Central City estava com neve por todo lado após a nevasca de dois dias atrás, com o final do ano se aproximando a redação da STAR News estava a todo vapor. Respiro profundamente após terminar de ler o artigo de Cooper e reviro os olhos – não acredito que esse cara é jornalista, terei que reescrever o artigo dele...

— Diga alguma novidade – Curtis me corta – esse cara é péssimo, você merecia uma oportunidade, mas como sempre irá melhorar o texto démodé dele e ficar calada!

Puxo o ar e tiro os óculos por um momento me encostando na cadeira, me formei em jornalismo e trabalho nesta revista desde então, infelizmente para os editores chefes eu nunca tive um furo de reportagem que pudesse me promover, então sou editora júnior e sempre tenho que corrigir textos.

— Esse é meu trabalho, de que outro jeito posso virar jornalista de verdade um dia? – falo com pesar olhando para o meu melhor amigo. 

— Um dia você chega lá – tentou me consolar afagando meu ombro e me oferecendo uma xícara de café – afinal, você é uma excelente jornalista, sei disso porque te conheço desde sempre.

Curtis e eu nos conhecemos no colegial, fomos para a mesma faculdade e seriamos o melhor casal do mundo se ele gostasse de mulher. Ele é a única pessoa depois da minha mãe com quem eu sou completamente aberta e que sabe tudo sobre mim.

Abro um sorriso singelo e beberico o café, quando ia responder o telefone da minha mesa toca, assim que atendo a secretaria da editora executiva começa a falar – Liz, Helena quer te ver no escritório dela agora. Curtis me olha e me incentiva a ir logo – divirta-se!

Com receio caminho até a sala dela e logo que entro começo a falar sem respirar – Se é sobre o artigo de Cooper do Fashion Week...

— Esqueça isso – me corta sem cerimônia – tenho algo novo para você. Sente-se! – faço como me pediu e olho preocupada para ela, mexendo no cabelo de forma nervosa – o que sabe sobre a família real de Starling City?

— Bem, o rei deles morreu ano passado e o herdeiro dele é um playboy que só quer curtir a vida.

— Exatamente e vive se envolvendo em escândalos – fala me mostrando uma capa de revista com a foto do príncipe, impossível não olhar, o cara era realmente maravilhoso – o príncipe fugiu logo após a morte do pai, o que não seria um problema, se não tivesse que assumir o trono, o tempo está acabando e precisa colocar a coroa antes do ano novo.

— Mas e se ele não assumir até lá? O que acontece? – pergunto, a curiosidade começando a me consumir

— É isso que você irá descobrir – faz uma pausa e me olha seriamente – há rumores que ele volte de onde estava escondido e caso ele abdique preciso de alguém lá para registrar – não vou mentir e dizer que um arrepio subiu pela minha espinha, fiquei confusa.

— Não querendo me prejudicar, mas, porque eu? Não que eu esteja reclamando e nem nada, até seria uma excelente oportunidade para mostrar meu potencial e vou parar de falar... – respiro e fecho a boca antes que ela me mande embora.

— Você é talentosa, curiosa e inteligente – abro um sorriso sentindo meu ego inflar – e nenhum outro jornalista pode ir neste final de semana – fala bebendo um copo de Whisky e me encarando de canto de olho, neste momento eu contenho o agradecimento e apenas aceno com a cabeça e me levanto indo até minha mesa, sendo recebida por Curtis.

— Felicity, não acredito que a sua reportagem será o príncipe delicia – fala se abanando, reviro os olhos e começo a procurar matérias antigas para estudar sobre ele – fala sério, ele é muito sexy, se eu encontrasse com um Adônis desse caia mortinho.

— Curtis é só uma coletiva que vou cobrir – falo passando por todas as matérias sobre o playboy mimado que sumiu após a morte do pai – ele parece ser mais um desses ricos esnobes que pega supermodelos e vive nas capas de revistas de fofocas, nada demais – falo olhando para uma foto dele sem camisa, penso sozinha “se bem que ele não é de se jogar fora, olha esse corpo”. Escuto a risada de Curtis o que significa que pensei alto – e outra, ele não faz meu tipo.

— Fel, ele é o tipo de todo mundo – fala seriamente

— Não o meu! – retruco e volto a ver as fotos dele e me perco um instante naqueles olhos azuis.

— Sério, você precisa rever seu conceito de homens, porque sério, esse cara é sexy e bem sucedido e você ignora isso simplesmente... – respiro profundamente e coloco a mão na testa, já prevendo o sermão – a quanto tempo você e o Ray terminaram? Alias, quanto tempo você não transa?

