte em Escorpião.

— O que isso quer dizer? – Ele perguntou enquanto sentava-se ao meu lado.

— Que nós vamos nos dar muito bem no sexo.

Ele aproximou-se, mas alguém bateu na porta antes que ele pudesse me beijar.

— Deve ser a nossa pizza.

Scorpius levantou-se e foi atender a porta.

— Você está com fome? – perguntou enquanto levava a pizza para a cozinha.

Sim, mas de outra coisa, querido.

— Agora não.

Ele voltou para o sofá. Seu ombro estava encostado ao meu.

— Onde estávamos?

— No seu mapa destruidor.

— Destruidor como o dono.

— Você é tão arrogante.

— Obrigado.

— Não foi um elogio.

— Tudo é questão de perspectiva.

— Às vezes não.

Ele sorriu.

— Você é bem teimosa.

— Não é verdade. Eu só gosto de estar certa, o que é ótimo, porque eu sempre estou.

— Isso diz muito sobre você.

— Você acha?

— Mostra que você é completamente controladora.

— Eu não diria completamente, mas confesso ter Marte em Escorpião, então...

Ele sorriu novamente.

— Você sorri demais. É algum truque de pré-acasalamento?

— Depende. Está funcionando?

Obviamente que sim.

— É sério, você não fica com dor no maxilar?

— Você é ótima em mudar de assunto.

— Já me disseram isso.

— Já te disseram também que você tem olhos lindos?

— Já me disseram que meus olhos parecem Nutella, o que eu suponho que é quase a mesma coisa.

Ele riu.

— Eu estou falando sério.

— Eu também.

Ele analisou meu rosto, e ficamos alguns segundos em silêncio, antes dele se aproximar e me beijar. Suas mãos seguraram meu rosto de maneira possessiva e ele só me soltou quando afastei seus ombros. Coloquei o notebook na mesinha e voltei a beijá-lo.

Logo estávamos deitados no sofá e quando ele apertou minha bunda enquanto beijava meu pescoço, eu só conseguia pensar “finalmente!”.

Toquei sua barriga por debaixo da camisa e comecei a puxar o tecido para cima. Ele parou de me beijar e se afastou alguns centímetros.

— Espera.

Droga. Comemorei cedo demais.

— O que foi?

— Preciso falar com você antes.

Ele era gay?

Olhei-o, esperando pelo pior. Ele hesitou.

— Você precisa saber que eu não faço muito isso.

Ele era virgem?

— Isso o que? Sexo?

— Sexo casual – Ele corrigiu.

Encarei-o, sem entender.

— Eu prefiro estar em um relacionamento antes de ter esse tipo de intimidade.

Oi?

— Isso não quer dizer que eu não queira transar com você, porque acredite, eu quero.

Eu meio que podia perceber isso, ou melhor, sentir, já que seu quadril, e não somente seu quadril, estava colado ao meu.

— Mas eu preferia que entre nós não fosse só casual.

Aquilo significava o que eu acho que significava?

— Tudo bem – Eu disse, devagar.

— Tudo bem sim ou tudo bem não?

Tudo bem sim.

Tudo bem não.

Tudo bem que merda era isso?

Tudo bem socorro.

Tudo bem para onde eu fujo?

Os significados eram muitos.

— Tudo bem não sei.

Era mais legal quando ele era gay e virgem.

Ficamos em silêncio.

— Seria bom se você dissesse alguma coisa.

— Você quer namorar comigo? – Eu perguntei para ter certeza do que ele estava falando.  Era cômico como as palavras soavam. Cômico e estranho.

— Eu adoraria – Ele sorriu. Inepto.

Ignorei sua brincadeira.

— Por quê?

— Porque eu gosto de você, achei que estivesse óbvio.

Óbvio era o céu ser azul.

Óbvio era a Jane Austen ser melhor que a Emily Brontë.

Óbvio era os extraterrestres existirem.

— Gosta? – Eu perguntei, hesitante. Tem certeza, companheiro? Tem certeza que não é só gripe?

— Sim. Gosto mais do que gosto do meu gato Kerouac, mas muito menos do que do José Saramago – Ele sorriu.

Olhei-o indignada. Era eu que fazia as piadinhas!

Ele interpretou minha indignação de maneira errada.

— Ok, não tão menos assim.

Apertei os lábios. Scorpius se remexeu, desconfortável com a posição ou com o meu silêncio.

— A verdade é que estou apaixonado por você.

Ele ignorou meus olhos arregalados e continuou.

— E eu sei que você é um espírito livre, afinal, você é aquariana, sim eu fiz a minha pesquisa – Ele sorriu. Eu teria sorrido se eu não estivesse tão entorpecida – Mas por que não tentar? Nós nos damos tão bem, desde do começo, como se nossas energias tivessem se conectado logo de cara.

Aquilo era verdade.

— Como se sempre tivéssemos sido amigos.

— Isso – Ele sorriu, ele afastou uma mecha de cabelo da minha testa – Além do mais, eu sei que você gosta de mim.

Ergui uma sobrancelha. Ele era sempre tão...

Gostoso.

Presunçoso.

Irritante. Definitivamente irritante.

Mas ele tinha razão. Eu gostava dele.

Gostava da sua companhia. Dos seus sorrisos. Dos seus beijos.

Então, por que não?

— Talvez você não esteja errado.

— O que você tem a perder?

Muitas coisas.

Eu sabia que eu poderia facilmente me apaixonar por Scorpius, se eu me permitisse.

De alguma forma isso não me pareceu assustador.

Algo me estimulava. Talvez fosse o seu sorriso?

Molhei os lábios e falei às palavras que nunca me imaginei dizendo, muito menos naquele dia.

— Tudo bem, eu aceito ter um relacionamento não casual com você.

Ele me beijou.

Eu o afastei.

— Só vou deixar claro que não vou te chamar de amor, coração, chuchu ou presidente.

Ele riu antes de voltar a me beijar.

— Vamos para o meu quarto – Ele falou.

Quando estávamos em sua cama, tirei sua camisa e dessa vez ele me permitiu despi-lo. Para um artista, ele tinha o corpo bastante em forma.

— Você vai ficar babando ou o que? – Ele provocou. Ignorei seu comentário e tirei minha blusa.

Ele me encarou.

— Vai ficar babando ou o que? – Retruquei. Ele deu um sorriso maldoso e se aproximou.

— Para a sua sorte eu gosto de garotas atrevidas como você – Ele passou o braço por minha cintura e juntou nossos corpos.

— Sabe do que eu não gosto? Caras presunçosos como você.

— Vamos ter um problema então – Ele disse antes de me beijar.

Eu só posso dizer que astrologia não mente. Duas pessoas com Marte em Escorpião se dão incrivelmente bem.

 


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Notas finais do capítulo

Mapa astral de Scorpius Malfoy:
Sol em Escorpião, casa 11
Mercúrio em Sagitário, casa 12
Lua em peixes, casa 4
Vênus em Capricórnio, casa 1
Marte em escorpião, casa 11
ASC em Sagitário
MC em Virgem

James está tão sumido quanto vocês. Estou achando que foram para Hogwarts e não me convidaram.
Mas tudo bem, eu tenho Godless.
Nesse capítulo tivemos a confirmação de que Scorpius é alguém rápido, de que Rose não sabe o que está fazendo da sua vida e de que James faz falta.
Moral da história: assistam Godless.

Vejo vocês por aí.



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