Dou um pulo e tapo a boca dele – Curtis eu quero focar na minha carreira, então faz um favor como melhor amigo? Não grite sobre minha vida sexual aqui na redação – falo um pouco baixo e olho ao redor relaxando assim que noto que ninguém prestava atenção em nós.

— Tudo bem, mas não deixe que esse passado te bloqueie – concordo com um aceno sabendo que não ia adiantar contrariá-lo – mas, mudando de assunto, essa matéria pode catapultar sua carreira. – abro um sorriso acreditando naquelas palavras enquanto foco na última manchete relacionada ao príncipe: OLIVER QUEEN: POR ONDE SERÁ QUE ANDA O PRÍNCIPE HERDEIRO?

Passei os dias seguintes acertando os detalhes da viagem, apesar das poucas horas entre as cidades a coletiva seria um dia depois da véspera de natal, combinei com a minha mãe de passar a data com ela e Curtis, e ele me deixaria na estação de trem no primeiro horário.

Minha mãe era toda a família que me restava praticamente, pelo menos próxima, meu pai havia nos abandonado e deixado um pequeno café que ela administrava muitíssimo bem. Donna Smoak era alguém muito jovem para a idade que tinha, sempre animada e com ótimos conselhos de amiga! Ela e Curtis eram cúmplices em querer me arrumar um namorado, sempre com encontros a cegas ou me empurrando para algum cliente do café. Apesar de ter sido deixada para cuidar da filha pequena sozinha, nunca desacreditou do amor.

A noite passou como um raio e logo estava me despedindo de Curtis na estação de trem, ele me fez prometer que se tivesse a oportunidade iria curtir um pouco a cidade. Com um sorriso segui rumo a chance de alavancar minha carreira.

Me acomodei no meu banco e coloquei o fone de ouvido, tentei relaxar e me deixei dormir um pouco, quando acordei o trem estava parando no destino e me ajeitei para sair. Após pegar a pequena mala que estava levando saí para pegar um táxi. Aguardei um pouco e finalmente avisto um se aproximando e dou sinal, abro a porta e quando vou colocar minhas coisas dentro duas figuras masculinas entram na minha frente.

— Hey, esse táxi era meu – grito e uma deles vestindo uma jaqueta de frio, gorro e óculos de sol me encara e pede desculpas – desculpa nada, seu idiota egoísta – o outro acena e pede para o taxista acelerar, o mesmo o faz e fico encarando esperando o próximo chegar, o que leva aproximadamente uns 30 minutos. Encaro o relógio e vejo que não poderia ir para o hotel, passo o endereço do palácio e ofereço o dobro do valor se o taxista acelerasse.

Ao longe é possível ver a enorme residência real cercada de repórteres e seguranças, olho admirada para tudo e até esqueço que estou dentro de um táxi, pago a corrida e sigo até o local da coletiva, ao chegar lá vejo a quantidade enorme de jornalistas. Vejo um cara muito grande de terno, negro com pinta de segurança conversar com outro homem, este parecendo um executivo, os dois pareciam tensos. Algum tempo depois o homem com pinta de executivo falou conosco.

— Peço desculpa a todos, mas acabo de ser comunicado que o príncipe não se sente bem após a longa viagem e não poderá comparecer a esta coletiva – escuto reclamações de todos os lados, alguns acusando o príncipe de fugir da imprensa e outros de que ele abdicou do trono, não consigo conter minha mão e quando percebo já é tarde, todos olhavam para mim – você, a loira educada que levantou a mão.

— Para quando será reprogramada a coletiva? – um coro de colegas concordando com a minha pergunta me faz acreditar que eu havia feito a pergunta certa.

— Não temos planos para isto no momento, mas – faz uma pausa e olha para todos – posso lhes garantir que o príncipe irá assumir o reino no Baile Anual e este ano, como compensação por esta coletiva, iremos permitir que repórteres e jornalistas cubram o evento – termina o pronunciamento e sai fugindo das outras muitas perguntas que lhe eram dirigidas.

Aos poucos a multidão ia se dissipando, enquanto espero o táxi que havia chamado pelo celular sinto a frustração tomar conta de mim – não vou voltar de mãos vazias – olho para o lado e vejo uma porta onde alguns entregadores passavam com caixas, abro um sorriso e sem perder tempo pensando sigo na direção dela e entro no palácio.

Pego o celular e começo a fotografar sem perceber para onde estava indo, vou entrando por portas e mais portas e tentando pegar cada detalhe e ao mesmo tempo ficando encantada com tudo. Escuto algumas vozes se aproximando e antes que consiga me esconder uma voz feminina grita – Hey, quem é você? – fecho os olhos e só consigo pensar que ia ser presa.